• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Educação para as Relações Étnico-Raciais no curso de Licenciatura em Química de um Instituto Federal do interior de Goiás

Autores

Alves, H.L. (IF GOIANO CAMPUS IPORÁ) ; Silva, M.V. (IF GOIANO CAMPUS IPORÁ) ; Nobre-da-silva, N.A. (IF GOIANO CAMPUS IPORÁ)

Resumo

Este trabalho investiga como o curso de Licenciatura em Química de um Instituto Federal do interior de Goiás incorpora a abordagem das Relações Étnico-Raciais na formação inicial e suas relações com a formação humana e integral. Fundamentados no pensamento decolonial o trabalho se sustenta numa abordagem qualitativa. O lócus da investigação foi uma disciplina do curso mencionado, tendo como participantes 9 licenciandos e 1 docente. A construção de dados se deu por análise documental, caderno de campo e redações narrativas. Os resultados partiram de uma análise enfatizando: a) Reflexos da Lei 10.639/2003 no PPC; b) Desconhecimento dos saberes oriundos da diáspora africana; c) Ações para potencializar uma formação omnilateral e antirracista no curso de Licenciatura em Química.

Palavras chaves

Ensino de Química; ERER; Formação Inicial

Introdução

Os Institutos Federais são instituições que compõem a centenária Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Comprometidas com uma formação humana integral a concepção de ensino é pauta na integração entre Trabalho, Ciência, Cultura e Tecnologia. A Lei de criação dos IF (Lei 11.892/2008) estabelece que os Institutos Federais (IF) têm por obrigatoriedade a oferta de cursos de Licenciatura, reservando um mínimo de 20% de suas vagas para tal modalidade. Considerando que os documentos bases de criação dos IF se fundamenta na perspectiva de uma educação crítica, emancipatória e de atender as demandas das classes desfavorecidas (PACHECO, 2015), principalmente pela interiorização do ensino, nos questionamos como as licenciaturas dessas instituições têm sido modelada para o atendimento de tais princípios. Na pauta de uma educação para a democracia e que se coaduna com a formação omnilateral podemos citar a Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER). Neste contexto, temos como marco a Lei 10.639/2003 que estabeleceu a obrigatoriedade dos estabelecimentos de Educação Básica inserir o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Adiante, a Lei 11.645/2008 incluiu o ensino da História e Cultura Indígena. No entanto, a existência da lei não é garantia da visibilidade desses conhecimentos nos currículos escolares, em especial na disciplina de Química. Um dos fatores é o despreparo dos docentes da área de Ciências da Natureza para lidar com tais temas. Para superar esse desafio muitas pesquisas têm sido desenvolvidas no âmbito da formação inicial e continuada a citar, as intervenções no ensino fundamental realizadas por alunos do estágio (CAMARGO; BENITE, 2019); as reflexões acerca do racismo estrutural e a efetiva Educação para as Relações Étnico-Raciais na Licenciatura em Química (MENDES et al., 2021); análise de Projetos de Cursos das Licenciaturas em Química ofertadas por instituições públicas do Ceará (SILVA; COSTA; PINHEIRO, 2021). Nessa conjuntura, o presente trabalho investiga como o curso de Licenciatura em Química de um Instituto Federal do interior de Goiás incorpora a abordagem das Relações Étnico-Raciais na formação inicial e quais suas relações com a formação humana e integral. Por conseguinte, nossas reflexões são assentadas nos estudos decoloniais, em especial, dos grupos representados por Anna Maria C. Benite e Bárbara Carine Pinheiro.

Material e métodos

Recorremos à abordagem qualitativa por considerar “a comunicação do pesquisador em campo como parte explícita da produção do conhecimento” (FLICK, 2009, p. 25), dado que este trabalho explora experiências resultantes da relação professor – alunos do curso de Licenciatura em Química, sendo as mesmas construções da dialética do processo de ensino aprendizagem. Para este relato, foi tomado como lócus de investigação uma disciplina do curso supracitado, visto que a ementa da mesma englobava “Discussão sobre questões étnico-raciais, indígenas, democracia e direitos humanos para o ensino de química” e o Projeto do Político do Curso (PPC). O recorte aqui apresentado se refere à análise documental e as observações de 7 aulas de 50min ocorridas durante os meses de agosto e início de setembro de 2022, contando com a presença de 9 licenciandos e 1 docente. Como instrumentos de construção dos dados foram utilizados: caderno de campo e redações narrativas. As redações construídas pelos licenciandos tiveram como foco registrar os conhecimentos prévios acerca da produção de saberes dos povos e comunidades de matriz africana. A interpretação dos dados se deu orientada pelos referenciais bases já mencionados e as descrições analíticas são destacadas nos nossos resultados por meio de três categorias: a) Reflexos da Lei 10.639/2003 no Projeto Político de Curso; b) Desconhecimento dos saberes oriundos da diáspora africana; c) Ações para potencializar uma formação omnilateral e antirracista no curso de Licenciatura em Química.

Resultado e discussão

a) Reflexos da Lei 10.639/2003 no Projeto Político de Curso: muitos cursos de Licenciatura em Química têm apresentado projetos frágeis quando a discussão incide sobre as ERER, dada a própria influência do pensamento ocidental, colonial e eurocêntrico na construção da Química enquanto ciência (SILVA; COSTA; PINHEIRO, 2021). Contudo, é possível notar influências da Lei 10.639 no PPC, o tema da ERER aparece na contextualização do projeto, como referência bibliográfica da disciplina “Fundamentos Sócio-Históricos da Educação” e na ementa de “Oficina Pedagógica IV” (OF IV). No entanto, esta última não traz referências adequadas à discussão proposta, visto que elas se restringem a livros de Química e sobre currículo. Além disso, as disciplinas do eixo de Conteúdos Básicos e Específicos da Química não reflete uma contextualização dos conhecimentos dos povos africanos. Em decorrência, em termos documentais, a formação humana e integral se fragiliza quando o assunto é a ERER. b) Desconhecimento dos saberes oriundos da diáspora africana: as discussões realizadas durante as aulas tiveram como centralidade a questão: “Quais seus conhecimentos acerca da cultura e da produção de saberes técnico e tecnológico dos povos e comunidades de matriz africana?” Observou-se um baixo nível de conhecimento, sendo citado apenas danças, comidas típicas, vestuário. Esses dados vão ao encontro do pontuado por Camargo e Benite (2019, p. 2), é preciso ampliar os currículos a fim de superar a “ideia de que a contribuição africana e afro-brasileira à formação da sociedade brasileira contemporânea se deu apenas nas manifestações folclóricas, culinárias, samba etc.” c) Ações para potencializar uma formação omnilateral e antirracista no curso de Licenciatura em Química: para potencializar a apropriação de aspectos da cultura africana, no decorrer das aulas os licenciandos foram levados para assistir ao espetáculo de dança “Ecos do Quilombo”. A partir do espetáculo reforçou-se a dança, os costumes, o vestuário, a religiosidade. O espetáculo foi protagonizado por mulheres vinculadas à um antigo quilombo local, e ao final suas narrativas sensibilizaram os participantes. Já no tocante ao alargamento aos conhecimentos técnicos e tecnológicos foi explorado o texto de Camargo e Benite (2019). Posteriormente, os licenciados destacaram como fruto da diáspora africana a técnica do fogo, o uso da bateia em garimpos de exploração de minérios, e as primeiras técnicas de forjaria do ferro. Em termos sócio-políticos, utilizou-se de um vídeo para discutir os 10 anos da Lei de cotas.

Conclusões

Este trabalho investigou como o curso de Licenciatura em Química de um Instituto Federal do interior de Goiás incorporou a abordagem das Relações Étnico-Raciais na formação inicial e quais suas relações com a formação humana e integral. Por meio da análise documental observamos que o PPC do curso reflete influências da Lei 10.639/2003 ao mencionar as ERER na contextualização do projeto, e principalmente, como parte da ementa da disciplina de Oficina Pedagógica IV. Embora, seja uma ação incipiente, pois a própria bibliografia da disciplina não sustenta as discussões propostas, já percebemos um avanço. Este avanço é notado no planejamento e desenvolvimento dos conteúdos proposta para a referida disciplina que contemplou visita a espetáculo cultural, estudos de textos científicos que exploram as contribuições dos povos e comunidades de matriz africana para além das danças e culinária e, destaque aos 10 anos da Lei de Cotas. Dessa forma, no que tange aos princípios defendidos pelos IF de uma formação humana e integral, o curso avança no sentindo de uma educação democrática e na luta por um ensino de química antirracista. Contudo, o fato de o PPC não explicitar bem referenciais bibliográficos da área, assim como ter conteúdo apenas no eixo das disciplinas pedagógicas, deixa à cargo de cada docente tratar ou não da ERER.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal Goiano pelo apoio financeiro.

Referências

CAMARGO, M.; BENITE, A. EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA: SOBRE A LEI 10.639/2003 NO ENSINO SUPERIOR. Química Nova, 2019.
FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. Tradução de Joice Elias Costa, 3a ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MENDES, C. C. A. et al. COMO O RACISMO ESTRUTURAL IMPEDE A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 10.639/03 NO ENSINO DE QUÍMICA. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/view/3111/version/3292>. Acesso em: 10 set. 2022.
PACHECO, E. Fundamentos Políticos-Pedagógicos dos Institutos Federais: diretrizes para uma educação profissional e tecnológica transformadora. Natal, RN: IFRN, 2015.
SILVA, W. D. A. DA; COSTA, E. A. DA S.; PINHEIRO, B. C. S. Educação para relações étnico-raciais na constituição curricular da Licenciatura em Química no Ceará: que cor tem a formação de professores(as)? Revista Cocar, v. 15, n. 33, p. 1–21, 2021.

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