• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

UTILIZAÇÃO DO ANIME DR. STONE COMO FERRAMENTA NÃO TRADICIONAL NA DISCUSSÃO DE CONCEITOS DE QUÍMICA EM SALA DE AULA

Autores

Silva Lima, A. (IEMA) ; Souza de Sá, E. (IEMA) ; Brito Rodrigues1, E.K. (IEMA) ; Araújo Costa, T.N. (IEMA) ; Marques de Araújo Neto, J. (IEMA) ; Marques de Sousa, E.M. (IEMA) ; Mano Mesquita, E.C. (IEMA) ; de Oliveira Lima, L. (IEMA)

Resumo

Metodologias ultrapassadas e sem preocupação com o feedback dos alunos, torna o ensino de qualquer disciplina um processo maçante e de resultados negativos, tanto para os alunos, quanto para os professores. Deve-se mudar a tática letiva no ensino de Química, buscando sempre promover uma ludicidade no ambiente educacional. Pensando nesta vertente, o presente trabalho trata-se de uma proposta de aula cujo objeto didático utilizado para debate e discussão dos conceitos de química é o episódio n° 1 do anime Dr. Stone para um ensino e aprendizado mais leve e dinâmico. Através deste trabalho, produziu-se aulas que buscam desmitificar que a Química precisa ser ensinada de maneira tradicional e deve renovar-se a cada dia, inteirando-se na realidade dos alunos.

Palavras chaves

Lúdico; Ensino de Química; Recursos audiovisuais

Introdução

A educação vem passando por mudanças drásticas ao longo dos anos, deixando cada vez mais de seguir uma política autoritária e centrada apenas no professor e dando ao aluno o direito de exercer o seu papel como o sujeito ativo que no processo de ensino-aprendizagem. Todavia, mesmo com estas alterações no modelo educacional de um modo geral, as aulas de área de Ciências da Natureza, como Química, ainda seguem modelos tradicionais, tendo o livro didático e o quadro branco como únicos recursos utilizáveis, fazendo uso sempre dos mesmos padrões avaliativos e desconsiderando qualquer tipo de inovação que seja apresentada (RONCA; ESCOBAR, 1984). Metodologias ultrapassadas e sem preocupação com o feedback dos alunos, torna o ensino de qualquer disciplina um processo maçante e de resultados negativos, tanto para os alunos, quanto para os professores (NICOLA & PANIZ, 2016). Fator comprovativo para tal ineficiência, refere-se ao resultado significativamente baixo da avaliação de letramento cientifico, obtido pelo Brasil na avaliação do PISA, que não se progride desde 2006, quando em comparação com outros países (PISA, 2015). Deve-se mudar a tática letiva no ensino de Química, buscando sempre promover uma ludicidade no ambiente educacional, levando em conta que práticas lúdicas se referem a metodologias que proporcionem interação ativa entre os estudantes e o objeto de estudo, que busca propiciar significados no que está sendo aprendido e que deixa de lado os processos mecânicos e tradicionais utilizados antigamente (KNECHTEL & BRANCALHÃO, 2021). Ou seja, prioriza o desenvolvimento cognitivo e pessoal dos alunos ao invés do cumprimento de tabelas e carga horária impostos pela escola. Dentre as ferramentas para se abordar assuntos de forma lúdica, podemos citar: jogos, práticas, aulas de campo, materiais diversos, vídeos, músicas, etc. Dentre esses, os que já vêm sendo abordado por alguns e há um bom tempo são os recursos audiovisuais, considerando estes como: [...] um recurso de comunicação que engloba imagens e áudio, trabalhando de forma conjunta na difusão de informações, entretenimento e conhecimento etc. Tem-se como exemplo de audiovisual: a televisão, o cinema e o vídeo. Todos estes podendo desempenhar, de algum modo, função educacional, já que abarcam em si enorme potencial de ensino (LISBOA, 2014, p. 1). Dessa forma, além de vídeos desenvolvidos para a finalidade educacional (vídeo aulas), outros tipos de produções também podem desempenhar esse papel em sala de aula, desde que abordem corretamente assuntos correlatos com a ementa e não prejudiquem o desenvolvimento intelectual ou moral dos estudantes e do professor. Sendo assim, animes são opções viáveis para tal aprimoramento dos modelos de aulas. Pensando nesta vertente, o presente trabalho trata-se de uma proposta de aula cujo objeto didático utilizado para debate e discussão dos conceitos de química é o episódio n° 1 do anime Dr. Stone visando tornar o processo de ensino aprendizado mais leve e dinâmico.

Material e métodos

Para o desenvolvimento do trabalho, utilizou-se o episódio introdutório de Dr. Stone (Figura 1) nos quais são utilizadas palavras pertencentes ao cotidiano de assuntos voltados para o ensino de disciplinas da área de Ciências da Natureza de um modo geral, mas principalmente alguns processos laboratoriais, como Destilação, Fermentação, produção de condimentos e conservação alimentar, etc. Inicialmente foram transcritas todas as falas que possuíam conceitos potencialmente discutíveis. Este momento é denominado como etapa de decomposição do material audiovisual; e posteriormente analisou-se através da literatura se os conceitos haviam sido aplicados corretamente no contexto do anime; a esta etapa dar-se o nome de interpretação, ainda de acordo com o referido autor. Em seguida uma associação entre as palavras ou tópicos com os assuntos pertencentes a grade curricular da disciplina de Química no Ensino Médio foi realizada afim de se preparar formas de discuti-las em sala de aula. Para auxilio e aplicação do mesmo nas aulas foi utilizado além do episódio em si, ferramentas de gamificação sobre o episódio para dar início aos debates pertinentes, como por exemplo Kahoot. Após assistir o episódio, participar do quiz no site de gamificação, os alunos foram indagados a respeito de algumas questões abordadas durante o vídeo, tal como o significado de falas de cunho científicos apresentadas por alguns personagens. Falas que são cruciais para a utilização do anime como ferramenta didática não tradicional, haja vista que as informações contidas na mesma são corretas e podem sim auxiliar no processo de ensino e aprendizagem do conteúdo pragmático de Química no Ensino Médio.

Resultado e discussão

FUNDAMENTAÇÃO DO EPISÓDIO O avanço tecnológico, acelerou o desenvolvimento e divulgação da pesquisa científica. O acesso à informação tem sido uma barreira cada vez menor para a popularização do conhecimento científico, entretanto, é necessário que o sujeito/telespectador seja capaz de interpretar corretamente e ressignificar essas informações no contexto da sua realidade (ZATZ, 2011). É de grande importância que através da educação os estudantes estejam aprendendo não somente o conteúdo pragmático das ementas, mas também adquirindo capacidade de aplicar tais conhecimentos em tomadas de decisões, tornando-se assim pessoas responsáveis e aptas a viverem de forma individual e coletiva (KRASILCHIK, 2004). As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica (BRASIL, 2013) determinam que é dever da escola, e, consecutivamente do professor, propiciar suporte para que os alunos se tornem cidadãos capazes de discutir temas de sua atualidade. As mídias digitais, filmes, novelas, animes e/ou desenhos animados, a exemplo dos animes e mangás, são amplamente difundidas e representam um instrumento promissor na mediação do processo de ensino e aprendizado. A palavra “mangá”, de origem japonesa é utilizada para se referir a histórias em quadrinho de modo geral, é designada por dois ideogramas: man (漫) que pode ser compreendido como “o que não é sério” ou “conteúdo humorístico”; e o ga (画) que significa “desenho” ou “imagem”, tendo sua tradução literal como “desenhos engraçados”. Já o termo “anime” pode ser interpretado como a “forma animada dos quadrinhos”, no Brasil, chamado por alguns como “desenhos animados” (ROCHA, 2008). O Brasil é um ávido consumidor de animações japonesas através de diferentes vínculos tais como TV, internet, revistas, jornais ou eventos relacionados a cultura japonesa. A inserção do público brasileiro no universo dos mangás/animes, de acordo com Scoville e Alves (2018), ocorreu em meados de 1990, com a publicação do mangá japonês “Lobo Solitário”. Atualmente muitos outros mangás e animes são apreciados diariamente por um amplo público brasileiro, dentre eles, Dr. Stone. No episódio n° 1, cuja história do anime é introduzida, todas as pessoas do planeta Terra são petrificadas por uma misteriosa luz verde. Após 3.700 anos passados da petrificação, dois humanos consegue ser despetrificados: Senku Ishigame e Taiju Oki. Um deles (Senku), um jovem prodígio que mesmo estando apenas no colegial é bastante inteligente e um cientista. Vendo que foi o primeiro a acordar, começa a desenvolver estudos e realizar práticas e equipamentos que já não mais existem. Taiju Oki: Que delicia, que tempero você colocou nisso? Senku Ishigame: É só sal que eu tirei da água do mar, com uma pitada de sal o ser humano consegue comer qualquer coisa, também é importante para fazer conservas. Pode-se dizer que é a maior descoberta do homem primitivo. A informação disponibilizada na fala do personagem Sanku é verídica e comprovada por estudos como o de Perrone (2011), que aponta que no Brasil, a maior parte do Cloreto de Sódio (NaCl) consumido nas cozinhas dos habitantes, é obtido da água do mar, todavia, existem dois tipos de sal na natureza, o “sal marinho” obtido através da evaporação de água do mar e o “sal da rocha” (sal-gema) que é extraído de rochas subterrâneas resultantes de lagos e mares que secaram. O sal é um nome genérico para um grupo de substâncias com características químicas semelhantes, sendo que a mais importante, para o ser humano, é o cloreto de sódio popularmente conhecido como "sal de cozinha" que é constituído basicamente por 40 % de sódio e 60 % de cloro (GIUSTINA, 2010). Além desse diálogo onde pode ser desenvolvida uma discussão a respeito da formação de substâncias comuns ao nosso cotidiano, porém ainda sim, químicas, outros diálogos são estabelecidos pelos dois personagens acordados na Terra: Taiju Oki: Será que a pedra apodreceu? Senku Ishigame: Apodreceu! Supondo que esse estranho mineral foi corroído. Senku Ishigame: Não é suspeito que nós dois tenhamos saídos quase ao mesmo tempo [...] tem uma explicação bem lógica por trás de toda coincidência [...] ambos fomos atraídos para perto dessa caverna [...] veja só esse liquido pingando do teto da caverna [...] é um líquido milagroso feito de guano de morcego... ácido nítrico. Estudos presentes na literatura confirmam a afirmação levantada por Senku, onde o mesmo diz que o fato de ambos os seres despetrificados terem assim o feito por conta da capacidade de destruição que o Ácido Nítrico tem sobre as rochas. Byczok (1964) apud Steiger (2015) aponta que esse poder de destruição se dá pelo fato do ácido nítrico transformar o hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) do concreto, em nitrato de cálcio (Ca(NO3)2), um sal altamente solúvel. Outro fator que também não pode ser desconsiderado, que é afirmado no episódio um de Dr. Stone, é o fato de o guano produzido pelos morcegos apresentarem compostos com capacidade de destruição de rochas. Branco e Chaves (2006) afirma que o guano formado pelos morcegos, só se dar por conta do acúmulo de seus excrementos e a oxidação deste material orgânico, além do mais, confirma que a água que lixivia esta matéria orgânica, geralmente é muito ácida, o que permite considerar a presença do ácido nítrico entre eles. Outro fator também discutível em aulas de Química do Ensino Médio a partir do episódio é o fato da citação de processos de destilação e formação de etanol, e de como o mesmo pode contribuir para a formação de um produto novo ao ser misturado com ácido nítrico: Senki Ishigame: Se eu tivesse uma bebida alcoólica. Com o álcool na bebida eu poderia combinar Ácido Nítrico e etanol para criar Nital, é um agente decapante de força industrial. Taiju Oki: Não daria para fazer vinho com essas frutinhas que eu peguei? [...] Senki Ishigame: Destilação de vinhos para iniciantes [...] aqueça, esfrie, e deixe pingar, isso concentra o álcool. Não se preocupe, as pessoas na Mesopotâmia faziam isso utilizando potes de barro. [...]. Não há nada que a ciência não consiga explicar. Destilação é um processo onde ocorre a separação física baseada na diferença de volatilidade entre as substâncias a serem separadas. Os processos de destilação alcoólica contínua, tanto para a produção dos diferentes tipos de álcoois quanto para a produção de cachaça, são realizados, no Brasil, em colunas de pratos ou 15 bandejas, contendo válvulas ou borbulhadores (BATISTA, 2008). No episódio em questão, a destilação realizada se dá a partir de um vinho recém fermentado, a literatura aponta como se dá esse processo. Lima et al. (2001) aponta que após a fermentação, os meios açucarados passam a denominar-se vinhos, com uma constituição variável, mas encerrando sempre substâncias gasosas, sólidas e líquidas. As primeiras representam-se principalmente pelo dióxido de carbono, que se dissolve em pequena proporção. Os sólidos se fazem presentes pelas células das leveduras alcoólicas, de bactérias contaminantes, sais minerais, açúcares não fermentados e impurezas sólidas em suspensão. APLICAÇÃO EM SALA DE AULA O presente trabalho é na verdade uma proposta a ser desenvolvida, através da mesma obter-se-á a realização de uma aula com discussão de temáticas pertinentes e pertencentes a ementa de Química no Ensino Médio, de forma lúdica, dinâmica e inovadora. Além de contar com o artefato do episódio, utilizar-se-á também ferramentas de gamificação Kahoot para verificação de entendimento e compressão do debate realizado a partir do anime. Aulas como esta buscam desmitificar que a Química precisa ser ensinada de maneira tradicional e deve renovar-se a cada dia, inteirando-se na realidade dos alunos.

Figura 1

Capa do Anime Dr. Stone - 1° temporada. LInk: https://www.infoanime.com.br/poster/2019/drstone.jpg

Conclusões

Levando em consideração linhas da educação que defendem que para haver uma aprendizagem significativa os alunos precisam ter conhecimentos antecessores aos abordados em sala de aula para lhe servirem de âncoras, acreditamos que utilizar animes como ferramentas não convencionais para o contexto de sala de aula é trazer à tona âncoras que os alunos sequer sabiam que tinha. Além de ser uma ferramenta lúdica, dinâmica e atual, apresenta muito potencial para ser uma muito eficiente.

Agradecimentos

Agradecemos ao Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia pelo incentivo a prática da pesquisa e pela contribuição com ambiente educacional de qualidade.

Referências

BATISTA, F. R. M. Estudo do processo de destilação alcoólica contínua: Simulação de Plantas Industriais de Produção de Álcool Hidratado, Ácido Neutro e Cachaça. Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas, 2008.
BRANCO, P.M. e CHAVESM. L. S. C. A Mineralogia e alguns de seus minerais raros ou de gênese exótica. Terra e Didática, 2(1):75-85, 2006.
BRASIL no Pisa 2015: análises e reflexões sobre o desempenho dos estudantes brasileiros/OCDE – Organização para a cooperação e desenvolvimento econômico. – São Paulo: Fundação Santillana, 2016.
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GIUSTINA, Amanda D. Alimentação e Saúde. O papel do sal light na Hipertensão Arterial. Set. 2010.
KNECHTEL, C. M.; BRACALHÃO, R. M. C. Estratégias Lúdicas no Ensino de Ciências. Portal da Educação do Estado do Paraná: Dia a Dia Educação. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2354-8.pdf>.
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NICOLA, J. A.; PANIZ, C. M. A importância da utilização de diferentes recursos didáticos no ensino de ciências e biologia. In: For, Inovação e Informação - Revista do Núcleo de Educação a Distância da Unesp, São Paulo, vol. 2, nº 1, p. 355 - 381, 2016.
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ROCHA, M. M. A arte da animação japonesa: em busca de gerativos de sentidos. 2008. 132 f. Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: https://cutt.ly/puc-tese-rocha, 2008.
RONCA, A. C. C.; ESCOBAR, V. F. Técnicas Pedagógicas: Domesticação ou desafio à participação?, 3ª edição, Petrópolis: Editora Vorazes, 1984.
SCOVILLE, A. L.; ALVES, B. O. Laboratório de Artes Visuais: fotografia digital e quadrinhos. Curitiba: InterSaberes, 2018. 302p.
STEIGER, V. K. Contribuição para o estudo da degradação química da pasta de cimento: simulação da atividade agressiva do guano de morcegos. Dissertação realizada no Programa de Pós-graduação em Engenharia e Tecnologia de Materiais – PUC – Rio de Janeiro, 2015.
ZATZ, M. Genética: escolhas que nossos avós não faziam. 1. ed. São Paulo: Editora Globo, 2011. 24p.

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