Autores
Rente, A.F.S. (UFPA)  ; Marques, E.D. (SGB-CPRM)  ; Moraes, D.S. (UFPA)  ; Rente, A.F.S. (UFPA)  ; Vigilio, E.P. (SGB-CPRM)  ; Vasquez, M.L. (SGB-CPRM)  ; Chaves, C.L. (SGB-CPRM)  ; Kutter, V.T. (UFPA)
Resumo
Durante os anos de 2005 e 2006 foram realizadas campanhas para amostragem de 
sedimentos ativos de corrente na bacia hidrográfica do Rio Tapajós no estado do 
Pará. Nesta investigação utilizamos os dados obtidos dessas amostras para gerar um 
mapa geoquímico da distribuição espacial de mercúrio, por meio da técnica de 
interpolação IDW, onde foram identificados os hotspots desse elemento com 
concentrações extremamente elevadas, 4.43, 3.54 e 2.96 mg/kg, os associando com 
áreas de garimpo e pastagem. Ao analisar a série temporal de uso e ocupação do 
solo, foi possível a identificação da intensificação do desmatamento, das 
atividades agropecuárias e do garimpo de ouro na região, que podem influenciar nos 
teores de Hg em alguns pontos no decorrer do tempo.
Palavras chaves
Contaminação; Garimpo; Ouro
Introdução
Atualmente, um dos problemas ambientais mais discutidos sobre a bacia 
hidrográfica do rio Tapajós (BHTJ), são as elevadas concentrações de mercúrio, 
Hg, provenientes tanto de fontes geogênicas quanto antropogênicas. Ao se remover 
o solo em áreas de várzea, grandes quantidades de sedimento rico em Hg é 
aportado para os rios durante as operações de mineração, sendo essa a principal 
fonte na região (TELMER et al., 2006). A modificação do ambiente natural, 
causada pela rápida ocupação humana, mineração, desmatamento, práticas agrícolas 
e urbanização, tem aumentado a taxa de lixiviação e erosão do solo, fatores que 
estão associados a liberação natural do elemento nos ecossistemas aquáticos 
(BARBOSA et al., 2003). O Hg é altamente tóxico e tem a capacidade de se 
bioacumular e biomagnificar na cadeia alimentar aquática (SAMPAIO et al., 2005), 
seu ciclo causa grande preocupação, uma vez que a dieta de grande parte da 
população no Tapajós é baseada em consumo de pescado, principalmente a população 
ribeirinha e indígena, levando a uma exposição quase que diária ao Hg (FILLION 
et al., 2006), isso pode resultar em danos neurotóxicos irreversíveis. Partindo 
dessa problemática na região do Tapajós, esse trabalho tem como objetivo mapear 
a distribuição espacial do Hg na BHTJ/PA., associando ao processo de ocupação na 
região. A técnica do mapeamento geoquímico apresenta-se como uma ferramenta para 
monitoramento de elementos químicos potencialmente tóxicos no meio ambiente, 
além de possibilitar um avanço significativo no estudo da dispersão desse 
elemento na região, permitindo definir com mais clareza ações de gestão 
ambiental para manutenção de um ambiente mais sustentável.
Material e métodos
Os dados geoquímicos de sedimentos de corrente são oriundos do projeto de 
levantamento geoquímico de baixa densidade realizados pelo Serviço Geológico 
Brasileiro (SGB-CPRM). O processamento das amostras, seguiu o protocolo 
utilizada no levantamento geoquímico do projeto vazante Paracatu do SGB-CPRM 
(PINHO et al., 2017). Neste projeto foram coletadas, um total de 343 amostras de 
sedimentos ativos de corrente, distribuídas entre as microbacias da BHTJ, ao 
longo dos rios Tapajós, Jamanxim, Crepori, Rio Novo e seus afluentes, alcançando 
uma densidade amostral de 1 amostra/124 Km². As amostras foram coletadas no 
canal de drenagem ativo de 5 a 10 porções distribuídas em um raio de no máximo 
50 metros, para uma melhor representatividade amostral. Após as coletas as 
amostras foram secas a 60° C em estufa, com posterior quarteamento e 
desagregação de torrões para evitar o “efeito pepita”, seguido de peneiramento 
(peneiras em aço inox com malha de < 80 mesh (< 0,175mm)), pulverização e 
homogeneização. A extração de metais foi realizada por digestão ácida em água 
régia (3:1 HCl/HNO3) a 95° C/1h. O extrato foi filtrado e diluído em 10 mL de 
água ultrapura e analisado por espectrometria de massa com plasma indutivamente 
acoplado (ICP-MS). O sistema de informações geográficas, SIG, e o mapa 
geoquímico foram confeccionados nos softwares ArcGIS 10.5 e Quantum GIS, 
utilizando o sistema geográfico de referência SIRGAS 2000, para interpolação 
espacial dos dados obtidos. Foi aplicada a técnica do inverso da potência das 
distâncias (Inverse Distance Weighting - IDW) delimitados com base nas 
microbacias (LIMA et al., 2003, CHENG et al., 2014). Os dados de ocupação do 
solo foram obtidos através dos complementos do Qgis e Google Earth Engine 
(MapBiomas).
Resultado e discussão
As concentrações de Hg identificadas nas amostras apresentaram teores que variam 
de < 0.01 a 4.43 mg/kg, as maiores concentrações foram identificadas nos 
afluentes do Rio Novo, 4.43, 3.54 e 2.96 mg/kg próximas a áreas de garimpo, não 
estando associadas à área de conservação, figura 1. O solo amazônico é 
naturalmente enriquecido por Hg, no entanto as concentrações encontradas em 
algumas amostras de sedimentos de corrente, são extremamente elevadas comparadas 
a outros trabalhos no Tapajós, indicando um sinal claro de contaminação do 
garimpo (ROULET et al., 1999, LECHLER et al., 2000, FADINI & JARDIM 2001, TELMER 
et al., 2006). A região próxima a Br-163 é fortemente antropizada, desde sua 
construção na década de 70, intensificada por garimpos e grandes áreas de 
pastagem que se desenvolveram ao longo dessa rodovia e próximo a Itaituba, 
figura 2, com crescimento para 9542,88 Ha de 1990 até 2020, tabela 1. No 
seguimento da BR-230, são predominantes concentrações baixas e médias, < 0,01 - 
0,26 mg/kg de Hg, figura 1, apresentando uma melhor preservação, provavelmente 
devido a presença de território indígena e unidades de conservações, com 
pontuais anomalias de elevadas concentrações. O garimpo na BHTJ passou de 67,06 
para 515,13 Ha de 1990 a 2020, indicando que pode haver um aumento na quantidade 
de Hg incorporada à cadeia trófica. Elevadas concentrações de Hg são atribuídas 
a distúrbios antrópicos, como queimadas, agricultura, pecuária e ao garimpo 
(Veiga et al. 1994; ROULET et al., 1999; TELMER et al., 2006), associados a 
erosão e lixiviação do solo. Essa correlação está em razão do latossolo ser 
substancialmente capaz de acumular Hg associado a oxi-hidróxidos de ferro, a 
deterioração desse solo, favorecendo a contaminação dos ecossistemas amazônicos 
(ROULET & LUCOTTE, 1995).

Distribuição espacial do mercúrio na bacia hidrográfica do Tapajós

Série temporal de uso e ocupação do solo. Dados cartográficos MapBiomas e SGB-CPRM.
Expansão da mineração e pastagem (Ha). Fonte: Google Engine MapBiomas
Conclusões
As elevadas concentrações encontradas podem refletir a lixiviação de material 
sedimentar proveniente de garimpos e do desmatamento em áreas de pastagem, evidenciando 
a degradação do solo, porém é provável que a maior contribuição de Hg nessa região seja 
proveniente do garimpo. No entanto é necessário um estudo geológico associando esses 
dados, pois a geologia é de fundamental importância para se entender por completo a 
distribuição geoquímica dos elementos, assim como uma nuvem amostral maior e mais atual 
para cobrir toda a BHTJ e ter uma visão mais atualizada da distribuição desse elemento.
Agradecimentos
Agradeço ao CNPQ, ao Programa de pós graduação em geologia e geoquímica da UFPA e ao 
Serviço Geológico Brasileiro por colaborarem com a pesquisa.
Referências
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