TÍTULO: UMA ANÁLISE DOS LIVROS DIDÁTICOS DE QUÍMICA USANDO A EPISTEMOLOGIA DE BACHELARD A PARTIR DOS CONCEITOS DE OXIDAÇÃO E REDUÇÃO

AUTORES: SANTOS, J. E (UFCG) ; SALES, L. L. M (UFCG) ; DA SILVA, F. J. S. (UFCG)

RESUMO: Muitos trabalhos têm se dedicado à análise de livros didáticos, porém poucos têm dado atenção aos aspectos metodológicos e conceituais. Neste trabalho investigamos os conceitos de oxidação e redução em seis livros didáticos de química recomendados pelo PNLDEM/2007 e como eles são tratados luz da epistemologia histórica de Bachelard. A evidência de obstáculos epistemológicos aparece nos livros de química no tocante ao obstáculo substancialista.

PALAVRAS CHAVES: oxidação, redução, obstáculos epistemológicos, bachelard

INTRODUÇÃO: O livro didático tem despertado muito interesse de pesquisadores nas ultimas décadas. Apesar do intenso debate, o livro didático é um objeto cultural contraditório, embora ainda seja considerado como um instrumento imprescindível no processo de ensino-aprendizagem. No que se refere à análise do conteúdo dos livros de química para a educação básica, constatamos um número grande número de trabalhos buscando simplesmente uma análise organizacional dos conteúdos, mas poucos trabalhos exploram os aspectos metodológicos e/ou erros conceituais (LOPES, 1992, 1993; LOGUERCIO, R. Q.; SAMRSLA, V. E. E.; DEL PINO, J. C., 2001).
Desse modo, três motivos foram determinantes para ser o livro de química o objeto de nossa análise: por ser um dos principais recursos didáticos da maioria dos professores, quando não o único, por ser distribuído gratuitamente às escolas públicas e ainda pela abordagem que se dá ao conceito de oxidação e redução nas obras adotadas pelo Plano Nacional do Livro do Ensino Médio PNLEM/2007.
No contexto do ensino, um dos aspectos mais discutidos por educadores em Ciência é a dificuldade de compreensão dos conceitos científicos pelos alunos. Segundo Bachelard (1996), grande parte das dificuldades dos alunos em compreender, está relacionada a bloqueios as mudanças para conceitos novos, daí a noção de obstáculos epistemológico, enfatizada por ele. Afirmando que a noção de obstáculo epistemológico é desconhecida pelos professores de ciências, Bachelard mostra sua presença na educação científica.
O objetivo deste trabalho foi analisar o conteúdo de eletroquímica, especialmente os conceitos de oxidação e redução com base na epistemologia de Gaston Bachelard, fazendo uso, especialmente, da categoria de obstáculo epistemológico.


MATERIAL E MÉTODOS: A análise do conteúdo de Química transmitido pelos seis livros recomendados pelo PNLDEM/2007 foi feita de modo qualitativo e sempre recorrendo à epistemologia de Bachelard como referencial. Esta forma de abordagem foi baseada no uso da categoria obstáculo epistemológico, que é entendida como uma barreira ao próprio conhecimento cientifica. Foi realizada uma análise dos livros didáticos de Química do ensino médio da rede pública, no tocante a unidade eletroquímica a partir dos conceitos de oxidação e redução.



RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na maioria dos livros didáticos analisados, os conceitos de oxidação e redução estão muito ligados a noção de perda e ganho de elétrons e, este pode apresentar-se como um obstáculo epistemológico principalmente quando na tentativa de explicar algumas reações de óxido-redução onde não há transferência de elétrons. Essa forma geral de tentar explicar o conceito de óxido-redução pode significar um obstáculo na aprendizagem do conhecimento cientifico. O aluno ao ter o primeiro contato com o conceito de óxido-redução não consegue compreender formas de reações de óxido-redução. Assim, os livros LD1, LD5 e o LD6 embora tratem o conceito de número de oxidação nos seus textos, não deixam claro que a oxidação não ocorre apenas pela perda e ganho de elétrons e também que o oxigênio deve está presente. Em alguns livros, se observa que o metal parece “desmanchar” ou “diluir” e o outro ganha massa. Existem palavras que são usadas, por exemplo, no livro LD2, que podem constituir-se como obstáculos pois dependendo do contexto que estão inseridas pode resultar em retrocesso. O obstáculo animista citado por Bachelard (1996), constitui uma grande dificuldade a apropriação dos conceitos científicos. No caso do livro LD1 aparece uma figura em que o metal parece perder massa. Constatamos também que existe ainda muita força do substancialismo, ao analisar a definição de oxidação, que pode variar entre a visão macroscópica — perda de massa — e a visão microscópica — perda de elétrons, mas se iguala em um ponto: tanto a oxidação como a redução envolva de elétrons, mesmo sabendo que em alguns casos esta transferência não é percebida. No caso dos livros que tratam de química orgânica, o conceito de oxidação ainda está muito ligado a presença ou não de oxigênio.



CONCLUSÕES: : A partir da análise dos livros didáticos PNLDEM/2007, constatou-se alguns obstáculos que apresentam empecilhos no processo de aprendizagem, gerando distorções conceituais. O conceito de oxidação e redução é apresentado em diferentes obras com enfoques diferentes. Embora o conceito atual de oxidação envolva simplesmente a perda de elétrons de uma espécie, a maioria dos livros didáticos de química não propõe uma uniformidade. De maneira quase unânime, os livros analisados associam oxidação, a perda de elétrons e redução, ao ganho de elétrons, sem especificar em que condições ocorrem esta transferência e como é feito este balanço.



AGRADECIMENTOS: Ao UFCG e CNPq pela bolsa de Iniciação Científica

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BACHELARD, G. A formação do espírito científico. Trad. Estela dos Santos Abreu. 1. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996, 316p.
LOPES, A. R. C. Livros didáticos: obstáculos ao aprendizado da ciência química: obstáculos animistas e realistas. Quím. Nova, 15, 254, 1992.
_______________.Livros didáticos: obstáculos verbais e substancialistas ao aprendizado da Ciência Química: Bras. Est. Pedag. Brasília: 74, 177, 1993.
LOGUERCIO, R. Q.; SAMRSLA, V. E. E.; DEL PINO, J. C. A dinâmica de analisar livros didáticos com os professores de química. Quim. Nova, 24(4), 2001./ VI SIMPEQ. Campinas: Unicamp, 2006.