TÍTULO: QUÍMICA: COTIDIANO E ENSINO REFLEXÃO SOBRE O ENSINO DE QUÍMICA NO/PARA O COTIDIANO

AUTORES: FREITAS, D.M.S. (UFRPE) ; MAIA, M.L.F. (UFRPE)

RESUMO: Este artigo descreve um trabalho investigativo, desenvolvido com alunos de 3º ano do Ensino Médio, cujo objetivo foi o de analisar o nível de conhecimento, pensada a associação daquilo que é ensinado em aulas de Química e o cotidiano desses alunos. Empregou-se um questionário com temas do dia-a-dia pessoal e escolar de alunos de escolas públicas de ensino; seus resultados fundamentaram questionamentos acerca da metodologia de ensino em aulas de Química e do papel do professor na formação de futuros profissionais da área e na conscientização da importância de um ensino mais humanizante e voltado às questões sociais.

PALAVRAS CHAVES: cotidiano; ensino; química

INTRODUÇÃO: Entre os alunos de Ensino Médio há muitas indagações sobre a utilidade da aprendizagem de conceitos químicos. Afinal, para quê se estuda Química? Será que é unicamente para passar de ano ou nível escolar e no vestibular?
o ensino de Química deve centrar-se na inter-relação de dois componentes: a informação química e o contexto social. Isso implica a necessidade de vinculação do conteúdo trabalhado com o contexto social em que o aluno está inserido.
Para explicar o desenvolvimento cognitivo, Lev Vygotsky (1896-1934) parte da premissa de que ele não pode ser entendido sem referência aos contextos sociais e cultural nos quais ocorrem, ou seja, o desenvolvimento cognitivo não ocorre independentemente dos contextos social, histórico e cultural.
Segundo Vygotsky (Moreira, 1999, p. 109), os processos mentais superiores (pensamento, linguagem e comportamento volitivo) têm origem em processos sociais; o desenvolvimento cognitivo do ser humano não pode ser entendido sem referência ao meio social. Para ele, desenvolvimento cognitivo é a conversão de relações sociais em funções mentais. Não é por meio do desenvolvimento cognitivo que o indivíduo se torna capaz de socializar, é na socialização que se dá o desenvolvimento dos processos mentais superiores.
Diante do exposto,cabem aqui mais duas perguntas: o ensino de Química que se tem ministrado nas escolas tem preparado os jovens para o exercício consciente da cidadania? Os alunos associam o que aprendem na sala de aula com o seu cotidiano?

MATERIAL E MÉTODOS: Para coletar informações necessárias, trabalhou-se com alunos do 3º ano do Ensino Médio, tendo em vista que no último ano letivo do Ensino Médio os alunos já estudaram ou estão estudando os conceitos químicos abordados no questionário. A pesquisa foi realizada com setenta e sete alunos em três escolas da rede pública do Cabo de Santo Agostinho. Aplicou-se um questionário contendo cinco questões que abordavam conceitos químicos presentes no cotidiano, como: funções inorgânicas, chuva ácida, mudanças de estado físico da matéria, reações químicas e benefícios e malefícios da Química. Optou-se por questões abertas, por acreditar que as de múltipla escolha poderiam levar a um laudo falso, tendo em vista que os alunos poderiam ser induzidos a uma dentre as possíveis respostas, mesmo conhecendo o assunto. Os alunos responderam às questões em aproximadamente 20 minutos; deixou-se opcional a identificação do aluno e da instituição por ele representada.
O questionário se apresentou da seguinte forma:
1 – Dê exemplos de ácidos, bases e sais encontrados em seu dia-a-dia.
2 - Reação química é toda transformação que modifica a natureza da matéria e elas, as reações químicas, estão presentes em nosso dia-a-dia. Exemplifique reações químicas.
3– Cite alguns exemplos de mudança de estado físico da matéria encontrados em seu dia-a-dia: a) Sublimação; b) Vaporização; c) Condensação; d) Fusão; e) Solidificação.
4 - Você sabe o que é chuva ácida? Se a resposta for afirmativa, faça um comentário sobre ela, citando as substâncias que a compõem.
5 – Dê alguns exemplos de substâncias químicas que podem ser utilizadas para benefício ou malefício de uma sociedade, citando onde são encontradas.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: Após um estudo detalhado das respostas obtidas em pesquisa, elas foram classificadas em coerentes e incoerentes.
Na 1ª questão, um pequeno percentual respondeu coerentemente, conforme evidencia a figura 1. Constatou-se, durante a pesquisa, grande dificuldade com o item “bases”, havendo muitos questionamentos entre os próprios alunos sobre o assunto. Quase metade dos alunos deixou a questão sem resposta.
Para a 2ª questão, obteve-se, também, um pequeno percentual de respostas corretas (figura 1). Vale ressaltar que muitas respostas dadas a essa questão exploraram conceitos de mudança do estado físico da matéria.
Essa questão 3 obteve menor percentual sem respostas, porém, ficou evidente que os alunos respondiam apenas com conceitos científicos e não com o que eles entendiam desse assunto em seu dia-a-dia, o que tornou as respostas incoerentes para o objetivo da pesquisa.
A figura 2 mostra a pequena parcela de alunos questionados que soube comentar o assunto chuva ácida. Não respondeu a essa questão boa parte dos alunos entrevistados.
Quanto a 5ª questão, 59% dos alunos não responderam e apenas 23% deram respostas coerentes, apesar de ser um assunto bastante discutido no mundo atualmente.






CONCLUSÕES: Diante dos resultados da investigação aqui descrita, chega-se à conclusão de que os alunos não conseguem aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula na sua realidade. Ou seja, o ensino de química ainda está pautado no modelo tradicional, em que o professor apenas transmite fórmulas e conceitos a serem memorizados, tornando o ensino pouco eficaz.
Diante do exposto, vale ressaltar que o ensino de Química deve ser um facilitador da leitura do mundo. Deve-se ensinar Química para permitir ao cidadão uma melhor interação com o mundo. (Arroio, 2002).

AGRADECIMENTOS: Orientação e revisão da Dra Mari Noeli Kiehl Iapechino, professora Adjunto II da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: MOREIRA, Marco Antônio. Teorias de Aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999.
ARROIO, Agnaldo. Química do cotidiano. São Paulo, 2002. Disponível em: http://cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_06/quimicacotidiana.html. Acesso em: 29 ago. 2007.