11º Simpósio Brasileiro de Educação Química
Realizado em Teresina/PI, de 28 a 30 de Julho de 2013.
ISBN: 978-85-85905-05-7

TÍTULO: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS DA NATUREZA E MATEMÁTICA DO MUNICÍPIO DE GRANJA – CE SOBRE INTERDISCIPLINARIDADE E SUA RELAÇÃO COM A FORMAÇÃO INICIAL

AUTORES: Reis, F.A.A. (UVA) ; Ribeiro, W.H.F. (UVA)

RESUMO: A Interdisciplinaridade tem ensejado diversos debates no âmbito educacional. Porém, muitos docentes não a compreendem bem, considerando-a mera relação entre disciplinas. Os documentos legais apontam para sua importância, mas na prática o ensino ainda se dá num viés compartimentalizado. Investigou-se neste as concepções de treze professores de Ciências Naturais e Matemática, que atuam em quatro escolas públicas de Granja-CE, sobre Interdisciplinaridade. Os resultados relevaram limitada compreensão sobre o que seja Interdisciplinaridade, isso fruto, principalmente, de uma formação inicial problemática. As escolas investigadas não oferecem resistência ao desenvolvimento de projetos interdisciplinares, mas os mesmos quando ocorrem se dão mais em moldes multidisciplinares.

PALAVRAS CHAVES: INTERDISCIPLINARIDADE; PROJETOS DE ENSINO; FORMAÇÃO INICIAL

INTRODUÇÃO: A sociedade atual caracteriza-se por sua grande complexidade, na qual os diversos produtos resultantes das ciências e tecnologias disputam lugar com problemas decorrentes da exploração dos recursos naturais, as injustiças sociais e a violência. Aliada a isso, as Tecnologias da Informação garantem a ampla difusão de informações, possibilitando acesso aos jovens dos mais diversos lugares e classes sociais. Em vista disso, tornou-se cada vez mais imperiosa uma mudança de paradigma no ensino, para um modelo mais contextualizado e interdisciplinar. Percebeu-se que o modelo tradicional, compartimentalizado em disciplinas estanques, não oferecia subsídios suficientes para preparar o cidadão ao enfrentamento dos problemas acima expostos. Impôs-se a necessidade de um ensino mais integrado, que ultrapassasse o limite disciplinar e que vá ao encontro dos problemas reais. Nesse contexto, a Interdisciplinaridade surge como uma proposta de estreitamento na relação entre diferentes áreas do conhecimento humano e dentro da perspectiva das mudanças sociais; ela “insere-se na ousadia de novas abordagens de ensino, na educação básica e especialmente nos cursos de formação de professores” (FORTES, 2013, p.2). Mesmo diante de sua destacada relevância e presença nos documentos legais, muitos educadores ainda possuem um conhecimento bastante limitado sobre interdisciplinaridade, apresentando concepções equivocadas. O presente trabalho se propôs analisar as concepções de treze professores de ciências que lecionam em quatro escolas públicas da cidade de Granja – CE sobre interdisciplinaridade, e a relação entre tais concepções e sua formação inicial. Visou também a investigar em que medida as escolas em que atuam apoiam o desenvolvimento de estratégias de ensino interdisciplinar.

MATERIAL E MÉTODOS: Num primeiro momento, realizou-se levantamento bibliográfico, a fim de conhecer o conceito e as discussões sobre Interdisciplinaridade e formas de implementá-la. Depois, aplicou-se um questionário aos professores da área de Ciências da Natureza e Matemática de quatro escolas públicas do Município de Granja – CE, sendo duas de Ensino Médio Regular, uma de Ensino Médio Integral e uma quarta de Ensino Fundamental. As questões presentes no Questionário versavam sobre três pontos: (1) Aspectos da formação inicial, (2) Concepções docentes sobre interdisciplinaridade, (3) Realidade da escola no que tange a apoiar ou não o desenvolvimento de projetos de ensino interdisciplinares em suas dependências.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Dos treze professores investigados, doze são licenciados (figura 1). Questionados sobre o conceito de Interdisciplinaridade, nenhum deles teve clareza. Em síntese, para eles, Interdisciplinaridade seria uma relação entre as disciplinas (8 professores) e, para dois deles, essa relação envolveria contextualização. Um deles afirmou que seria um “mix de disciplinas”. Tais concepções relacionam-se intimamente com a formação inicial deficiente. Perguntados se vivenciaram alguma atividade interdisciplinar na graduação, todos responderam sim. Mas quando solicitados a descreverem-nas, evidenciou-se tratarem-se, na verdade, de abordagens multidisciplinar. Os docentes herdam uma visão de ensino disciplinar e compartimentalizado, fruto de um ensino descontextualizado e conteudista obtido na graduação (MALDANER, 2003). Indagados se na escola em que trabalham são desenvolvidas atividades de ensino interdisciplinar, nove professores responderam que sim, mas não foram capazes de descrever, com clareza, como se dava o desenvolvimento dessas atividades, como se percebe a seguir: “Sim, fazemos integralização entre as disciplinas da base nacional comum, ex.: química e biologia entre outras e também com as disciplinas do eixo técnico” (Professor A). “Sim. Trabalhos de pesquisas, seminários” (Professor B). Estratégias de Ensino que partam de questões sociais, tendo a integração disciplinar como meio norteador, não aparecem nas falas dos professores. Para que um projeto interdisciplinar seja desenvolvido adequadamente, “existe a necessidade de um projeto inicial que seja suficientemente claro, coerente e detalhado, a fim de que as pessoas nele envolvidas sintam o desejo de fazer parte dele” (FAZENDA, 1994, p.87). Essa clareza e o referido planejamento também não ocorrem.

Figura 01

Formação Inicial dos Professores Investigados

CONCLUSÕES: Pode-se afirmar que os professores receberam formação inicial fragmentada, que privilegiou o ensino disciplinar, com reflexo decisivo em suas concepções equivocadas sobre Interdisciplinaridade. Tais resultados sinalizam a necessidade de uma revisão na maneira como se estruturam os cursos de licenciatura no Brasil. Apesar das escolas, no geral, apoiarem projetos de ensino interdisciplinares, as concepções docentes sobre Interdisciplinaridade é que dão o tom daqueles projetos e, sendo deficientes, resultam em projetos multi ou transdisciplinares, a despeito de se pretenderem interdisciplinar.

AGRADECIMENTOS: Às quatro escolas de Granja-CE, às Coordenações e aos professores que gentilmente concordarem em participar desta pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 4. ed.
Campinas: Papirus, 1994.
FORTES, C.C. Interdisciplinaridade: origem, conceito e valor. Artigo. Disponível em <http://www3.mg.senac.br/NR/rdonlyres/eh3tcog37oi43nz654g3dswloqyejkbfuxkjpbgehjepnlzyl4r3inoxahewtpql7drvx7t5hhxkic/Interdisciplinaridade.pdf> Acesso em 20 de abril de 2013.
MALDANER, O. A., Formação Inicial e Continuada de Professores de Química: professor pesquisador. 2. ed. Ijuí, Ed. Unijuí, 2003.