Autores

Lopes, A.J.T. (IFMG) ; Araújo, T.D. (UFOP) ; Freitas, P.E. (IFMG)

Resumo

A adoção de materiais temáticos caracteriza-se como uma importante ferramenta na promoção da aprendizagem significativa. O material desenvolvido nesse trabalho foi pensado para ser aplicado em escolas da região do Quadrilátero Ferrífero, sendo aqui apresentados os resultados de sua adoção em uma escola da rede estadual da cidade de Itabirito. Comparando-se as respostas dos estudantes antes e após a aplicação do material, foi possível verificar melhoras significativas na correlação que os mesmos fazem da Química com o seu dia-a-dia (de 62% para 94%), no prazer em estudar Química (de 62% para 75%) e na forma como percebem as contribuições trazidas pela ciência na vida deles. Além disso, 58% dos alunos apontaram vários sinais indicando progressos na sua relação com a Química.

Palavras chaves

química no cotidiano; química ambiental; material temático

Introdução

A identificação dos aspectos químicos relevantes à interação do ser humano com o ambiente é um dos principais objetivos dessa ciência. À medida em que os estudantes adquirem conhecimento, eles se tornam capazes de analisar criticamente os fenômenos ao seu redor, o que impacta diretamente na forma como passam a ver o mundo. O material didático “Inconfidentes em apuros” traz questionamentos acerca dos impactos ambientais causados pela principal atividade econômica da região, a mineração. Portanto, a aplicação desse material nas escolas do município de Itabirito é de grande relevância socioambiental, uma vez que suscita um tema do cotidiano dessas pessoas. Organizado em 12 textos informativos, o material provoca os alunos a refletirem sobre os conteúdos abordados, especialmente através da realização de atividades teóricas e experimentais. Todos os dados, tabelas e imagens apresentados são reais e buscam não só informar, mas também conscientizar os estudantes e a comunidade em geral acerca das implicações ambientais oriundas da mineração. O problema do abastecimento de água é abordado nesse contexto, visto que os principais impactos tratados no material afetam diretamente a qualidade das águas. As três primeiras unidades do material tratam da definição de conceitos importantes envolvendo impactos ambientais, minérios e metais (CANTO, 1996). Aspectos químicos relacionados com as atividades de mineração e metalurgia são apresentados. A outra “face” da moeda é discutida nas unidades 7 a 10, quando abordam-se os principais impactos ambientais causados pela mineração. As duas unidades finais convidam os leitores para uma reflexão acerca da qualidade das águas de consumo, estimulando-os a aplicar o conhecimento adquirido em favor do bem estar social.

Material e métodos

1. Escolha da escola na qual o material será adotado A primeira etapa envolveu a seleção da escola na qual o material didático foi adotado. Como critério de escolha foram considerados o desempenho dos alunos em exames nacionais na área de interesse e o apoio da instituição na qual o projeto foi realizado. 2. Elaboração e aplicação de um pré-teste O pré-teste, cujo objetivo foi verificar a relação dos estudantes com a Química, foi elaborado pela aluna de iniciação científica desse trabalho de modo que os questionamentos comuns dessa idade ganhassem voz através dela. O pré-teste foi aplicado em três turmas cursantes do primeiro ano do ensino médio. 3. Análise dos questionários Análises das respostas obtidas permitiram definir estratégias de ensino que contribuíssem para a aproximação dos estudantes com a Química. Os dados coletados foram agrupados de modo a verificar em qual turma a relação com a ciência estava mais prejudicada. 4. Aplicação do material “Inconfidentes em apuros” Uma vez traçado o perfil dos estudantes, escolheu-se a turma na qual a relação com a Química estava mais comprometida para que a aplicação do material. Durante esse período, as aulas de Química foram adaptadas ao formato do projeto para viabilizar sua aplicação. 5. Elaboração e aplicação de um pós teste Após a aplicação do material didático, os alunos fizeram um pós teste, através do qual pretendeu-se verificar de que forma a adoção desse material afetou a relação dos estudantes com a Química.

Resultado e discussão

A Escola Estadual Henrique Michel foi escolhida como campo para aplicação do material didático e a definição da turma foi feita a partir da análise do pré-teste, que mostrou que a turma M8 é a que apresenta a pior relação com a Química, sendo esta, portanto, a turma escolhida. O material foi aplicado entre maio e julho de 2016, tendo sido realizadas várias atividades, destacando-se a produção de maquetes representando a extração do minério e as barragens de rejeitos (Figura 1), a apresentação de um júri simulado, onde um grupo apoiava e o outro condenava a atividade mineradora no município e a realização de atividades experimentais de determinação da turbidez da água e do seu pH, através da construção de uma escala usando extrato de repolho roxo como indicador (Figura 2). Ao final do projeto, os alunos responderam a um pós-teste, a fim de se verificar o impacto da adoção de um material temático na relação com a Química. Acerca da percepção dos alunos sobre a Química no seu cotidiano, percebeu-se que enquanto 38% dos alunos apontou não ver correlação dessa ciência com o seu dia-a-dia no pré- teste, apenas 6% permaneceu com a essa visão. Sobre o prazer em estudar Química, 75% dos estudantes afirmaram gostar dessa ciência, parcela maior quando comparada aos 62% do pré-teste. Sobre as contribuições da Química na vida dos alunos, 97% afirmaram que ela é importante por representar aquisição de conhecimento e por estar presente no cotidiano, enquanto 3% que acreditam que ela não serve para nada. Esse resultado é melhor que o obtido no pré-teste, quando 10% atribuíram o estudo da Química à uma obrigação. Ao avaliar os impactos do projeto na sua relação com a Química, 42% não conseguiram perceber nenhum avanço e os outros 58% apontaram melhorias significativas nessa relação.

Figura 1

Maquetes e cartazes produzidos durante a aplicação do material temático

Figura 2

Construção da escala de pH utilizando extrato de repolho roxo como indicador para determinação do pH da água de abastecimento da cidade

Conclusões

A adoção de um material temático para o ensino de Química configurou-se como uma estratégia de ensino extremamente interessante, uma vez que provocou os alunos a se envolverem mais com a ciência à medida que estes a perceberam no seu cotidiano. Foi possível também verificar melhorias significativas na relação dos alunos com a sociedade na qual estão inseridos, possibilitando nesses sujeitos novas visões de mundo.

Agradecimentos

À Escola Estadual Henrique Michel, aos alunos envolvidos e ao IFMG Campus Itabirito pelo fomento.

Referências

CANTO, E.L. Minerais, minérios e metais: De onde vêm? Para onde vão? São Paulo: Moderna 1996.