Autores
N. S. V. Garcia, F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS)  ; P. N. Santos, G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS)  ; C. Benite, A.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS)
Resumo
Apresentamos neste trabalho um planejamento de aulas para o ensino de química sob 
a ótica da pluriversalidade, utilizando como contexto a lâmpada de Dendera para 
abordar conteúdos relacionados ao tema eletricidade. Inserimos aqui discussões 
sobre ciência e o protagonismo dos/as sujeitos/as negros na produção de 
conhecimento científico para promover uma educação para equidade racial. 
Palavras chaves
AFROPERSPECTIVA; EGITO; ELETRICIDADE
Introdução
O currículo escolar tradicional alimenta e atualiza a ideologia racista ao 
apresentar um mundo em que negros e negras não têm contribuições históricas 
consideradas importantes na produção de conhecimento.  Neste contexto 
concordamos com Almeida (2019), que após anos dentro do sistema educacional 
brasileiro as pessoas são convencidas e reproduzem a ideia de que homens e 
mulheres negras têm pouca propensão a trabalhos intelectuais.
Segundo bell hooks (2013)¹ nos estabelecimentos de ensino guiados por práticas e 
materiais didáticos que reforçam estereótipos raciais, a escola é um local de 
reclusão, castigo, negação e castração da cultura negra. Uma educação para a 
equidade racial exige que professores tenham o compromisso político com o 
potencial libertador do conhecimento, reconheçam a sala de aula como também 
lugar de pensar a estrutura social e sua transformação. 
No ensino de química, o debate sobre as políticas e práticas de promoção da 
equidade racial como a lei 10.639/03, o Parecer CNE/CP 03/2004 e a Resolução 
CNE/CP 01/2004, tem registro a partir de 2007 (BENITE et al. 2019). A literatura 
específica traz debates sobre como o ensino de Ciências/Química pode contribuir 
para uma educação antirracista (JACOBUCCI, 2011; FRANCISCO JUNIOR, 2008). 
Com o intuito de ensinar química a partir de práticas pedagógicas que promovam a 
equidade racial, nesse trabalho trazemos a seguinte questão: quais aspectos um 
planejamento de aulas utilizando o tema eletricidade deve ter para colaborar com 
a equidade racial no ensino de química? Para atender a esta demanda, nos 
referenciamos na afroperspectiva do paradigma da pluriversalidade para denegrir 
o ensino de química em conjunto com o desenho metodológico do Design Science 
Research.
OBSERVAÇÃO¹: Sobre o nome de bell hooks ser empregado em letra minúscula, de 
acordo com Furquim (2019) é prática que surge a partir de uma postura da própria 
autora que criou esse nome em homenagem à sua avó e o emprega em letra minúscula 
como um posicionamento político que busca romper com as convenções linguísticas 
e acadêmicas, dando enfoque ao seu trabalho e não à sua pessoa. Dessa forma o 
presente texto respeita a escolha da autora.
Material e métodos
A ideia deste trabalho surge da necessidade de se repensar aulas de química na 
educação básica para promoção da equidade racial. O tema eletricidade aparece no 
contexto do projeto de robótica para automatização da rega da horta escolar de 
um colégio estadual, localizado no centro de Aparecida de Goiânia, Goiás. 
Foi estabelecida uma parceria com o Laboratório de Pesquisa em Educação Química 
e Inclusão (LPEQI), da Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio de 
professor em educação continuada, que é também professor da disciplina de 
química e constitui o quadro de professores do colégio.
 A partir das reflexões promovidas nos encontros dos estudantes da pós-graduação 
com a professora formadora, foi pensado quais eram as contribuições dos povos 
africanos para construção do conhecimento químico no tema eletricidade. Assim se 
iniciou a busca na literatura, chegando-se até a lâmpada de Dendera (OSMAN, 
2015; CHILDRESS, 2000).
Para a didatização desse conhecimento em uma perspectiva contra-hegemônica 
curricular, Noguera (2012) nos oferece a pedagogia da pluriversalidade. Esta nos 
permite ampliar a abordagem da origem do conhecimento científico, pois reconhece 
que todas as perspectivas são válidas, apontando como equívoco o privilégio ou 
eleição de um único ponto de vista.
Em conjunto, utilizamos o desenho metodológico do Design Science Research. Este 
tem como objetivo projetar e desenvolver soluções satisfatórias contribuindo 
para a construção e o aprimoramento de práticas e teorias tanto no âmbito 
profissional quanto acadêmico (DRESCH et al., 2015). 
Resultado e discussão
Considerando como público-alvo estudantes do ensino médio do projeto de 
robótica, o desenvolvimento do percurso desse trabalho foi realizado em quatro 
fases: 1) Incubação do Problema; 2) Refinamento da Solução; 3) Teoria 
Substantiva; 4) Teoria Formal. A Figura 1 apresenta um esquema das fases.
A primeira fase ficou caracterizada pelo reconhecimento do problema. Este foi o 
momento em que se firmou a parceria Universidade e o Colégio com a sugestão de 
intervenção pedagógica de um planejamento de aulas. 
Na segunda fase verificamos entre os pares e na literatura se o planejamento tem 
os aspectos essenciais para solucionar o problema. Em seguida na terceira fase 
fizemos reflexão sobre o planejamento de aulas a partir das teorias e 
referenciais utilizados.  Na quarta fase, como processo de aprimoramento fizemos 
a generalização, compreendendo o problema da relações raciais no fenômeno 
educacional como parte da estrutura social. Assim apresentamos na Figura 2 o 
planejamento de aulas como produto obtido do trabalho realizado.
 Concordamos com Munanga (2015) que a história de um povo é o ponto de partida 
do processo de construção de sua identidade e não é por acaso que todas as 
ideologias de dominação tentaram falsificar e destruir as histórias dos povos 
que dominaram. Desse modo, consideramos importante realizar no planejamento uma 
abordagem histórica da contribuição negra sobre conhecimento da eletricidade.
Segundo Callegario et al. (2015), a utilização da história da ciência no ensino 
de química tem sido uma abordagem cada vez mais comum, pois favorece a 
aprendizagem de conceitos e visões mais adequadas sobre a origem e natureza do 
conhecimento científico.  Dentro dessa perspectiva, elegemos como primeiro 
aspecto o resgate da memória ancestral do/a negro/a em sua experiência coletiva 
de produção intelectual a partir da lâmpada de Dendera.
A lâmpada de Dendera, como indica Osman (2015), representada por hieróglifos no 
Templo de Hartor, seria um dispositivo elétrico de iluminação produzido no 
Antigo Egito. De acordo com Childress (2000), a ausência de cinzas ou tochas em 
locais com pouca visibilidade, como no referido templo, corrobora com a hipótese 
de que os egípcios desenvolveram tecnologias para iluminação a partir da 
produção de eletricidade.
De acordo com Noguera (2012) a pedagogia da pluriversalidade nos convida a 
denegrir a educação, e esta pode ser descrita como um esforço de revitalizar as 
perspectivas esquecidas, problematizando os cânones, refazendo e ampliando 
currículos. Assim, ao partir da lâmpada de Dendera para introduzir o estudo de 
conhecimentos químicos sobre a eletricidade estamos fazendo o deslocamento 
epistêmico e denegrindo o ensino de química. Os povos do antigo Egito são negros 
e assumem nas aulas de química o papel de protagonistas enquanto percussores da 
produção de conhecimento sobre eletricidade. 
Ao criarmos um elo entre os egípcios e a produção de ciência, estamos promovendo 
a desconstrução de visões deturpadas sobre capacidade de produzir conhecimento 
do sujeito negro (CAMARGO et al., 2019). Neste sentido, a pedagogia da 
pluriversalidade oferece um conjunto de novas alternativas para o aprendizado e 
promoção da equidade racial em sala de aula (NOGUERA, 2012).

A figura 1 retrata o esquema para a produção do planejamento de aulas.

Figura 2 apresenta o planejamento de aulas.
Conclusões
Levando para a sala de aula contribuições científicas a cerca do protagonismo de 
sujeitos negros na produção de ciência e tecnologia, o planejamento desenvolvido 
colabora com a promoção da equidade racial no ensino de química pois faz repensar 
estereótipos, possibilitando a criação de uma imagem positiva sobre o povo negro. 
Assim neste trabalho, propomos a ruptura com modelos e sistemas de ensino que 
subjugam e invisibilizam culturas, pois a equidade racial consiste também na 
equidade cultural, e esta deve ser colocada na pauta enquanto meta educacional. 
Agradecimentos
Ao Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão – LPEQI/UFG e ao 
Programa de pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática – PPGECM/UFG.
Referências
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