• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

FORMAÇÃO DOCENTE STEAM: DESIGN DE BALANÇA SEMIANALÍTICA VOCALIZADA PARA A INCLUSÃO DE CEGOS EM EXPERIMENTOS

Autores

Vargas, G.N. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Rodrigues, W.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Xavier, J.L.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Benite, A.M.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Benite, C.R.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS)

Resumo

Este estudo versa sobre o uso da cultura maker, numa abordagem STEAM, como possibilidade de formação de professores de Química para atuarem no âmbito da inclusão escolar. Contendo elementos da Pesquisa Participante, licenciandos do curso de Química refletem teoricamente aulas de apoio oferecidas a alunos cegos para a identificação de barreiras enfrentadas por eles em experimento de preparo de soluções. Nossos resultados salientam que o design e construção de uma balança semianalítica vocalizada pode possibilitar a participação autônoma de alunos cegos no experimento, na pesagem do soluto para o preparo de soluções, ao mesmo tempo em que promove mudanças na forma de pensar e agir a docência no âmbito da inclusão.

Palavras chaves

Ensino de Química; Cultura Maker; Tecnologia Assistiva

Introdução

Experimentos geram informações que normalmente são coletadas pela visão excluindo e colocando o aluno cego em posição de desvantagem na participação das aulas, ou seja, como alunos cegos terão acesso às informações de um experimento para discutir os conteúdos se a visão é a maior fonte de coleta de dados? (BENITE et al., 2017b). Um dos fundamentos da inclusão escolar é que os alunos devem aprender juntos sempre que possível e independente de suas especificidades, desafiando os professores de Química ao planejamento de intervenções pedagógicas com o uso de recursos didáticos que incluam, também, a participação e desenvolvimento dos alunos cegos (BENITE et al., 2017a). Diante disso, vem ganhando consistência uma proposta de formação docente baseada no desenvolvimento de projetos de pesquisa com foco na inovação, envolvendo a integração de áreas do conhecimento na busca de soluções de problemas escolares, bem como no desenvolvimento de posturas mais ativas do professor no atual mundo globalizado: a abordagem STEAM (acrônimo de Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática). Conectados a questões essenciais do ensino de Química, como a inclusão de alunos cegos em aulas experimentais, o desenvolvimento de projetos com abordagem STEAM se constitui como uma proposta de formação de professores pela pesquisa, com viés inovador e interdisciplinar, impulsionada pela cultura maker envolvendo práticas de engenharia com foco na investigação e na solução de problemas. Baseados na Teoria da Atividade de Leontiev (1984), neste estudo apresentamos um projeto desenvolvido por um grupo de professores em formação com foco no desenvolvimento de tecnologia assistiva visando a construção de uma balança semi- analítica vocalizada para a participação autônoma dos alunos cegos em experimento

Material e métodos

Contendo elementos da Pesquisa Participante (PP), este estudo se baseia na participação docente na ação investigada como pesquisador que busca a solução de um problema e a construção do conhecimento, isto é, investigação tendo por perspectiva a intervenção na realidade social (LE BOTERF, 1999). Para fins de sistematização, a PP está integrada a prática, “ligada à práxis, ou seja, á prática histórica em termos de usar conhecimento científico para fins explícitos de intervenção; nesse sentido, não esconde sua ideologia, sem com isso necessariamente perder de vista o rigor metodológico” (DEMO, 2000, p.21). Pesquisas (BENITE, CAMARGO e BENITE, 2021; PLETSCH, 2009) acerca da formação de professores para a inclusão revelam que esses se sentem inseguros para atuarem nesse sentido, por se perceberem despreparados para a elaboração de propostas que atendam as especificidades e, por conseguinte, não acreditarem no êxito da participação desses alunos nessas atividades. Diante disso, defendemos uma proposta de formação de professores de Química em nosso Laboratório de Pesquisas que visa promover a constituição docente investigando estratégias e recursos didáticos que contribuam para a atuação no âmbito da inclusão. Discutiremos aqui um projeto de pesquisa que visa o desenvolvimento de tecnologia assistiva para a experimentação no ensino de Química, estruturado nas quatro fases da PP: Elaboração do projeto de pesquisa visando a experimentação inclusiva; Estudo da especificidade envolvida, os alunos cegos; Reflexão teórica das limitações desses alunos nos experimentos; Realização de um plano de ação - desenvolvimento de uma balança semi-analítica vocalizada para a inclusão de alunos cegos em experimentos. Participaram deste estudo três licenciandos do curso de Química.

Resultado e discussão

Baseados na Teoria da atividade (LEONTIEV, 1984) licenciandos do nosso laboratório são formados para atuarem na inclusão fazendo uso da cultura maker, numa abordagem STEAM, “realizando atividade em razão de um objeto e uma necessidade, sendo essa última, portanto, o ponto-chave para o entendimento do que motiva os indivíduos a realizarem algo” (SÁ e MESSEDER NETO, 2020, p.27). Neste estudo, a possiblidade do licenciando em Química ministrar uma aula experimental com a participação autônoma de alunos cegos no preparo de soluções (a necessidade) encontrou sua determinação na criação de uma balança semi- analítica vocalizada (Figura 1) que atua como tecnologia assistiva (o objeto) tornando o motivo do uso da cultura maker como estímulo para a prototipagem (a atividade). Apresentamos um recorte (Figura 2) de uma aula de Química oferecida pelo nosso laboratório de Pesquisas numa Instituição pública parceira de apoio escolar para alunos cegos onde são geradas as demandas para os licenciandos desenvolverem suas pesquisas e criações. A balança tem dois botões de comando (tara e vocalização), dimensões 20cmx15cmx5cm e pode ser alimentada pela rede elétrica convencional. O equipamento transforma os dados da massa do soluto em informação sonora que sai por um alto-falante externo, concomitante a informação no display LCD. Com os avanços da eletrônica, as práticas maker de impressão 3D, microprocessadores e microcontroladores incentivam a criatividade e a interatividade proativa multidisciplinar (discussões envolvendo conhecimentos de Ciências, Engenharia, Mecatrônica e Programação) nos licenciandos que elaboram modelos mentais para a criação de protótipos que visam solucionar problemas do cotidiano escolar: a inclusão de alunos cegos nos experimentos (SILVEIRA, 2016).

Figuras 1 e 2

Figura 1: Balança semianalítica vocalizada; Figura 2: Diálogo referente ao ensino do uso da balança vocalizada aos alunos cegos.

Conclusões

A Química é uma Ciência teórico-prática e um dos papeis do professor é propor experimentos que fomentem a participação da diversidade de sala de aula. Contudo, esses professores ainda carecem de formação e recursos didáticos que contribuam para a inclusão escolar. Como extensão tecnológica do “Do it yourself”, a cultura maker numa abordagem STEAM estimula os licenciandos a identificarem demandas das especificidades e transformá-las em recursos didáticos para os experimentos e com a prototipagem promovem mudanças na forma de pensar e agir a docência no âmbito da inclusão.

Agradecimentos

Ao CNPq.

Referências

BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.; BONOMO, F.A.F.; VARGAS, G.N.; ARAÚJO, R.J.S. e ALVES, D.R. Observação inclusiva: o uso da Tecnologia Assistiva na experimentação no ensino de química. Experiências em Ensino de Ciências, v.12, n.2, 94-103, 2017a.
BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.; FRANÇA, F.A.; VARGAS, G.N.; ARAÚJO, R.J.S. e ALVES, D.R. A experimentação no ensino de química para deficientes visuais com o uso de tecnologia assistiva: o termômetro vocalizado. Química Nova na Escola, v.39, n.3, 245-249 2017b.
BENITE, C.R.M.; CAMARGO, M.J.R.; BENITE, A.M.C. O agir comunicativo e a educação inclusiva: uma possibilidade de análise da formação docente em ambiente virtual. Investigações em Ensino de Ciências, v.26, n.3, 237-258, 2021.
DEMO, P. Educar pela Pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados, 2000.
LE BOTERF, G. Pesquisa participante: propostas e reflexões metodológicas. In: BRANDÃO, C.R. (Org.). Repensando a pesquisa participante. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, p.52-81, 1999.
LEONTIEV, A.N. Actividad, consciencia y personalidad. México: Editorial Cartago de México, 1984.
MALDANER, O. A. A formação inicial e continuada de professores de Química: professores pesquisadores. 2ª ed. Ijuí: Unijuí, 2003.
MORAIS, A.A.A.; VARGAS, G.N.; FRANÇA, F.A.; BENITE, A.M.C.; BENITE, C.R.M. Roteiros experimentais para audiodescrição no ensino de Química: contribuições semióticas. REPPE: Revista do Programa de Pós-Graduação em Ensino, no Prelo, 2022.
PLETSCH, M.D. A formação de professores para a educação inclusiva: Legislação, diretrizes políticas e resultados de pesquisas. Educar, v.33, 143-156, 2009.
SÁ, L.V. e MESSEDER NETO, H.S. Teoria da Atividade em foco: enlaces com a formação do professor de Química. Revista Contexto & Educação, v.35, n.110, p.23-43, 2020.
SILVEIRA, F. Design & Educação: novas abordagens. In: MEGIDO, V.F. (Org.). A revolução do design: conexões para o século XXI. São Paulo: Editora Gente, 2016. p.116-131.
VARGAS, G.N.; ARAÚJO, R.J.S.; ALVES, D.R.; TELES, R.M.; BENITE, A.M.C.; BENITE, C.R.M. Science and teaching for all: development of a vocal scale for the inclusion of visually impaired students in an experimental class. Anais... 45ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Maceió, AL, 2022.

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