Autores

Nogueira da Silva, B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Marques Magalhães Rubinger, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Moreira da Silva, M. (ESCOLA ESTADUAL EFFIE ROLFS)

Resumo

Os professores de Química encontram grandes dificuldades dentro da sala de aula quando se trata da educação de pessoas cegas. Isso ocorre devido à falta de infraestrutura e de materiais paradidáticos na escola. Este trabalho apresenta um relato de experiência envolvendo a construção de material educativo para alunos cegos e sua aplicação no ensino de mudanças de estados físicos, facilitando a compreensão dos gráficos que representam essas transformações em relação à variação da temperatura com o tempo de aquecimento. A atividade incluiu um experimento de fusão e ebulição da água, a construção e análise do gráfico correspondente junto a uma estudante cega do primeiro ano do EM. A proposta foi eficiente e auxiliou no processo de construção do conhecimento desejado.

Palavras chaves

ensino para cegos; estados físicos; gráfico

Introdução

O número de alunos com deficiência visual matriculados no ensino regular tem aumentado, porém isso não implica dizer que a escola tem se tornado um ambiente de inclusão já que nem sempre responde às necessidades do processo de ensino e aprendizagem desses alunos. Além disso, existe grande dificuldade de encontrar materiais didáticos para esse fim principalmente em se tratando da área de Química (PIRES et al, 2007). Para que um aluno cego possa ter uma aprendizagem mais significativa, os materiais de ensino devem proporcionar contato com o ambiente físico facilitando o entendimento de conceitos e um treinamento da sensibilidade tátil (CERQUEIRA et al, 2000). Com o objetivo de ensinar conceitos de mudança de estados físicos de substâncias puras, propusemos a realização de medidas experimentais seguidas da construção de gráfico em alto relevo. A proposta foi testada junto a uma aluna cega, estudante do 1º ano do EM de uma escola pública de Viçosa-MG.

Material e métodos

Foi realizada uma aula na qual foram revisados conceitos matemáticos como retas inclinadas, paralelas e perpendiculares, utilizando barbante colado em papel para que a aluna entendesse detalhes importantes para a análise do gráfico a ser construído. Em seguida colamos fita adesiva em uma placa de isopor para representar os eixos do gráfico e construímos as escalas de tempo e temperatura, marcando os intervalos com percevejos sobre as fitas. Água líquida e gelo em um béquer foram aquecidos em uma chapa. O aquecimento foi acompanhado pela aluna através do tato até uma temperatura suportável. Ao mesmo tempo, a temperatura foi medida em intervalos de dois minutos até a ebulição e os valores foram informados à estudante para que marcasse os pontos correspondentes no gráfico, também com percevejos. Findo o experimento, os pontos foram ligados com um barbante (Figura 1).

Resultado e discussão

A experimentação é fundamental para a aprendizagem em Química, e apresenta um caráter lúdico e motivador, despertando o interesse dos alunos pelos temas em estudo. Entretanto, os experimentos normalmente têm um alto requisito de habilidades visuais, o que dificulta sua realização ou compreensão por parte de estudantes cegos. O acompanhamento da temperatura, por exemplo, é feito por meio da leitura de termômetros. Se estas leituras não forem acompanhadas da sensação tátil, dificilmente serão compreendidas pelo estudante cego. Assim, neste trabalho, as medidas feitas pelo educador foram acompanhadas o máximo possível pela estudante através da percepção tátil da temperatura do sistema. Nas primeiras medidas, a estudante percebeu que a temperatura se manteve constante próximo a 0ºC, até que todo o gelo derreteu (era possível tocar os blocos de gelo flutuando no líquido). Depois percebeu a temperatura aumentar até chegar próximo de 100ºC, quando novamente permaneceu constante. O som do sistema em ebulição também pôde ser percebido a partir deste ponto. Construir o gráfico durante o experimento possibilitou a compreensão das escalas utilizadas e da variação da temperatura com o tempo de aquecimento. Depois de ligar os pontos marcados com barbante, a estudante tateou o gráfico e, com a intervenção do educador, concluiu que na região onde coexistiam duas fases, a temperatura ficava constante até que a conversão ocorresse totalmente. Assim foram conceituados pontos de fusão e ebulição. Ressalta-se que aluna tateou o gráfico durante todo o processo de construção, e também o sistema em aquecimento, o que ampliou sua compreensão do significado dos gráficos e suas escalas.

Figura 1

Gráfico de mudança de estados físicos.

Conclusões

Antes da aula a estudante tinha dificuldade para analisar gráficos e sua compreensão do conceito de mudança de estado físico era superficial, baseada na memorização. Ela relatou que participar da atividade melhorou sua compreensão dos conceitos, o que foi facilmente percebido durante a aula. Portanto o material proposto possibilitou a construção de conhecimento pela estudante. Além disso, pode ser aplicado a alunos sem deficiência no laboratório da escola, com baixo custo, e facilitar a integração do estudante cego na rede regular de ensino, como prevê a legislação brasileira.

Agradecimentos

À CAPES, Universidade Federal de Viçosa-PIBID, MEC-PROEXT e à estudante.

Referências

CERQUEIRA, J. B.; FERREIRA, E. M. B. Recursos didáticos na educação especial. Rev. Benjamim Constant, Rio de Janeiro,15 ed. 2000. Disponível em:
< http://www.ibc.gov.br/?catid=4&itemid=57 >. Acesso em: 1 maio 2014.

PIRES, R.F.M.; Raposo, P.N.; MOL. G.S. Adaptação de um livro didático de química para alunos com deficiência visual. Disponível em: http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/vienpec/CR2/p657.pdf. Acesso em: 4 de junho 2014.