Autores

Freitas, A.O. (UEA) ; Alfaia, K.F. (UEA) ; Paula, J.A. (UEA) ; Santos, C.Y.T. (UEA) ; Viana, J.V. (UEA) ; Reis, F.B. (UEA) ; Ribeiro, J.R. (UEA) ; Assis Júnior, P.C. (UEA) ; Dutra, R.D.G. (UEA) ; Eleutério, C.M.S. (UEA)

Resumo

Este estudo foi desenvolvido com a finalidade de se compreender a ciência a partir do mundo contemporâneo incluindo a subjetividade inerente ao contexto. Para isso, foi realizada uma investigação a respeito da espécie Caesalpinia ferrea Mart. (jucá) para verificar se as pessoas ainda utilizam as plantas medicinais dentre elas o jucá, para curar algum tipo de enfermidade. Foram realizadas entrevistas com 30 pessoas que informaram as diferentes aplicações dessa planta no tratamento de doenças. Os resultados dos diálogos etnográficos confirmaram os estudos desenvolvidos por Flor e Barbosa (2015), Firmo (2011), Ximenes (2004), Santos (2001) e outros pesquisadores, assim como, possibilitou o resgate da medicina tradicional que ainda utiliza plantas da flora nativa amazônica.

Palavras chaves

Fitoterapia; Jucá; Diálogos Etnográficos

Introdução

Nos aldeados indígenas, nas comunidades tradicionais e em municípios amazônicos ainda é comum o uso de plantas medicinais na produção de extratos, unguento, garrafadas (misturas de várias ervas) para a cura de diversos tipos de doenças. O termo plantas medicinais de acordo com Flor e Barbosa (2015) se refere aos vegetais que possuem princípios bioativos com propriedades profiláticas ou terapêuticas. Nas regiões do Brasil ainda são encontradas espécies de vegetais que apresentam potenciais fitoterápicos como, por exemplo, a Caesalpinia ferrea Mart. conhecida como jucá. Partindo dessas informações, professores e alunos do Curso de Licenciatura em Química, realizaram uma atividade intitulada “diálogos etnográficos” com a intenção de identificar na cidade de Parintins-AM, se a população ainda utiliza o jucá na cura de alguma doença. Para isso, foram entrevistados 30 atores sociais moradores de 2 bairros periféricos na cidade de Parintins-AM. Os resultados da investigação demonstraram que o gênero Caesalpinia ferrea Mart. foi um dos mais citados pelos entrevistados, com maior potencial curativo. Após a coleta de informações os resultados foram sistematizados, socializados, apresentados e debatidos em sala de aula para que todos os alunos da turma tomassem conhecimento dos trabalhos desenvolvidos por outros grupos. Participaram do debate dois professores com formação em química que estudam sobre o etnoconhecimento e a formação de professores na Amazônia, um professor de filosofia que na visão do grupo de pesquisadores, auxiliou no levantamento de questões relacionadas com a cultura, tradição, os saberes, os testemunhos e o modus vivendi das pessoas que moram na Amazônia.

Material e métodos

Este estudo se caracteriza como qualitativo do tipo etnográfico. De acordo com Appolinário (2012) a coleta de dados na pesquisa qualitativa se dá a partir das interações sociais do pesquisador com o fenômeno pesquisado. Este tipo de pesquisa não prevê a mensuração de variáveis predeterminadas, pois, envolvem saberes, comportamentos, significados, valores, escolhas morais etc. Para Angrosino e Flick (2009) a abordagem qualitativa, supera a supremacia dos dados quantitativos e busca compreender e esmiuçar como as pessoas constroem o mundo à sua volta. A pesquisa do tipo etnográfica segundo Moreira e Caleffe (2006), utiliza como fontes de coleta de dados a observação participante e a entrevista. Os resultados da pesquisa são interpretados tomando como referência o grupo social, as interações realizadas no contexto a partir do olhar dos sujeitos participantes da pesquisa. Os alunos reuniram-se em grupo de 6 componentes e escolheram 2 bairros periféricos na cidade de Parintins-AM para realizar a investigação sobre Caesalpinia ferrea Mart. (jucá). Após esse procedimento, foram realizadas as entrevistas com 30 atores sociais dos referidos bairros. As entrevistas (diálogos etnográficos) foram transcritas, mantendo a fidelidade das falas. Os resultados foram analisados, sistematizados em forma de gráficos e posteriormente, contextualizados e debatidos em sala de aula para que todos os alunos tomassem conhecimento dos trabalhos desenvolvidos pelos grupos. Os debates foram mediados por dois professores de química e um professor de filosofia da ciência que pesquisam e discutem sobre os Saberes Tradicionais e a sua relação com a Educação Química na Amazônia.

Resultado e discussão

Na parte introdutória deste trabalho foram veiculadas informações a respeito da existência de plantas com propriedade fitoterápicas em algumas regiões do Brasil. Dentre essas espécies está a Caesalpinia ferrea Mart. conhecida nas regiões Norte e Nordeste como jucá (Figura 1.). No estado do Ceará, segundo SILVA (2015), a semente e a casca de jucá são utilizadas como chá, lambedor e xarope para combater a gripe, acalmar a tosse e irritações da faringe, inflamações nos rins e como calmante. No Rio Grande do Norte, as pessoas utilizam o pó da casca do jucá para tratar feridas cutâneas (XIMENES, 2004), no Distrito de Marudá-PA usam para curar gastrite, infecção no útero e como cicatrizante (FLOR e BARBOSA, 2015). Em Belém-PA, é utilizado como anti- inflamatório, cicatrizante, antibiótico natural, diabetes, caspa, expectorante, anemia e inflamação na garganta (CARMO, 2015). No estado do Amazonas essa espécie vegetal é utilizada em vários municípios. Em Manaus, por exemplo, é utilizada como macerado e lambedor para gripe e bronquite (SANTOS, 2001), nas comunidades ribeirinhas do município de Manacapuru em forma de chá, xarope e macerado para o tratamento de fígado, ferimentos, dor e inflamação na garganta, tosse etc. (VÁSQUEZ, MENDONÇA e NODA, 2014). Na cidade de Parintins-AM algumas pessoas também utilizam o jucá (Figura 2) na cura de algumas doenças. Ressaltamos que todas as informações veiculadas neste trabalho foram de grande importância, pois, muitas pessoas ainda desconhecem o poder curativo das plantas. Mas, este panorama começa a ser modificado, pois, segundo Firmo (2011), o conhecimento popular vem estimulando o desenvolvimento de novas pesquisas que esclarecem e confirmam as potencialidades fitoterápicas de diferentes espécies vegetais.

Figura 1 - Árvore e semente da espécie Caesalpinia ferrea Mart. (Jucá)



Figura 2-Resultados dos Diálogos Etnográficos



Conclusões

Este estudo nos permite afirmar que as informações veiculadas sobre as propriedades curativas das plantas, são formas de estimular a implementação de medidas sustentáveis que venham contribuir com o manejo da vegetação e conservação de espécies como, por exemplo, a Caesalpinia ferrea Mart. (Jucá), que possui propriedades medicinais relevantes comprovadas pela experimentação empírica desenvolvidas nos aldeados indígenas, nas comunidades tradicionais e nos municípios interioranos de regiões brasileiras.

Agradecimentos

Aos moradores dos Bairros de Palmares e Paulo Corrêa, sujeitos deste estudo; ao professor Renner Dutra e Dilce Pio pelas valiosas orientações.

Referências

ANGROSINO, M.; FLICK, U. (Coord.). Etnografia e observação participante. Porto Alegre: Artmed, 2009.
APPOLINÁRIO, F. Metodologia da Ciência: filosofia e prática da pesquisa. 2. ed., São Paulo: Cengage Learning, 2012.
CARMO, T. N. et al. plantas medicinais e ritualísticas comercializadas na Feira da 25 de Setembro, Belém, Pará. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 3440, 2015.
FIRMO, W. C. A. Contexto histórico, uso popular e concepção científica sobre plantas medicinais. Cad. Pesq., São Luís, v. 18, n. especial, dez. 2011.
FLOR, A.S.S.O.; BARBOSA, W.L.R. Sabedoria popular no uso de plantas medicinais pelos moradores do bairro do sossego no distrito de Marudá-PA. Rev. Bras. Pl. Med., Campinas, v.17, n.4, supl. I, p.757-768, 2015
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XIMENES, N.C.A. Purificação e Caracterização da Lectina da Vagem da Caesalpinia ferrea (CfePL): aplicação biológica. Dissertação (Mestrado). Departamento de Bioquímica, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife: 2004.