• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Argumentação e formação de professores de química: o que dizem os artigos publicados em periódicos nacionais no período de 2000 a 2020?

Autores

Lamim, A.R.S. (USP) ; Queiroz, S.L. (USP)

Resumo

A argumentação é uma habilidade desejável para o exercício da cidadania. Seu desenvolvimento em ambientes de ensino de ciências e química tem sido incentivado, o que exige conhecimentos dos professores para fomentá-la e promovê-la em sala de aula. Nesse sentido, o presente trabalho tem o objetivo de analisar os artigos nacionais publicados entre 2000 e 2020 que versam sobre argumentação na formação docente e apontar suas principais contribuições. Foram encontrados 10 trabalhos e, por meio da análise destes, concluiu-se que as publicações sobre o assunto tiveram início em 2010. Ainda, a inserção da temática na formação inicial é mais recorrente do que na continuada, e o estudo do papel do docente na construção e gerenciamento de práticas argumentativas é o aspecto mais investigado.

Palavras chaves

Educação Química; Formação de Professores; Revisão Bibliográfica

Introdução

A argumentação é relevante para o desenvolvimento da sociedade e construção da cidadania. Desde a Grécia antiga os cidadãos expressavam seus desejos e direitos por meio de discursos argumentativos nas ágoras. Atualmente, em meio ao acesso facilitado a informações nas redes sociais, saber argumentar e identificar bons argumentos são habilidades requeridas para a vida na coletividade. Dentro do campo das ciências, a argumentação também desempenha um papel substancial, pois os argumentos relacionam dados a justificativas, respaldam teorias, além de refutarem o conhecimento já construído, o que favorece a construção de novos saberes. Nesse sentido, a inserção de práticas argumentativas no ensino de ciências e química tem crescido consideravelmente, uma vez que os estudantes podem entender melhor a natureza da ciência e desenvolver habilidades comunicativas e de raciocínio (MARTINS; JUSTI, 2017). Assim, surge uma demanda por professores preparados e habilitados para promover e construir ambientes de ensino argumentativos. Vivências ao longo da formação inicial e continuada de situações que favoreçam o desenvolvimento e aprimoramento dos conhecimentos e habilidades auxiliares no trabalho com argumentação em sala de aula podem favorecer no preparo desses profissionais (LOURENÇO; QUEIROZ, 2020). Tendo por base o exposto, o presente trabalho objetiva apresentar quais são as principais características dos artigos nacionais que versam sobre argumentação na formação docente em química por meio da análise dos contextos formativos privilegiados e dos aspectos mais analisados. Para tal, foi realizada uma revisão bibliográfica dos artigos publicados, no período de 2000 a 2020, em periódicos relacionados ao ensino de ciências e química.

Material e métodos

A primeira etapa da pesquisa consistiu na busca e obtenção dos artigos publicados em periódicos brasileiros entre os anos 2000 e 2020. Para tal, utilizou-se a classificação do Programa QUALIS da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), o qual efetua uma estratificação da produção acadêmica dos programas de pós-graduação brasileiros. Tendo por base o QUALIS, quadriênio 2013-2016, foram selecionadas as revistas cujos títulos associavam-se ao ensino de ciências ou química e que pertenciam aos estratos A1, A2, B1 e B2 das áreas 38 (Educação) e 46 (Ensino). Foram encontrados 33 periódicos a serem investigados. Na sequência, procurou-se no repositório dessas revistas por artigos que continham no título, resumos e/ou palavras-chave os vocábulos “química” e “argumentação”, ou termos correlatos. Foram obtidos 86 trabalhos que atendiam aos critérios propostos. Após a leitura do material, foi constatado que 27 tinham a argumentação como temática central e, dentre esses, apenas 10 reportavam-se à argumentação na formação docente. Desse modo, prosseguiu-se o estudo dos 10 trabalhos tendo por base nos seguintes descritores: (a) ano de publicação, (b) contexto de formação e (c) aspecto analisado. As informações obtidas foram discutidas entre dois pesquisadores independentes para que um consenso sobre os dados fosse alcançado. Os resultados finais foram organizados em tabelas e gráficos, interpretados e correlacionados com a literatura.

Resultado e discussão

A Figura 1 apresenta o ano de publicação dos artigos sobre argumentação na formação de professores química. É notória que a publicação em periódicos nacionais sobre a temática teve início em 2010. Entretanto, de 2010 a 2015, a produção foi irregular e pouco expressiva, alcançando seu ápice em 2016, com 3 trabalhos. A partir de então, observa-se uma regularidade de produções em todos os anos, demonstrando sua expansão no país (FERREIRA et. al, 2021). A Tabela 1 exibe as características dos artigos analisados. Quanto aos contextos de formação docente, a Tabela 1 mostra que 6 dentre 10 trabalhos privilegiaram a formação inicial, o que é incentivado pela literatura. Lourenço e Queiroz (2020) mencionam que tal iniciativa auxilia os futuros profissionais a implementar a argumentação em sala de aula, uma vez que podem vivenciar práticas argumentativas e ter contato com fundamentos teóricos sobre o assunto antes de seu ensino. Todavia, a argumentação na formação continuada é importante, pois levanta discussões que possibilitam aos docentes conhecer referenciais mais atuais, refletir sobre o assunto e superar resistências (IBRAM; JUSTI, 2017). No que concerne ao aspecto focalizado pelos estudos, a análise do papel do professor na construção e gerenciamento de ambientes argumentativos e suas ações favorecedoras da argumentação é o mais recorrente. Adicionalmente, 3 trabalhos analisaram os argumentos elaborados por docentes, 1 investigou as concepções destes sobre o debate na promoção da argumentação, e outro estudou os saberes da argumentativos mobilizados por futuros professores.

Figura 1

Figura 1 - Ano de publicação dos artigos sobre argumentação na formação de professores de química

Tabela 1

Tabela 1 – Características dos artigos sobre argumentação na formação de professores de química

Conclusões

Em suma, os resultados obtidos permitem concluir que os artigos nacionais sobre argumentação na docência em química são recentes, tendo início em 2010. Adicionalmente, o fomento à argumentação na formação inicial tem sido o foco dos pesquisadores, os quais averiguam, principalmente, o papel e as ações dos professores que favorecem a ocorrência da argumentação em ambientes de ensino. Esses resultados demonstram que tem havido uma preocupação com o preparo dos docentes para promover a argumentação na educação básica e, nesse sentido, diferentes aspectos têm sido abordados.

Agradecimentos

Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (Proc. nº: 2020/02757-5) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/ Proc. 304974/2020-0).

Referências

FERREIRA, J. Q.; LOURENÇO, A. B.; FERREIRA, L. N. A.; QUEIROZ, S. L. Ações pró-argumentação no ensino de Química. Tecné, Episteme y Didaxis: TED, n. extra, p. 2928-2933, 2021.
IBRAIM, S. S.; JUSTI, R. Influências de um ensino explícito de argumentação no desenvolvimento dos conhecimentos docentes de licenciandos em Química. Ciência & Educação (Bauru), v. 23, n. 4, p. 995-1015, 2017.
LOURENÇO, A. B.; QUEIROZ, S. L. Argumentação em aulas de química: estratégias de ensino em destaque. Química Nova, v. 43, p. 1333-1343, 2020.
MARTINS, M.; JUSTI, R. Uma nova metodologia para analisar raciocínios argumentativos. Ciência & Educação (Bauru), v. 23, n. 1, 2017.

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