• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Construção de modelo 3D-QSAR CoMFA de derivados fosfoguanidina e fosfopirazina como potenciais inibidores da AChE da mosca-branca (Bemisia tabaci)

Autores

Souza, F.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO) ; de Paula, H. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO) ; Souto Campos, O. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO)

Resumo

Dentre as espécies de mosca-branca como pragas relatadas no mundo, duas espécies ocorrem no Brasil, denominadas por Bemisia tabaci biotipo B e Trialeurodes variabilis (CULIK, 2003). A mosca-branca, trata-se de um inseto comum, caracterizada como vetor potencial de doenças viróticas. O controle com inseticidas organofosforados tem sido avaliado como solução alternativa uma vez que atuam sob a inibição da enzima acetilcolinesterase (AChE) causando paralisia ou morte (GHOLIVAND, 2019). Um conjunto de compostos derivados fosfoguanidina e fosfopizarina foram selecionados com base em suas propriedades biológicas com o propósito do estudo de docking molecular, elaboração de um modelo de análise quantitativa estrutura-atividade (QSAR) através da análise comparativa de campos moleculares

Palavras chaves

CoMFA; acetilcolinesterase; organofosforado

Introdução

A mosca-branca, trata-se de um inseto sugador comum, caracterizada também como vetor potencial de doenças viróticas das plantas, sendo transmissora do carlavírus na plantação de soja e viroses infectantes do mamoeiro que, com a evolução dos sintomas, pode levar a planta à morte (BUENO et al., 2013). O inseto como praga é preocupante, uma vez que, alimentando-se continuamente, a mosca-branca excreta nas folhas uma substância que favorece a formação de fumagina, causada pelo fungo Capnodium sp. de coloração preta que dificulta a captação dos raios solares, reduzindo a taxa fotossintética das folhas. O controle dessa praga é realizado com inseticidas sintéticos; entretanto, essa tática apresenta problemas socioambientais. O controle químico com inseticidas sistêmicos: acefato e malatião, tem sido avaliado como solução. (GHOLIVAND et al., 2019). Esses inseticidas afetam a enzima acetilcolinesterase (AChE) do alvo, de modo que sua inibição causa acúmulo de acetilcolina nas sinapses, resultando na ausência de coordenação no sistema neuromuscular e morte eventual (MORAIS & MARINHO-PRADO, 2016). Os compostos de guanidina e pirazina substituídos com fósforo podem representar aplicações agrícolas e medicinais, têm diferentes funções, incluindo agentes anticancerígenos, anti-inflamatórios, antibacteriano, fungicida, antimalárica e herbicida (GHOLIVAND et al., 2019) que serão avaliadas nesse trabalho a partir de métodos in silico. Objetivo: Elaborar um modelo estatístico através da análise quantitativa estrutura-atividade (QSAR) utilizando CoMFA capaz de predizer atividade biológica do conjunto de derivados fosfoguanidina e fosfopirazina.

Material e métodos

Da literatura foram encontrados 35 compostos derivados de fosfoguanidina e fosfopirazina com atividade biológica e valores de pIC50 já determinados para a acetilcolinesterase de insetos, nomeados de FG1 a FG25 e de FP26 a FP35. Os compostos foram desenhados, otimizados e suas cargas parciais determinadas pelo método semiempírico PM7 com MOPAC2016 (Stewart Computational Chemistry). Estudos de docking molecular desses compostos sobre a acetilcolinesterase de Drosophila melanogaster (PDB ID:1QON) foram performados usando o software Gold 2021.3.0. Através do software PaDEL descriptor toolkit v2.21 os descritores geométricos, topológicos e de contagem de fragmentos foram gerados. Em seguida, os descritores constantes, redundantes e os altamente correlacionados entre si foram eliminados. Os descritores restantes foram utilizados para a divisão com o software Dataset Division GUI 1.2 (DTC Lab) através do algoritmo de Kennard- Storne, em grupo treino e teste contendo 70% (24) e 30% (11) dos compostos respectivamente, em que, o grupo teste foi utilizado para validação dos modelos estatísticos gerados. Os modelos CoMFA 3D foram gerados com base em Campos de Interação Moleculares estéricos e eletrostáticos (MIF’s) utilizando o SYBYL-X 2.1.1 (Tripos Certara-Company). A variação da distância entre os pontos grid 3D e o desvio padrão pela opção “region focusing” afim de otimizar o modelo. Os modelos estatísticos multivariados dependem da regressão Partial Least Square (PLS), em que o coeficiente de determinação (r²) e o coeficiente de correlação de validação cruzada (cross-validated, q²) obtidos no método leave-one-out são utilizados como validação interna e a validação externa a partir dos valores de regressão calculados pelo modelo.

Resultado e discussão

A construção do alinhamento foi desenvolvida com base na melhor pose do composto mais ativo (FG19, pIC50= 1,772mM), observando as interações importantes através do docking. Dentre os modelos gerados, o modelo CoMFA escolhido e os dados estatísticos correspondentes estão na Tabela 1. Os dados do grupo Teste foram usados para a validação externa do modelo. Os valores obtidos indicam que o modelo possui capacidade de previsão muito boa, comprovado pela relação entre os valores observados experimentalmente (pIC50 exp.) e preditos (pIC50 pred.) utilizados para gerar o gráfico na Figura 1. Utilizando como base o composto FG19, as regiões críticas (estéricas ou eletrostáticas) que afetam a afinidade de ligação, foram obtidas pelo modelo 3D- QSAR indicando regiões favoráveis e desfavoráveis no composto com capacidade de aumentar ou diminuir sua atividade. Para análise do efeito eletrostático é possível afirmar que, as regiões em azul indicam que a presença de íons carregados negativamente nesta posição é altamente favorável à melhoria da atividade do composto e, regiões em vermelho sugerem que estes íons não são favoráveis nesta posição. Observando a contribuição dos efeitos estéricos, as regiões em verde destacam o favorecimento de átomos volumosos para aumento da atividade e, em regiões de amarelo é desfavorável a substituição de átomos volumosos, afetando as propriedades desse composto de forma negativa.

Tabela 1

Modelo CoMFA gerado e parâmetros estatísticos do no validation e da validação interna (leave-one-out).

Figura 1

a) pIC50 experimental e predito, b) mapa de contorno das regiões de contribuição estérica (verde e amarelo) e eletrostática (azul e vermelho).

Conclusões

O método 3D-QSAR utilizado para o conjunto de compostos derivados de fosfoguanidina e fosfopirazina possibilitou gerar um modelo estatístico de CoMFA com previsibilidade suficiente da atividade biológica, observado pelos valores de pIC50 preditos obtendo um R² de 0.999 e erro padrão da estimativa de 0,023. Além disso, o mapa de contorno obtido possibilita analisar quais possíveis alterações favorecem o melhoramento da atividade dos compostos estudados, podendo ser utilizado na proposição de novos compostos em estudos posteriores.

Agradecimentos

Agradecemos o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e ao Programa de Pós- Graduação em Agroquímica (PPGAQ).

Referências

Bueno, A. F.; Hoffmann-Campo, C. B.; Sosa-Gomez, D. R. Artrópodes que atacam as folhas da soja. EMBRAPA. 2013.

CULIK, M. P.; MARTINS, D. dos S.; VENTURA, J. A. Índice de artrópodes pragas do mamoeiro (Carica papaya L.). Vitória: Incaper, p.553-555, 2003.

Gholivand, K.; Mohammadpanah, F.; Pooyan, M.; Valmoozi, A. A. E.; Sharifi, M.; Varnosfaderani-Mani, A.; Hosseini, Z. Synthesis, crystal structure, insecticidal activities, molecular docking and QSAR studies of some new phospho guanidines and phospho pyrazines as cholinesterase inhibitors. Pest. Biochem. Phys. 157, 122-137, 2019.

J. J. P. Stewart. Optimization of Parameters for Semiempirical Methods II. Applications. J. Comp. Chem., v.10, p.221-264, 1989.

Kennard, Ronald W., Larry A. Stone. "Computer aided design of experiments." Technometrics 11.1, p.137-148, 1969.

MORAIS, L. A. S. de; MARINHO-PRADO, J. S. Plantas com atividade inseticida. In: HALFELD-VIEIRA, B. de A.; MARINHO-PRADO, J. S.; NECHET, K. de L.; MORANDI, M. A. B.; BETTIOL, W. Defensivos agrícolas naturais: uso e perspectivas. Brasília, DF: Embrapa, 2016. Cap. 19. p. 542-593.

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