• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

“O Ensino de Química no cultivo orgânico de alimentos e combate à fome no contexto da COVID -19”

Autores

Oliveira, A.S. (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGI) ; Gomes, L.J.O. (IFG) ; Santos Gomes Oliveira, M. (IFG) ; Neto Tocchio, D. (IFG) ; Goncalves Ribeiro Maria, A. (IFG) ; Everton Santos, I. (IFG) ; Campos Santos, L. (IFG) ; Lima Ferreira Cristina, M. (IFG) ; Pureza Luis, G. (IFG) ; Junior Figueira Sousa, V. (IFG)

Resumo

Esta pesquisa correspondeu ao Ensino de Química destinado aos alunos dos cursos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no IFG-Câmpus Anápolis em situação de vulnerabilidade social. Ele resultou do produto educacional elaborado no Programa de Metrado em Educação Profissional e Tecnológica do IFG (ProfEPT), que correspondeu a um protótipo de cultivo orgânico de alimentos mediado pelas tecnologias de informação e comunicação no contexto da COVID -19. O protótipo foi constituído por uma plataforma interativa e um kit físico para o plantio de alimentos em pequenos espaços. Foi desenvolvido por alunos do curso de licenciatura em Química através do ensino de Química e Biologia contextualizado na produção de alimentos orgânicos.

Palavras chaves

Ensino de Química; Covid-19; horta orgânica

Introdução

Este estudo possui natureza interdisciplinar e articula as dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão. Neste contexto, inicialmente é importante destacar que esta proposta teve início no período de 2017 quando foi realizado o projeto de extensão “Terra, mãos e sonhos” que consistia no desenvolvimento de uma horta comunitária para a geração de renda e combate a fome no município de Anápolis. Articulando o ensino, a extensão e a pesquisa, em 2019 foi proposto no Programa de Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) o desenvolvimento de uma proposta de formação pela educação ambiental acerca dos riscos à saúde pela ingestão de agrotóxicos nos alimentos. Desenvolvíamos a pesquisa nessa direção. Porém, em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou ao mundo a necessidade do enfrentamento da pandemia do novo coronavírus através do isolamento social. Este período de isolamento que parecia ser breve continua até hoje com momentos de flexibilidade e rigidez. Além do risco iminente à vida, predominou um forte impacto econômico que expos as pessoas mais pobres em condições ainda mais precárias de sobrevivência. As dificuldades extremas voltaram assolar o país e logo começaram as campanhas de arrecadação de alimentos para os brasileiros submetidos às situações de fome. Ficamos sensibilizados com esta situação e diante deste cenário de inseguranças permanentes e inusitadas que expõem as pessoas à degradação da vida, centramos nossa atenção no contexto da fome no país. Em especial, porque desde 2017, desenvolvemos ações nas comunidades do Residencial Copacabana, Vale das Laranjeiras e Moro do Cachimbo; com graves situações de vulnerabilidades. O contexto socioambiental destas comunidades caracteriza-se por situações de vulnerabilidades diversas. Nelas predominam, em maior ou menor grau, situações de fome extrema, violências (principalmente contra as mulheres), desempregos, alta dependência de programas assistencialistas para a sobrevivência, baixa ou nenhuma qualificação para o mercado de trabalho, pouca ou nenhuma escolaridade, baixa organização social e outras marginalidades. Com o isolamento social, o projeto de extensão e a pesquisa desenvolvida no âmbito do ProfEPT foram redirecionados para a construção de um protótipo capaz de promover a produção de alimentos em pequenos espaços, bem como constituir posturas mais conscientes frente ao consumo de agrotóxicos nos alimentos para uma melhor saúde no contexto da COVID-19. Neste contexto, idealizamos um protótipo no ProfEPT para o cultivo orgânico de alimentos mediado pelas tecnologias de informação e comunicação no contexto da pandemia. Por meio dele vislumbramos um meio de continuidade da pesquisa e extensão, bem como de propostas de ensino. O protótipo é constituído por uma plataforma virtual interativa: www.euqueplantei.com e um kit físico para o plantio de alimentos em pequenos espaços. O kit físico é composto por um receptáculo sustentável, cápsula de sementes e guia básico sobre o plantio em pequenos espaços. Este Kit será entregue de uma só vez para os alunos da EJA em Secretaria Escolar e Transporte de Cargas e as atividades de ensino serão realizadas pelos alunos da Licenciatura em Química do IFG-Anápolis. Através da plataforma virtual pretende-se o ensino de Química e Biologia contextualizados no cultivo orgânico. Todos os conteúdos serão preparados pelos licenciandos, disponibilizados na plataforma e trabalhados com os alunos da EJA. Com isso pretendemos ensinar em Química os seguintes conceitos: Elementos químicos, ácidos e bases, produtos sintéticos e naturais, metais pesados, poluentes orgânicos persistentes, reações químicas e físicas. Em Biologia pretendemos os seguintes conceitos: biofertilizantes, inseticidas naturais, adubação verde, biomineralização, composto orgânico, nutrição vegetal, desenvolvimento calicular e foliar, ciclo biogeoquímico, alimentação saudável e riscos frente a ingestão de agrotóxicos. Relativo aos agrotóxicos, é importante destacar que muitos produtos químicos reconhecidos cientificamente como danosos à saúde pública e ao meio ambiente, proibidos em outros países, tiveram acentuada circulação no Brasil a partir do governo Bolsonaro. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), dos cinquenta agrotóxicos mais utilizados nas lavouras de nosso país, 22 são proibidos na União Europeia, o que faz do Brasil o maior consumidor de agrotóxicos já banidos de outros países de acordo com dados do Dossiê ABRASCO (CARNEIRO; PIGNATI; RIGOTTO; AUGUSTO; RIZOLLO; MENDONÇA; MULLER, 2015).

Material e métodos

O desenvolvimento metodologico aconteceu nas principais plataformas de pesquisa do Brasil, pela análise de artigos de periódicos e resumos relacionados às temáticas, disponíveis no banco de dados da Capes, e consultas bibliográficas sobre a produção de autores mais relevantes nessas temáticas. Neste percurso seguimos com o planejamento das ações para a entrega dos Kits físicos e desenvolvimento das metodologias de ensino-aprendizagem por meio de objetos virtuais de aprendizagem (BARROS, 2007; BECK, 2002; BETTIO, 2000; LÉVY, 1993; MUZIO, 2001; OLIVEIRA, 2001; SÁ FILHO, 2004; TORI, 2003). Isto para que projeto sirva como instrumento de diálogo para o objetivo principal mencionado. Nesse sentido, ele será metodologicamente organizado por meios de informações e atividades de formação presentes nas seções da plataforma, com a possibilidade interativa de realização das práticas de produção de alimentos por meio dos Kits, guiadas por um tutorial, por vídeos e interações pelo chat.

Resultado e discussão

Anterior ao início das atividades de ensino foi realizado um processo formativo com os alunos bolsistas e voluntários através de reuniões de estudos e discussões para o desenvolvimento do projeto. Estas reuniões aconteceram durante todo o mês de agosto através da plataforma meet. Nesta etapa verificou o pleno envolvimento, esforço e dedicação dos estudantes para o aprendizado dos conceitos, que eram discutidos com o coordenador do projeto.Após esta etapa, o projeto de ensino foi amplamente divulgado através das redes sociais e contou com o apoio da coordenação do curso. Inicialmente participaram do projeto 15 estudantes da EJA. Neste processo, os estudantes do curso de licenciatura em Química seguiram elaborando roteiros próximos ao formato das sequencias didáticas para o ensino de Química e Biologia contextualizado na produção de alimentos orgânicos e mediados pela educação ambiental. Alguns destes roteiros estão em ANEXO I No período da pandemia da COVID–19 e diante de um cenário de inseguranças que expôs as pessoas ao risco inusitado de vida, centramos nossa atenção no aumento do número de casos de situações de fome e no risco permanente pela ingestão de agrotóxicos nos alimentos. Neste sentido, também centramos a nossa atenção na ingestão de agrotóxicos e escolhemos o tomatinho cereja como cultivo (|Figura 03). Assim, o desenvolvimento do projeto também constituir posturas mais conscientes frente ao consumo de agrotóxicos nos alimentos. Para isto utilizamos a plataforma virtual acessada através do link - www.euqueplantei.com Neste processo, planejamos a constituição física do protótipo para o plantio que foi desenvolvido junto aos alunos da EJA. O kit físico foi composto por um receptáculo sustentável, cápsula de sementes, mudas de tomatinho cereja e um guia básico sobre o plantio em pequenos espaços. Este Kit foi montado de uma só vez com os estudantes de Química e os alunos da EJA, em um encontro presencial que ocorreu em novembro, respeitando todas a orientações de segurança frente a COVID -19. Os Kits foram entregues para os alunos da EJA (Figura 05) e todo o processo de ensino foi realizado por mediações através dos recursos virtuais. Os estudantes de Química realizaram o processo de ensino de conceitos de Química durante o desenvolvimento das técnicas de cultivo orgânico. Este processo foi desenvolvido no campo da Educação Ambiental Crítica, e os conceitos tratados foram sobre biofertilizantes, poluentes orgânicos persistentes, produtos sintéticos e naturais, elementos químicos, pesticidas naturais e outros. Estes conceitos foram tratados através de encontros virtuais no google meet. que o processo esteve para além do ensino de conceitos, pois todos os alunos (EJA/bolsistas e/ou voluntários) estiveram imersos em um processo de trocas de saberes, através do diálogo contínuo e da valorização de saberes entre todos.

Conclusões

Como mencionado, este projeto de ensino de Química foi desenvolvido pelos alunos da licenciatura em Química junto aos alunos em situação de vulnerabilidade social na EJA do IFG- Anápolis. Para o público-alvo conseguimos que o projeto fosse capaz de se constituir em uma ação no combate à situação de fome que se intensificou com a COVID-19, bem como constituir posturas mais conscientes frente ao consumo de agrotóxicos nos alimentos e o aprendizado de conceitos em Química. Para os alunos da licenciatura (bolsistas e/ou voluntários) apreendemos que o estudo constituiu um espaço de exercício da docência pelo ensino de conceitos contextualizados. Também, esperamos que a proposta contribua como um espaço de formação em ambientes de complexidade por meio da troca de saberes entre os envolvidos.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás – IFG pela concessão de recursos financeiros para a execução da pesquisa e bolsas para os estudantes

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