Autores
Lamim, A.R.S. (USP)  ; Sotério, C. (USP)  ; Queiroz, S.L. (USP)
Resumo
A pandemia da Covid-19 alavancou o debate público sobre controvérsias 
sociocientíficas. Este trabalho objetivou investigar de que forma a exposição 
virtual “Coronaceno: reflexões em tempos de pandemia” explorou as controvérsias 
sociocientíficas da temática, a fim de verificar aspectos que favorecem o ensino 
sobre controvérsias. A análise revelou superficialidade na discussão política de 
tópicos científicos e a presença significativa de elementos sociais, econômicos 
e morais, bem como de espaços para exposição de opiniões e conhecimentos 
divergentes. Tais características contribuem com o ensino de controvérsias e 
mostram que exposições museais podem suscitar discussões 
que favorecem a contextualização da ciência com problemáticas presentes no 
cotidiano das pessoas.
Palavras chaves
Covid-19; Controvérsia sociocientíf; Educação virtual
Introdução
Os museus de ciências desempenham relevantes funções sociais, como ensinar e 
comunicar as ciências, difundir a cultura da área, formar especialistas e 
despertar o interesse do público por temáticas científicas (DELICADO, 2004). 
Ainda, esses espaços têm potencial para apresentar os desenvolvimentos e 
descobertas da ciência nacional, incentivar a participação pública em decisões 
sobre ciência e tecnologia e debater controvérsias sociocientíficas (DELICADO, 
2016).
Tais controvérsias são especialmente observadas com o advento da pandemia da 
Covid-19, que trouxe consigo uma infodemia, cuja circulação de um volume massivo 
de informações não acuradas é facilitada pelas redes digitais, impactando 
questões sociais, políticas e científicas e trazendo para os holofotes temas 
controversos como vacinação, distanciamento social e movimentos negacionistas de 
ciência. Segundo a Organização Mundial da Saúde, faz-se necessário um esforço 
conjunto de pesquisadores, governantes e demais membros da comunidade para 
combater os efeitos dessa crise, uma vez que a disseminação de informações sem 
evidência científica pode representar uma ameaça à vida (WORLD HEALTH 
ORGANIZATION, 2020).
Entretanto, a discussão sobre controvérsias científicas ainda é algo pouco 
explorado pela museologia, que na maioria das vezes apresenta o conhecimento 
como algo acabado e inquestionável (HUDDLESTON; KERR, 2015). Este trabalho tem 
como objetivo averiguar quais dos elementos da exposição museal “Coronaceno: 
reflexões em tempos de pandemia” (MUSEU DO AMANHÃ, 2021) têm potencial para 
fomentar o ensino sobre controvérsias sociocientíficas. Tal análise pode 
contribuir para que professores, curadores e mediadores de museus reflitam sobre 
a construção desse tipo de exibição, bem como sobre seu potencial educativo.
Material e métodos
Esta pesquisa, de caráter exclusivamente documental (ROMANOWSKI; ENS, 2006), 
buscou por exposições museais nacionais sobre Covid-19, publicadas entre março 
de 2020 e 01 outubro de 2021, sob a óptica do ensino de controvérsias. As 
etapas efetuadas, que culminaram na seleção da referida exposição para análise, 
estão ilustradas na Figura 1.
    Figura 1. Etapas da busca por exposições virtuais sobre Covid-19 elaboradas 
por instituições científicas, com versão em língua portuguesa
Após a conclusão das etapas da Figura 1, foram configurados os elementos sobre 
o ensino de controvérsias sociocientíficas a serem analisados no material, 
adaptados de Huddleston e Kerr (2015).  Os seguintes foram considerados: (i) 
políticos: menção às entidades políticas locais e/ou globais e medidas 
legislativas; (ii) sociais: relativos ao impacto da pandemia na vida em 
sociedade ou ao dever cívico de seus cidadãos diante deste evento (PEDRETTI; 
IANNINI, 2020); (iii) econômicos: referências à infraestrutura, processos, 
tecnologias e financiamentos; (iv) morais: aspectos que favorecem a 
aprendizagem de conteúdos atitudinais - valores, atitudes, normas (ZABALA, 
1998); (v) exposição cívica e produtiva de opiniões e conhecimentos diferentes: 
esta análise diz respeito aos momentos em que as exposições propiciam o embate 
de ideias por meio de provocações para o visitante se posicionar, disseminam os 
posicionamentos assumidos por elas e/ou deram voz a grupos “minoritários”, a 
fim de romper com estereótipos e paradigmas vigentes; (vi) discurso do não-
medo: diz respeito aos momentos em que a controvérsia é assegurada nas 
exposições como algo comum ao cotidiano social, cuja discussão embasa a 
educação democrática e, portanto, não deve ser temida (HESS, 2009).
Resultado e discussão
Na Tabela 1 consta a frequência dos elementos sobre ensino de controvérsias na 
exposição virtual e suas recorrências nos diferentes tipos de conteúdos 
empregados (textuais, visuais e/ou áudios). Conforme a Tabela 1, os elementos 
sociais foram os mais recorrentes em todos os conteúdos da exposição. Isso se 
deve ao enfoque dado à controvérsia, que abarcou, principalmente, os impactos do 
coronavírus na sociedade, mostrando como a doença afetou o cotidiano das pessoas 
e de diferentes grupos sociais, a economia e a rotina das cidades. 
A exposição cívica e produtiva de opiniões e conhecimentos diferentes envolveu a 
proposição de questões provocativas, dando espaço ao confronto de ideias sem se 
distanciar do discurso científico. Já os elementos econômicos estiveram 
atrelados à questão empregatícia e, por isso, correlacionaram-se com dimensão 
sociopolítica da temática.
O caráter moral das controvérsias foi explorado a partir da exibição de 
comportamentos de diferentes pessoas perante a pandemia, evidenciando que os 
museus podem suscitar reflexões sobre valores e atitudes (PEDRETTI; IANNINI, 
2020). Ainda, foi identificado tanto o discurso do não-medo, alinhado com os 
elementos desejáveis no ensino sobre controvérsias (HUDDLESTON; KERR, 2015), 
quanto o seu oposto: o discurso do medo. Por fim, os elementos políticos foram 
os menos recorrentes, demonstrando que a comunidade que se aproxima do espaço 
não-formal e informal de ensino não percebe a dimensão política a eles atrelada 
(LEWENSTEIN, 2016), o que faz com que não exerçam seu papel político em relação 
à sociedade.


Conclusões
Constatou-se que dentre os elementos políticos, econômicos, sociais e morais houve 
grande correlação da temática com a dimensão social, visto que esta versa sobre 
questões que atingem a sociedade em diferentes esferas. Por outro lado, a questão 
política foi a menos frequente. De forma geral, ao propiciar o debate de tais 
questões, a exposição museal contribuiu com uma visão dos acontecimentos sociais à 
luz de evidências e promoveu o ensino de uma ciência mais humana, a qual lida com 
problemas enfrentados na vida cotidiana e que se afasta de uma verdade absoluta.
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (Proc. nº: 
2020/02757-5 e 2020/03233-0) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico 
e Tecnológico (CNPq/ Proc. 304974/2020-0).
Referências
DELICADO, A. Para que servem os museus científicos? Funções e finalidades dos espaços de musealização da ciência. In: VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, Coimbra, Portugal. 2004. p. 1-17.
DELICADO, A. ¿ Qué hacen los “científicos” en los museos?: Representaciones de la práctica científica en las exhibiciones y actividades en los museos. Antrópica. Revista De Ciencias Sociales Y Humanidades, v. 2, n. 4, p. 131-141, 2016.
HESS, D. E. Controversy in the Classroom: The Democratic Power of Discussion. Angewandte Chemie International Edition, v. 6, n. 11, p. 951–952, 2009.
HUDDLESTON, T.; KERR, D. Teaching controversial issues through education for democratic citizenship and human rights: Training pack for teachers. Council of Europe, 2015.
LEWENSTEIN, B. Public Engagement, 2016. Disponível em: https://www.informalscience.org/news-views/public-engagement. Acesso em: 01 set. 2022.
MUSEU DO AMANHÃ. Disponível em: https://museudoamanha.org.br/pt-br. Acesso em 07 set. 2022.
PEDRETTI, E.; IANNINI, A. M. N. Controversy in science museums: Re-imagining exhibition spaces and practice. Routledge, 2020.
ROMANOWSKI, J. P.; ENS, R. T. As pesquisas denominadas do tipo “estado da arte” em educação. Revista diálogo educacional, v. 6, n. 19, p. 37-50, 2006.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. An ad hoc WHO technical consultation managing the COVID-19 infodemic: call for action, 2020.
ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: ArtMed. 1998.








