11º Simpósio Brasileiro de Educação Química
Realizado em Teresina/PI, de 28 a 30 de Julho de 2013.
ISBN: 978-85-85905-05-7

TÍTULO: A DIFICULDADE DO ENSINO DE QUÍMICA ORGÂNICA PARA SURDOS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

AUTORES: Sant’anna, C.S.P. (IFRJ) ; Messeder, J.C. (IFRJ)

RESUMO: O estudo exploratório realizado nesse trabalho fez um levantamento a respeito das limitações apresentadas por professores e intérpretes em trabalhar com a LIBRAS, apontando a relação professor-intérprete, as críticas à utilização de recursos didáticos usados no ensino-aprendizagem do aluno surdo. Os resultados mostraram que o ensino de química orgânica ministrado nas escolas pesquisadas não diferencia alunos surdos e ouvintes, e que a dificuldade desses conteúdos químicos é aumentada pela carência de sinais específicos. Devem-se buscar propostas didático- metodológicas com características visuais adequadas e desenvolvidas para proporcionarem uma aprendizagem significativa da química orgânica para os alunos surdos, possibilitando assim, a real inclusão do aluno surdo no ensino regular.

PALAVRAS CHAVES: química orgânica; LIBRAS; ensino inclusivo

INTRODUÇÃO: Nas últimas décadas, os conteúdos disciplinares da química orgânica tornaram-se objeto de análise, a partir das dificuldades encontradas no aprendizado. Observam-se o excesso de memorização e a falta de habilidade em correlacionar os conteúdos químicos com o cotidiano, que segundo Silva, et al (2003), podem até despertar sentimentos de rejeição e antipatia nos alunos. Tendo em vista essa dificuldade do ensino da química orgânica para os alunos ouvintes, vale ressaltar a dificuldade também dos alunos surdos, usuários da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). A inserção dos alunos surdos no ensino regular requer rupturas com o modelo educacional convencional, pois o aluno surdo tem suas experiências vivenciadas principalmente de forma visual, onde ele precisa se apropriar de seus termos e significados e significá-los dentro de sua língua materna, a LIBRAS. A grande problemática na educação dos surdos brasileiros gira em torno do processo de aquisição da leitura e da escrita do português, que pelo fato de ser surdo, o aluno não adquire a linguagem oral de forma espontânea, tendo, em geral, desempenho na escrita e na interpretação da língua portuguesa extremamente precária (Quadros, 2003). Levando-se em conta o vocabulário restrito e a dificuldade de entendimento de conceitos abstratos por parte dos alunos surdos, viu-se a necessidade de realizar uma pesquisa exploratória a fim de se fazer um levantamento de informações pertinentes a respeito do ensino da química orgânica. A pesquisa realizada teve por objetivo geral apontar as dificuldades de se ensinar química orgânica para alunos surdos, com isso, possibilitar o interesse dos futuros licenciados a criarem estratégias de ensino para alguns conteúdos, inserindo assim, a importância da LIBRAS no contexto da sala de aula.

MATERIAL E MÉTODOS: Foram selecionadas três escolas inclusivas da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC) e uma escola especializada em educação de surdos, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Foram escolhidos para participar da pesquisa professores da disciplina de química atuantes na 3ª série do ensino médio e intérpretes das turmas correspondentes, uma vez que a SEEDUC, possui o projeto “Intérpretes de Libras na Sala de Aula” (CARDOSO, 2012). A pesquisa teve como sujeitos participantes um total de quatro professores de química e três intérpretes, tendo em vista que o professor do INES não possui intérprete, pois possui conhecimentos da LIBRAS. Optou-se por uma pesquisa exploratória, já que, segundo Mattar (1999), é uma pesquisa que visa prover o pesquisador de um maior conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva. Com isso, buscou-se a verificação das limitações apresentadas pelos professores e intérpretes ao lecionar e traduzir conteúdos da disciplina de química orgânica em LIBRAS para alunos surdos, buscando-se maior conhecimento e estudo sobre o caso. Questionários com perguntas abertas foram utilizados na investigação, com o intuito de averiguar as dificuldades encontradas no ensino da química orgânica e como os conteúdos eram ensinados para alunos surdos do 3° ano do ensino médio, realizando-se um levantamento a respeito das limitações apresentadas pelos professores e intérpretes em trabalhar com a LIBRAS, tendo em vista a carência de sinais. A pesquisa buscou também a relação professor- intérprete, as críticas ao livro didático utilizado para apoio e informações sobre a utilização de recursos didáticos na contribuição do ensino-aprendizagem do aluno surdo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: De acordo com a análise do questionário (Quadro 1), pode-se destacar alguns resultados como, as respostas unânimes quanto à falta de sinais no ensino de química orgânica: “A ausência de sinais na disciplina;” “A falta de sinais que dificulta no aprendizado;” “A ausência de sinais de química”. Um professor respondeu ainda que, o intérprete apresenta dificuldades nas representações das moléculas em fórmulas simplificadas. Alguns autores, como Quadros e Karnopp (2004) revelam que existe uma carência de terminologias científicas em LIBRAS, o que pode interferir na negociação de sentidos dos conceitos científicos por docentes, alunos e intérpretes, dificultando o ensino aprendizagem de ciências. Com relação ao conteúdo programático versus conhecimento do intérprete: A resposta foi negativa para os três professores que possuem intérpretes, devido ao desencontro inicial e as trocas de salas serem curtos, não havendo uma troca mútua de informações. Uma das dificuldades encontradas é que nem sempre o intérprete sabe transmitir o conteúdo, fazendo com que muitos termos científicos sejam perdidos durante a aula. Segundo Suzana (2012): “o tradutor/intérprete está constantemente envolvido em questões que precisa avaliar, ponderar e analisar as suas escolhas tradutórias todas as vezes que entrar em contextos envolvendo culturas e diferenças”. Uso de recursos didáticos facilitadores: Somente um professor respondeu utilizar recursos tais como: TV, notebook, modelos moleculares, experimentos e slides. A partir deste ponto de vista, podemos concluir que os professores necessitam fazer uso de recursos visuais sempre que possível em suas aulas para favorecer o aprendizado, sobretudo para os alunos surdos, utilizando de estratégias que exigem mudanças profundas nas práticas em sala de aula.

Quadro 1

Questionário na pesquisa com os professores

CONCLUSÕES: Cabe repensar na construção e adequação de um currículo para a real inclusão do aluno surdo no ensino regular, sobretudo de química orgânica, para então despertar o interesse do aprendizado no aluno surdo, desenvolvendo uma aprendizagem sem excessos de memorizações. Os professores devem buscar na LIBRAS uma capacitação e buscar propostas didático-metodológicas adequadas e desenvolvidas por nós na busca de uma aprendizagem significativa aos nossos possíveis alunos surdos, propiciando uma inclusão desses ao conhecimento, respeitando as competências individuais e as diferenças de cada aluno.

AGRADECIMENTOS: Às direções das escolas, aos professores e intérpretes envolvidos por facilitarem o andamento da pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CARDOSO, R. Secretaria de educação investe na educação especial no estado: Cerca de 2.900 alunos estão incluídos dentro do sistema regular de ensino.
Disponível em: <http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-id=576577>. Acesso em: 30 Jan. 2013.
QUADROS, R. e KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre: ARTMED, 2004.
QUADROS, R. M. Situando as diferenças implicadas na educação de surdos: inclusão/exclusão, Ponto de Vista, Florianópolis, n. 05, p. 81-111, 2003.
SILVA, F.A.A.; MOREIRA, B.C.T. e CARVALHO, M.F.A. Percepções de professores sobre a visão do aluno na disciplina de química orgânica em algumas escolas de nível médio. VI EDUQUI – Encontro de Educação em Química da Bahia. Universidade de Santa Cruz, Ilhéus, 2003.
SUZANA, E. R. B. Tradutores/intérpretes da língua de sinais: A Ética Em Questão. III Congresso Nacional de Pesquisas em Tradução e Interpretação de Libras e Língua Portuguesa, 2012, Florianópolis. Santa Catarina.
Disponível em:
<http://www.congressotils.com.br/anais/tils2012_traducao_etica_suzana.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2013.