Autores

Santos, G.P. (UFRR) ; Costa, L.A.M.A. (UFRR) ; Flach, A. (UFRR)

Resumo

O uso tradicional de plantas medicinais entre as famílias brasileiras pode ser explorado em sala de aula através de experimentos como tema interdisciplinar no ensino de química e biologia tornando o mesmo mais interessante e palpável. Este trabalho propõe o desenvolvimento da interdisciplinaridade relacionando temas na área de química e de biologia através do desenvolvimento de um experimento sobre a atividade antimicrobiana de óleos essenciais de eucalipto e o cravo-da-índia em pedaços de pão. O experimento é de fácil visualização e demonstra de forma eficiente a inibição na formação de bolor em pão e podendo discutir diversos conteúdos de química e biologia como funções químicas, solubilidade, concentração, botânica, microbiologia, entre outras.

Palavras chaves

óleo essencial; planta medicinal; bolores

Introdução

Os parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio estabelecem como competência a articulação do conhecimento científico e tecnológico numa perspectiva interdisciplinar, utilizando a vivência dos alunos e a tradição cultural para estabelecer uma ligação com outros campos do conhecimento. A química tornou-se sinônimo de tóxico e poluente, por isso é importante trabalhar com os fatores positivos de seu uso como tratamento de água, produção de fármacos, cosméticos, etc. No caso das plantas medicinais podemos desenvolver uma discussão interdisciplinar envolvendo a química e a biologia, buscando correlacionar com o seu uso pelas famílias dos próprios alunos como o uso tradicional na medicina popular (BRAIBANTE et al, 2014) e os óleos essenciais no tratamento de enfermidades (GUIMARÃES, OLIVEIRA, ABREU, 2000) com o ensino experimental de química (FERREIRA, HARTWIG, OLIVEIRA,2010). Neste contexto pode-se discutir sobre plantas de espécies diferentes com os mesmos nomes populares, sobre a forma correta de preparo dos chás e extratos para potencializar a sua ação medicinal, a eficiência extrativa relacionada com a solubilidade dos componentes, a constituição química destas plantas, identificação de grupos funcionais presentes, propriedades químicas e físicas, etc. A presença de micro-organismos pode ser facilmente demonstrada pelo aspecto de algodão esverdeado dos bolores de pão. Levando em consideração estes temas neste trabalho desenvolvemos um experimento inédito que comprove a atividade antimicrobiana de compostos orgânicos presentes em óleos essenciais facilmente encontrados no comércio e de baixa toxicidade frente ao desenvolvimento do bolor no pão e que possa ser executado nas escolas como ferramenta de apoio didático.

Material e métodos

Após consulta na literatura, este experimento inédito foi desenvolvido durante o TCC do Curso de Licenciatura em Química. Para avaliar a eficiência desta proposta foi montado o experimento no Laboratório de Química da UFRR utilizando óleo essencial de Eucalipto (comercial-Amazon Ervas) e óleo essencial de cravo-da-índia (Botica dos Anjos) adquiridos em farmácia, pedaços de pão de forma medindo aproximadamente 2,5 cm por 2,5 cm, placas de Petri, água filtrada, seringa de 2mL e seringa de 10 mL. As placas de Petri podem ser substituídas por outro recipiente de vidro e as seringas normalmente são adquiridas junto com medicamentos e depois descartadas. Cada pedaço de pão foi disposto em uma das placas de Petri, foi umedecido com 7,5mL de água com auxílio da seringa e, em seguida, foram adicionados volumes de óleo essencial (0,25 mL, 0,50 mL e 1,00 mL). O experimento foi constituído por uma triplicata de controle negativo (sem a presença de óleo essencial) e de três triplicatas de diferentes concentrações de cada óleo essencial. As placas de Petri foram mantidas fechadas para evitar o acúmulo de insetos sendo todas fotografadas durante todo monitoramento para registro do aparecimento de micro-organismos. As observações foram realizadas a cada 24 horas.

Resultado e discussão

Dois dias após o início do experimento, observou-se o surgimento de bolor no pedaço de pão em uma das placas controle. A observação diária permitiu acompanhar a evolução do surgimento de bolor nos controles e sua ausência nas amostras tratadas com óleo essencial em diferentes concentrações. As amostras de pão tratadas não apresentaram formação de bolor mesmo após um mês. Após 45 dias foi observada a presença de bolor apenas nas amostras tratadas com menor quantidade de óleo de eucalipto. O resultado desta pesquisa utilizando materiais de fácil acesso indica que este experimento pode ser reproduzido em escolas como apoio aos conteúdos teóricos, pois permite através de procedimentos simples abordar na própria sala de aula temas como funções orgânicas, isomeria constitucional, aromas, concentração e sua interdisciplinaridade com a biologia no trato com micro-organismos em processos biológicos e com a botânica. O experimento ainda pode ser incrementado pela extração do óleo essencial usando extrator montado com material alternativo (GUIMARÃES, OLIVEIRA, ABREU, 2000) explorando ainda mais essa temática. O experimento pode ser montado durante uma aula de 50 minutos aonde o pão de forma deve ser cortado em pequenos pedaços, distribuído nos recipientes de vidro e, em seguida, aplicado os volumes de água e dos óleos essenciais. Nas aulas seguintes podem ser reservados poucos minutos para observação, anotações dos dados e registros fotográficos do experimento para posteriores análises. Ferreira, Hartwig e Oliveira (2010) ressaltam que o trabalho investigativo implica em, dentre diversos aspectos, esquematizar investigações, empregar experimentos para recolher informações acompanhadas da respectiva compreensão e análise, além de divulgar os resultados.

Conclusões

O experimento se mostrou de fácil execução, barato, de visualização direta e clara dos resultados e que pode ser realizado em qualquer escola mesmo sem laboratório. Se adequadamente apresentado e discutido pode contribuir para diversos tópicos trabalhados tanto em química quanto em biologia.

Agradecimentos

À CAPES através do Edital PRÓ-AMAZÔNIA e do Auxílio 3260/2013/Processo Nº 23038.009441/2013-78.

Referências

BRAIBANTE, M. E. F., DA SILVA, D.; BRAIBANTE, H. T. S.; PAZINATO, M. S. A Química dos Chás. Química Nova na Escola, v. 36, n. 3, p.168-175, 2014

FERREIRA, L. H.; HARTWIG, D. R.; OLIVEIRA, R. C.. Ensino Experimental de Química: Uma Abordagem Investigativa Contextualizada. Química Nova na Escola, v. 32, n. 2, p.101-106, 2010.

GUIMARÃES, P. I. C.; OLIVEIRA, R. E. C.; ABREU, R. G. Extraindo óleos essências de plantas. Química Nova na Escola, v. 11, p.45-46, 2000.