• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

SABERES E PRÁTICAS: POSSIBILIDADES DE ESTUDO DAS REAÇÕES INORGÂNICAS NO ENSINO DE QUÍMICA

Autores

Zanetoni, V.A.L. (IFMT) ; Leão, M.F. (IFMT)

Resumo

Essa intervenção objetivou promover a participação dos estudantes como protagonistas na realização experimental, discutir e refletir sobre o processo que interpõem a compreensão de reações inorgânicas. Envolveu uma turma de 1° ano do Ensino Médio, em 2019. Foram desenvolvidas atividades experimentais e pesquisas, no intuito de interpretar as reações e suas aplicações no cotidiano. Os resultados indicaram que estratégias sistematizadas favorecem a participação dos estudantes nas aulas, potencializam a resolução de problemas e compreensão dos conceitos. Logo, conclui-se que práticas diversificadas e inovadoras que visam (re)significar o ensino de Química tem se mostrado primordiais, por consequência, a utilização da experimentação se apresenta como facilitadora no processo educativo.

Palavras chaves

Aprendizagem; Ensino de Química; Experimentação

Introdução

A dinâmica da sala de aula envolve interações didáticos pedagógicas que é preciso recorrer às contribuições teóricas, práticas e que estejam presentes nas vivências diárias dos estudantes. Assim, faz-se necessário encontrar os delineamentos metodológicos para a realização de atividades experimentais investigativas de modo envolve-los efetivamente no processo educativo, e que por sua vez, tenham relação e sentido para suas vidas. Salienta-se que nas Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio, essa modalidade pressupõe organização do processo educativo baseada na formação do estudante desde o pensar e compreender as exigências da vida social; que sistematize como princípio educativo trabalho, ciência, tecnologia e cultura na perspectiva da emancipação humana (BRASIL, 2013). Desse modo, diante aos desafios que se apresentam nessa etapa de escolarização no que diz respeito a apropriação de conhecimentos científicos pode ser efetivada por meio de práticas experimentais, norteada por contextos que relacione teorias e saberes com suas vivências, em oposição a metodologias pouco ou nada dinâmicas e sem significado para os estudantes (BRASIL, 2013). Além disso, salienta-se, também, que é imperioso considerar a investigação científica como o caminho para estabelecer a significação dos conhecimentos referentes aos processos que envolvem a evolução, as transformações da matéria e energia (SEDUC/MT, 2021). Nesse viés, Chassot (2014) afirma ser imprescindível por meio do conhecimento químico que os estudantes possam aprender ler melhor o mundo, para além disso, também sejam prudentes diante as transformações mais favoráveis de nossos ambientes natural e artificial. Conforme preconiza o DRC/MT-EM a importância de que os professores durante o processo de mediação propiciem meios para que os estudantes organizem e articulem os conhecimentos que envolvem os fenômenos naturais e os recursos tecnológicos, possibilitando desenvolver processos de argumentação e reflexão sobre os fenômenos naturais, a partir da seleção de informações presentes em redes sociais, livros, aulas experimentais, dentre outros (SEDUC/MT, 2021). Nesse propósito, é pertinente aos professores promover atividades que possam despertar em seus estudantes o interesse, a curiosidade e o gosto de aprender, para isso o trabalho com base em temas problematizadores do contexto dos estudantes, de maneira a relacioná-los com suas práticas vivenciadas (MONTEIRO, 2016). Nessa perspectiva, a experimentação tem sido bastante admitida no ensino de Química, visto que essa Ciência trabalha, sobretudo, com os materiais e suas transformações. Todavia, a experimentação por si própria não assegura a aprendizagem dos conceitos químicos (FERREIRA; CÔRREA; SILVA, 2019). Ademais, para que a função dos experimentos seja atingida, o professor precisa ter clareza e compreensão sobre as formas de abordagem da experimentação na Educação Básica, de maneira que sua condução seja eficiente no processo de ensinar. Dessa forma, para as possibilidades de procedimentos experimentais no ambiente escolar propõe-se que sejam não apenas demonstrativos, mas que possam ser realizados pelos próprios estudantes e ter viés de confirmação ou de investigação da problemática a ser estudada. De acordo com Carvalho (2013), o problema experimental proposto precisa ser bem planejado e de preferência que faça parte da cultura social dos estudantes, que possa envolvê-los, permitir que exponham seus conhecimentos já estruturados e despertar seu interesse na busca de uma solução sobre o assunto. Além do mais, o material didático deve ser instigante para despertar a atenção deles, de fácil manuseio para que possam utilizar e chegar a uma solução da questão. Diante do exposto, justificou-se fundamentalmente o estudo das reações químicas proposto por meio da experimentação desenvolvida junto ao componente escolar Química na Educação Básica, por proporcionar aos estudantes do Ensino Médio concepções acerca da compreensão dos conceitos teóricos e práticos desse conteúdo, haja vista que, as transformações químicas se fazem presentes em seu cotidiano nas mais diversas atividades corriqueiras. Além de, potencializar o uso de recursos acessíveis para realização de experimentos no ensino de química. Logo, o presente texto aborda um relato de experiência acerca das Reações Inorgânicas a partir experimentação com o intuito de mediar a aprendizagem dos estudantes baseado em estratégias que aproxime os conceitos científicos e suas aplicações cotidiana. Portanto, objetivou-se promover a participação ativa dos estudantes como protagonistas na realização experimental, discutir e refletir sobre o processo que interpõem a compreensão do mencionado conteúdo, e consequentemente, a efetivação de saberes.

Material e métodos

O presente relato de experiência baseou-se no desenvolver da atividade experimental investigativa utilizou-se ações pedagógicas que envolveram teorização, experimentação e informações representacionais (pesquisa). A atividade envolveu estudantes de uma turma de 1° ano do Ensino Médio, da escola Estadual Antonio Cristino Côrtes, de Barra do Garças-MT, no ano de 2019. Para iniciar, ocorreram leituras individuais do livro didático. Foi solicitado que descrevessem em seus cadernos sua compreensão prévia em relação a reação química e apresentassem ao menos uma exemplificação aplicada na sua vivência. Na sequência, ocorreu a socialização dessas anotações, momentos de troca de experiências para a conceituação introdutória do assunto abordado. Em seguida, foi descrito no quadro a representação de algumas reações com a linguagem química convencionadas (Reagentes → Produtos) introduziu o modelo das equações químicas no sentido de descrever a transformação, utilizou-se a nomenclatura e as fórmulas química das substâncias envolvidas. Em outro momento, a turma foi dividida em grupos para execução de dois experimentos selecionados envolvendo as reações química, empregou-se materiais e reagentes de fácil aquisição e manipulação, sendo: 1°) Bicarbonato de sódio com vinagre (ácido acético diluído); 2°) Oxirredução: Palha de aço em meio ácido (vinagre). Os estudantes receberam um roteiro de estudos com a descrição dos materiais e reagentes a serem utilizados. Assim, foram instigados a pensar e elaborar os procedimentos para a realização da prática, na sequência, observar e anotar possíveis evidências de uma reação. Nesse ponto, utilizou-se de anotações descritivas para discriminar as principais considerações em relação aos procedimentos, dispor os reagentes envolvidos por meio da representação de equação para cada uma das reações propostas, e ainda, supor quais substâncias que poderiam ser formadas. Quanto a execução prática foi realizada pelos próprios estudantes com a mediação da professora, no que diz respeito, auxilia-los na manipulação experimental, levantar os questionamentos sobre o assunto. Destarte, pretendeu-se com essas ações possibilitar aos estudantes levantar hipóteses a serem testadas para a compreensão e resolução do problema em questão. Posteriormente, no laboratório de informática, foram realizadas investigações para relacionar com as observações experimentais, confrontar os dados e analisá- los, de modo, a sistematizar a leitura, interpretação, e consequentemente, a descrição química das substâncias envolvidas nas reações propostas na aula anterior. Por fim, cada grupo elaborou um relatório descritivo pormenorizado em relação a experiência, constituindo-se das caracterizações macroscópicas evidenciadas para cada reação manipulada na aula prática, e ainda, complementou-se com os conceitos teóricos analisados no levantamento de informações pertinentes as reações com base na pesquisa em sites educativos.

Resultado e discussão

Os relatórios da atividade experimental investigativa possibilitaram constatar análises realizadas pelos estudantes sobre as reações químicas. Todos eles continham a sequência de estudos que realizaram e as descobertas que tiveram sobre o assunto em estudo. Nesse sentido, é possível perceber que a experimentação investigativa é viável para ser desenvolvida em sala de aula, ou seja, é uma alternativa metodológica disponível aos professores de Química para promover a participação ativa dos estudantes como protagonistas na realização experimental, discutir e refletir sobre o processo que interpõem a compreensão das reações químicas e a efetivação de saberes. Dessa forma, os estudos apontam contribuições significativas, no processo educativo uma vez que se evidenciou o interesse e participação ativa dos estudantes no decorrer de cada etapa proposta. Inicialmente as manifestações e as descrições teóricas dos participantes durante a socialização de seus conhecimentos prévios sobre o assunto em sala de aula demonstraram-se de maneira simplicista e a princípio percebida como um sistema complexo. Segundo a proposta de Carvalho (2013), ao iniciar uma Sequência de Ensino Investigativo (SEI), seja qual for o problema proposto, se faz necessário estabelecer etapas, de modo que, seja oportunizado aos estudantes suscitar e investigar suas hipóteses, transpor de atividades manipulativas à intelectual configurando suas considerações e concepções debatidas com seus pares e com o professor. Essa situação investigativa segue ilustrada conforme figura abaixo, na qual os estudantes, formando pequenos grupos realizam interações com o objeto de estudo e entre si. Nesse viés, no que se refere, a execução dos experimentos percebeu-se o envolvimento evidenciado pela curiosidade e o comprometimento dos estudantes diante a possibilidade de serem os protagonistas de seus estudos ao serem instigados a pensar, relatar e evidenciar os caminhos e observações identificadas com base na realização prática. Cabe dizer que, os grupos solicitaram que pudessem repetir cada prática para de fato constatar todas as evidencias de transformação percebidas e anotadas. Esse momento foi marcado pelo entusiasmo e atenção dos participantes, no sentido de conseguir perceber as possíveis evidencias do ocorrido em cada experimento. Nessa ocasião, pontua-se ser fundamental que o professor faça interrogações aos estudantes pertinentes a abordagem do assunto para resolver o problema, considera-se e justifica-se as principais ações que levam a solução do problema (CARVALHO, 2013). Conforme Chassot (2014), o comprometimento daqueles que exercem os ensinamentos educacionais por intermediação da Química precisam considerar alternativas para uma ampla exposição deste componente curricular, e ainda, da sua relevante dimensão social no mundo contemporâneo. Já o que diz respeito, a investigação teórica para descrição das reações químicas com base as representações simbólicas e conceituação. Notou-se nesse ponto a superação dos desafios em relação a compreensão do assunto observado no início da intervenção, uma vez que, nitidamente os estudantes fizeram as leituras em sites, dialogavam e relacionavam os conceitos com a experimentação. Cabe enfatizar que, além desse momento a constatação do aprendizado dos estudantes foi também confirmado por meio do relatório descritivo solicitado e entregue a professora. Nas palavras Chassot (2014), não é pertinente que apenas se faça a transmissão de conhecimentos químicos, para além disso, enfatiza-se que esses saberes sejam instrumentos para melhor se fazer educação. Enfim, a estratégia utilizada considerou o nível representacional (simbólico) para modelar as equações que representam as reações químicas, as quais puderam ser exploradas a partir de materiais e reagentes alternativos e acessíveis no ambiente escolar, dispondo da aplicação de tecnologias acessíveis na elaboração do conhecimento. Assim sendo, apresentou-se como procedimento facilitador para expressar e estudar mecanismos de reações inorgânicas, posto que auxiliou a interpretação do que ocorre nas transformações química em nível macroscópico, subatômico, representacional, assim como, o conhecimento vinculado a sua aplicabilidade. Outra figura a seguir ilustra o desenvolvimento da atividade e o envolvimento dos estudantes, que participaram ativamente de todo o processo instrutivo, proporcionado por essa situação de aprendizagem. De acordo com Maldaner (2003), nessa etapa da formação dos estudantes utilizando-se da simbologia química que representam as substâncias, é considerável entender determinadas particularidades da matéria de forma que as noções introdutórias se organizem. Desse modo, sejam capazes de refletir a transformação química em termos de conservação de átomos e de interatividade para a constituição de novas substâncias. Diante do exposto, os depoimentos apresentados pelos estudantes tanto corresponderam o quão significante foi o desenvolvimento da experimentação para o entendimento em relação as reações, como também para a utilização de ferramentas diversificadas como facilitadoras do seu aprendizado. Os resultados foram positivos e motivam a continuidade de atividade dessa natureza, com ênfase em estratégias diversificadas no processo de ensinar. Logo, a intervenção aporta resultados satisfatórios que contribuíram para que sejam fidelizadas estratégias diversificadas de ensino relativas às reações químicas e favorecedoras do desenvolvimento teórico científico com base na experimentação vinculado ao contexto vivenciado pelos estudantes, bem como, a integração destes como atores na construção dos saberes.

Atividade investigativa em pequenos grupos

A realização de pesquisas e reflexões teóricas sobre os fenômenos observados é muito importante, pois possibilita relacionar teoria e prática.

Realização da atividade experimental investigativa

Realizar experimentos químicos por meio da utilização de materiais concretos possibilita ao estudante relacionar as reações inorgânicas com cotidiano.

Conclusões

A experimentação investigativa desenvolvida em aulas de Química pode ser uma possibilidade de estudo que potencializa a compreensão das reações inorgânicas teoricamente previstas nos planejamentos escolares. Essa atividade aproxima saberes científicos a realidade dos estudantes e propicia significados do que se aprende, além do mais, promove sua participação ativa no processo de aprender. Verificou-se, portanto, que essa atividade despertou o interesse dos estudantes para elaborarem suas próprias concepções, o que os levou a ler e reler os conteúdos e as explicações encontradas nos livros e sites, além de desafiá-los ao uso de recursos tecnológicos disponíveis, de fácil utilização e manipulação que fomentam o conhecimento. Essa estratégia pedagógica levou-os a interagirem diretamente com o objeto em estudo, isto posto, desencadeou o aprofundamento do conteúdo por meio da atividade experimental investigativa sobre reações inorgânicas e, por conseguinte, a efetivação do seu aprendizado. O trabalho em grupo favoreceu a dialogicidade entre estudantes e professora durante a realização das etapas no desenvolvimento do experimento, uma vez que as discussões foram intensificadas, na busca e aprofundamento sobre aspectos e conceitos envolvidos no assunto abordado. Como pôde ser observado, esta intervenção pedagógica oportunizou ao estudante conhecer caminhos diferentes em busca da construção do conhecimento, por consequência, a consolidação de sua aprendizagem. Além do mais, é pertinente dizer o papel estratégico da professora como mediadora desse processo, por desafiar os estudantes a elaborar seus procedimentos de estudo, dispondo das condições e recursos necessários para a sua realização. Por fim, conclui-se que a proposta apresentada demonstrou aos estudantes e professora uma possibilidade dinâmica e motivadora para se empregar no ensino de Química.

Agradecimentos

Ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino (PPGEn IFMT/UNIC), pelos aprendizados proporcionados.

Referências

BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília, MEC, 2013. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=15548-d-c-n-educacao-basica-nova-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 30 ago. 2022.

CARVALHO, A. M. P. de (org.). Ensino de ciências por investigação: condições para implementação em sala de aula. 6. Reimpr. da 1. ed. São Paulo, Editora Cegage Learning, 2013.

CHASSOT, A. A Ciência através dos tempos. 3 ed. São Paulo, Moderna, 2014.

FERREIRA, S.; CÔRREA, R.; SILVA, F. C. Estudo dos roteiros de experimentos disponibilizados em repositórios virtuais por meio do ensino por investigação. Ciência Educação, Bauru, v. 25, n. 4, p. 999-1017, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ciedu/a/LJNmpSH8XwzCB84JLFkCqdj/. Acesso em: 02 set. 2022.

MALDANER, O. A. A Formação Inicial e Continuada de Professores de Química –Professores /Pesquisadores. Ijuí: UNIJUÍ, 2003.

MONTEIRO, E. D. de N. Sequência didática, com abordagem CTSA, para o estudo das funções orgânicas. Niterói – RJ 2016. Disponível em: https://app.uff.br/riuff/bitstream/handle/1/4774/Dissertacao%20Ejane.pdf?sequence=1. Acesso em: 02 set. 2022.

SEDUC/MT. Documento de Referência Curricular para o Mato Grosso etapa Ensino Médio. Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso. Cuiabá: SEDUC-MT, 2021. Disponível em: https://sites.google.com/view/novo-ensino-medio-mt/drcmt-em-documento-homologado?authuser=0. Acesso em: 30 ago. 2022.

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