Autores

Brabo, J.C. (UFPA) ; Vieira, B.N. (UFPA) ; Cajueiro, D.D. (UFPA)

Resumo

Analisa-se o uso combinado das técnicas Cloze e P.O.E. (Prediga, Observe e Explique) como estratégia didática de alfabetização científica e linguística de crianças em uma comunidade ribeirinha localizada na região insular da cidade de Belém, Pará. Tendo como mote o problema do tratamento de água, o trabalho foi desenvolvido como parte de uma atividade do estágio supervisionado de dois estudantes do curso de Licenciatura Integrada da UFPA, bolsistas PIBID. Do ponto de vista didático, os resultados da análise qualitativa das respostas e comportamentos dos alunos durante a aula foram bastante promissores e corroboram o potencial de uso dessas técnicas em aulas de ciências.

Palavras chaves

P.O.E.; Cloze; Tratamento de água

Introdução

Este trabalho descreve uma pesquisa sobre a avaliação da eficiência do uso combinado de duas técnicas de ensino e aprendizagem — o teste Cloze e a apresentação de um experimento do tipo P.O.E. (Prediga, Observe e Explique) — para abordar o tema tratamento de água em uma turma de estudantes dos anos iniciais de uma escola de uma comunidade ribeirinha. O teste Cloze é uma técnica psicolingüística onde se pede que leitores, considerando o contexto das frases, preencham lacunas deixadas deliberadamente em um texto (OLIVEIRA, BORUCHOVITCH e SANTOS, 2009). O nome do teste é derivado da palavra inglesa closure (lacuna), originário da psicologia Gestalt, que se refere à tendência do ser humano, de completar padrões familiares que não estão exatamente completos — por exemplo, perceber um triângulo, de maneira completa, fechando mentalmente as falhas na continuidade do traçado. A Estratégia P.O.E. foi desenvolvida por White & Gunstone (1992) com o objectivo de revelar previsões dos alunos sobre eventos específicos e as suas razões para fazé-las. Segundo esses autores, como estratégia de ensino e aprendizagem a técnica P.O.E. pode ser utilizada para: descobrir idéias iniciais dos alunos ; proporcionar aos educadores informações sobre o pensamento deles; gerar discussão; motivar os alunos a querer explorar os conceitos e gerar aulas investigativas. A ideia de usar as duas técnicas em conjunto surgiu da percepção da possiblidade de produzir atividades que simultaneamente estimulassem os alunos dos anos iniciais a aprender conceitos científicos, praticar a leitura e escrita e debater problemas relacionados ao seu cotiano próximo. Nesse caso, as famílias dos estudantes da escolas riberinhas, apesar de morarem as margem dos rios tem dificuldade de acesso a água tratada.

Material e métodos

As atividades foram postas em prática por dois discentes do curso de Licenciatura Integrada da UFPA em uma turma do 3º ano do ensino fundamental, da Escola Nossa Senhora dos Navegantes, Ilha de Várzea, Belém/PA (1°26'32.5"S 48°23'14.0"W). Na ocasião, os referidos licenciandos realizavam seus estágios supervisionados na escola. Resumidamente a atividade foi posta em prática de acordo com os seguintes passos: i) apresentação do tema, ii) primeira aplicação do teste Cloze, iii) apresentação dos materiais, explicação do que seria feito no primeiro experimento e solicitação das previsões dos estudantes, iv) execução e discussão do primeiro experimento, v) solicitação de (re)elaboração respostas após observação do primeiro experimento, vi) explicação do que seria feito no segundo experimento e solicitação das previsões dos estudantes, vii) execução e discussão do segundo experimento, viii) solicitação de (re)elaboração respostas após observação do segundo experimento e, finalmente, ix) segunda aplicação do Cloze. O Cloze (BRABO e CAJUEIRO, 2014) foi elaborado com base nas ideias que iriam ser tratadas na aula. O primeiro experimento foi adaptado de sugestões apresentadas por Thenório (2011) e envolve a projeção de imagens de gotas d’água em um microscópio artesanal. O segundo experimento, adaptado de Silveira (2012), teve como objetivo mostrar as crianças uma comparação da eficiência de filtros de papel e filtros de carvão mineral, analisando a filtragem de soluções com corantes e diferentes amostras do primeiro experimento, antes e depois filtradas. As produções dos alunos (testes Cloze, textos e desenhos) e gravações em vídeo da aula serviram de dados para análise qualitativa da eficiência didática das atividades propostas.

Resultado e discussão

Primeiramente é importante relatar o efeito motivacional causado pela atividade. As crianças ficaram muito entusiamadas ao saberem que iriam investigar a qualidade da água do rio, da chuva, do bebedouro etc.: "― Professora! A gente pode pegar água do rio, da torneira do banheiro, torneira da cozinha e da filtro que bebemos água. Assim a gente vê onde tem mais germes.” (Laís, v01.mp4, 03m27s); “― Professora, a gente pega água do rio porque tem muito lixo, tem muita verme” (Elane, v01.mp4, 04m38s); “― Vamos pegar do filtro! Se tiver muito bichinho nunca mais vou beber água!” (Andreza, v01.mp4, 05m21s). A produções escritas/desenhadas também explicitaram interessantes conhecimentos prévios dos estudantes que serviram de mote para uma frutífera discussão dessas ideias (Figura 1, por exemplo). Além disso foi possível contrastar essas ideias entre si e com as explicações cientificamente aceitas sobre as questões levantadas:“― Eu não sabia que a água transparente era suja!” (Edileusa, v05.mp4, 17m22s)”; “― O nome dos bichinhos que tem na água e dos germes são micro-organismos, que dão doença.” (Everton, v07.mp4, 15m33s). A tarefa do Cloze serviu com um estímulo a mais para que eles prestassem mais atenção e fizessem perguntas sobre o que estava sendo apresentado. Além disso serviram para avaliar a quantidade de conceitos aprendidos durante a aula. Nesta tarefa, a diferença entre a média da porcentagem de acertos antes e depois das atividades foi bastante significativa (13% antes, 63% depois), que corrobora que as atividades do P.O.E. ajudaram os alunos a compreender e completar corretamente as lacunas do teste Cloze.

Conclusões

As atividades propostas mostraram-se bastante promissoras como técnica de ensino e aprendizagem de ciência, leitura e escrita. Em relação a eficiência didática, os estudantes, ao final da atividade, demonstraram uma boa compreensão dos conceitos abordados (potabilidade, microorganismos, adsorção etc.) e pareceram bastante envolvidos na produção das tarefas propostas. A atividade demonstrou um grande potencial para ser usada em turmas de alunos dos anos iniciais. Uma vez que dá oportunidades para aprendizagem de conceitos, prática de leitura e escrita e, por fim, intercâmbio de ideias.

Agradecimentos

A CAPES pelas bolsas PIBID dos autores e também à Direção, professores e estudantes da Escola Nossa Senhora dos Navegantes que participaram do trabalho.

Referências

BRABO, J. e CAJUEIRO, D.D. Cloze: o que é água potável?. 2014. Disponível em: https://jbytee.opendrive.com/files?MF80NDg3MTQ0MF9UakFqSQ.
OLIVEIRA, K.L.; BORUCHOVITCH, E.; SANTOS, A.A (Org.). Cloze: um instrumento para diagnóstico e intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2009.
SILVEIRA, K.B.O. Separação por adsorção em carvão. 2012. Disponível em: http://youtu.be/aEh1WWexWHs (acessado em 30/05/2014).
THENÓRIO, Iberê. Miscrópio caseiro com laser. 2011. Disponível em:
http://youtu.be/7HAdiWkltvA (acessado em 30/05/2014).
WHITE, R.T., and GUNSTONE, R.F. Probing Understanding. Great Britain: Falmer Press. 1992.