TÍTULO: COMO LIDAR COM OS RISCOS QUÍMICOS DE PRODUTOS DO COTIDIANO?

AUTORES: DOS SANTOS, C.M. (IFRJ) ; DA SILVA, T.I. (IFRJ) ; OLIVEIRA JUNIOR, G.I. (UFAC) ; MESSEDER, J.C. (IFRJ)

RESUMO: Esse trabalho foi iniciado no curso de Licenciatura em Química do IFRJ, objetivando capacitar o futuro professor na sua prática pedagógica de acordo com os interesses de apropriação do saber científico pela população, de modo que este saber possa resultar num melhor entendimento não só da Química, mas também da educação, da vida e da sociedade. Optou-se pela abordagem dos riscos químicos de produtos do cotidiano, suas origens, suas conseqüências e suas formas de prevenção. Tais informações foram levadas para um público diverso, tendo pessoas de todas as classes sociais e intelectuais. Comprovou-se que a inclusão social, através dos alicerces científicos, é uma atitude que deve ser mais exercitada por alunos e professores de química dos diversos cursos de graduação espalhados pelo Brasil.

PALAVRAS CHAVES: produtos químicos; riscos químicos; ensino de química.

INTRODUÇÃO: Não é possível estabelecer uma regra geral que garanta a segurança no manuseio de todos os produtos químicos que nos cercam no dia-a-dia. Para uma avaliação rigorosa, torna-se necessário considerar não só as características físico-químicas, a reatividade e a toxicidade, mas também as condições de manipulação, as possibilidades de exposição do indivíduo e as vias de penetração no organismo (SCHVARTSMAN,1988). Vários produtos usados em residências e unidades de alimentação e nutrição (UAN) podem causar efeitos nocivos e doenças graves, se utilizadas fora das dosagens especificadas, ou do objetivo para o qual tais produtos foram elaborados (GERMANO, 2008). Por exemplo, em higiene alimentar, o ácido acético, ácido paracético, e o hipoclorito de sódio têm despertado cada vez mais o interesse das empresas devido às controvérsias relacionadas à toxicidade dos resíduos de cloro nos alimentos (NASCIMENTO, 2003). Na maioria das vezes, as pessoas desconhecem os possíveis efeitos das substâncias químicas sobre a saúde, em função da diversidade dos ambientes cotidianos. Esse trabalho de pesquisa alicerçou-se no objetivo do curso de Licenciatura em Química do IFRJ (campus Nilópolis/RJ) que é formar um professor de Química capaz de exercer a sua prática pedagógica de acordo com os interesses de apropriação do saber científico por toda a população, de modo que este saber possa resultar num melhor entendimento não só da Química, mas também da educação, da vida e da sociedade. A partir dessa premissa, procurou-se uma compreensão do senso comum sobre produtos químicos do cotidiano e suas conseqüências sobre a saúde humana. Com isso, pode-se constatar que o conhecimento químico precisa ser construído sempre, a partir do conhecimento de senso comum que, certamente, todas as pessoas possuem.

MATERIAL E MÉTODOS: O princípio norteador da pesquisa foi alertar uma determinada comunidade para os riscos químicos causados pelo mau uso de alguns produtos do cotidiano. Houve a intenção também de citar exemplos de certas substâncias químicas tóxicas encontradas em produtos corriqueiros, além de informar sobre alguns mecanismos preventivos e maneiras corretas de armazenar e de utilizar tais produtos. Foi realizada uma pesquisa qualitativa apoiada em observações, além de dados obtidos com os sujeitos envolvidos. Foi ministrada uma palestra em um centro comunitário no município de Mesquita (RJ), para 52 pessoas, com faixa etária entre 20 e 60 anos. Os seguintes recursos foram utilizados: Data Show, em um esquema de slides montados no programa Microsoft PowerPoint, e vídeos que mostravam reações químicas com produtos domésticos. Primeiramente, distribui-se um questionário para coletar informações sobre o conhecimento prévio dos participantes acerca dos riscos de alguns produtos usados no dia-a-dia, como domissanitários, cosméticos, medicamentos, alimentos, etc. Com perguntas do tipo:“Antes de utilizar um produto de limpeza o(a) Sr(a) lê as informações contidas no rótulo? Ao ler as informações contidas no rótulo do produto o(a) Sr(a) consegue compreende-las? O(a) Sr(a) sabe como agir em caso de intoxicação por algum destes produtos? Se não, o que o (a) Sr(a) costuma fazer? Quando o(a) Sr(a) verifica a data de validade de um produto alimentício e constata que o mesmo está vencido o que o(a) Sr(a) faz? Como o(a) Sr(a) costuma armazenar os produtos químicos, em sua casa? Qual o critério usado para a arrumação dos mesmos?” A palestra foi iniciada com uma base introdutória acerca dos riscos químicos dos produtos encontrados em vários ambientes, e com exemplificações de tais produto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados mostraram que os participantes da pesquisa conhecem os riscos químicos sob os quais convivem de uma forma muito genérica. Verificou-se que 87,3% dos entrevistados desconhecem os perigos químicos aos quais são expostos, e que 93,5% não sabem como alguns produtos devem ser armazenados, tanto em residências, como em unidades de alimentação e nutrição (UAN). A atenção fica restrita, por exemplo, a inflamáveis e corrosivos comumente usados em produtos de limpeza. É interessante ressaltar que 74,2% dos respondentes consideram o álcool etílico, usado como desinfetante doméstico, como sendo a substância mais perigosa usada no dia-a-dia. Em relação ao uso de hipoclorito de sódio como agente desinfetante de alimentos, principalmente dos hortifrutigranjeiros, 95,5% dos respondentes consideram tal substância perigosa, e não sabem usá-la nas concentrações adequadas, além de serem alheios aos seus perigos sobre a saúde. Em relação aos medicamentos que são consumidos aleatoriamente, por exemplo, o ácido acetilsalicílico, 92,5% dos entrevistados alegou que não vêm nenhum problema no uso de determinados remédios populares sem prescrição médica, declarando que já fazem uso por muitos anos, e nunca tiveram nenhum problema de saúde. Relataram também que muitos medicamentos são “receitados” por amigos e/ou familiares, passando tal prática de geração em geração. Esse conhecimento, entretanto, não se transforma numa ação segura de prevenção de acidentes e doenças nos diversos ambientes, apontando para a necessidade de uma atitude por parte das indústrias de um modo geral.

CONCLUSÕES: Verificou-se que os conhecimentos sobre riscos químicos em diversos ambientes é fruto da prática cotidiana e não oriundo de orientações técnicas nas escolas e/ou em locais de trabalho, ou até mesmo através dos veículos de comunicação. Comprovou-se que a inclusão social através dos alicerces científicos é uma atitude que deve ser mais exercitada por alunos e professores dos cursos de Química de todo o país. A pesquisa iniciada no curso prosseguirá em outros semestres, garantindo com isso, a participação dos licenciandos em atividades contextualizadas desde o seu primeiro período curricular.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: SCHVARTSMAN, S., Produtos Químicos de Uso Domiciliar: Segurança e riscos toxológicos, 2ª Edição, Editora Almed, São Paulo, 1988, 182 p.
GERMANO, P.M.; GERMANO, M.I.S., Higiene e vigilância sanitária de alimentos: qualidade da matéria-prima, doenças transmitidas por alimentos e treinamento de recursos humanos. 3 ª Edição, Editora Manole, São Paulo, 2008, 986p.
NASCIMENTO, M.S. et al. Avaliação comparativa de diferentes desinfetantes na sanitização de uva. Braz. J. Food Tecnol., v. 6, p. 63-68, 2003.