Autores
Silva, R.M. (UFG)  ; Morais, A.M.M. (UFG)  ; França, F.A. (UFG)  ; Vargas, G.N. (UFG)  ; Benite, C.R.M. (UFG)
Resumo
Este estudo versa sobre um experimento de separação de mistura com material 
alternativo realizado por 
alunos com deficiência visual (DV) objetivando minimizar os efeitos causados 
pelo isolamento social e as 
barreiras intensificadas pelo ensino remoto emergencial (ERE) durante a pandemia 
da COVID-19. Contendo 
elementos da pesquisa participante (PP), a intervenção foi realizada pelo Google 
Meet envolvendo alunos do 
ensino médio de uma instituição pública de apoio a DV parceira do nosso 
laboratório de pesquisas. 
Ressaltamos que apesar do experimento ter possibilitado sensações conscientes 
que comumente não são 
exploradas no ensino online a atividade só foi possível pela experiência dos 
docentes em atuarem com a 
especificidade distante da diversidade da sala de aula regular.
Palavras chaves
Experimentação inclusiva; Deficiência visual; Ensino Remoto Emergencial
Introdução
No ensino de Química, a visão é um importante canal de aquisição de informações 
para a interpretação, discussão e 
apropriação de conteúdos, processos nos quais alunos com deficiência visual (DV) 
possuem limitações (BENITE et 
al., 2017a). Ensinar Química para DV requer um trabalho sistematizado que 
privilegie a linguagem, a vivência de 
experiências, a mediação do professor e o uso de recursos/instrumentos que 
estimulem a aprendizagem (MIRANDA, 
2010). Por ser uma Ciência teórico-prática, a Química tem o experimento como uma 
etapa de sua constituição que usa 
a observação visual como canal de coleta e interpretação dos dados visualmente 
observáveis, etapa excludente para 
esses alunos. Além disso, em 2020, o mundo foi atingido pelo grande número de 
casos de Covid-19 e o isolamento 
social foi a forma inicial mais eficaz de conter o aumento dos contágios. Diante 
desse cenário, o Ministério da 
Educação lançou em 17 de março de 2020 a Portaria nº 343 autorizando, em caráter 
excepcional, a substituição do 
ensino presencial pelo ensino remoto emergencial (ERE) desafiando professores e 
alunos a assumirem novas maneiras 
de ensinar e aprender (BRASIL, 2020) “evidenciando a problemática que já existia 
de forma presencial: a 
dificuldade no processo de inclusão de alunos” (OLIVEIRA, SILVA E MEDEIROS, 
2020, p.40). Posto isso, este trabalho 
versa sobre como um experimento sobre separação de mistura com material 
alternativo realizado por DV em suas 
residências com a orientação dos professores via Google Meet foi pensado para 
minimizar os efeitos causados pelo 
isolamento social e as barreiras intensificadas pelo ensino remoto, já que nesse 
formato o único sentido comumente 
usado pelo DV é a audição.
Material e métodos
Contendo elementos da pesquisa participante (PP), os pesquisadores que também 
são sujeitos da investigação 
se desenvolvem e se qualificam incorporando, aprendendo e transformando a 
cultura local (NOVAES e SOUZA, 
2019; BRANDÃO,1987). Assim, os professores em formação continuada (PFC) 
refletiram suas práticas na busca de 
formas de ensinar Química numa perspectiva inclusiva durante o ERE. A aula 
remota envolveu alunos (A) do 
ensino médio, gravada em áudio e vídeo via Google Meet e transcrita para 
posterior análise da conversação 
(MARCUSCHI, 2000). O experimento foi planejado para ser realizado pelos DV em 
suas residências utilizando 
materiais alternativos e de fácil acesso, como: garrafa PET, algodão, óleo usado 
e água. Apesar do desafio, 
a estratégia objetivou despertar a curiosidade favorecendo o envolvimento dos DV 
nas aulas e a tentativa de 
participação autônoma, mas principalmente como meio de diminuir o atraso do 
conteúdo provocado pelo 
isolamento social minimizando, também, as barreiras de acesso ao conhecimento 
por alunos com deficiência 
implicando na mobilização de recursos que possibilitassem a participação nos 
diversos ambientes (OLIVA, 
2016). Concordamos com Arruda (2020) que mesmo com toda evolução da tecnologia e 
internet muitos desafios 
foram encontrados durante a pandemia, como a dificuldade de prender a atenção 
dos alunos e tornar o ambiente 
online um espaço de possível aprendizado. Assim, durante o ERE assumimos como 
essencial a permanência do 
contato dos professores com os DV, mesmo que de maneira online, tanto para 
tentar conter a ampliação do 
atraso escolar como para a manutenção do vínculo social e educacional (ROCHA e 
VIEIRA, 2021).
Resultado e discussão
Uma aula presencial de misturas permite a abordagem de variados conceitos além 
do manuseio de equipamentos que 
foram impossibilitados pelo ERE. Neste estudo, a experimentação com material 
alternativo foi uma forma de 
envolver o DV na aula minimizando os problemas agravados pelas barreiras da 
distância e da deficiência, pois 
acreditamos que o uso de recursos didáticos adequados tem reflexos positivos na 
aprendizagem (NETA, NASCIMENTO E 
FALCÃO, 2020). A Figura 1 mostra o print do experimento montado pelo DV filmado 
com o auxílio da mãe e a Figura 
2 a audiodescrição do experimento por PFC que enquanto tecnologia assistiva 
assumiu o papel de instrumento de 
mediação auxiliando-os na atividade proposta.
A Química é uma Ciência abstrata, com linguagem simbólica própria e carregada de 
representações visuais, aspectos que 
dificultam a aprendizagem principalmente dos DV para coleta e interpretação dos 
dados observáveis no fenômeno 
reproduzido (BENITE et al., 2017b). Considerando que a separação da mistura se 
completa quando o óleo fica retido pelo 
algodão e a água para de escoar para o reservatório inferior, nossos resultados 
salientam que apesar das limitações e 
dificuldades enfrentadas no ERE, a montagem do experimento foi uma maneira de 
permiti-los a sensação tátil para a 
compreensão da atividade (fala de A2) e o som do escoamento da água de estímulo 
externo para a audição, canais 
sensitivos que possibilitaram a interpretação teórica orientada (OLIVEIRA et 
al., 2020). No entanto, os resultados 
também demonstram que diante das dificuldades do ERE, a aula só foi possível 
devido à experiência adquirida de atuarmos 
com a especificidade há mais de uma década e não ser uma sala de aula virtual 
com a diversidade de alunos do ensino 
regular (MORAIS et al., 2022).

Experimento montado com materiais alternativos

Legenda: Extrato retirado da transcrição da aula
Conclusões
Buscando estratégias que minimizassem os efeitos causados no ERE, os PFC 
realizaram experimentos via Google 
meet com material alternativo objetivando promover a participação ativa dos DV no 
processo de ensino-
aprendizagem estimulando diferentes sensações, conscientes, para a interpretação 
teórica dos dados 
observados. No entanto, a proposta só foi possível de ser realizada por ser uma 
aula de apoio, com baixo grau 
de complexidade e realizada por docentes da Química experientes em atuarem com a 
especificidade, elementos 
necessários à formação docente, mas que evidenciaram fragilidades do ERE.
Agradecimentos
Referências
Referências
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