TÍTULO: O Ensino de Química na Faculdade de Medicina da Bahia no inicio do século XIX : um breve percurso do seu desenvolvimento

AUTORES: MATOS, K. F. O. (UNICAMP)

RESUMO: Primeiro estabelecimento de ensino superior do país, a Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) ofereceu, durante quase todo o século XIX, o único curso superior da Bahia, pois a faculdade de Direito só seria instituída em 1891. Essa condição particular fê-la o centro para qual convergiram os jovens interessados numa formação superior.
O currículo do curso médico, neste período, era abrangente. As disciplinas que faziam parte do conteúdo da Faculdade de Medicina da Bahia, contribuiu para a diversidade dos temas ali estudados.
Este trabalho faz uma analise da criação da primeira disciplina Química no inicio do século XIX, na Faculdade de Medicina da Bahia, verificando as condições de sua criação, estruturação e desenvolvimento.


PALAVRAS CHAVES: ensino de química, história da química , institucionalização das ciências

INTRODUÇÃO: A partir do início do século XIX, com a criação dos primeiros cursos superiores, registram-se no Brasil atividades mais sistemáticas na área de Química, demandadas pelas transformações de ordem política e econômica decorrentes da vinda da família real portuguesa.
Na Bahia especificamente a Química vai ganhando cada vez mais espaço, ao longo do século XIX. Inicialmente, no curso de medicina, posteriormente nos cursos de Farmácia e Engenharia, até a criação de um curso de Química para professores na Faculdade de Filosofia da Bahia.
A documentação pesquisada para este trabalho mostra que até se chegar à criação do curso de Química, há um percurso longo em que, sem dúvida alguma, a Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), cujas origens datam de 1808, deve ser o ponto de partida.
Embora o ensino médico tenha sido instalado já em 1808, somente mais tarde ocorreu um estudo regular da Química e foi só na segunda parte do século que as Faculdades de Medicina começaram a atribuir maior importância ao ensino e à divulgação dessa ciência. É, portanto, na segunda metade do século XIX, que grande parte de seus médicos e farmacêuticos formados dedicaram-se a tarefas químicas.
Neste trabalho, tivemos como objetivo verificar como se estabeleceu o Ensino da Química na Faculdade de Medicina da Bahia no inicio do século XIX, fazendo uma breve analise da criação, por decreto, da disciplina de Química e Elementos de Mineralogia, em 1817, a partir dos relatos dos professore da FMB.


MATERIAL E MÉTODOS: Teria sido importante encontrar para esta pesquisa, nos arquivos da Faculdade de Medicina da Bahia, documentos específicos sobre as disciplinas, conteúdos ministrados pelos professores, porém acreditamos que a falta deste tipo de material nos Arquivos se deva a um incêndio que data de 1905 e que destruiu todo o acervo documental. Embora doações feitas por ex-alunos e professores, tenham conseguido recuperar um número até superior das teses e Memórias Históricas para a instituição, parte dos documentos relativos ao funcionamento da instituição acabou por se perder neste incêndio.
No entanto, pudemos, dar continuidade ao nosso trabalho abordando uma outra série de documentos encontrados nos Arquivos da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), como as Memórias Históricas(MHs), que eram escritas a cada ano por professores da Faculdade de Medicina da Bahia, com a finalidade de apontar os principais problemas relacionados ao ensino médico, assim como relatar como se encontrava o ensino de cada “cadeira”, tanto a parte teórica, quanto a parte prática, e neste conjunto de informações encontramos elementos que nos permitiram compreender como ia se configurando a Química na Escola de Medicina.
As Memórias Históricas foram instituídas pela Reforma da Instrução Superior do Império de 1854. O texto legal que as estabeleceram determinou o seguinte: “(1) a narração dos fatos mais notáveis do ano decorrido; (2) a indicação do grau de desenvolvimento das doutrinas nos cursos públicos e particulares; e (3) as reflexões pessoais”. Dentre essas três determinações, as duas primeiras eram obrigatórias e a terceira, facultativa. A partir destes documentos foi possível extrair importantes comentários feitos pelos memorialistas acerca do ensino da Química e perceber com o mesmo se estruturou.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: A criação da primeira cadeira de Química foi apontada por vários memorialistas. A Carta-Régia, de 28 de Janeiro de 1817, criava na Cidade da Bahia uma cadeira de “Chimica”.
O contexto da criação da primeira cadeira de Química da Faculdade de Medicina da Bahia é muito importante para a compreensão do processo de sua organização. Isto pode nos ajudar a compreender os rumos que esta disciplina tomaria, bem como qual o tratamento que os mestres dispensariam a esta ciência.
Desse modo, no que diz respeito a isso, podemos observar a preocupação com o desenvolvimento do Estado baiano e com a valorização da exploração das riquezas aí existentes. Podemos dizer que a disciplina fora criada para suprir a necessidade do desenvolvimento do país de modo que, com o decreto que criava a primeira disciplina de Química, foram detalhadas instruções para o funcionamento da mesma.
Segundo este documento o professor de química deveria se preocupar com os diferentes ramos da indústria, proporcionando aos alunos todas as experiências e análises que fossem necessárias para a compreensão da mesma. Esses experimentos deveriam dar particular atenção ao “trabalho das minas de ferro, e de outros metais, de que ainda abundavam o reino do Brasil”.
Esta disciplina posteriormente é desmembrada em outras disciplinas e ao longo do século XIX, novas disciplinas vão compondo o currículo do curso médico.
Neste trabalho, foi possível perceber que o desenvolvimento da ciência Química deve-se também a esses profissionais que ministraram por muito tempo esta ciência até que a mesma fosse institucionalizada, assim como perceber o importante papel da FMB e de seus professores.


CONCLUSÕES: No Brasil, apenas a partir do século XIX, são criadas as primeiras instituições superiores em que os estudos químicos foram abrigados. Apenas a partir deste momento que o Ensino de Química vai ganhando novos elementos e sua importância vai consolidando-se na necessidade de criação de institutos e ambientes em que seus estudos se tornem cada vez mais efetivos.
Nossa pesquisa nos leva a concluir que os estudos e ensino de Química, desde a sua criação, atenderam às necessidades e às exigências da época, acompanhando, portanto, o desenvolvimento tecnológico, científico e industrial.


AGRADECIMENTOS: A CAPES, pelo auxílio concedido para as pesquisa em Ensino e História da Ciência da Química e da Mineralogia, realizadas no Instituto de Geociências da UNICAMP

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ARAGÃO, Egas Carlos Moniz Sodré de. Faculdade de Medicina da Bahia. Memória histórica dos acontecimentos mais notáveis do anno de 1877. Salvador: Imprensa Bahia, 1878

CUNHA, Luiz Antonio. A Universidade Temporã. São Paulo: Francisco Alves, 1980

MATOS, K. F. O. ; FERRAZ, M. H. M. . A Química na Bahia: da Faculdade de Medicina à Faculdade de Filosofia. In: 29ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química., 2006, Águas de Lidóia. Sociedade Brasileira de Química, 2006