11º Simpósio Brasileiro de Educação Química
Realizado em Teresina/PI, de 28 a 30 de Julho de 2013.
ISBN: 978-85-85905-05-7

TÍTULO: A e-moderação e a aprendizagem em rede: o uso do blog no ensino de Química.

AUTORES: Façanha, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Bastos, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ)

RESUMO: Este trabalho expõe uma pesquisa realizada na disciplina de Notação e Linguagem Química do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza da Universidade Federal do Piauí no segundo semestre de 2012. Objetivou mensurar o uso do blog como metodologia de ensino-aprendizagem, além de investigar a mediação do uso das tecnologias no ensino de Química. Orientou-se pelo conceito de e-moderação de Salmon, e pelos postulados da aprendizagem em Vygotsky, através da participação e troca de experiências em rede na construção dos conceitos químicos. Os resultados foram satisfatórios em relação a adesão dos alunos, sua efetiva participação e ao perfil conceitual construído durante a disciplina denotando a importância do uso das tecnologias a distância como um recurso para a aprendizagem Química.

PALAVRAS CHAVES: e-moderação; ensino de Química; blog

INTRODUÇÃO: Apesar das dificuldades de acesso e do analfabetismo digital, pode-se considerar o uso da tecnologia não mais como uma tendência e sim como uma realidade a serviço da didática e do processo de ensino-aprendizagem (KENSKI, 2007). Apesar de todo potencial tecnológico oferecido pelas ferramentas de comunicação atuais, envolver e manter os alunos em alto nível de discussão e motivação tem sido um desafio para os professores. A participação dos alunos é sempre influenciada por suas experiências anteriores tanto de cultura escolar quanto com a tecnologia, além das predisposições pessoais que não podem deixar de ser considerados (KERKA e WONACOTT, 2000). Por essas razões é que devem ser utilizadas ferramentas de fácil acesso e que permitam aos alunos o máximo de interatividade e de possibilidades de pesquisa e comunicação a fim de tornar o uso das ferramentas tecnológicas um atrativo e um diferencial, ao invés de uma metodologia entediante e desarticulada com o contexto dos alunos(SOARES e ALMEIDA, 2007). Nesse contexto situam-se os blogs, um ambiente de informação e mediação que propicia a discussão e aprendizagem, desde a incorporação de conhecimento até a percepção e construção do pensamento reflexivo (BOEIRA, 2008). Em se tratando do ensino de Química, sobretudo a luz das Orientações Curriculares atuais, um recurso que alia o ensino ativo e a formação de cidadãos engajados nas demandas sociais, ativos, críticos e participantes do processo de aprendizagem. No caso específico das licenciaturas, um espaço de mediação que complementa a formação dos futuros professores, uma vez que permite a mediação dos conceitos enfatizando a autonomia através da aprendizagem colaborativa (SALMON, 2000). Baseado nessas premissas ancora-se esta pesquisa: investigação e um recurso didático.

MATERIAL E MÉTODOS: A interação entre os sujeitos em debates propicia a aquisição de uma autonomia intelectual a partir da discussão e do conflito cognitivo (PALLOFF e PRATT,2002), nesse conceito ancora-se esse estudo, baseado na aprendizagem colaborativa e na e-mediação. Através do blog http://potedemiolo.blogspot.com, foram realizadas postagens acerca dos assuntos matéria e soluções, presentes na disciplina de Notação e Linguagem Química. Vídeos e artigos científicos ampliavam a possibilidade de pesquisa das postagens, as quais visavam a resolução de problemas do cotidiano, norteado pelos princípios das orientações curriculares para o ensino de Química. As atividades docentes seguiram o princípio de e-moderação, acompanhando as respostas do blog sem interferência imediata, restringindo-se no máximo a orientar mais pesquisas e a direcionar leituras dos comentários considerados mais satisfatórios a fim de induzir a uma colaboração e um aprendizado coletivo, como pressupõe a perspectiva vigotskiana. Na intenção de se compor um perfil de qualidades em relação ao uso do blog elencou-se em um questionário, sete possíveis pontos positivos e seis possíveis pontos negativos, solicitando que os alunos marcassem quantos pontos achassem convenientes, os mesmos foram compilados em termos percentuais e mostrados em gráficos. Participaram da experiência, doze alunos que frequentavam as aulas assiduamente, os quais realizaram debates virtuais com um total de trinta postagens que se replicaram nas discussões presenciais em sala. A partir dos dados, elaborou-se um estudo de caso, na perspectiva de Yin (2005), para perceber a influência do blog como ferramenta metodológica de ensino, além do acompanhamento dessa tecnologia no aprendizado dos conceitos específicos da Química na formação de professores

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Com relação ao perfil do blog e sua utilização como ferramenta metodológica no processo de ensino-aprendizagem de Química, foram elencadas qualidades que delimitam a visão do aluno em relação a sua utilização. Elencando os pontos positivos (Gráfico 1), vale destacar: a relevância do método em relação a sua atualidade, onde 83% dos alunos consideram uma ferramenta atual, portanto, gerando motivação em seu uso, e seu impacto como facilitador do aprendizado, na visão de 75% dos alunos. Tais dados podem ser ratificados com o pensamento de Kenski, que configura o uso das tecnologias como uma ferramenta de imersão no cotidiano do aluno. Em relação aos pontos negativos (Gráfico 2), apesar da ampliação do universo digital no cotidiano das pessoas, a dificuldade de acesso, ainda é um entrave na utilização da tecnologia no âmbito da educação. Dessa forma, 66% dos alunos relatam dificuldade de acesso. Outro fator importante a ser pontuado é o do tempo; segundo 66% dos alunos a falta de tempo é um limitador no acompanhamento das discussões on-line, dificultando o uso das tecnologias. De acordo com especialistas, esse fato deve ser ponderado, sobretudo nos cursos aonde o número de alunos que trabalham é acentuado, fator comum nas licenciaturas noturnas, que representa o caso em questão, entretanto, tal fato pode ser sanado optando-se pela ampliação da complexidade ao invés da quantidade de problemas propostos. Em relação aos conceitos de Química, com o passar do tempo e a participação nas discussões virtuais, o raciocínio abstrato amplia-se e o entendimento microscópico da matéria amadurece, além disso, a percepção do relativismo conceitual melhora satisfatoriamente e o aluno passa a ter noção da ciência como uma etapa em permanente construção conceitual.

Gráfio 1

Respostas espontâneas dos alunos em relação aos pontos positivos do método em termos percentuais. cada aluno podia assinalar mais de uma qualidade)

Gráfico 2

Respostas espontâneas dos alunos em relação aos pontos negativos do método em termos percentuais. cada aluno podia assinalar mais de uma qualidade)

CONCLUSÕES: O uso do blog possibilitou engajamento dos alunos no processo de aprendizagem, uma vez que os colocou em um ambiente de interação contínua para além dos limites da sala de aula. Devido seu formato multimídia, configurado pelos artigos, discussões coletivas e experiências on-line através de animações e vídeos disponibilizados, permitiu uma interseção teórico-prática culminando com um aprendizado conceitual de Química precoce e ativo, além disso, nas discussões virtuais, concebeu reflexão e crítica aos participantes, fomentando saberes de formação indispensáveis para o aprendizado Químico.

AGRADECIMENTOS: Aos alunos que participaram da pesquisa, que levem para suas salas de aula todo o entusiasmo deste percurso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRASIL (2006) Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias / Secretaria de Educação Básica. – Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006.135 p. (Orientações curriculares para o ensino médio ; volume 2)
BOEIRA, A. F. Blogs na Educação: Blogando algumas possibilidades pedagógicas. Revista Tecnologias na Educação. 2008.
KENSKI, V. M. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informática. Campinas: Papirus, 2007
KERKA, S. WONACOTT, M. Assessing learners online. 2000. Disponível em http://ericave.org/docs/pfile03.htm. Acesso em dez. de 2012
PALLOFF, R. M. PRATT, K. Lessons from the cyberspace classroom: The realities of online teaching. Jossey-Bass. 2002
SALMON, G. E-moderating. The Key to Teaching and Learning Online. London: Kogan Page 2000
SOARES, E. M. S.; ALMEIDA, C. Z. Interface gráfica e mediação pedagógica em ambientes virtuais: algumas considerações. Disponível em http://ccet.ucs.br/pos/especializa/ceie/ambiente/disciplinas/pge0946/material/biblioteca/ sacramento_zamboni_ conahpa_2005.pdf. Acesso em: dez. 2012.
VYGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo 1989.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3º Ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.