Autores

Conceição, G.R. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Pessoa, M.L.F. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Brandão, J.A.B. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Santos, I.B. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Silva, M.C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Carvalho, A.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Souza, K.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Ribeiro, J.R. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Dutra, R.D.G. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Assis Júnior, P.C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Eleutério, C.M.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS)

Resumo

Este estudo foi desenvolvido em atendimento à proposta da disciplina Metodologia da Pesquisa Científica que pretendia evidenciar os métodos, os tipos de abordagens, as metodologias, as técnicas de coleta de dados e como são analisados os resultados de uma pesquisa. Para avaliar o aprendizado foi solicitada uma pesquisa onde se evidenciasse uma prática tradicional e assim, denominá-la de “Diálogos Etnográficos”. Os alunos optaram pela Comunidade Nossa Senhora de Nazaré, localizada na área rural do município de Parintins-AM como lócus da pesquisa. Entrevistaram 10 comunitários para conhecer as utilidades das castanhas de sapucaia (Lecythis pisonis Cambess), os resultados foram organizados e contextualizados em sala de aula para conhecimento das experiências realizadas por outros grupos.

Palavras chaves

Castanha Sapucaia; Diálogos Etnográficos; Culinária Regional

Introdução

Este estudo foi desenvolvido com o intuito de evidenciar a composição química e nutricional das sementes da Lecythis pisonis Cambess (sapucaia). Dados históricos confirmam que as sapucaias e seus frutos, são nativos do Brasil, conhecidos e aproveitados pelos indígenas que habitavam o país no século XVI (BRASIL, 2015). De acordo com Vallilo et al. (1998) essa espécie, pertencente a família botânica Lecythidaceae, com predominância em várias regiões. Na região Amazônica a sapucaia floresce nos meses de julho a janeiro e em outras regiões no período de setembro a novembro (SOUZA, 2014). As castanhas de sapucaia são saborosas, comercializadas em feiras e mercados nos municípios interioranos pelo Brasil afora. Por se tratar de uma planta típica de mata de várzea, ela resiste o período sazonal de inundação. Estudos desenvolvidos por Martins (2016); Carvalho et al. (2012; 2008); Souza et al. (2008), evidenciam a variada composição química e nutricional da castanha sapucaia, onde foram encontrados teores minerais (mg.100g-1) como: alumínio (6,9), cálcio (182,1), chumbo (0,4), cobre (2,3), ferro (7,0), fósforo (941,7), magnésio (343,4), manganês (4,8). Além desses componentes, foram encontrados também valores correspondentes (g.100g -1) de extrato etéreo (54,8), proteínas (26,82), carboidratos (5,01); conteúdo calórico total (kcal. 100g -1) (620,52) etc. (CARVALHO, 2012). Esses dados demonstram que a castanha sapucaia pode ser aproveitada na elaboração de produtos alimentícios como: paçoca, barra de cereal, empada, bolo e em outras iguarias. As entrevistas realizadas com os moradores da Comunidade de Nossa Senhora de Nazaré, localizada na área do Limão de Baixo, município de Parintins-AM, confirmam o uso da castanha sapucaia em receitas culinárias.

Material e métodos

Este estudo se caracteriza como qualitativo do tipo etnográfico. Para Gerhardt e Silveira (2009), os métodos qualitativos são utilizados quando sem deseja explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito. Os valores e as trocas simbólicas não são quantificados, nem se submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes abordagens como, por exemplo, a etnografia. Optou-se pela abordagem do tipo etnográfica pelo fato de preocupar-se com uma análise holística ou dialética da cultura, isto é, a cultura não é vista como um mero reflexo de forças estruturais da sociedade, mas como um sistema de significados mediadores entre as estruturas sociais e as ações e interações humanas (MATTOS, 2011). Os alunos reuniram-se em grupo de 6 componentes e escolheram a Comunidade de Nossa Senhora de Nazaré do Limão de Baixo, município de Parintins-AM, para realizar a investigação. Depois formularam as perguntas que serviriam de elemento condutor para a realização das entrevistas que tinha a intenção de conhecer de que forma as pessoas da Comunidade utilizavam as sementes da sapucaia (Lecythis pisonis Cambess). Em outro momento, viajaram para a Comunidade para coletar os dados. Participaram da pesquisa 10 moradores, homens e mulheres com idade entre 30 a 70 anos. Após esse processo, as entrevistas foram transcritas, analisadas e posteriormente, contextualizadas em sala de aula para outros alunos do Curso de Química do 1º período tomassem conhecimento das atividades desenvolvidas pelos grupos. Os debates foram mediados por dois professores de química e um professor de filosofia da ciência que pesquisam e discutem sobre os Saberes Tradicionais e a sua relação com a Educação Química na Amazônia.

Resultado e discussão

De acordo com as pessoas entrevistadas a castanha de sapucaia é utilizada na preparação de vinhos, em mingaus, substituindo o leite de vaca, na confecção de barras do tipo cocada e quebra-queixo. Algumas pessoas consomem a castanha com farinha acompanhada de um bom café, outras usam a massa ralada e exprimida (seca, sem leite) nos beijus de tapioca ou de massa de mandioca, em lugar da castanha do Pará (Bertholletia excelsa). Para preparar o vinho, geralmente, as sementes são raladas em língua de pirarucu (Arapaima gigas) e coadas em peneiras confeccionadas com talas de arumã (Ischnosiphon obliquus). No interior, os pescadores, utilizam o umbigo da castanha sapucaia como isca. Informaram também que esse produto hoje está sendo mais valorizado, pois, antigamente só se via nas feiras e mercados da cidade de Parintins-AM a castanha do Pará. Como vimos, a castanha sapucaia se constitui um bom alimento, principalmente para as pessoas que moram nas comunidades ribeirinhas e nos aldeados indígenas. Trata-se de um alimento rico em nutrientes isto é, possui minerais antioxidantes e lipídios essenciais. (MARTINS, 2016). É importante ressaltar, que nesse novo contexto, a demanda por alimentos nutritivos e seguros vem crescendo consideravelmente, pois, existem certos grupos que precisam ingerir alimentos nutricionais, funcionais e balanceados na perspectiva de evitar ou corrigir problemas de saúde, como: obesidade, diabetes, desnutrição, cardiopatias, entre outros que têm origem, em grande parte, nos erros alimentares (IZZO, NINESS, 2001). A vasta composição química e nutricional da castanha de sapucaia evidenciada na parte introdutória deste estudo estimulou a preparação de paçoca e empada. Isso demonstrou que este tipo de castanha também pode ser utilizada em preparações culinária

Conclusões

Este estudo além de resgatar e valorizar a cultura amazonense, estimula a produção de novos alimentos com potenciais nutritivos e econômicos. Como bem diz Serrão (2016) é preciso ter ousadia, não ter medo de buscar novas alternativas que possam agregar valor aos produtos da região. É preciso pensar em políticas sociais que auxiliem no desenvolvimento de ações sustentáveis que transformem ou melhorem a vida das pessoas que moram na Amazônia.

Agradecimentos

Aos moradores da Comunidade de Nossa Senhora de Nazaré, localizada na área do Limão de Baixo - sujeitos deste estudo; ao professor Renner Dutra e Dilce Pio pelas valiosas

Referências

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