• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Definição de sistemas de solventes para separação de compostos fenólicos da fração em acetato de etila do cerne de Sucupira Vermelha (Andira parviflora) por cromatografia contracorrente (CCC)

Autores

Araújo, I.M. (UFAM) ; Rodrigues, F.N. (UFAM) ; Lima, E.S. (UFAM) ; Flores, S.L.G. (UFAM) ; Leitão, G.G. (UFRJ) ; Silva, F.M.A. (UFAM) ; Guimarães, A.C. (UFAM)

Resumo

Esse trabalho teve como finalidade desenvolver uma metodologia eficaz para o fracionamento de compostos fenólicos por meio da técnica de Cromatografia Contracorrente (CCC) e avaliar a atividade antioxidante do extrato e fração em acetato de etila (LSV03) de Andira parviflora. A fração LSV03 dos resíduos madeireiros da espécie apresentou maior capacidade de inibição dos DPPH (74,50% ± 0,24) e ABTS (30,55 µg/mL ± 1,34). As análises por CLAE-DAD e CLAE-EM das frações, após fracionamento de LSV03 por CCC, indicaram a presença dos flavonoides: biochina A, genisteína 7-O-β-D-glucopiranosídeo, dihidrogenisteína, caempferol e genisteína.

Palavras chaves

Sucupira vermelha; Cromatografia contracorre; Resíduo madeireiro

Introdução

Andira parviflora Ducke (Papilionoideae subfamília, Fabaceae), pertence ao gênero Andira que inclui o grupo de plantas popularmente conhecidas como “angelins”. A espécie é conhecida como sucupira vermelha, é largamente explorada pela atividade madeireira e difundida principalmente no Amazonas e Pará (MATTOS, 1979). A Amazônia é uma das principais regiões produtoras de madeira tropical no mundo, ficando atrás somente da Indonésia e Índia no ano de 2018 (OIMT, 2018; RAMOS et al., 2022). A. parviflora apresenta poucos estudos acerca de sua composição química relacionada aos resíduos da indústria madeireira. A literatura relata alguns flavonoides em resíduos de A. parviflora como: bipterocarpan, 7,3´-dihidroxi-4´-metoxipterocarpan, nissolina, medicarpina, biochina A, genisteína, 8-O-metilretusina e a 7,5′,6′-triidroxi-4′- metoxiisoflavana (GARCIA et al., 2021; GARCIA et al., 2018). O processamento da madeira na indústria gera grandes quantidades de resíduos sólidos. Boa parte deste resíduos não possui valor comercial e são descartados no meio ambiente, causando sérios problemas de poluição (NASCIMENTO et al., 2012). A cromatografia contracorrente (CCC) é uma técnica cromatográfica de partição líquido-líquido, que utiliza duas fases líquidas imiscíveis retidas dentro de uma coluna, sem a necessidade de um suporte sólido. A técnica de CCC é uma excelente ferramenta para a purificação de produtos naturais, uma vez que ampla variedade de sistemas de solventes, podem ser utilizados com polaridade diversificada, possibilitando a separação de substâncias provenientes de matrizes complexas (LEITÃO & COSTA, 2025; HUANG et al., 2016).

Material e métodos

Os resíduos madeireiros (cerne) de A. parviflora foram coletados na empresa Mil Madeiras Preciosas Ltda, localizada da região de Itacoatiara-AM. O cerne foi limpo, seco e triturado. O extrato bruto foi obtido a partir de 800 g de material vegetal, utilizando uma extração a quente a 60 °C em balão, sob refluxo, com etanol a 70% v/v. Em seguida, o extrato foi concentrado em evaporador rotatório e seco. O extrato bruto (LSV) foi particionado em ordem crescente de polaridade, gerando as frações: hexano (LSV01), clorofórmio (LSV02), acetato de etila (LSV03), butanol (LSV04) e o resíduo hidroalcóolico (LSV05). A avaliação da atividade antioxidante foi realizada com o extrato bruto e frações frente aos radicais livres DPPH (BURITIS & BUCAR, 2000) e ABTS (SHANTY & MOHANAN, 2017). A fração LSV03 foi escolhida para o desenvolvimento de metodologia de separação por CCC. A escolha do método foi definida a partir da observação da distribuição da fração nos sistemas bifásicos de solventes testados por cromatografia em camada delgada (CCD) (tabela 1). Os testes de sistemas foram realizados com 2 mg da fração LSV03. A amostra foi solubilizada em 2 mL de cada sistema, agitada e em seguida, a mistura foi deixada em repouso para entrar em equilíbrio. Posteriormente, as fases superior e inferior foram separadas e aplicadas em CCD, utilizando o eluente CHCl3:Ác. acético:MeOH:H2O (60:32:12:8). O fracionamento de LSV03 (500 mg) por CCC, ocorreu em modo reverso, gradiente não-linear, utilizando a fase superior (orgânica) do sistema 12 como fase estacionária e as fases inferiores (aquosa) dos sistemas 12 e 14, como fases móveis. O fluxo da bomba variou entre 6 mL/min e 10 mL/min, a temperatura de 23 °C e rotação de 1600 rpm. As frações obtidas foram analisadas por CCD, CLAE-DAD e CLAE-EM.

Resultado e discussão

O extrato bruto de A. parviflora apresentou rendimento de 8,20% (65,57 g). As frações LSV03 5,74 g (32,73%), LSV04 6,15 g (35,02%) e LSV05 4,21 g (24,01%), apresentaram maiores rendimentos, indicando a concentração de metabólitos polares no cerne. A fração LSV03 apresentou maior capacidade de inibição de inibição dos radicais ABTS e DPPH em relação ao extrato bruto (figura 1-T.2). O fracionamento de LSV03 por CCC gerou 18 frações, que foram analisadas em CCD, que foram reunidas gerando 16 frações (figura 1-F.1). A CCD F.1A, mostra manchas fluorescentes Rf 0,2-0,7, laranja Rf 0,1-0,4 e verde escuro Rf 0,6 manchas características de fenólicos. A CCD revelada em vanilina sulfúrica (F.1B), apresenta várias manchas vermelhas e rosas (Rf entre 0,2-0,7). Observou-se também manchas amarelas (Rf 0,5) nas frações 15 e 16 e manchas roxas (Rf 0,1 e 0,3), nas frações 11, 12 e 16. A placa F.1C, revelada com DPPH, apresentou manchas amarelas com Rf correspondentes àquelas observadas nas placas F.1A e F.1B, que indicou a presença de substâncias com capacidade de inibir o radical livre DPPH, nas frações obtidas. A figura 1 apresenta os cromatogramas (F.2.) de CLAE-DAD de quatro frações ativas analisadas (figura 2-F.1B, manchas 04, 06, 14 e 16). A tabela 3 (figura 1-T.3) indica os principais íons detectados na análise de CLAE-EM, em modo negativo, APCI, nas frações 04,06,14 e 16. As indicações das substâncias foram compatíveis com compostos fenólicos já descritos para o gênero Andira.

Tabela 1

Proporções dos solventes dos Sistemas bifásicos selecionados para o fracionamento de LSV03

Figura 1.

Principais resultados obtidos no trabalho

Conclusões

O método desenvolvido para separação de compostos fenólicos por cromatografia contracorrente se mostrou eficaz, pois as frações obtidas a partir de LSV03 de A. parviflora apresentaram perfil cromatográficos correspondentes a flavonoides. Além disso, mostraram capacidade de inibir o radical livre DPPH. Os resultados obtidos revelam o potencial do resíduo madeireiro de A. parviflora como fonte de substâncias antioxidantes de importância tecnológica e científica para a espécie.

Agradecimentos

Os autores agradecem pelo apoio financeiro do Cnpq e FAPEAM, a empresa Mil Madeiras Preciosas Ltda pelo fornecimento do material vegetal, a Central Analítica (CAM-UFAM) e a UFAM pela infraestrutura.

Referências

BURITS, M.; BUCAR, F. Antioxidant activity of Nigella sativa essential oil. Phytotherapy research. ano 14, n. 5, p. 323-8,2000.
GARCEZ, E. S., et al. Isoflavones and flavonols from Andira humilis. Biochemical Sysrematisc Ecology. v. 38, p. 1242-1245, 2010.
GARCIA, M. G. et al. Identification of isoflavonoids in wood residue from Swartzia laevicarpa, Dipteryx odorata, and Andira parviflora. Chemistry of Natural Compounds. v. 54, n.5, p. 856-859, 2018.
GARCIA, M. G. et al. Isolation of new compound from Andira parviflora and Inga alba wood residues using LC-DAD-SPE/NMR. Chemistry of Natural Compounds. v. 57, n.2, p. 300-305, 2021.
KRAFT, C., et al. Andirol A and B, two uniquw 6-hydroxylpterocarpenes from Andira inermis. Zeitschrift fur Naturforschung. C, Journal of biosciences. v. 57, n. 9-10, p.785-790, 2002.
MATTOS, N. F. O gênero Andira Lam (Leguminosae Papilionoideae) no Brasil. Acta Amazônica., v. 9, n. 2, p.241-266, 1979.
NASCIMENTO, C. C.; LIMA, M. P.; BRASIL, M. M.; ARAUJO, R. D., and. PAULA, E. V. C. M, in: Desvendando as Fronteiras do Conhecimento na Região Amazônica do Alto Rio Negro, Ed. INPA, Manaus, 2012, pp. 69–84.
OIMT. Reseña bienal y evaluación de la situación mundial de las maderas 2013-2014.
RAMOS, G.; CARDOSO, D. B. O. S.; PENNING, R. T. Andira in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB78999, acesso em 09 de setembro de 2022.
SILVA, V. C; CARVALHO, M. G.; SILVA, S. L.C. Chemical constituients drom roots of Andira anthelmia (Leguminosae). Revista Latinoamericana de Química, v.35, n. 1, p. 13-19, 2007.
SHANTY, A. A; MOHANAN, P. V. Bases heterocíclicas de Schiff como antioxidantes não tóxicos: efeito do solvente, relação de atividade da estrutura e mecanismo de ação. Spectrochim Acta Part A: Molecular and Biomolecular Espectroscopy. n. 192, p. 181-187,2017.

Patrocinador Ouro

Conselho Federal de Química
ACS

Patrocinador Prata

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Patrocinador Bronze

LF Editorial
Elsevier
Royal Society of Chemistry
Elite Rio de Janeiro

Apoio

Federación Latinoamericana de Asociaciones Químicas Conselho Regional de Química 3ª Região (RJ) Instituto Federal Rio de Janeiro Colégio Pedro II Sociedade Brasileira de Química Olimpíada Nacional de Ciências Olimpíada Brasileira de Química Rio Convention & Visitors Bureau