TÍTULO: A SINALIZAÇÃO EM LIBRAS PARA O ENSINO DE SURDOS NA DISCIPLINA DE QUÍMICA EM ESCOLAS REGULARES DE TERESINA- PI

AUTORES: Nascimento, G.P. (UAPI/UFPI) ; Gomes, D.S. (UFPI) ; Leal, A.S. (UESPI) ; Carvalho, T.A. (UAPI/UFPI)

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo investigar as dificuldades enfrentadas pelos alunos surdos em sala de aula em escolas regulares de Teresina-PI. Assim como, a catalogação de sinais da LIBRAS que podem ser utilizados nas aulas de Química, tendo como referencia o dicionário de Capovilla et al. (2009) e o dicionário do NEPES. Realizou-se entrevistas semiestruturadas envolvendo alunos surdos que cursavam o Ensino Médio. As dificuldades de aprendizagem dos alunos surdos em Química são em decorrência da oralização das aulas, a ausência de intérpretes e enorme carência de termos químicos na LIBRAS. Portanto, a simples presença dos surdos nessas escolas não implica na inclusão dos mesmos, podendo a sua educação ser excludente se não houver práticas que primam à singularidade do surdo, principalmente no que tange à sua comunicação.

PALAVRAS CHAVES: LIBRAS; conceitos químicos; aluno surdo

INTRODUÇÃO: A LDB (1996) define a educação especial como modalidade escolar para educandos com necessidades especiais, e esta deve ser preferencialmente, oferecida na rede de ensino regular. A surdez exige da inclusão no ensino regular algumas adequações como: individualização dos programas escolares, reformulação do currículo escolar, materiais didáticos e avaliações em LIBRAS. O uso do léxico da língua portuguesa pelo aluno surdo deve ser exigido somente em aulas específicas dessa língua, e não no momento de sua avaliação em sinais. Por exemplo: O surdo é questionado sobre alguma reação química como, de um ácido com uma base, formando água e sal, provavelmente ele não sinalizará termos como reação ácido-base, oxidação, halogenação e outros, embora domine o contexto e saiba em que condições essas reações podem ocorrer. O mesmo não conseguirá expressá-las corretamente em português, então a pergunta: até que ponto pode ser cobrado do aluno surdo uma avaliação “aportuguesada” da sua sinalização? O ensino da Química nas escolas regulares para alunos surdos passa por alguns problemas, como: despreparo dos professores de Química, desconhecimento pelos mesmos sobre a surdez e a LIBRAS, falta de recursos físicos (sinal luminoso, projetor de slides, computadores, laboratório de ciências e etc.) e intérpretes. A LIBRAS dispõe somente de 3.212 sinais em seu último registro lexicográfico, o que dificulta a construção dos sentidos dos conceitos químicos, e a tradução dos mesmos da língua portuguesa para LIBRAS. Diante do exposto, este estudo investigou as dificuldades enfrentadas pelos alunos surdos no processo de ensino e aprendizagem e, catalogou sinais no uso dos conceitos químicos, utilizando dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue de Capovilla et al. (2009), e no Dicionário do Núc

MATERIAL E MÉTODOS: Realizou-se uma entrevista semiestruturada a sete alunos surdos do Ensino Médio que estudam ou estudaram em escolas da rede regular de ensino com faixa etária entre 19 e 29 anos. Esta entrevista teve o objetivo de constatar se há a presença do intérprete na sala de aula e de levantar informações a respeito do aprendizado nas aulas de Química na visão do aluno. Mapeamos o dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue de Capovilla et al. (2009), e o Dicionário do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação para Surdos (NEPES) do Instituto Federal de Santa Catarina, todos os vocábulos (sinais) que podem ser utilizados nas aulas de Química, pois esses dicionários são bem conceituados e abrangentes em termos na LIBRAS e bem aceito pela comunidade surda. A busca desses sinais relacionados à Química faz-se necessária, devido à escassez de sinais nesta área do ensino.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os alunos surdos entrevistados estão aqui denominados de A1, A2, A3, A4, A5, A6 e A7, cursam ou cursaram o Ensino Médio em escolas públicas distintas da rede regular. Foram questionados, se eles têm ou tiveram intérpretes de LIBRAS em sala de aula e/ou na sala de recursos para auxiliá-los na compreensão dos conteúdos estudados. Os alunos A1 e A2 afirmaram que tinham ou têm intérprete em sala de aula; Os alunos A4 e A6, não tiveram intérprete, mas que alguns professores sabiam LIBRAS e que os ajudavam. Os alunos A3, A5 e A7 não tiveram intérprete em sala de aula. Mas, nas escolas dos alunos A3 e A5 possuíam sala de recursos, sendo auxiliados por um instrutor de LIBRAS. O aluno A7 não tinha nenhum auxílio em LIBRAS. Quanto à pergunta: Você gosta de estudar Química? Por quê? Algumas das respostas estão transcritas abaixo: A3: “SIM, PROFESSOR AJUDAR ENSINAR PARA MIM, TER FÓRMULAS, CADEIAS CARBONOS E O PROFESSOR ME AJUDA TEM MUITA IMAGEM DÁ PARA PERCEBER”. A5: “NÃO, EU NÃO ENTENDER PROFESSORA FALANTE, DIFÍCIL, PROFESSORA NÃO SABER NADA, RUIM.” A6: “NÃO POR QUE ELE NÃO SABE LIBRAS SÓ FALAR, EU NÃO ENTENDI DE NADA.” A7: “NÃO, POR QUE ERA DIFÍCIL PARA ENTENDER, TEM MUITAS FÓRMULAS QUE EU NÃO ENTENDO NADA. DIFÍCIL POR QUE PROFESSORA EXPLICA SÓ 2 VEZ, NÃO DÁ ENTENDER NADA SÓ FALANDO.” É consenso entre os alunos que a não compreensão dos conteúdos de Química deve-se às aulas serem somente oralizadas, sem auxílio de recursos visuais, ausência do intérprete e também pela falta de sinais da área. Nos dicionários catalogados foram encontrados 134 sinais referentes ao ensino da Química. Sousa e Silveira (2011) realizaram uma pesquisa sobre termologias químicas em LIBRAS na cidade de Uberlândia (MG), e constataram que os intérpretes por eles pesquisados haviam criado alguns sinais importantes para o estudo da Química.

CONCLUSÕES: Os alunos surdos das escolas regulares de Teresina, têm dificuldades de aprendizagem em Química decorrente a oralização das aulas, a ausência de intérpretes e enorme carência de termos na LIBRAS que expliquem com clareza os conceitos estudados nesta ciência. Os intérpretes ao atuarem na disciplina de Química precisam tomar conhecimento dos sinais já existentes. É necessária a formação de grupos de estudos, composta por profissionais da educação, intérpretes e surdos pertencentes à comunidade surda, para a criação de novos sinais específicos da Química, para o aperfeiçoamento de ações que promovam a relação dos surdos com o conhecimento químico.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRASIL. Ministério da Educação. Lei e Bases da Educação Nacional, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, 1996. CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D.; MAURICIO, A. C. L. Novo Deit-LIBRAS: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira (LIBRAS) baseado em Linguística e Neurociências cognitivas.-vol. 1 e 2 São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Inep: CNPq: Capes, 2009. NEPES/SC. Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação de Surdos. Dicionário de Ciências. Disponível em: http:// www.sj.ifsc.edu.br/~nepes/dicionarios_cIncias.htm. Acesso em: 10/09/11. SOUSA, F. S.; SILVEIRA, H. E. Terminologias químicas em LIBRAS: a utilização de sinais na aprendizagem de alunos surdos. Química Nova na Escola, v. 33, n. 1, 2011.