TÍTULO: CSI Recife: Aplicação de uma Atividade Lúdica e Interativa para o Ensino de Química

AUTORES: DE OLIVEIRA, L.B.F.M. (UFPE) ; LINS, C.R. (UFPE) ; PALMEIRA, D.J. (UFPE)

RESUMO: Neste trabalho foi aplicada, em turmas da terceira série do Ensino Médio da Escola Estadual Joaquim Távora, a atividade investigativa CSI: Recife, que propõe a resolução de um crime fictício a partir de análises químicas. Os elementos encontrados na cena do crime e as evidências (fotos e depoimentos) indicaram que análises de detecção de álcool na saliva e íon cobre na urina, análise de CG/MS da urina (para barbitúricos e alcalóides), teste de Dragendorff para a identificação de alcalóides e identificação de cianeto, deveriam ser realizadas para que o crime fosse solucionado. Tal atividade revelou-se uma poderosa ferramenta para motivar e encurtar a distância entre os alunos e a Química, promovendo, por meio dos problemas abordados uma ligação interdisciplinar entre várias matérias.

PALAVRAS CHAVES: ensino de química, atividade lúdica, investigação criminal

INTRODUÇÃO: Várias pesquisas em ensino de ciências têm demonstrado que a dificuldade de aprender conceitos científicos em sala de aula está muito relacionada à maneira pela qual o professor trata a disciplina, objeto de ensino. Geralmente, segue uma metodologia tradicionalista e abstrata, centralizando-se na memorização de fórmulas, cálculos e repetição de nomes, em detrimento da construção do conhecimento científico, coletivo ou individualizado.(MORTIMER,2004 e SCHNETZLER,2004)
É de extrema relevância que propostas novas para o ensino das ciências explorem o pensamento científico buscando enfatizar a natureza, a diferença entre observação e interpretação de resultados e a profundidade, ao invés da extensão do conteúdo, além de instigar questionamentos e discussões em sala de aula. (CHASSOT,1990)
A exemplo da série de artigos “As Aventuras Químicas de Sherlock Holmes” (WADDELL & RYBOLT, 1989) que ensina química através de contos com o famoso personagem, foi aplicada a atividade "CSI: Recife" inspirada na famosa série de TV americana “CSI: Crime Scene Investigation” que, apresentando conceitos, problemas e técnicas da química, tem a finalidade de desvendar um crime fictício. O uso de conhecimentos químicos na elucidação de crimes é datado no fim do século XVII. A Ciência Forense (CF) é uma área interdisciplinar que envolve Química, Física, Biologia, entre outras ciências, com o objetivo de dar suporte às investigações criminais.
A aplicação da atividade teve como objetivo conduzir o aluno a reconhecer a Química como uma ciência útil e presente em seu cotidiano. Promovendo por meio dos problemas abordados, motivação e a capacidade do aluno de relacionar, de forma efetiva, a Química com áreas afins, induzindo-os ao raciocínio lógico, ao senso crítico e a construção do conhecimento

MATERIAL E MÉTODOS: A preparação da atividade desenvolveu-se em seis etapas: pesquisa bibliográfica para a elaboração da cena do crime e dos temas abordados, desenvolvimento dos testes de laboratório, utilizando saliva e urina coletados de um voluntário, filmagem dos depoimentos dos suspeitos do crime, pesquisa dos conteúdos de Química e Biologia a serem explanados, elaboração do roteiro e a confecção das pastas contendo os arquivos do caso.
A atividade foi aplicada em duas turmas da 3ª série do Ensino Médio da escola Estadual Joaquim Távora. Primeiramente, as turmas foram divididas em grupos de 5 a 6 alunos. Cada grupo recebeu uma pasta de arquivo contendo fotos da cena do crime, espectros das análises de CG/MS, informações químicas e biológicas das substâncias presentes na cena do crime e os roteiros das análises (experimentos) a serem realizadas. Os alunos assumiram os papéis de investigadores e após a análise dos dados, foram incentivados a formular hipóteses sobre a causa mortis da vítima. Quatro hipóteses (overdose de cocaína, combinação álcool-medicamento, falecimento causado pela Doença de Wilson, envenenamento por substâncias tóxicas) foram averiguadas e os devidos testes e análises químicas realizadas. Os alunos também tiveram acesso aos vídeos dos depoimentos dos suspeitos do crime. Durante a atividade, os alunos foram monitorados e auxiliados pelos professores de Química e Biologia que interpretaram os papéis de delegados. Quando necessário, houve a intervenção dos professores para que todos os grupos fossem conduzidos no sentido da elucidação do crime.
Diversos assuntos de Química e Biologia foram explorados e debatidos no decorrer da atividade, articulando-os com os conteúdos vistos em sala de aula.
Ao final da atividade, os alunos responderam um questionário avaliativo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O roteiro foi elaborado e aplicado de forma que oferecesse variadas possibilidades de interação que causaram uma constante busca e criação de alternativas a serem discutidas pelos alunos. Com as instruções dos professores, os alunos tiveram condições de identificar amostras desconhecidas, analisar vestígios encontrados, interpretar dados obtidos, realizar reações químicas e procedimentos químicos como meios de solucionar o crime fictício. Durante a aplicação do jogo, verificou-se uma grande participação dos alunos gerando discussões importantes a respeito dos conteúdos, conduzindo-os a refletir e interagir uns com os outros e com os professores.
Com os dados contidos no questionário, pôde-se observar que a maioria dos alunos tinha uma opinião positiva a respeito da eficiência da atividade, 92% dos alunos sentiram-se motivados em participar da atividade desde o início, 97% e 85% afirmaram, respectivamente, que a gostaram da atividade porque era diferente das outras geralmente realizadas e porque apresentava a química como uma ciência útil no cotidiano. Do total de alunos, 87% apontaram a integração dos conteúdos como um dos pontos positivos da atividade. Outro ponto destacado foi à quebra da rotina das aulas tradicionais e o caráter teatral, 89% declararam ter interesse na continuidade da realização desse tipo de atividade em sala de aula. Para os questionamentos a cerca dos conteúdos de Química abordados na atividade, 78% afirmaram que a o modo como foram apresentados melhorou a compreensão e 63% afirmaram que a atividade estimulou interesse pelos assuntos.
A atividade CSI: Recife permitiu aos alunos o desenvolvimento paulatino de uma visão crítica, visto que lhes foram dados meios de interpretar, intervir, perceber, analisar, compreender, discutir e tomar decisões.

CONCLUSÕES: A atividade lúdica investigativa CSI: Recife cuja metodologia aborda conceitos de Química e áreas afins e utiliza métodos científicos, aperfeiçoou e despertou o senso crítico, o pensamento científico e o interesse dos alunos pela ciência, além de facilitar o processo de ensino-aprendizagem. A atividade revelou-se como uma poderosa ferramenta para motivar e encurtar a distância entre os alunos e a Química, promovendo, por meio dos problemas abordados uma melhoria na assimilação dos conteúdos tratados, criando oportunidade para a aquisição de conhecimento de forma interativa e interdisciplinar.

AGRADECIMENTOS: Grupo Pet-Química (UFPE) e MEC/Sesu

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: Mortimer, E. F.; Quím. Nova Esc. 2004, 20, 3;
Schnetzler, R. P.; Quím. Nova Esc. 2004, 20, 49;
Chassot, A. I.; A Educação no Ensino de Química, Livraria Inijuí Editora: Rio Grande do Sul, 1990.
Waddell, T.G.; Rybolt, T.R. Journal of Chemical Education. 1989, 66, 981-982.