TÍTULO: CONTEXTUALIZAÇÕES NO ENSINO DE QUÍMICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS POR MEIO DO TEMA PLANTAS MEDICINAIS

AUTORES: CAVAGLIER, M.C.S. (IFRJ) ; MESSEDER, J.C. (IFRJ)

RESUMO: O presente trabalho objetivou valorizar o conhecimento popular acerca do tema Plantas Medicinais, como forma de valorizar os saberes fora da academia, no desenvolvimento de práticas educativas mais contextualizadas. A partir de oficinas e questionamentos aos alunos do Ensino Médio (EJA), em Muriqui/RJ, percebeu-se a valorização de suas vivências e saberes adquiridos de gerações anteriores, como pais e avós. A oficina demonstrou que os alunos trazem conhecimentos importantes que contribuem no desenvolvimento do trabalho em sala de aula. Os termos científicos relacionados à fitoterapia são pouco desenvolvido, porém os alunos demonstraram interesse no assunto, visto que todos acreditam que o tema Plantas Medicinais pode ser interessante em um desdobramento na práxis do professor de Química.

PALAVRAS CHAVES: plantas medicinais; eja; saberes populares.

INTRODUÇÃO: Uma das razões para o abandono da escola pelos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) está na utilização de material didático inadequado para a faixa etária, nos conteúdos sem significado, nas metodologias infantilizadas utilizadas por professores despreparados e, em horários de aula que não respeitam a rotina de quem estuda e trabalha (LOPES, 2005). Na flexibilização curricular que a EJA proporciona e que vem expressa nos documentos legais, a resposta à essa reflexão pode estar na seleção de conteúdos que possam ser utilizados na vida cotidiana, como meio para a autonomia do sujeito e que no tocante ao ensino de Química possa contribuir na formação de um aluno crítico que saiba utilizar os conhecimentos científicos apreendidos para participar das decisões que envolvem seu cotidiano (OLIVEIRA,2007). A tradição de usar medicamentos caseiros para curar doenças comuns como gripes, resfriados e problemas de digestão é uma prática que tem acompanhado o homem através dos tempos. São receitas que utilizam plantas medicinais e são passadas de geração a geração, constituindo múltiplos conhecimentos que são encontrados fora da sala de aula, e não devem ser desprezados pelo educador em Química (CHASSOT, 2006). A flora brasileira é riquíssima em exemplares que são utilizados pela população como plantas medicinais. A população adulta detém certo conhecimento, fornecido inclusive por seus antepassados a respeito do poder medicinal de algumas plantas. O objetivo desse trabalho foi trazer para sala de aula o conhecimento popular sobre o uso de algumas espécies vegetais, a partir de oficinas realizadas com alunos, dentro de uma metodologia construtivista, usando o tema como ponto de partida na elaboração de aulas interdisciplinares para Química no segmento da EJA.

MATERIAL E MÉTODOS: Foi desenvolvida uma oficina com alunos do primeiro ano do Ensino Médio, de uma turma de EJA, na Escola Estadual Montebello Bondim, em Muriqui, distrito de Mangaratiba, estado do Rio de Janeiro. Em um primeiro momento da oficina os alunos foram questionados em relação ao grau de conhecimento e envolvimento com o tema Plantas Medicinais: “Usa ou já usou algum tipo de planta medicinal para tratamento de saúde? Acredita que plantas medicinais podem evitar ou combater alguns tipos de doenças? Já ouviu falar em fitoterapia? Costuma comprar algum tipo de planta medicinal? Qual (is)? Cultiva algum tipo de planta medicinal em casa? Qual (is)? Acredita que o uso deste tipo de terapia pode ser mais barato e acessível? Acredita que o tema ‘Plantas Medicinais’ poderia ser interessante para ser trabalhado em sala de aula? Os principais conhecimentos que possui sobre plantas medicinais foram adquiridos com: ( ) familiares ( ) amigos ( ) outros”. Cada aluno ficou responsável por levar algum exemplar de planta cultivado em sua própria casa, que fizesse uso ou que tivesse conhecimento sobre seu efeito terapêutico. Assim, a maioria trouxe a folha ou parte do vegetal que conhecia e um pequeno cartaz reportando seu efeito terapêutico e forma de ingestão, conhecidos popularmente. Destacaram-se na oficina as seguintes plantas: erva-cidreira, cana-do-brejo, alcachofra, boldo, capim-limão, barbatimão, folha de laranjeira, folha de pitanga, aroeira, gengibre, erva-doce, louro, hortelã e camomila. Foram escolhidas duas espécies mais comuns para o preparo dos chás: a camomila e a erva cidreira. Durante a degustação dos chás, as plantas com suas respectivas informações (botânicas e terapêuticas) puderam ser observadas por todos os alunos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Houve um total de 22 participantes da oficina. Os dados revelaram que: 18 alunos já utilizaram algum tipo de planta medicinal; todos acreditam que as plantas medicinais podem combater ou evitar alguns tipos de doenças; apenas 7 sabiam realmente o que significava fitoterapia; 2 sabiam pouco, 11 não sabiam e 2 não responderam; quando foi perguntado onde esses alunos costumavam adquirir essas plantas: 5 citaram amigos, 6 citaram lojas, 6 citaram em casa, 1 citou na feira, 3 nas matas ou florestas e 2 não responderam; quando foi perguntado se os alunos achavam que este tipo de terapia poderia ser mais barato e acessível, 21 responderam sim e um não respondeu; quando perguntado se cultivavam algum tipo de planta medicinal em casa, 17 disseram que sim e 5 que não; quanto às espécies mais citadas: boldo, hortelã, erva-cidreira, capim-limão; Os principais conhecimentos dos alunos acerca do tema foram adquiridos com: familiares (21) e amigos (2); todos acreditavam que o tema Plantas Medicinais poderia ser interessante para ser trabalhado em aula. A oficina realizada possibilitou a inserção de incentivos aos cuidados com a saúde e demonstrou que o uso de fitoterápicos atualmente é uma prática reconhecida pelo Ministério da Saúde, segundo a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos – PNPMF (BRASIL, 2006). Foi verificado que os alunos da EJA trazem percepções de gerações antigas mesmo com as influências da globalização. A partir dessa motivação, encontra-se em elaboração um roteiro de dez aulas em CD-ROM com o tema Plantas Medicinais. Tal material (produto final de dissertação do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências/IFRJ) será destinado às aulas de Química para o segmento EJA, sendo aplicado primeiramente aos alunos participantes da oficina realizada.

CONCLUSÕES: O ensino de Química baseado no resgate e na valorização dos saberes populares através do tema Plantas Medicinais pode contribuir no desenvolvimento de uma prática educativa mais significativa e contextualizada, principalmente na EJA, que deve ser pensada como um modelo pedagógico próprio, com o objetivo de criar situações de ensino-aprendizagem adequadas às necessidades educacionais de jovens e adultos, fazendo com que se sintam atores do processo e não apenas expectadores de uma educação descontextualizada e infantilizada, ou com as mesmas propostas desenvolvidas para o ensino regular.

AGRADECIMENTOS: À direção da Escola Estadual Montebello Bondim, em Muriqui, distrito de Mangaratiba (RJ), pelo apoio as atividades desenvolvidas na pesquisas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRASIL. Ministério da Saúde. Decreto nº 5.813, de 22 de junho de 2006. Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Diário Oficial da União, Brasília, jun. 2006b.
Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/portariafito.pdf Acesso em 27 nov. 2009.

CHASSOT, A. Alfabetização científica. Questões e desafios para a educação, 4ª ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2006.

LOPES, S. P.; SOUZA, L. S. EJA: uma educação possível ou mera utopia? Revista Alfabetização Solidária (Alfasol), Volume V, setembro, 2005.

OLIVEIRA, I.B. Reflexões acerca da organização curricular e das práticas pedagógicas na EJA. Revista Educar, Editora UFPR. Curitiba, n. 29, p. 83-100, 2007.