Autores

Castro, L.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; Barros, G.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; Atayde, E.B.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; Trichês, D.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; Silva, M.B. (UFAM)

Resumo

A elaboração de metodologias eficazes no ensino de ciências tem sido desafiadora, mormente no intuito de se evitar o desinteresse dos alunos, ocasionando por fim na desistência destes. O projeto “Casa da Física” busca a melhoria no ensino de ciências com aplicação prática. Entretanto, observou-se a evasão de alguns alunos finalistas ensino médio. Por meio do monitoramento desses alunos, buscou-se inferir sobre as possíveis causas dessa evasão. Os alunos que ingressaram antes de 2017, mostraram uma permanência no projeto, em contraste com os alunos que ingressaram no último ano. Com isso, atribui-se ao desconhecimento da proposta do projeto como resposta à evasão por parte de alguns, podendo esta ser entendida como conflitante com a preocupação referente ao ingresso na carreira acadêmica.

Palavras chaves

Evasão; Ensino; Ciências

Introdução

A importância da assiduidade e envolvimento do aluno em processos educativos é um fator de grande relevância no que se refere a assimilação de conhecimento com aplicação prática no cotidiano, tanto no âmbito pessoal como acadêmico. Entretanto, a inexistência de fatores que estimulem a permanência do aluno na sala de aula, como a influência da inscrição em projetos de auxílio governamentais, conforme explanado por Glewwe & Kassouf (2008), torna desafiadora a incumbência de manter o discente comprometido com a rotina escolar, apesar desse tipo de estímulo ter se mostrado ineficiente, de acordo com o estudo anteriormente citado. Limitando a abordagem ao ensino de ciências, apesar do estímulo cada vez crescente da interdisciplinaridade, a prática não deve ser dissociada da teoria sob risco de incitar a superficialidade nos assuntos mais abordados e essenciais para o cotidiano. Contudo, conforme d’Angelo e Zemp (2014), o ensino de ciências puramente teórico pode levar ao desinteresse por parte do aluno, principalmente por não conseguir assimilar o conhecimento explanado com sua aplicação prática. Visando estar em conformidade com essa necessidade, o projeto “Estação e Centro de Ensino de Ciências Casa da Física” enquadra-se em um estilo de ensino não-formal que busca apresentar ao aluno a aplicação do conhecimento adquirido em sala de aula visando melhorar a assimilação do conteúdo e estimular a curiosidade destes discentes. Tendo o seu início em 2004, o projeto executado nas instalações da Universidade Federal do Amazonas, busca a elaboração de experimentos de física, química e matemática sob incumbência de alunos de graduação e graduados voluntários das áreas em questão. Ainda assim, com base na realidade da deficiência de assimilação do conhecimento proveniente da escola regular por boa parte dos alunos, permanece a exposição de aulas teóricas, sendo esta complementar para melhor compreensão da aplicação dos experimentos. Este estudo visa averiguar a tendência de desistência de participação no projeto por parte de alunos que cursam o 3˚ ano do ensino médio e os principais fatores que possam influenciar nesta ocorrência.

Material e métodos

O projeto é executado na Universidade Federal do Amazonas (Coordenadas: -3.100151 S, -59.975298 O), campus Coroado – Setor Sul, disponibilizando aos alunos infra- estrutura contendo laboratórios para aulas experimentais e salas de aula para exposição de aulas teóricas. No período entre as datas 11/02/2017 à 27/05/2017, foi acompanhada a frequência dos discentes até a adesão de novos alunos. Aplicou- se um questionário para avaliar o perfil dos alunos, suas expectativas com relação ao projeto e suas principais necessidades, no intuito de aprimoramento do projeto e dos voluntários envolvidos nessa empreitada. As variáveis abordadas foram comparadas como o objetivo de verificar a relação entre elas, como também, contrastar estatisticamente as turmas avaliadas. Para isso, foi gerada uma tabela 2x2 (Graus de liberdade = 1) contendo as frequências de observações com base nas respostas dos alunos ao questionário, onde foi aplicado o teste Qui-Quadrado utilizando-se o software BioEstat 2.0.

Resultado e discussão

O questionário foi aplicado para 52 alunos com o intuito de avaliar o perfil dos estudantes ingressantes do projeto. Os alunos são separados em duas turmas do 3° Ano do Ensino Médio, divididos em Turma A (29 discentes) e Turma B (23 discentes). Na Figura 1, observa-se que as turmas mostraram um comportamento díspar entre si, a despeito de ambas serem formadas por alunos finalistas. A Turma A, apesar de apresentar uma oscilação nos dados ao longo do trimestre, começou com 26 alunos e permaneceu com 25 alunos. Entretanto, a Turma B apresentou uma redução de alunos sofrendo um decréscimo de 48,3% no seu quadro de alunos. Como as aulas são ministradas aos sábados, objetivou-se levantar quais discentes alegaram possuir alguma limitação no comparecimento às aulas. Desconforme a essa expectativa, 82,7% dos alunos da Turma A e 91,3% da Turma B alegaram não possuir dificuldade em frequentar as aulas, onde o restante possui limitações relacionadas à distância domiciliar, conflito de horário com outras atividades, como também, a oportunidade de usufruir de atividades de lazer nos fins de semana. Outro fator que poderia acarretar na desistência do curso poderia ser a opção por cursos pré-vestibulares, pois os alunos se encontram em um momento de expectativa com relação aos processos seletivos para ingresso na universidade, sendo que a intenção de prestar esses exames foi relatada por 100% dos alunos avaliados. Porém, o levantamento dos alunos que já frequentam cursos pré-vestibulares não permite inferir com precisão a questão da escolha do aluno, onde 24,1% da Turma A e 34,7% da Turma B relataram recorrer a este recurso, sendo possível que os alunos optem pela desistência do projeto que possui uma abordagem diferenciada dos cursos pré-vestibulares. Por este período poder ocasionar situações de estresse e ansiedade no aluno, conforme relatado por Paggiaro e Calais (2009) essa opção é bem admissível. Com relação aos alunos da turma A, entre as principais motivações para ingresso no projeto, destaca-se a busca de ampliar os conhecimentos, como também uma oportunidade para reforçar o aprendizado adquirido na escola que o aluno frequenta. Na turma B, a mesma expectativa acerca do projeto é observada, com exceção da ocorrência de alunos que buscam no projeto um reforço para ingresso no ensino superior. Referente à expectativa do aluno sobre o monitor responsável para ministrar as aulas, exige-se que o mesmo tenha domínio e saiba passar o conteúdo em vigência com paciência, além de apresentar uma abordagem dinâmica mesclando teoria com prática. Na turma B, os alunos se assemelham no quesito de esperar que o professor utilize dos meios possíveis para que a necessidade intelectual destes seja suprida. Logo, a perspectiva acerca do projeto gira em torno da interação professor-aluno sem comprometer o conteúdo a ser trabalhado ao longo do período. Um fator de grande significância observado foi referente ao período de ingresso dos alunos de cada turma. No questionário foram abordadas perguntas acerca do Projeto “Casa da Física” e como os alunos foram apresentados a este. De maneira uniforme, ambas as turmas tomaram conhecimento do projeto sob a indicação de pessoas com quem possuem alguma espécie de vínculo, como o familiar ou relacionamento afetivo, sendo que uma minoria relatou conhecer o projeto via divulgação nas redes sociais. Todavia, referente ao ingresso dos alunos no projeto a diferença é visível na Figura 2, onde é registrado o critério de divisão das turmas.Os alunos da Turma A, em sua maioria conheceram e aderiram ao Projeto em anos anteriores desde 2010 até 2016, diferente da Turma B que, em grande parte, adentraram no projeto no presente ano de 2017. Essa diferença pode ser a resposta para a evasão observada no período abordado. Segundo Assunção et al., (2009) o Projeto “Estação e Centro de Ensino de Ciências Casa da Física” recebe alunos do ensino fundamental à partir do 6° ano e alunos do ensino médio até o 3° ano, advindos principalmente de escolas públicas, com o objetivo de apresentar os principais conceitos científicos de forma prática e dinâmica. Os monitores responsáveis para ministrar as disciplinas são alunos de graduação ou graduados em sua maioria, que recebem a oportunidade adentrar a aprofundar seus conhecimentos referentes à docência. Em colisão com esse ideal que consiste em usar uma abordagem diferente da sala de aula inserindo o aluno em uma rotina mais prática do ensino de ciências, observa-se a preocupação com a necessidade estar preparado para os processos seletivos com intuito de ingressar na carreira acadêmica, sendo esta vista como enfoque principal. A divergência dessas abordagens pode gerar no aluno a impressão de sua principal demanda não estar sendo devidamente atendida, sendo que, apesar deste contraste, a prática associada à teoria tem se mostrado uma abordagem eficaz para a consolidação do conhecimento, segundo d’Angelo e Zemp (2014). Logo, o conhecimento prematuro dos objetivos propostos pelo projeto Casa da Física pode resultar no abandono por parte do aluno. Contudo, os alunos que adentraram em anos anteriores, conforme observado na Turma A, se mostraram integrados e em sintonia com a abordagem considerada não-formal, mas que contribui significativamente para a adesão e fixação do ensino de ciências de forma geral. No intuito de verificar se existe relação entre os fatores como sexo, área de afinidade, curso pré-vestibular, ano de ingresso no projeto e dificuldade em comparecer ao curso, foi aplicado o teste Qui-Quadrado que permite inferir se existe uma diferença significativa entre as frequências observadas e as frequências esperadas e, com isso, observar se existe relação entre os fatores elencados. Os fatores associados e os resultados obtidos foram: Sexo x Área de afinidade (Turma A: 0,017; p-valor: 0,897 e Turma B: 3,199; p-valor: 0,529), Sexo x Curso pré-vestibular (Turma A: 0,014; p-valor: 0,904 e Turma B: 0,171; p-valor: 0,679), Área de afinidade x Ano de ingresso (Turma A: 0,05; p- valor: 0,823 e Turma B: 1,359; p-valor: 0,122), Sexo x Ano de ingresso (Turma A: 1,708; p-valor: 0,191 e Turma B: 2,39; p-valor: 0,122), Área de afinidade x curso pré-vestibular (Turma A: 0,014; p-valor: 0,904 e Turma B: 0,212; p-valor: 0,645), Ano de ingresso x Dificuldade em comparecer (Turma A: 0,967; p-valor: 0,326 e Turma B: 0,1; p-valor: 0,752) e Sexo x Dificuldade em comparecer (Turma A: 0,562, p-valor: 0,453 e Turma B: 0,396, p-valor: 0,529). O χ2 tabelado para o n = 1 foi de 3,841, com probabilidade de 95%. Observa-se que a hipótese [H] [/0] é aceita para todas as associações, independente da turma avaliada. Entretanto, é notável a diferença entre os perfis das turmas a despeito dos alunos serem finalistas do ensino médio, podendo essa diferença ser um fator que influencie significativamente na escolha em dar continuidade ao projeto.

Figura 1

Frequência dos discentes durante o período amostrado. *Matrícula de novos alunos

Figura 2

Período de ingresso dos alunos no Projeto “Casa da Física”

Conclusões

A abordagem diferenciada proposta pelo projeto estudado, pode ser incompreendida de início devido à preocupação recorrente de alunos com fatores como o ingresso à vida acadêmica, gerando uma evasão por parte dos alunos ingressantes. Entretanto, alunos que foram integrados ao projeto em anos anteriores ao presente, mostraram ter interesse em permanecer, devido a fatores como o acréscimo do conhecimento em ciências em complemento ao obtido no ensino regular, a oportunidade de aplicar os conceitos teóricos na prática, permitindo assim, o aprofundamento de conceitos científicos constantemente abordados, como também, novidades nesse setor. O projeto “Estação e Centro de Ensino de Ciências Casa da Física” desempenha o papel de integrar o aluno na rotina científica, não somente com o intuito de aprimorar os seus conhecimentos, como formar profissionais mais conscientes de sua participação na sociedade, em geral.

Agradecimentos

Ao Instituto de Ciências Exatas, ao Departamento de Física e a Universidade Federal do Amazonas, mais especificamente, à Pró-Reitoria de Extensão.

Referências

ASSUNÇÃO, M. C.; NASCIMENTO, G. B.; FREITAS, A. C. F.; MATEUS, W. D.; CORDEIRO, J. P. “Cai ou não cai?”: A Casa da Física e as perspectivas na construção de habitações de interesse social com garrafas plásticas. I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia. Anais...2009.
D’ANGELO, J. V. H.; ZEMP, R. J. Teoria com prática. Revista Ensino Superior, n˚ 13, 2014.
GLEWWE, P.; KASSOUF, A. The impact of the Bolsa Escola/Família conditional cash transfer program on enrollment, grade promotion and drop out rates in Brazil. Journal of Development Economics, v. 97, 505–517, 2008.
PAGGIARO, P.; CALAIS, S. Estresse e escolha profissional: um difícil problema para alunos de curso pré-vestibular. Contextos Clínicos, v. 2, n˚ 2, 97–105, 2009.