Autores

Rodrigues, I.C.S. (UFPA) ; Ferreira, G.K.S. (UFPA) ; Margalho, J.F. (UFPA) ; Mota, M.L. (UFPA) ; Souza, J.R.T. (UFPA)

Resumo

As mudanças nas leis e currículos escolares no âmbito nacional são previstas como medidas que possam garantir a educação em todo território brasileiro, contudo ainda há disparidades que se remetem a contextualização dos conteúdos ensinados. Desse modo a perspectiva CTS vem sendo cada vez mais discutida por meio dos documentos oficiais, como forma de reconhecimento da ciência, não só a Química, como instrumento de formação para o exercício da cidadania. No entanto, ainda existem lacunas que dizem respeito à adequação dos conteúdos para uma abordagem que possa abranger a realidade do cotidiano dos alunos. A seguinte proposta foi elaborada para os alunos do 1° ano do Ensino Médio, como aula contextualizada com enfoque no estudo dos ácidos, pleo preparo de alimentos regionais, como a Maniçoba.

Palavras chaves

Ensino de Química; Perspectiva CTS; Estudo do ácidos

Introdução

A perspectiva CTS vem sendo alvo de grande interesse como proposta educacional, nos mais diferentes níveis de ensino (STRIEDER, 2012), porém ainda segundo a autora (STRIEDER, 2008) existem muitos agravantes quanto aos objetivos e estratégias para o desenvolvimento de uma proposta para o ensino médio, isso devido a ampla faixa de direcionamentos que propostas CTS podem alcançar, o que refletido em uma variedade de trabalhos e artigos publicados, permitem considerar uma necessidade de se reformular o ensino de ciências. Os conteúdos quando são institucionalizados nos currículos oficiais geram dificuldades para o ensino em sala de aula, e modo que novas abordagens e metodologias, apesar das resistências, são necessárias para o desenvolvimento de uma formação, muitas vezes deficiente, dos docentes em relação a aplicação dos conteúdos ministrados em sala de aula (MATTHEWS, 1994). Nesse sentido, segundo Hofstein, Aikenhead e Riquarts (1988), o enfoque CTS caracteriza o ensino dos conteúdos de ciências de modo que haja uma relação entre o conhecimento cientifico e tecnológico à sociedade e os acontecimentos do dia-a-dia. Sendo assim, uma proposta curricular de CTS corresponde a uma integração entre educação científica, tecnológica e social, em que os conteúdos científicos e tecnológicos são estudados juntamente com a discussão de seus aspectos históricos, éticos, políticos e sócio-econômicos (LÓPEZ; CEREZO, 1996). Desse modo, a complexidade desses aspectos, por exemplo, entre diferentes países, e ainda entre diferentes regiões de um mesmo país, possibilita e exige uma adequação desse tipo de abordagem CTS para que possa contemplar as diversidades históricas, culturais, políticas e sócio- econômicas; dando maior relevância aos conteúdos ensinados em sala de aula, na vida dos alunos, para que os mesmos possam compreender refletir e opinar sobre possíveis soluções para problemas da comunidade a seu redor, como previsto pela LDB (BRASIL, 1996) em seu Art. 26. (Redação dada pela Lei n°12.796, de 2013) que frisa a necessidade de um complemento ao currículo de base nacional, estabelecido por meio de Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2002), que atenda a diversidade exigida pelas características regionais e locais da sociedade, cultura e economia dos alunos.

Material e métodos

O estudo foi desenvolvido como uma análise qualitativa em relação a aplicação de uma proposta de aula com enfoque CTS, desenvolvida para o ensino de química, em formato de aula expositiva, tendo como foco o estudo dos ácidos. A aplicação da aula foi realizada com os alunos do 1° ano do Ensino Médio, da turma 107, composta por 22 alunos do Colégio Estadual Augusto Meira (CEAM), durante as atividades de Estágio Supervisionado IV. Para uma análise inicial, um primeiro questionário foi aplicado para avaliar a opinião dos estudantes quanto à afinidade pela disciplina, percepção dos processos químicos no cotidiano, além de conhecimentos e opiniões a respeito de aulas contextualizadas. Em seguida a aplicação da aula em foi feita em apresentação de slides, com utilização de recursos audiovisuais, no auditório da escola. A abordagem da aula foi realizada levando em consideração as diferentes propriedades das folhas da maniva, evidenciando o mecanismo de defesa dessa planta cianogênica em sua liberação de ácido cianídrico(ARAÚJO; CAVALCANTI, 2002; SOARES, 1995), sempre relacionando as condições de trabalho dos pequenos agricultores expostos a esse ácido e os cuidados necessários no tempo de cozimento durante o preparo da maniçoba. Reunindo os saberes regionais aos conhecimentos da teoria química. O primeiro contato com o tema foi realizado por meio de um resgate cultural através das lendas indígenas, como a lenda de Mani; contando as origens da utilização dessa planta. Seguido do processo de liberação do HCN e suas propriedades como ácido. Como forma a incitá-los a formação do pensamento crítico, uma reflexão a cerca das condições de trabalho dos agricultores foi feita por meio de retomada a fatos históricos, como a utilização de ácido cianídrico (HCN) como arma química, responsável pela morte e extermínio de muitos judeus durante o período das guerras mundiais. Além disso, exemplos de acontecimentos como o incêndio ocorrido na Boate Kiss, em Santa Maria em 2013, ocasionando a morte de muitas pessoas, por intoxicação devido à presença de poliuretano nos revestimento acústico do espaço, que em sua queima libera gases como o HCN (CALIAN, 2013); foram citados como ponto de partida para a analise da ação do cianeto em nosso organismo, aliando os conceitos químicos aos biológicos, para o entendimento da interação do íon CN- ao Fe3+ presente no complexo citocromo c oxidase, impedindo a redução do Fe3+ para a formação da Hemoglobina (Fe2+) que transporta oxigênio para as células do corpo, o que pode levar a morte (PERUZZO, T.; CANTO, E., 2010). Após a apresentação foi realizada a aplicação do segundo questionário para avaliação dos alunos mediante a proposta de aula apresentada, permitindo assim uma analise sobre o método aplicado como forma de contribuição para um melhor entendimento e compreensão da Química, como forma de de contribuição para um melhor entendimento e compreensão da Química como forma de linguagem e interpretação do mundo.

Resultado e discussão

As analises foram feitas a partir das respostas objetivas dos questionários em conjunto as subjetivas, essas propostas de forma opcional. No primeiro questionário quanto à afinidade dos alunos em relação à disciplina de Química observou-se uma diferença percentual de 10% em relação aos que disseram ter afinidade pela matéria (45%) e os que disseram não ter afinidade pela disciplina (55%). Essa diferença se mostra ainda mais relevante quanto à classificação da dificuldade dos alunos em relação à disciplina, onde 77% dos entrevistados revelaram sentir dificuldade com a matéria. Quando questionados sobre a percepção dos processos químicos no cotidiano 59% disseram reconhecer, contudo apenas 18% souberam citar um exemplo. Perguntado sobre aulas contextualizadas, 60% disseram já ter tido esse tipo de aula, porém nenhum soube conceituar do que se trata a contextualização nas aulas. O Gráfico 1, representa os dados coletados a partir do primeiro questionário. Através do primeiro questionário foi possível perceber que os alunos em sua maioria não conseguem associar os conhecimentos teóricos da disciplina à sua realidade, ainda mais evidenciado através da analises das respostas dos exemplos de processos químicos no dia-a-dia, quando mais de um aluno cita um mesmo exemplo, claramente citado pela professora em sala de aula. Para a avaliação do método aplicado através da proposta de aula, o segundo questionário permitiu analisar a opinião dos alunos quanto à abordagem utilizada. Onde um percentual de 95% foi observado entre os alunos que classificaram a aula como contextualizada e apenas 5% não souberam responder. Além disso,entre os entrevistados, todos classificaram a metodologia e a abordagem como uma melhor forma de contribuição em auxílio à aprendizagem; dos quais 73% revelaram que aula pôde mudar algo em sua opinião em relação à disciplina de Química. Os dados estão representados no Gráfico 2. Desse modo, foi possível observar uma boa receptividade de grande parte dos alunos não só a metodologia, mas também em relação ao tema abordado, principalmente devido a maior participação dos alunos ao final da apresentação através de perguntas e observações.

Gráfico 1 – Dados do questionário 1

Avaliação da afinidade dos alunos quanto a disciplina de Química.

Gráfico 1 – Dados do questionário 2

Avaliação do método aplicado por meio do enfoque CTS como proposta de aula.

Conclusões

Por meio das analises dos questionários e da observação durante a aplicação da aula observou-se que a relação dos alunos com a disciplina de Química não se trata apenas de não haver afinidade pela disciplina ou considerá-la difícil, o fato é que os alunos não conseguem perceber a relação e o sentido da disciplina em suas vidas. Nesse contexto, percebeu-se que a proposta através da perspectiva CTS, como a que foi apresentada, através da regionalização no preparo de um dos pratos típicos da região (Maniçoba) aliada à reflexão sobre os cuidados durante o cozimento das folhas da Maniva, bem como as condições de trabalho em que são submetidos os pequenos agricultores estão expostos para que o alimento chegue a nossas mesas, possibilitou maior relevância no estudo do conteúdo, refletindo nos dados coletados através dos questionários, em que foi unânime a opinião dos alunos quanto à contribuição da abordagem utilizada para uma melhor aprendizagem.

Agradecimentos

À Universidade Federal do Pará e ao Colégio Estadual Augusto Meira (CEAM)

Referências

ARAÚJO, G.G.L.; CAVALCANTI, J. Potencial de utilização da maniçoba. Simpósio Paraibano De Zootecnia, 3, 2002, CDROM, Areia-PB, 2002.

BRASIL, Ministério da Educação – MEC, Secretaria de Educação Média e Tecnológica– Semtec. PCN + Ensino Médio: orientações educacionais complementares os Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, a temática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/Semtec, 2002.

BRASIL, Lei de Diretrizes e B. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.

CALIAN, R. B. Boate Kiss, o que a Química tem com isso? Projeto Pibid, UNICAMP. Disponível em: <http://www.gpquae.iqm.unicamp.br/apresentação/OfBruna.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2017.

HOFSTEIN, A., AIKENHEAD, G., RIQUARTS, K. (1988). Discussions over STS at the fourth
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LÓPEZ, J. L. L., CEREZO, J. A. L. Educación CTS enacción: enseñanza secundaria yuniversidad. In: GARCÍA, M. I. G., CEREZO, J. A. L., LÓP laciencia y latecnología. Madrid: Editorial Tecnos S. A., 1996.

MATTHEWS, M. R. Science teaching: The role of history and philosophy of science. London: Routledge. 1994

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SOARES, J.G.G. Cultivo da maniçoba para produção de forragem no semi- árido brasileiro. Petrolina, PE: EMBRAPA-CPATSA, (EMBRAPACPATSA. Comunicado Técnico, 59), 1995.

STRIEDER, R. B. Abordagens CTS e Ensino Médio: Espaços de Articulação. Dissertação de Mestrado. São Paulo, IFUSP, 2008.

STRIEDER, R. B. Abordagens CTS na Educação Científica no Brasil: Sentidos e Perspectivas. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 2012.