Autores
Sousa, H.V.Q. (IFRJ - CAMPUS DUQUE DE CAXIAS)  ; Barros, M.V.C. (IFRJ - CAMPUS DUQUE DE CAXIAS)  ; Marques, M.M. (IFRJ - CAMPUS DUQUE DE CAXIAS)  ; Almeida, Q.A.R. (IFRJ - CAMPUS DUQUE DE CAXIAS)
Resumo
ATUALMENTE, A QUÍMICA VERDE NÃO POSSUI ESPAÇO NO ENSINO MÉDIO E O SEU FORTE 
CARÁTER TÉCNICO ACABA POR AFASTÁ-LA DO AMBIENTE ESCOLAR MESMO APRESENTANDO 
TEMÁTICAS PERTINENTES E IMPORTANTES PARA A FORMAÇÃO DISCENTE. A EXPERIMENTAÇÃO NA 
ÁREA NECESSITA DE GRANDE INVESTIMENTO PARA TORNÁ-LA POSSÍVEL O QUE TAMBÉM 
INFLUENCIA NA AUSÊNCIA DA TEMÁTICA EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO. NESSE TRABALHO,DOIS 
ALUNOS DO PROGRAMA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA - PIBID, DESENVOLVERAM UMA PROPOSTA DE 
ENSINO SIGNIFICATIVO PARA INTRODUZIR CONCEITOS DA QUÍMICA VERDE A PARTIR DE UM 
EXPERIMENTO DE BAIXO CUSTO, RELACIONANDO SUSTENTABILIDADE, QUÍMICA LIMPA, 
PRODUTOS NATURAIS E A MÉTRICA DA ESTRELA VERDE.
Palavras chaves
Ensino de Química; Química Verde; Sustentabilidade
Introdução
  O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) é uma das 
iniciativas de política de formação inicial de professores, um programa da 
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que possui o 
propósito de contribuir na iniciação profissional de estudantes em cursos de 
Ensino Superior completamente voltados à Licenciatura. Dessa forma, o 
licenciando adquire experiência ao decorrer do programa, aprimorando seu 
desenvolvimento pessoal, profissional e acadêmico em conjunto.
  A Química Verde (QV) estuda o desenvolvimento e aplicação de produtos e 
processos químicos com o objetivo de reduzir ou eliminar o uso e a geração de 
substâncias nocivas à saúde humana e ao ambiente (ANASTAS; WARNER, 1998). A Base 
Nacional Comum Curricular não contempla nenhum conteúdo sobre essa temática e 
com a nova BNCC do Ensino Médio, essa realidade torna-se ainda mais difícil, já 
que química e outras disciplinas não serão obrigatórias. A não-obrigatoriedade 
de química e a ausência de QV no currículo dos discentes alarmam e preocupa a 
comunidade docente, pois dificulta e atrapalha o processo de formação de 
indivíduos mais conscientes com o meio ambiente. A Química Verde não contribui 
somente com a formação de indivíduos e construção de conhecimentos, mas também 
na compreensão de processos químicos e forma de descarte adequada dos materiais, 
visando gerar o menor impacto possível para a natureza. A temática possui uma 
gama de conteúdos interessantes e apresenta  versatilidade durante sua 
aplicação, sendo possível realizar contextualizações e  trabalhar de forma 
interdisciplinar com diferentes segmentos.
  A sustentabilidade é frequentemente utilizada como eixo transversal em 
diversas propostas no Ensino de Química, mesmo com as dificuldades encontradas 
no currículo escolar, sendo frequentemente relacionada com conteúdo de química e 
biologia, apresentada em sala de aula a partir de uma perspectiva mais sutil. 
Já a QV é um dos temas que vem crescendo no ensino de Química frente às 
alterações no currículo obrigatório, porém ainda há um longo caminho a ser 
percorrido para que a mesma seja abordada de forma eficiente e didática para o 
aluno. Atualmente, um dos principais objetivos é apresentar a QV de forma 
responsável e significativa, sem parecer abstrata e extremamente técnica, 
assemelhando e correlacionando com o cotidiano discente e o aproximando do 
conteúdo, gerando familiaridade com o mesmo. Apesar de carregar um viés mais 
técnico, possui grande potencial para auxiliar na formação dos alunos durante o 
Ensino Médio, conscientizando os discentes e formando uma geração com maior 
responsabilidade ecológica. Independentemente do nível, todos os estudantes 
devem ser introduzidos à prática e filosofia da QV (ANASTAS; KIRCHHOFF, 2002). 
Ao introduzir os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) no currículo 
escolar, é possível debater e desenvolver propostas beneficiando a população, 
formando indivíduos mais engajados e preocupados com o futuro do planeta. De 
acordo com Feynman (1997), ocupar-se com problemas não é irracional, devemos 
fazer e aprender o que puder, melhorando as soluções.
  É possível observar a realização de experimentos nas aulas de química durante 
o Ensino Médio, mas a realização dessas práticas não garante o entendimento do 
conteúdo de forma significativa se não for relacionado ao cotidiano da turma. 
Além de gerar interesse pela ciência e facilitar o desenvolvimento conceitual 
(LIMA e MARCONDES, 2005), as atividades experimentais devem atrelar a teoria e a 
prática no intuito de desmistificar a química, apresentando-a de forma acessível 
e contextualizada, aprimorando a compreensão do conteúdo.
  Neste trabalho foi desenvolvido uma proposta por alunos do PIBID de 
experimentação de baixo custo envolvendo a Química Verde e diversos 
questionamentos acerca de temáticas ambientais, estimulando o pensamento crítico 
da turma. Vale ressaltar a importância da abordagem e realização de experimentos 
de baixo custo durante a construção de conhecimentos, já que durante a prática, 
o aluno consegue observar que o conteúdo ensinado está presente no cotidiano e 
que não é preciso de um grande investimento para observá-lo com maior 
especificidade.
  
Material e métodos
  Ocorreram dois encontros síncronos de aproximadamente uma hora e meia com o 
intervalo de 14 dias entre eles. A turma possuía 23 alunos e cerca de 17 
participavam efetivamente entregando atividades, comparecendo aos encontros e 
interagindo durante as aulas. 
 No primeiro encontro síncrono, os alunos foram orientados a escolher uma planta 
que eles já tivessem tido contato. A turma foi unânime em escolher a erva 
cidreira. Foi realizado um mapeamento de conhecimentos prévios que trabalhou em 
conjunto com a primeira etapa da proposta, a seleção da planta, onde haviam 
perguntas que exigiam maior concentração dos alunos,envolvendo produtos 
naturais, artificiais e sintéticos, questionando suas diferenças e abordando 
conceitos da QV. O mapeamento de conhecimentos prévios foi respondido de forma 
anônima através da plataforma Google Forms. Foi apresentado um vídeo curto 
denominado “Produtos Naturais”, que mostra o caráter mais técnico sobre o 
assunto quando comparado aos materiais abordados anteriormente, indicando os 
principais produtos naturais e como eles estão inseridos no cotidiano. Ao final 
da primeira aula, os alunos e os mediadores debateram sobre as respostas obtidas 
no mapa de conhecimentos prévios e as alterações que as mesmas sofreram após a 
compreensão do conteúdo e os conceitos construídos neste primeiro momento.
  Foi inserida na plataforma google classroom orientações para a produção do 
extrato da planta selecionada pelo discente na primeira etapa. Para o extrato 
foi necessário as folhas da planta separadas, álcool 70°, um recipiente com 
tampa. Os discentes foram orientados a mexer suavemente o extrato todos os dias, 
por uma semana.
  No segundo encontro síncrono, foi realizado a finalização da produção do 
extrato que consistiu na filtragem do material com o auxílio de um filtro de 
café de papel. Posteriormente foi iniciado o processo de aprendizagem e 
experimentação sobre cromatografia em papel, prática utilizada na identificação 
e separação de substâncias. Para essa etapa, utilizamos lápis, tesoura, régua, 
filtro de café de papel, o extrato produzido, acetona com eluente, outro 
recipiente com tampa e um conta gotas ou garfo. Foi apresentado os conceitos da 
QV para os alunos, o resultado da cromatografia de todos os presentes na aula 
foi avaliado e observado o arraste das substâncias. 
  O experimento foi analisado através da estrela verde (EV); essa métrica possui 
uma natureza gráfica permitindo comparações visuais bem nítidas. Ela é 
constituída por uma estrela com o número de pontas necessárias, de acordo com o 
número de princípios da Química Verde analisados em um determinado experimento 
(Machado 2014). A possibilidade de diminuir o impacto no meio ambiente e tornar 
a prática mais sustentável foi colocada em pauta e as alternativas foram 
debatidas entre os mediadores e a turma.
  Após a aula, foi divulgado um formulário confeccionado no Google Forms para os 
pibidianos receberem a avaliação dos alunos sobre a proposta apresentada.
Resultado e discussão
  Além da participação e do engajamento da turma observados no decorrer das 
aulas, com o auxílio do formulário aplicado foi possível observar que a proposta 
foi muito bem recebida pelos alunos.
  Na cromatografia obtida, os alunos puderam observar o arraste das substâncias 
com acetona comercial, do extrato da erva cidreira. Foi observado, por exemplo 
as clorofilas A e B (Figura 1).
  A EV obtida pelos alunos sobre o experimento de baixo custo proposto é 
apresentada abaixo na figura 2. A construção da EV considera pontuações a partir 
de critérios pré-estabelecidos, podendo ser pontuados de 1 (um) a 3 (três), onde 
1 é a ausência de verdura química; 2 uma verdura química parcial e 3, plenamente 
verde. Para sua construção utilizou-se a plataforma on-line disponível em 
www.educa.fc.up.pt, permitindo uma análise rápida e fácil partindo das 
informações que os mediadores, juntamente com os estudantes pesquisaram acerca 
de todo o material envolvido no experimento.
  Por se tratar de um experimento sem síntese, foi utilizada a estrela de 6 
pontas com 6 princípios da QV, P1 (Prevenção), P5 (Uso de solventes), P6 
(Eficiência Energética), P7 (Uso de Matérias-primas renováveis), P10(Degradação) 
e P12 (Prevenção de Acidentes). Como apresentado na Figura 2, a EV desse 
experimento possui um índice de preenchimento de 58,33%, onde somente o P6 está 
totalmente preenchido. Os demais princípios estão parcialmente preenchidos 
devido ao uso de algumas substâncias prejudiciais tanto para o Meio Ambiente, 
quanto para o ser humano.
  Através da metodologia realizada foi possível uma avaliação completa do 
experimento visando o menor consumo de reagentes, realização de procedimentos 
que originem uma menor quantidade de produtos potencialmente tóxicos aos alunos 
e ao meio ambiente, tópico muito importante, pois uma vez que muito se fala dos 
resíduos originados pelas indústrias e não se leva em consideração os resíduos 
gerados pelas instituições de ensino espalhadas pelo Brasil, os quais muitas 
vezes são descartados de forma inadequada no ambiente.
  A participação dos alunos foi bastante efetiva na construção da EV, e os 
próprios discentes sugeriram alternativas para que a estrela construída por eles 
pudesse ter melhorias, para que o experimento ficasse ainda mais ambientalmente 
correto, assim como, sugeriram outros experimentos para serem feitos dentro 
dessa temática.
  A elaboração da proposta levou em consideração a idade, o curso e o ambiente 
da turma na intenção de tornar o conteúdo apropriado e significativo e também 
aprimorar a compreensão da temática, abordando conceitos novos com cautela 
durante a aula e aproximando os tópicos com a realidade vivenciada por eles de 
forma responsável. Além do cuidado com a abordagem, foi pensado no vocabulário 
utilizado durante a aula, já que a forma com que o conteúdo é apresentado 
influencia na recepção dos alunos (Passoni, 2009). 
  Segundo o formulário, apenas 7% dos alunos já sabia da existência de Química 
Verde e 91% nunca ouviu falar sobre o tema, o que reforça a cautela utilizada 
para a apresentação do conteúdo. Tratando-se da importância das aulas, 92% dos 
discentes consideraram os encontros como significativos e 90% compreendeu o 
conteúdo abordado, quando questionados sobre a estrela verde. O feedback obtido 
informou que 97% dos alunos acharam o experimento produtivo e interessante e 
também avaliaram a didática utilizada como leve e prazerosa.
  Alguns comentários positivos apareceram no formulário, tal como: “As aulas 
foram legais e bem interessantes. Não conhecia Química Verde, então foi tudo 
muito novo pra mim. Gostei das atividades que a gente fez e fiquei bastante 
interessada no assunto. Muito obrigada!” 
  Os alunos também responderam acerca dos questionamentos e escolhas realizadas 
durante as aulas, onde 98% afirmaram que as decisões tomadas por eles 
influenciaram nas próximas etapas e isso tornou a aula bastante interessante. 
Essa característica foi utilizada nos encontros síncronos para os alunos 
compreenderem que eles eram os protagonistas no momento, já que todas as 
escolhas consideravam a opinião individual de cada um. Segundo Freire (1997), o 
docente deve procurar conhecer a realidade em que o aluno vive e que tal atitude 
é dever que a prática educativa impõe ao professor.

Extrato e cromatografia da erva cidreira

Estrela Verde da cromatografia da erva cidreira elaborada pelos alunos
Conclusões
  No Brasil, a Química Verde é uma área desconhecida e com poucos trabalhos no 
Ensino Básico, o que torna a missão de popularização da temática dificultosa e 
desafiadora. Contudo, há uma maneira de auxiliar esse processo e torná-lo mais 
eficaz: inserindo essa filosofia em instituições de ensino. O Ensino em Química 
carece de metodologias voltadas para a Química Verde e é com urgência que o 
desenvolvimento de propostas metodológicas seja incentivado. 
  Elaborar essa proposta foi um desafio extremamente enriquecedor para os autores 
desse trabalho, que colheram frutos de uma tarefa ousada e audaciosa. Aplicar duas 
aulas de Química Verde com experimento de baixo custo significativo parecia uma 
realidade muito distante, mas com o auxílio da experiência que o PIBID trouxe e 
com os conhecimentos adquiridos na graduação sobre a Química Verde e 
sustentabilidade, foi possível estruturar e executar as ideias de maneira efetiva, 
desenvolvendo e aplicando propostas inovadoras para a sala de aula contribuindo na 
construção e formação de indivíduos mais conscientes dos problemas ambientais e 
das possíveis soluções.
Agradecimentos
CAPES e IFRJ-CAMPUS DUQUE DE CAXIAS
Referências
ALVES, Mariana Cavichioli et al. Encontros Nacionais de Ensino de Química: mapeando as linhas temáticas dos ENEQ ́ s de 2006 a 2018. Revista Insignare Scientia-RIS, v. 4, n. 3, p. 227-241, 2021.
ANASTAS, Paul T. et al. The role of catalysis in the design, development, and implementation of green chemistry. Catalysis today, v. 55, n. 1-2, p. 11-22, 2000.
ANASTAS, Paul T.; KIRCHHOFF, Mary M. Origins, current status, and future challenges of green chemistry. Accounts of chemical research, v. 35, n. 9, p. 686-694, 2002.
Coordenação Geral de Observação da Terra. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. INPE registra 6.947 km de desmatamento na Amazônia em 2017. Disponível em <http://www.obt.inpe.br/OBT/noticias-obt-inpe/inpe-registra-6-947-km2-de-desmatamento-na-amazonia-em-2017>. Acesso em 15 de outubro de 2021.
Feynman, R. (1997). Surely You’re Joking, Mr. Feynman!. Nova York: W.W. Norton.
Freire, P. (1979). Conscientização: Teoria e Prática da Libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes.
Freire, P. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d’Água, 1997.
LIMA, VA de; MARCONDES, M. E. R. Atividades Experimentais no Ensino de Química: Reflexões de um grupo de professores a partir do tema eletroquímica. Enseñanza de las Ciencias, v. 23, p. 1-5, 2005.
MACHADO, A.A.S.C. Introdução às Métricas da Química Verde: uma visão sistêmica. 1 ed. Florianópolis: UFSC, 2014.
NAMU. Produtos Naturais. Youtube, 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ro3oO0iEnQs&t=233s. Acesso em: 15 de outubro de 2021.
Passoni, N. A. (2009). A inabilidade de falar em público pode atrapalhar a carreira dos docentes. SPE. Atividade e Experiências. Disponível em <http://www.educaional.com.br>. Acesso em 12 de outubro de 2021.
SERRÃO, CRG; SILVA, MDB. A Química Verde presente nos artigos da Revista Química Nova: A divulgação científica dos últimos 10 anos. Encontro Nacional de Ensino de Química, v. 15, 2010.








