Autores
Raffaeli, N.M. (UFF)  ; de Andrade, K.N. (UFF)  ; Goetze Fiorot, R. (UFF)
Resumo
Fotointerruptores moleculares são substâncias que a partir de um estímulo 
luminoso são convertidas em estados estáveis com propriedades distintas. 
Akamptisomeria é um novo tipo fundamental de isomeria baseado na inversão de 
ângulo de ligação (IAL) de uma ponte tensionada, como (N)2FB–O–
BF(N)2ancorada em compostos porfirínicos.Nesse processo, a 
planaridade dos sistemas é afetada,o que influencia a conjugação dos elétrons π, 
tornando tais compostos fotointerruptores em potencial. Avaliou-se como 
alterações estruturais afetam a IAL e as propriedades ópticas das porfirinas 
utilizando DFT e TD-DFT. Concluiu-se que todas as espécies foram calculadas como 
akamptisoméricas que absorvem na região do UV/Vis, porém são inviabilizadas como 
fotointerrutores.
Palavras chaves
DFT; Porfirinas; TD-DFT
Introdução
Interruptores moleculares são substâncias que se interconvertem entre estados 
estáveis com propriedades distintas. A conversão entre esses estados ocorre como 
resposta a diferentes estímulos, como mudança de pH, solvente, temperatura, e 
interação com a luz. Quando essa interconversão entre os isômeros advém de um 
estímulo luminoso, o interruptor recebe o nome de fotointerruptor(WANG, G.; 
ZHANG, J., p. 299, 2012). Em 2018, Canfield e colaboradores descobriram um novo 
tipo fundamental de 
isomeria em compostos porfirínicos baseados na inversão de ângulo de uma ligação 
simples (IAL), denominado akamptisomeria (CANFIELD et al, p. 615, 2018). O 
processo de isomerização é caracterizado pela IAL, possuindo uma barreira 
energética suficientemente alta (> 22 Kcal mol–1) para que seja 
possível isolar 
seus isômeros. Durante esse processo, os anéis pirrólicos sofrem distorções e a 
planaridade do sistema é afetada, o que pode influenciar a conjugação dos 
elétrons π e, consequentemente, as propriedades eletrônicas do sistema. Como 
compostos porfirínicos apresentam conhecida interação com a radiação 
eletromagnética, a alteração em sua estrutura eletrônica no processo de 
akamptisomerização os tornam possíveis fotointerruptores moleculares. Por se 
tratar de uma descoberta recente, apenas uma referência sobre o tema foi 
encontrada na base de dados Scopus, além do trabalho seminal de Canfield, onde o 
fenômeno de akamptisomeria frente a processos de transferência eletrônica foi 
explorado para compostos com o fulereno. (STASYUK, A. J. et al,  p. 2577, 2019) 
Dessa forma, é crucial o aprofundamento acerca dos requisitos estruturais para a 
existência de akamptisomeros isoláveis e possível aplicação em tecnologias 
fotoresponsivas. Com base nisso, o presente trabalho objetiva avaliar 
computacionalmente como modificações estruturais no macrociclo porfirínico 
influenciam o fenômeno de akamptisomerização e suas respectivas propriedades 
ópticas, idealizando a construção de fotointerruptores moleculares.O fenômeno de 
inversão do ângulo de ligação da ponte ancorada (N)2 FB–O–
BF(N)
2 foi avaliado para diversos compostos. Para tanto, foram 
selecionados substituintes aromáticos para avaliar a influência da extensão da 
conjugação eletrônica a partir da inserção dos grupamentos na posição β,β-
pirrólica (Figura 1, Q1). Além desses, grupos doadores (Figura 
1, 2a-e) e retiradores de densidade eletrônica (Figura 1, 2f-h) 
foram explorados visando identificar dispositivos do tipo push-pull 
(Q2). Tais sistemas permitem transferência intramolecular de 
carga, uma vez que em um lado da molécula é anexado um grupamento doador de 
elétrons enquanto do outro existe um grupo aceptor. (BURES, F.,  p. 58826, 2014)
Material e métodos
O software Gaussian 09 foi utilizado para a execução de todos os cálculos 
baseados em mecânica quântica. As estruturas foram otimizadas utilizando a 
Teoria do Funcional de Densidade (DFT), em nível B3LYP/6-31+G(d,p). O emprego de 
tal funcional se dá pelo fato da aplicação do mesmo em compostos similares 
encontrados na literatura. (CANFIELD et al, p. 616, 2018) Cálculos de 
frequências vibracionais foram realizados para caracterizar a natureza dos 
pontos estacionários e obter parâmetros termodinâmicos, calculados a partir de 
equações clássicas da termodinâmica estatística. As energias eletrônicas foram 
refinadas a partir de cálculos de ponto único utilizando o conjunto de função de 
base def2-QZVP. Os espectros eletromagnéticos foram simulados utilizando a 
Teoria do Funcional de Densidade Dependente do tempo (TD-DFT) em nível CAM-
B3LYP/6-31+G(d,p). Tal funcional separado por alcance foi selecionado por 
apresentar uma maior eficiência na descrição de processos de transferência de 
cargas, (DRAZEWIECKA-MATUSZEK, A.; RUTKOWSKA-ZBIK, D., p. 7176, 2021) sendo 
muito utilizado no estudo de compostos porfirínicos. (STASYUK, A. J. et al,  p. 
2577, 2019) Espectros teóricos foram obtidos a partir de transições eletrônicas 
verticais singleto-singleto utilizando 80 estados excitados de cada sistema 
(nstates=80, singlets). Dessa forma foi possível avaliar a interação das 
estruturas com a luz a partir de cálculos de excitação eletrônica, para a 
avaliação das transições de maiores contribuições e a construção dos espectros 
no UV/Vis. 
Resultado e discussão
Inicialmente, a estabilidade relativa dos isômeros foi avaliada a partir dos 
pares de akamptisômeros na configuração cisoide (c) e 
transoide (t) para cada sistema (Figura 2). As 
estruturas 
na configuração cisoide, em que os átomos de flúor ligados aos átomos de 
boro encontram-se para o mesmo lado, apresentaram maior energia (~ 6 Kcal 
mol–1) do que seus equivalentes transoides. Isso possivelmente 
se relaciona com a maior tensão da ponte B-O-B e elevada repulsão 1,3-
diaxial 
dos átomos de flúor (Figura 2a). Além disso, não foi possível otimizar os 
akamptisômeros cisoide (c2) para nenhum dos 
sistemas explorados, uma vez que tal configuração não representa um ponto mínimo 
de energia na superfície de energia potencial, de modo que durante o processo de 
otimização, tal estrutura converge para seu par mais estável (
c1) – Figura 2a, resultado que concorda com estudos 
previamente feitos. (CANFIELD et al, p. 616, 2018) A obtenção de 
c2 como ponto de mínimo da superfície de energia potencial 
foi apontando apenas para compostos com substituição dos átomos de flúor por um 
grupo alquinil conectado ao fulereno. (STASYUK, A. J. et al,  p. 2577, 2019) 
Para os compostos aqui avaliados (ponte (N)2FB–O–BF(N)
2), 
o par de akamptisômeros transoides se revelaram como as estruturas mais 
estáveis. Segundo os resultados obtidos para os cálculos das barreiras 
associadas ao IAL, todos os sistemas (t) avaliados se tratam de 
espécies isoláveis. O valor médio calculado para as IAL de cada par 
akamptisomerico é de ΔG‡ = 26,8 ± 0,8 Kcal mol–1(Figura 
2b), ultrapassando o mínimo estabelecido como 22 Kcal mol–1 para 
que 
o fenômeno de akamptisomeria aconteça. (CANFIELD et al, p. 616, 2018) Em relação 
aos processos competitivos à IAL, as rotações simultâneas das ligações (BF)−O−
(BF) e a dissociação do flúor possuem barreiras calculadas para sistemas 
análogos em torno de 50 Kcal mol-1 (CANFIELD et al, p. 616, 2018), 
impedindo a ocorrência desses processos nas condições experimentadas. Portanto, 
a inferioridade da barreira relacionada à inversão do ângulo de ligação em 
relação aos processos competitivos torna a akamptisomerização o processo 
preferencial.
Em seguida, avaliou-se a interação das espécies akamptisoméricas com a radiação 
eletromagnética a partir de cálculos TD-DFT e simulação do espectro de absorção. 
Além das espécies supramencionadas, o espectro de absorção do sistema com 
substituição Q = H  foi calculado visando ter um referencial para 
comparar o deslocamento provocado pelos substituintes explorados. Dentre as 
espécies avaliadas, o maior deslocamento batocrômico foi identificado para 
akamptisômeros com substituintes aromáticos, com Δλ e 21, 30 e 54 nm para os 
sistemas 1a, 1b e 1c, respectivamente, com influência mais marcante 
pertencendo a naftoquinona foi identificado para o sistema da naftoquinona 
(1c). Isso sugere que a extensão da cadeia conjugada apresenta maior 
efeito no perfil de absorção do que espécies com pares de elétrons n, que 
apresentaram Δλ < 11 nm. Contudo, os constituintes de cada par de isômeros 
apresentaram absorção em regiões muito próximas do espectro eletromagnético. Tal 
fator indica que somente uma substituição na posição β,β-pirrólica não foi capaz 
de enquadrar os sistemas como candidatos a fotointerruptores, por mais que 
exista o fenômeno de IAL.

Estrutural geral de porfirinas com ponte (N)2FB-O- BF(N)2 e substituições na posição Q (β,β-pirrólica).

(a) Pares de akamptisômeros cisóides. Estrutura c2 não foi encontrada (converge para c1). (b) Processo de inversão do ângulo de ligação t1 → t2.
Conclusões
Segundo os cálculos apresentados, todos compostos avaliados representam espécies 
akamptisoméricas isoláveis, uma vez que as barreiras energéticas para a IAL 
ultrapassaram o valor mínimo estabelecido (22 Kcal mol -1). Acerca das 
propriedades ópticas, identificou-se que a inserção do substituinte naftoquinona 
promove um pronunciado deslocamento batocrômico se comparado com o sistema 
referencial sem substituintes. Entretanto, uma única substituição na posição 
Q não é capaz de enquadrar os sistemas como fotointerruptores, pois os 
isômeros apresentam o mesmo perfil de absorção. A partir de tais conclusões, novas 
modificações estruturais estão sendo exploradas, como saturação da substituição na 
posição Q, inserção de substituintes na posição meso e avaliação de outros 
substituintes aromáticos, como BODIPY e quinolonas.
Agradecimentos
Aos órgãos de fomento FAPERJ, CNPq e supercomputador LoboC – NACAD.
Referências
BURES, F.. Fundamental aspects of property tuning in push-pull molecules. RSC Adv. v. 4 , p. 58826-58851, 2014.
CANFIELD, P. J et al. A new fundamental type of conformational isomerism. Nature Chemistry.v. 10, p. 615-624, Jun. 2018. 
DRAZEWIECKA-MATUSZEK, A.; RUTKOWSKA-ZBIK, D., Application of TD-DFT Theory to Studying Porphyrinoid-Based Photosensitizers for Photodynamic Therapy: A Review. Molecules, v. 26, p. 7176, Nov. 2021
STASYUK, A. J. et al, Peculiar Photoinduced Electron Transfer in Porphyrin–Fullerene Akamptisomers. Chem. Eur. J., v. 25., p.  2577 – 2585, 2019.
WANG, G. ; ZHANG, J. Photoresponsive Molecular Switches for Biotechnology. Journal of Photochemistry and Photobiology. C: Photochemistry Reviews. v. 43, n. 4, p. 299-309, Dez. 2012








