Autores
Nogueira, P.A.D. (UFAM/ INPA)  ; Santos, H.C. (UFAM/ INPA)  ; Souza, P.B.A. (UFAM/ INPA)  ; Ramos, H.G. (UFAM/ INPA)  ; Lima, J.A.O. (UFAM/ INPA)  ; Oliveira, D.S. (UFAM/ INPA)  ; Oliveira, M.V.S. (UFAM)  ; Nascimento, C.C. (INPA)  ; Lima, M.P. (INPA)
Resumo
A família Meliaceae é reportada como fonte rica em metabólitos secundários. 
Estudos fitoquímicos do gênero Cedrela revelam compostos como ácidos 
alifáticos e álcoois, flavonóides, tocoferol, mono, sesqui e triterpenos, 
esteróides e limonóides. Esse trabalho teve como objetivo conhecer o perfil 
químico dos resíduos madeireiros de C. odorata. Os fracionamentos 
cromatográficos do extrato metanólico foram efetuados em colunas abertas com 
suportes variados de sephadex LH-20 e sílica gel-60, fornecendo uma mistura que 
foi elucidada por análises de RMN em 1 e 2D, em comparação com a literatura, 
permitindo a identificação da mistura epimérica dos poliacetilenos 1α e 
1β (4,6-heptadecadiyne-3,9,10,11-tetraol). Este é o primeiro relato de um 
poliacetileno neste genero. 
Palavras chaves
cedro-rosa; madeiras de demolição; poliinos
Introdução
A fitoquímica da madeira está diretamente relacionada as suas propriedades 
tecnológicas e proteção contra xilófagos sendo importantes para definir a forma 
mais adequada para seu uso, e pode ser dividida em metabólitos primários e 
secundários (SEVERO et al, 2006; KLOCK et al, 2005). Os metabólitos secundários 
encontrados em diversas madeiras agregam valor à elas, e auxiliam na busca de 
novas aplicações dos seus rejeitos, além de proporcionar conhecimento sobre o 
perfil químico de espécies que são protegidas por lei (GRANATO et al, 2005). Por 
muito tempo, as madeiras de algumas espécies de meliáceas, especialmente dos 
gêneros Cedrela e Swietenia, foram exploradas exaustivamente em todo o 
mundo para serem utilizadas principalmente na construção civil e fabricação de 
móveis finos, o que levou ao esgotamento de muitas de suas populações naturais 
em diversas regiões do planeta (O’NEILL et al, 2001; LAURANCE, 1999; VERISSIMO 
et al, 1998; KEAY, 1996; MABBERLEY et al, 1995).
A família Meliaceae possui cerca 58 gêneros e 740 espécies, divididos em duas 
subfamílias, Melioideae, e Cedreloideae, cujo gênero mais representativo, desta 
última, é o Cedrela com 18 espécies e possui distribuição por toda a região 
Pantropical (APG, 2022). A família tem inúmeros registros de estudos 
fitoquímicos em diversas partes vegetativas, mas com bastante restrição aos 
estudos relacionados à madeira. Estudos fitoquímicos no gênero Cedrela 
revelam diversos compostos como como ácido alifático e álcool, flavonóides, 
tocoferol, monoterpenos, sesquiterpenos, triterpenos cicloartanos, esteróides e 
limonóides (NOGUEIRA et al, 2020). Embora os metabólitos secundários dessa 
família sejam bastante reportados, algumas classes como poliacetileno por 
exemplo, apresenta poucos registros.
Das plantas superiores, mais de mil poliacetilenos foram isolados em 
aproximadamente 21 famílias. Recentemente, essa classe de compostos, muitas 
vezes instáveis, contendo pelo menos uma ligação tripla carbono-carbono que já 
demonstrou possuir potente atividade imunossupressora seletiva e baixa 
citotoxicidade também foram encontrados na família Meliaceae (NENG et al, 2019; 
WANG et al, 2018; WANG et al, 2014; ZHANG et al, 2012; NING et al, 2011; MINTO e 
BLACKLOCK, 2008; WAKABAYASHI et al, 1991). Devido à presença de diferentes 
ligações do tipo alquinil, os poliacetilenos tornam-se atraente devido às suas 
estruturas intrigantes, bioatividades significativas e modos surpreendentes de 
biossíntese (WANG et al, 2018; MINTO e BLACKLOCK, 2008).
No presente trabalho, apresentamos o isolamento e elucidação estrutural de um 
novo poliacetileno, ressaltando que essa classe de substancia é inédita para o 
gênero Cedrela.
Material e métodos
As investigações fitoquímicas foram conduzidas no Laboratório de Química de 
Produtos Naturais (LQPN) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). 
A obtenção dos resíduos madeireiros, oriundos de demolição de um prédio do INPA 
com cerca de quarenta e cinco anos de uso em estrutura de esquadria de janelas, 
foram cedidos pelo Laboratório de Tecnologia da Madeira (LTM) do INPA, para 
serem submetidos à investigação fitoquímica.
Os resíduos madeireiros foram moídos em moinho de facas e submetidos a uma 
extração a frio em metanol por sete dias, dando origem ao extrato metanólico. O 
fracionamento cromatográfico inicial foi efetuado em coluna cromatográfica 
aberta utilizando sílica gel tipo filtrante (70-230 mesh) empregando diferentes 
gradientes de polaridade dos solventes, partindo do Hexano à MeOH, originando 28 
frações. As frações obtidas foram analisadas por coluna cromatográfica delgada 
comparativa-CCDC e submetidas a novos procedimentos de purificação. A água-mãe 
da fração COM-16 foi refracionada diversas vezes, fornecendo a Substância 1α 
e 1β codificada como COM-16H.3.8.7.5 (6 mg, figura 01), possuindo 
aspecto de óleo com aroma agradável. Em CCDC apresentou-se como uma florescência 
fraca na UV 254nm e como uma mancha de cor violeta ao ser revelada em vanilina 
sulfúrica.
Para identificação dessa substância realizou-se análises de RMN 1H 
13C, DEPT 135, HSQC, HMBC, COSY e NOESY em espectrômetros da Bruker, 
modelos AVANCE III HD (500 MHz -1H e 125 MHz - 13C) e 
Fourier-300 (300 MHz - 1H e 75 MHz - 13C), além da 
espectrometria de massas (EM) em espectrômetro da Bruker, modelo microTOF-Q II, 
analisador time of flight. Fonte ESI em modo positivo com resolução de 
17500 (FWHM), utilizando-se o programa Compass, versão 4.1, para 
controle, aquisição e processamento de dados.
Resultado e discussão
Elucidação estrutural das substâncias
A fração COM-16H.3.8.7.5 (6 mg), denominada de mistura isomérica das substâncias 
1α e 1β (fig. 2) obtida após os fracionamentos cromatográficos apresentado na 
fig. 1, demonstrou possuir aspecto oleoso, cor laranja amarelado, polar, cheiro 
forte amadeirado. Em CCDC apresentou-se pura como uma mancha única de cor 
violeta ao ser revelada em vanilina sulfúrica e uma florescência visível em luz 
UV com comprimento de onda de 254nm.
As substancias 1α e 1β foram caracterizadas com base nos dados de RMN uni 
e bidimensionais e espectrometria de massas de alta resolução (EMAR) no modo 
positivo de ionização. As análises em LC-MS, indicaram um pseudo-íon equivalente 
a uma mistura epimérica com pico [M+H]+ m/z 297,2052 sugerindo a fórmula 
molecular C17H29O4. No espectro de RMN 
1H, foram observadas a presença de dois sinais de hidrogênios 
característicos de metilas na região entre ᵟH 0,96 (t, J = 7,45 Hz; H-1) e 0,88 
(t, J = 6,63 Hz; H-17). Ainda foi possível observar quatro sinais de hidrogênio 
dos carbonos metínicos em ᵟH 4,29 (t, J = 6,0 Hz; H-3), 4,08 (m; H-9), 3,33 e 
3,39 (d, J = 7,1 Hz e t, J = 3,4 Hz; H-10), 3,62 e 3,86 (m; H-11) e os 
metilenicos em ᵟH 2,55 e 2,67 (dd, J = 6,4-6,6 e 17,2-17,1 Hz; H-8). O COSY 
possibilitou a confirmação dos acoplamentos de H-8 à H-17, bem como os de H-1 à 
H-3 (fig. 2).
Os espectros de RMN de 13C mostraram sinais referentes a 17 carbonos, 
incluindo dois metílicos (C-1 e C-17), sete metilenicos (C-2, C-8, C-12 a C-16), 
quatro metínicos (C-3, C-9 a C-11), quatro carbonos desidrogenados (C-4 a C-7). 
Com base no DEPT 135 foi possível confirmar os carbonos dos grupos acetilenos de 
ᵟC 78,99 e 79,27 (C-4), 69,38 e 69,32 (C-5), 66,54 e 66,40 (C-6), 78,99 e 78,94 
(C-7). O mapa de contorno HSQC (fig. 2) mostrou a correlação do H-3 com o 
carbono metínico em ᵟC 63,81(C-3), além dos H-9, H-10 e H-11 com os carbonos 
metínicos em ᵟC 70,17 (C-9), 75,24 e 74,78 (C-10) e 72,82 e 72,22 (C-11). O mapa 
de contorno HMBC (fig. 2) mostrou as correlações do H-3 com os carbonos em ᵟC 
9,89 (C-1), 31,70 (C-2), 78,99 e 79,27 (C-4), 69,38 e 69,32 (C-5), 66,54 e 66,40 
(C-6), também são observadas as correlações entre os H-8 como os carbonos em ᵟC 
66,54 e 66,40 (C-6), 78,99 e 78,94 (C-7), 70,17 (C-9), 75,24 e 74,78 (C-10) e 
72,82 e 72,22 (C-11).
As analises 1D e 2D aliadas aos dados de EMAR, possibilitaram a identificação da 
mistura de dois estereoisômeros pertencentes a classe dos poliacetilenos e foram 
comparados com os dados de RMN 1H e 13C do 
dihydropanaxacol (FUJIMOTO e SATOH, 1987). Esses poliacetilenos foram 
identificados como 4,6-heptadecadiyne-3,9,10,11-tetraol (1α) e 4,6-
heptadecadiyne-3,9,10,11-tetraol (1β), respectivamente.
Recentemente foram identificados alguns poliacetilenos na família Meliaceae, 
isoladas nos gêneros Swietenia (NENG et al, 2019; WAKABAYASHI et al, 
1991), Toona (WANG et al, 2018; NING et al, 2011) e Khaya (WANG et 
al, 2014; ZHANG et al, 2012). Este, porém é o primeiro registro de isolamento de 
um poliacetileno para o gênero Cedrela.

Imagem mostra o esquema dos fraciomanentos ao lado dos residuos madeireiros de C. odorata.

A imagem demonstra a provavel configuração espacial das moleculas elucidadas e suas correlações no mapa de contorno HMBC e acoplamentos no COSY.
Conclusões
Os dois poliacetilenos isolados e identificados a partir dos resíduos madeireiros 
de C. odorata são os primeiros relatos desses compostos na literatura e também no 
gênero Cedrela. Nesse sentido os estudos fitoquímicos a partir de resíduos 
madeireiros demonstram contribuir na busca por novos compostos com possíveis 
potenciais biológicos.
Agradecimentos
Ao INPA, FAPEAM, Projeto INCT Madeiras da Amazônia, LTM, LQPN e UFAM.
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