• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

ADSORÇÃO DE CONTAMINANTES PRESENTES EM ÁGUA POR FILTRO CERÂMICO A BASE DE RESÍDUO DE FUNDIÇÃO DE SILÍCIO

Autores

Azevedo Aguiar, R. (UFVJM) ; Silva Rodrigues, J. (UFVJM) ; Jeany Teixeira Silva, C. (UFVJM) ; Frank Baez Vasquez, J. (AMBER/SCHOOL OF CHEMISTRY, TRINITY COLLEGE DUBLIN) ; Esmeraldo Paiva, A. (AMBER/SCHOOL OF CHEMISTRY, TRINITY COLLEGE DUBLIN) ; Guerra Lima Medeiros Borsagli, F. (UFVJM)

Resumo

A presente pesquisa objetivou produzir e avaliar filtros cerâmicos de cimento aluminoso com incorporação de resíduo de fundição em diferentes proporções para aplicação no tratamento de água contaminada. Para tal, os materiais cerâmicos produzidos foram caracterizados por Espectroscopia por Dispersão de Energia, Espectroscopia de Fotoelétrons Excitados por Raios-X, Microscopia Eletrônica de Varredura, Porosimêtria de Mercúrio, Difração de Raio-X e avaliada a adsorção de laranja de metila por Espectroscopia no Ultravioleta-Visível. Os resultados de adsorção atingiram o equilíbrio próximo de 360 minutos, sendo possível visualizar a descoloração. As técnicas de caracterizações utilizadas possibilitaram verificar a viabilidade de aplicação deste material para minimizar problemas ambientais.

Palavras chaves

Tratamento de água; Micro-sílica; Contaminantes

Introdução

Os recursos hídricos vêm-se tornando cada dia mais escassos no cenário atual, devido ao crescimento populacional e, consequentemente contaminação deste recurso, sendo parte significativa dessa contaminação podendo ser atribuída às indústrias de refinaria, química, têxtil, papeleira e também as atividades agrícolas (AQUINO NETO, 2009; FREIRE, et al., 2000). Há décadas, as preocupações relacionadas à qualidade da água se concentravam apenas em contaminantes que causavam cor, odor, turbidez e a presença de microrganismos, que eram considerados os principais agentes que podiam causar alterações. Atualmente, a preocupação tornou-se ainda maior, pois mesmo após a utilização de técnicas convencionais utilizadas pelas estações de tratamento de água, pode haver a presença de outros contaminantes mais nocivos (MONTAGNER et al., 2017; ALMEIDA, 2017) tais como: pigmentos (corante) (GUARATINI & ZANONI, 2000), fármacos e agrotóxicos (SOUZA, 2014), os quais muitas vezes apresentam efeito teratogênico, mutagênico e carcinogênico (BHASKARA et al., 2006; HALLING- SORENSEN et al., 1998). Dentre os diversos tipos de corantes o mais empregado pelas industriais têxteis são os que apresentam o grupo azo (FORGACS; CSERHÁTI; OROS, 2004), dentre eles temos o laranja de metila (MO) que apresenta orto-substituintes e a presença do grupo para-dimetilamino ativando o grupo azo (SUBBAIAH & KIM, 2016). Quanto aos agrotóxicos, uma classe são os herbicidas, entre eles há o glifosato, muito utilizado em plantações agrícolas como herbicida sistêmico, pós-emergente e não seletivo (BHASKARA et al., 2006). Entre as diversas alternativas de tratamento de água, vários processos vêm sendo desenvolvidos com a finalidade de remover materiais e gerar seletividade, dentre eles estudos recentes relataram avanços nos métodos de adsorção para eliminação de contaminantes, sendo utilizados materiais de valor acessível, boa disponibilidade e fácil manuseio, apresentando ainda características próprias ou que podem ser desenvolvidas para se tornarem eficazes, considerando que ainda hoje são muitas vezes usados métodos não eficientes para elevados volumes de água residuais, que levam a altos custos de manutenção, geração de produtos tóxicos e processos complexos na realização do tratamento (ALMEIDA, 2017; BHATNAGAR et al., 2015; GAUTAM et al., 2014). O processo de adsorção está interligado a intensidade da interação do contaminante adsorbato com o material adsorvente, podendo ocorrer da forma física (fisissorção) e química (quimissorção). Este processo depende das características da solução, do adsorvente (área superficial, tamanho e distribuição dos poros, grupos funcionais) e das condições operacionais (concentração, temperatura, pH) (NASCIMENTO et al., 2014). Nesse enfoque, a presente pesquisa objetivou avaliar a aplicação de filtros cerâmicos produzidos à base de cimento aluminoso (CA) com incorporação de resíduo de fundição de silício (RS) em diferentes proporções como adsorventes do pigmento laranja de metila no tratamento de água contaminada.

Material e métodos

Filtros cerâmicos cilíndricos foram produzidos com base na norma ABNT NBR 5738 (RODRIGUES, 2021). Os filtros cerâmicos foram produzidos em diferentes proporções de cimento aluminoso (CA) e resíduo de fundição de silício (RS) utilizando como molde tubos de policloreto de vinila (PVC). Após 24 horas no molde, os filtros cerâmicos foram retirados dos mesmos permanecendo por 7 dias (tempo de cura) em condições ambiente. Em seguida, foram sinterizados à 1100 °C em diferentes intervalos de tempo (5, 12 e 24 h). As amostras foram então identificadas em relação à proporção de CA e RS utilizados em porcentagem (CA/RS_90/10; CA/RS_70/30; CA/RS_50/50) e tempo de queima. Posteriormente, as amostras foram então caracterizadas Espectroscopia por dispersão de energia (EDX), Espectroscopia de Fotoelétrons Excitados por Raios-X (XPS), Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), Porosimêtria de Mercúrio, Difração de Raio-X (DRX) e avaliada a adsorção de laranja de metila (MO) por Espectroscopia no Ultravioleta-Visível (UV-Vis). Na análise de adsorção, utilizou-se a solução do corante laranja de metila como adsorbato e os filtros cerâmicos em diferentes proporções entre a matéria-prima CA/RS como adsorvente. Para tal, foi realizado o preparo da solução de MO na concentração de 20 mg.L-¹. Em seguida a pesagem de 0,250 g de cada amostra do filtro cerâmico, logo após foram transferidas para recipientes apropriados, acrescentando 15 mL da solução de MO nos recipientes, cronometrando o tempo de adsorção até se alcançar o equilíbrio. Então, foi realizada a leitura no espectrofotômetro KASUAKI no comprimento de onda de 465 nm nos intervalos de tempo de 5, 10, 15, 20 e 30, 60, 120, 240, 360, 480 e 600 minutos.

Resultado e discussão

A Tabela 1 apresenta os resultados da composição atômica do cimento aluminoso (CA) e o resíduo de fundição (RS), na qual mostraram que o cimento aluminoso é composto principalmente por alumínio (Al) e cálcio (Ca), e os resíduo basicamente de óxido de silício, resultados semelhantes à literatura (MANFROI, 2014; AITCIN, 2000). Tabela 1. Composição atômica da matéria-prima. Percentagem atômica (%) Amostra O C Ca Si Al Na Cimento aluminoso 39.9 32.6 5.9 5.8 15.8 - Resíduo de fundição 46.9 26.0 - 27.1 - - Na Figura 1 observa-se a análise de XPS da matéria-prima, o pico de referência encontra-se próximo de 286 eV para C1s, podendo observar a presença dos picos C- C, Si-C e C=O, respectivamente (Figura 1A). Enquanto na Figura 1 (B) o pico de referência encontra-se próximo 532 eV para O1s, consequentemente permitindo observar os picos de O1s, C=O, Si-O, Al-O, C-O, -OH, Ca-O. Já na Figura 1 (C) o pico de referência foi o Si2p, observando-se picos de Si-C e Si-O. Na Figura 1 (D), o pico de referência foi Ca2p, sendo possível visualizar picos de CaO, Ca2p3/2. Segundo os autores OLIVEIRA & CREPALDI (2017), os cimentos aluminosos são constituídos por óxido de cálcio (CaO) e óxido de alumínio (Al2O3) explicar dessa forma, a presença destes picos já eram esperados, conforme literatura. Na Figura 2 apresentam-se os resultados da porosimêtria de mercúrio referente ao corpo de prova CA/RS_70/30_12h determinando-se a distribuição de tamanho de poros presentes, observa-se a região identificada com a seta em azul, com 60 % em volume das amostras apresentando diâmetros entre 1 e ~10 μm, e na região identificada com a seta em vermelho 3 % em volume com diâmetros entre 0,1 e 0,01 μm. Segundo o autor MATOS (2013), pode-se destacar uma elevada porosidade. Quanto à morfologia dos filtros cerâmicos (Figura 3), é possível observar que quanto maior o tempo de sinterização, ocorre maior presença de poros, podendo estar interligado a diferença morfológica entre a matéria-prima cimento aluminosa e o resíduo de fundição de silício, dificultando a homogeneidade entre as matérias-prima (micro-sílica ao cimento), e também a relação água/aglomerante, formando bolhas ao transferir a mistura para os moldes (FURQUIM, 2006). O processo de adsorção do corante laranja de metila (MO) nos intervalos de tempo de 5, 10, 15, 20, 30, 60, 120, 240, 360, 480 e 600 minutos é identificado na Figura 4, na qual após aproximadamente 360 minutos atingiu-se o equilíbrio de adsorção. Os resultados mostraram que a adsorção foi maior nos primeiros minutos e manteve-se constante em tempos mais longos. A descoloração das soluções de MO, passaram de uma cor intensa de laranja escuro para um laranja claro, sendo que em algumas amostras a solução chegou a ficar límpida (incolor) visualmente. A adsorção do MO nos primeiros instantes associa-se a quantidade de sítios ativos presentes no material cerâmico, sendo considerada rápida, mas ao longo do tempo com a ocupação destes sítios o tempo de equilíbrio é alcançado, ocorrendo uma diminuição gradual da adsorção (ERRAIS, 2001).

Figura 1 e Figura 2



Figura 3 e Figura 4



Conclusões

Os resultados obtidos durante o desenvolvimento da presente pesquisa permitiram concluir que é possível a utilização de resíduo de fundição de silício incorporado no cimento aluminoso em diferentes proporções para produção de filtro cerâmico para aplicação como adsorvente de contaminantes, tais como pigmentos, agrotóxicos, etc. Além disso, a caracterização do filtro cerâmico por diferentes técnicas como a permitiu conhecer melhor as características morfológicas quanto à presença de porosidade, elementos químicos referentes às amostras e comparar com os resultados presentes na literatura, ampliando o conhecimento desses materiais. Os resultados também são de grande relevância para as indústrias de fundição, em especial, a fundição de silício, que apresentam uma elevada geração de rejeito (micro-sílica), dando destinação para esse rejeito utilizando como uma das matérias-prima para a produção de filtros cerâmicos, material com capacidade de ser adsorvente de contaminantes gerados por outras indústrias, tais como as têxteis que fazem a utilização e descarte de pigmentos, e também relacionadas às atividades agrícolas com a utilização de agrotóxicos, viabilizando assim o tratamento de águas contaminadas.

Agradecimentos

Os autores agradecem o BIOSEM-LESMA/UFVJM e o AMBER/Trinity College Dublin pelas análises e caracterizações químicas realizadas. Assim como a FAPEMIG (APQ-02565- 21), CAPES, CNPq e UFVJM pelo suporte financeiro ao projeto.

Referências

AQUINO NETO, S. DE. Degradação do herbicida glifosato e suas formulações comerciais: uma comparação entre processos eletroquímicos. 2009. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
AITCIN, P. C. Concreto de alto desempenho. São Paulo: PINI, 2000. 667 p.
ALMEIDA, M. L. B. Espumas poliméricas contendo resíduo de catalisador da indústria de petróleo como adsorventes para contaminantes orgânicos aquosos. 2017.
BHASKARA, B. L.; NAGARAJA, P. Direct sensitive spectrophotometric determination of glyphosate by using ninhydrin as a chromogenic reagent in formulations and environmental water samples. Helvetica chimica acta, v. 89, n. 11, p. 2686-2693, 2006.
BHATNAGAR, A.; SILLANPÄÄ, M.; WITEK-KROWIAK, A. Agricultural waste peels as versatile biomass for water purification–A review. Chemical engineering journal, v. 270, p. 244-271, 2015.
ERRAIS, E., DUPLAY, J., DARRAGI, F., M'RABET, I., AUBERT, A., HUBER, F., & MORVAN, G. Adsorção eficiente de corante aniônico em argila natural não tratada: estudo cinético e parâmetros termodinâmicos. Dessalinização , v. 275, n. 1-3, p. 74-81, 2011.
FORGACS, E.; CSERHÁTI, T.; OROS, G. Removal of synthetic dyes from wastewaters: a review. Environment international, v. 30, n. 7, p. 953-971, 2004.
FREIRE, R. S., PELEGRINI, R., KUBOTA, L. T., DURÁN, N., & PERALTA-ZAMORA, P. Novas tendências para o tratamento de resíduos industriais contendo espécies organocloradas. Química nova, v. 23, p. 504-511, 2000.
FURQUIM, P. R. DE V. Estudo estatístico de produção de concretos com adições minerais. 2006.
GAUTAM, R. K., MUDHOO, A., LOFRANO, G., & CHATTOPADHYAYA, M. C. Biomass-derived biosorbents for metal ions sequestration: Adsorbent modification and activation methods and adsorbent regeneration. Journal of environmental chemical engineering, v. 2, n. 1, p. 239-259, 2014.
GUARATINI, C. CI; ZANONI, M. V. B. Corantes têxteis. Química nova, v. 23, p. 71-78, 2000.
HALLING-SORENSEN, B. N. N. S., NIELSEN, S. N., LANZKY, P. F., INGERSLEV, F., LÜTZHOFT, H. H., & JORGENSEN, S. E. Occurrence, fate and effects of pharmaceutical substances in the environment-A review. Chemosphere, v. 36, n. 2, p. 357-393, 1998.
MANFROI, E. P.. Desenvolvimento de aglomerantes e coeficientes com encapsulamento de metais pesados. 2014.
MANDAL, A.; SINGH, N.; PURAKAYASTHA, T. J. Characterization of pesticide sorption behaviour of slow pyrolysis biochars as low cost adsorbent for atrazine and imidacloprid removal. Science of the Total Environment, v. 577, p. 376-385, 2017.
MATOS, S. DE J. Síntese de cerâmicas porosas de Al2O3 e sua aplicação como microcavidades ópticas. 2013.
NASCIMENTO, R. F. D., LIMA, A. C. A. D., VIDAL, C. B., MELO, D. D. Q., & RAULINO, G. S. C. Princípios básicos. Adsorção: aspectos teóricos e aplicações ambientais . Fortaleza: Imprensa Universitária, p. 309, 2014.
OLIVEIRA, G.; CREPALDI, A. CIMENTO ALUMINOSO: CARACTERÍSTICAS, PROPREIDADES E APLICAÇÕES. REGRASP-Revista para Graduandos/IFSP-Câmpus São Paulo, v. 2, n. 1, p. 42-54, 2017.
RODRIGUES, J. S., Aproveitamento de Resíduos Siderúrgicos para Produção de Novos Materiais Cerâmicos. 2021.
SOUZA, M. A. DE. Risco de contaminação da água por glifosato: validação do modelo ARCA em uma lavoura de soja no entorno do Distrito Federal. 2014.
SUBBAIAH, M. V.; KIM, D. Adsorption of methyl orange from aqueous solution by aminated pumpkin seed powder: Kinetics, isotherms, and thermodynamic studies. Ecotoxicology and environmental safety, v. 128, p. 109-117, 2016.
SHABEER, T. P., SAHA, A., GAJBHIYE, V. T., GUPTA, S., MANJAIAH, K. M., & VARGHESE, E. Exploitation of nano-bentonite, nano-halloysite and organically modified nano-montmorillonite as an adsorbent and coagulation aid for the removal of multi-pesticides from water: a sorption modelling approach. Water, Air, & Soil Pollution, v. 226, n. 3, p. 1-14, 2015.

Patrocinador Ouro

Conselho Federal de Química
ACS

Patrocinador Prata

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Patrocinador Bronze

LF Editorial
Elsevier
Royal Society of Chemistry
Elite Rio de Janeiro

Apoio

Federación Latinoamericana de Asociaciones Químicas Conselho Regional de Química 3ª Região (RJ) Instituto Federal Rio de Janeiro Colégio Pedro II Sociedade Brasileira de Química Olimpíada Nacional de Ciências Olimpíada Brasileira de Química Rio Convention & Visitors Bureau