Autores

Rocha, A.S. (UERJ) ; Martinhon, P.T. (UFRJ) ; Sousa, C. (UFRJ)

Resumo

O presente trabalho apresenta um relato de experiência discente-docente, no âmbito da disciplina obrigatória Metodologia do Ensino de Físico-Química, oferecida pela UERJ aos alunos do curso de Licenciatura em Química, experienciada a partir da implementação de temas geradores escolhidos individualmente por cada aluno. A escolha do tema gerador teve por finalidade apresentar uma sequência didática transdisciplinar e contextualizadora para a abordagem de diferentes conteúdos de físico-química, no ensino de química, do nível médio. A prática pedagógica dialogou com Ausubel, Bachelard e Freire.

Palavras chaves

Sequência Didática; Tema Gerador; Aprendizagem

Introdução

No Brasil, é comum que a experiência e a prática docente se percam, pela não valoração adequada dos saberes adquiridos em sala de aula. Para que isso pare de acontecer, é fundamental que os professores passem: (i) a valorar o seu "savoir faire" e, (ii) a compartilhar mais a sua atuação pedagógica, por exemplo por intermédio da divulgação de seus relatos de experiências. Tal prática vem crescendo no Ensino Médio, provavelmente catalisada por ações como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), contudo, no que concerne o ensino das Ciências ditas “duras”, o assunto ainda é um tabu. Talvez, para que se entenda realmente o contexto docente universitário no Brasil contemporâneo, bem como as condições necessárias e suficientes para o ingresso de nosso alunado às salas de aula, seja essencial uma compreensão das mediações dos pilares que fundaram a condição na qual um sujeito se torna professor-pesquisador, uma vez que o contexto de vida, de trabalho, de formação e capacidade de quem constrói uma carreira docente, é muito variado, e como uma consequência, vivido de um modo extremamente diferenciado (TAMIASSO-MARTINHON et al., 2017). Nessa perspectiva, o presente trabalho é um convite para discussão sobre a necessidade de se compartilhar mais as vivências docentes, mas principalmente as experiências discentes, como forma de promoção sistêmica do empoderamento docente dentro de uma perspectiva neoliberal. Afinal de contas, é importante que cada indivíduo tenha autonomia em sua estrutura de aprender, pois dessa forma ele poderá desenvolver decisões que influenciam a sociedade em que vive. Sua aprendizagem não deve, portanto, ser limitada apenas à quantidade de conteúdo. Logo, as concepções e vivências prévias dos alunos são muito importantes, uma vez que a proposta é sair do comum, da aula tradicional com conceitos puramente aplicados e abordar conteúdos de outras formas, estimulando o estudante a buscar os saberes de uma maneira individual e estimulante. Por isso a escolha em se dialogar com Ausubel e Freire. Ambos valorizam os conhecimentos prévios, afim de que o aprendizado se torne mais dinâmico e desperte o interesse discente, com vistas a uma educação para a formação do cidadão crítico e participativo da sociedade, que nutre ações reflexivas sobre a sociedade que o desumaniza (OLIMPIO, 2016).

Material e métodos

A metodologia apresenta viés epistemológico qualitativo e nível descritivo. O desenho metodológico da pesquisa assume um contorno colaborativo, tendo como base, o entendimento das experiências e vivências dos sujeitos de pesquisa, a partir da análise das atividades desenvolvidas durante a disciplina obrigatória de Metodologia do Ensino de Físico-Química, oferecida pela UERJ aos alunos do curso de Licenciatura em Química. Durante a disciplina os alunos elaboram sequências didáticas, que por sua vez são norteadas por temas geradores - escolhidos individualmente por cada aluno - que devem contemplar um tema específico de físico-química, escolhido pelo professor. Para validar a proposta, e fazer os ajustes necessários, a sequência didática é aplicada na própria disciplina. Para tal, o proponente da sequência didática assume o papel de docente, e os demais discentes tentam executar as atividades propostas, propondo alternativas e releituras mais viáveis. A avaliação da disciplina é feita por intermédio da confecção de um artigo sobre a sequência didática proposta, e da apresentação de um seminário da mesma. A partir desses dados analisados destacamos alguns exemplos para ilustrar o que vem sendo produzido pelos alunos.

Resultado e discussão

A metodologia proposta disponibilizou aos alunos vários recursos didáticos, possibilitando que o futuro docente seja capaz de avaliar seu alunado em um contexto que contemple a diversidade humana, e não simplesmente por intermédio de provas formais. As atividades propostas são discutidas em linhas gerais. Para tal, a título ilustrativo, serão analisadas três propostas desenvolvida pelos alunos, cujos títulos foram: (1) Atividades Pedagógicas Alternativas como Ferramenta para o Ensino de Química – apresentada no IEREQ-RJ 2017; (2) Corais: sequências didáticas para aula sobre equilíbrio químico – também apresentada no IEREQ-RJ 2017 e; (3) Aula temática sobre a lei dos gases: uma conexão entre o Ano Internacional da ONU (2017) e o uso de balões de ar quente. A primeira proposta (SCHEER et al, 2017) defende a tese de que “métodos alternativos auxiliares podem motivar os estudantes e facilitar a compreensão da Química”. Nele são discutidos aspectos relevantes associados a algumas atividades pedagógicas utilizadas por professores do ensino fundamental e médio como ferramenta auxiliar no ensino de química, suas vantagens e desvantagens. A segunda proposta (ROCHA et al., 2017) aborda o conteúdo de equilíbrio químico e os fatores que afetam o equilíbrio a partir do tema gerador “corais”. A proposta é motivar o aluno do Ensino Médio (EM) com textos contextualizados a fim de que ele possa construir o seu conhecimento científico correlacionando-o com saberes prévios. Nesse trabalho é destacado a importância de levar problemáticas do cotidiano, para que os alunos possam pensar sobre como suas atitudes têm impactos socioambientais. A última proposta envolve uma sequência didática para abordar as leis dos gases por meio do tema gerador balões de ar quente. A vertente utilizada se baseia no fato de que o ano de 2017, de acordo com a ONU, foi declarado O Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento. Deste modo, foi proposto a elaboração de um projeto científico/cultural, para ser realizado por alunos do 2° ano do EM, como maneira de explicar as leis dos gases aplicada a um balão de ar quente, por viés de uma atividade típica da cultura turca, a competição de balões. As presentes exemplificações nos ajudam a pensar o momento desses discentes na construção docente, imersos numa realidade prática, rodeados por questões sociais que, inevitavelmente, podem influenciar suas visões de mundo, consequentemente seu futuro docente. Esta possibilidade nos conduz até um lugar distante de uma efetiva avaliação de saber, e construção de saber, com debates e argumentações em torno da relevância, pertinência e qualidade das escolhas acadêmicas. A complexidade do por vir docente e a liberdade de investigação discente, exigem autonomia. Tais variáveis repercutem nas escolhas profissionais, tornando interdisciplinares, e mesmo multidisciplinares, as consequências de cada escolha. Assim, a experienciação surge como uma possibilidade real, pois trata-se de um movimento de integração do indivíduo com o seu entorno, no qual cada sujeito se volta para sentir o somatório de experiências vividas, iniciando um processo de formação de significado com sentido, diferenciação e contextualização, em aspectos mais amplos que o habitual. Essa criação de significados acontece no fluxo experiencial, abrangendo todas as ações vivenciadas, de modo a produzir estes novos significados, através de novas relações entre símbolo e experienciação, não se tratando, contudo, de uma experimentação. Com vistas a essa realidade, as práticas pedagógicas não podem ser vistas apenas de forma pontual, o papel da experienciação passa a ir além do ato de se fazer simples experiências, mesmo que a segunda esteja contida na primeira, pois engloba um amplo número de possibilidades, arranjos e rearranjos de conhecimento em rede. Entretanto, apesar da quantidade de informações disponíveis atualmente, e do seu fácil acesso, sua obtenção não garante necessariamente um processo de construção do conhecimento, ratificando com isto, a importância do papel da educação escolar em diferentes estudos. Nesse sentido, o desenvolvimento de um material didático visa a colaborar com o desenvolvimento de competências e habilidades previstas na formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres.

Conclusões

O ensino de Química é historicamente baseado no método expositivo centrado nos conteúdos, tendo como principais motivos para esta escolha a elevada quantidade de assuntos no currículo básico do ensino médio e a pequena carga horária da disciplina. Devido à dificuldade inerente desta área das ciências exatas aliado a este método conteudista de ensino, existe uma elevada rejeição à química por parte dos alunos. Para que a construção do conhecimento em química seja mais significativa, portanto sólida e consistente, é necessário desenvolver estratégias mais atraentes aos alunos. Ao longo deste texto foram discutidas algumas atividades pedagógicas que se basearam em experiências discente-docente-discente. Estas, ao lado do ensino formal, concorrem para a construção de inúmeros saberes, que, não raro, refletem crenças, atitudes, emoções, motivações e valores - individuais e coletivos - e se apresentam como elementos importantes à percepção dos sujeitos acerca, por exemplo, de fenômenos psicossociais e socioambientais.

Agradecimentos

Ao Grupo Interdisciplinar de Educação, Eletroquímica, Saúde, Ambiente e Arte (GIEESAA).

Referências

OLIMPIO, Quelle Garcia; PFEIFER, Rene; TAMIASSO-MARTINHON, Priscila; SOUSA, Célia. Análise observacional das contribuições de uma disciplina eletiva de eletroquímica. In: Encontro Nacional de Ensino de Química, XVIII. 2016. Florianópolis-SC. Anais... Florianópolis-SC, 2016.

ROCHA, Angela Sanches; DOS SANTOS, Fernanda de Souza Soares; DE CASTRO, Luciano Marques; SOUSA, Célia; TAMIASSO-MARTINHON, Priscila. Corais: sequências didáticas para aula sobre equilíbrio químico. In: ENCONTRO DA REDE RIO DE ENSINO DE QUÍMICA, I., 2017. Macaé-RJ. Anais... Macaé-RJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.

SCHEER, Felipe; TAMIASSO-MARTINHON, Priscila; SOUSA, Célia; ROCHA, Angela Sanches. Atividades pedagógicas alternativas como ferramenta para o ensino de química. In: ENCONTRO DA REDE RIO DE ENSINO DE QUÍMICA, I., 2017. Macaé-RJ. Anais... Macaé-RJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.

TAMIASSO-MARTINHON, Priscila; MARTINS-FILHO, Alcindo Miguel; ROCHA, Angela Sanches; SOUSA, Célia. Memorial acadêmico e o empoderamento docente. In: ENCONTRO DA REDE RIO DE ENSINO DE QUÍMICA, I., 2017. Macaé-RJ. Anais... Macaé-RJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.