TÍTULO: CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO DA UFBA: fundamentos da organização do trabalho pedagógico da química e da educação sócio-ambiental

AUTORES: MORADILLO, E. F. (UFBA) ; ANUNCIAÇÃO, B. C. P. (UFBA) ; CUNHA, M. B. M. (UFBA) ; MESSEDER-NETO, H. S. (UFBA) ; PIMENTEL, H. O. (UFBA) ; SÁ, L. V. (UFBA) ; SILVA, J. L. P. B. (UFBA)

RESUMO: Esse trabalho aborda os princípios pedagógicos que vêm norteando o desenvolvimento das atividades das disciplinas de química e da educação sócio-ambiental no curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Esse projeto de curso foi elaborado a partir das demandas históricas dos movimentos de luta pela terra, de suas experiências educacionais e de projetos desenvolvidos entre Universidades e Movimentos Sociais do Campo, estando a Universidade Federal da Bahia, através da Faculdade de Educação (Faced), participando do bloco inicial de universidades que aceitaram o desafio de implantar e pesquisar a formação de professores do campo.

PALAVRAS CHAVES: ensino de química, educação sócio-ambiental, licenciatura do campo.

INTRODUÇÃO: Partimos do pressuposto de que a educação como um direito de todos e dever do Estado, deve ser garantida também aos que vivem no campo, e essa educação, deve garantir, dentro das possibilidades históricas atuais, a formação integral tendo como objetivo maior a emancipação humana.
O curso de Licenciatura em Educação do Campo da UFBA foi criado em agosto de 2008, e estruturado em componentes curriculares por áreas de conhecimento: Ciências da Natureza e Matemática, Ciências Agrárias, Ciências Humanas e Sociais, Linguagens e Códigos, Tecnologias da Informação e Comunicação. A meta é formar professores para atuarem na educação do campo no ensino médio e ensino fundamental, em especial do 6º. ao 9º. ano.
O curso foi organizado em nove semestres letivos, sendo os cinco primeiros comuns aos 46 estudantes cursistas, e os quatro últimos semestres, referentes a uma área específica, onde se pretende aprofundar determinados conhecimentos.
O trabalho pedagógico em desenvolvimento considera a realidade como base da produção do conhecimento — a prática social como pontos de partida e chegada — alternando um Tempo Escola e um Tempo Comunidade, por semestre letivo.
Como princípios educacionais, referenciados na pedagogia histórico-crítica (SAVIANI, 1995; 2006) e na psicologia sócio-cultural (VIGOTSKI, 2000; LEONTIEV, 2004), são considerados a organização dos componentes curriculares por área de conhecimento, buscando a articulação de conteúdos formativos socialmente relevantes, através do sistema de complexos temáticos propostos por Pistrak (2006; 2009), tendo o trabalho como princípio educativo, favorecendo a auto-organização dos estudantes, e a realidade como base da produção do conhecimento.


MATERIAL E MÉTODOS: A química e a educação sócio-ambiental têm sido trabalhadas neste curso articuladas com outras áreas de conhecimento, propiciando uma rica experiência pedagógica.
Os complexos temáticos gerais escolhidos para trabalhar no curso, são: Educação, Trabalho, Sociedade e Natureza. A área de Ciências da Natureza e Matemática, a partir desses complexos que dão unidade ao curso, criou seu complexo específico – recursos sócio-naturais – caracterizados em temas: Água e Ar Atmosférico; Metais; Solos; Energia; Resíduos Sólidos, Líquidos e Gasosos; Alimentos e Biodiversidade.
O conhecimento químico, nesse curso, tem sido trabalhado no interior dessa rede temática – os complexos temáticos –, utilizando para isso vários materiais didáticos, a exemplo do livro Ensino de Química no Contexto (VIVEIROS, 2009) e de sequências didáticas elaboradas pela equipe de trabalho.
O componente curricular denominado de Educação Sócio-Ambiental vem sendo trabalhado de forma transversal no curso, passando a ter papel fundamental na síntese necessária entre os conhecimentos gerais desenvolvidos no curso, da área das ciências da natureza e matemática, e da química.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Licenciatura em Educação do Campo da UFBA está, no momento, no VI Tempo Escola/Comunidade, correspondendo ao sexto semestre letivo. Neste VI Tempo, os estudantes optaram por duas áreas: Linguagens e Códigos e Ciências da Natureza e Matemática, nas quais os conhecimentos específicos estão sendo tratados de forma mais apropriada. Dos 46 estudantes, 31 optaram pela primeira área, Linguagens e Códigos, com ênfase em português; e 15, pela segunda, Ciências da Natureza e Matemática, com ênfase em química.
Apesar de estar ainda no VI Tempo Escola, pode-se notar que a inserção dos conhecimentos químicos, através dessa organização do trabalho pedagógico, permitiu utilizar estratégias de ensino que propiciaram a apropriação dos conceitos químicos, numa realidade que faz sentido, ou melhor, rica de significados para a prática social – rica de determinações –, que facilita, dentre outras coisas, o interesse pela química e a economia de tempo despendido no processo educativo.
O ato educativo é carregado de intencionalidade, nele está impresso uma concepção de natureza, de homem, de sociedade, de conhecimento, de educação, de ciência, dentre outras. Por isso, entendemos que a química e a educação sócio-ambiental devam ser ensinadas através da articulação com outras áreas do conhecimento, tendo como pano de fundo a história social do homem fazer-se homem a partir do trabalho.
Essa experiência tem proporcionado um rico acervo de materiais e sequências didáticas, que deverão ser publicados brevemente, assim como a elaboração de uma dissertação de mestrado e uma tese de doutorado de professoras de química envolvidas nesse processo educativo.


CONCLUSÕES: O curso de formação de educadores para o campo é hoje uma realidade na UFBA. O ensino da química e da educação sócio-ambiental através da organização do trabalho pedagógico por área, consubstanciado nos referenciais teórico-metodológicos da pedagogia histórico-critica e da psicologia sócio-cultural, articulados com os complexos temáticos de Pistrak, e tendo o trabalho como princípio educativo, estão proporcionando uma qualificação diferenciada para os futuros professores do campo e superando o referencial empírico-analítico predominante nos cursos de licenciatura.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: LEONTIEV, A. O Desenvolvimento do psiquismo. 2. ed. Tradução Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2004.

PÍSTRAK, M. Fundamentos da escola do trabalho. Tradução Daniel Aarão Reis Filho. São Paulo: Expressão Popular, 2006.

PISTRAK, M. M. A comuna escolar. Tradução Luis Carlos de Freitas e Alexandra Marenich. São Paulo: Expressão Popular, 2009.

SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 5. ed. Campinas: Autores Associados, 1995.

SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 38. ed. Campinas: Autores Associados, 2006

VIGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

VIVEIROS, A. M. V. Química no contexto. Vols. 1 e 2. São Paulo: Livro Pronto, 2009.