Autores

Marques, M.L. (IFPB) ; Silva, F.C. (IFPB)

Resumo

A pesquisa é um trabalho de conclusão de curso de Licenciatura em Química, investigou o ensino de química para os alunos surdos em turmas de ensino médio técnico integrado, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia IFPB – Campus Sousa. O método desta pesquisa foi qualitativo com o tipo observação participante. Para coleta de dados, usaram-se entrevistas semiestruturadas com professores de química, estudantes surdos e profissionais intérpretes, como também observações em salas de aulas. Percebeu-se que os profissionais da educação precisam de uma formação continuada, capacitações, assistência escolar, fortalecer mecanismos para atender à necessidade dos alunos surdos no ensino de química.

Palavras chaves

Química; Surdo; Metodologia de ensino

Introdução

Ao analisar a educação de surdos, verificou-se o quanto os surdos sofreram segregação, perseguição, exclusão e em alguns lugares perderam o direito de viver, devido à deficiência. Sabe-se que os programas de inclusão social são um avanço na propagação da inclusão, porém, há certa lentidão em serem postos em prática, geralmente por falta de políticas públicas, fiscalizações do cumprimento das Leis. Ainda que a determinação do cumprimento dos direitos humanos e uma vivência democrática estejam sacramentadas pela ONU (Organização das Nações Unidas), não se cumprem a necessidade de forma justa e igualitária. Constatou-se que a educação de surdos passou por várias etapas/ modelos de ensino, e essas práticas não atenderam a especificidade da pessoa surda, porque usaram estratégias pedagógicas oralistas, uma vez que, o método do oralismo implantado em 1880 no Congresso de Milão intensificou o retrocesso da educação para surdos, principalmente pela proibição do uso da língua de sinais. (MOURA, 2000). A partir desse Congresso diversos países, inclusive o Instituto dos Surdos-mudos no Brasil, foram proibidos de usar a Língua de Sinais para não prejudicar o processo de oralização dos surdos. Devido a essa proibição houve isolamento cultural do povo surdo, uma vez que aconteceu a negação completa da cultura e da identidade surda, como consequência a retirada de professores surdos nas escolas para surdos e o aumento dos professores ouvintes (JÚNIOR; MARTINS, 2010). Portanto, as escolas para surdos passaram a seguir um modelo oralista (MOURA, 2000). Sabendo da importância de discutir sobre esse tema, a pesquisa fez um resgate histórico, cultural e social do povo surdo, promoveu uma discussão sobre a metodologia do professor para educação inclusiva, realizou uma investigação nas aulas de química em turmas de estudantes surdos no Instituto Federal da Paraíba, Campus Sousa, para conhecer a realidade das salas de aula. Desta forma, a pesquisa visou identificar se a escola cumpre o que estabeleceu o Decreto nº 5.626/05, assim como a Lei da Pessoa com Deficiência nº 13146/15 sobre a educação de surdos. Segundo (Pereira, Benite e Benite, 2011) tanto é importante a organização do espaço escolar para receber e atender os alunos com NEE (Necessidades Educativas Específicas), quanto à formação dos professores que necessitam de fundamentação teórico-metodológica para compreender as necessidades específicas dos diferentes sujeitos sociais que compõem as salas de aula inclusivas. No âmbito do ensino de química para surdos, os termos técnicos e científicos da linguagem da química, torna-se muito mais inacessível porque muitos termos específicos da química não possuem sinal próprio em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). (SOUZA e SILVEIRA, 2011). Tratando do capítulo V, (BRASIL. Lei nº 9.394/96) a Lei de Diretrizes e Bases da Educação fala que a educação especial é uma modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para pessoas com necessidades especiais, o que significa que deverá ser fomentada a esses estudantes uma aprendizagem escolar regular. É ne¬cessário considerar a formação do professor de química para a inclusão escolar como parte integrante do processo de formação geral e não como um mero apêndice dos seus estudos (Pereira, Benite e Benite, 2011). O Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005 institui o ensino aos surdos em Libras, inclusive identificam os surdos como aqueles que interagem com o mundo através de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pela utilização da língua de sinais. Antes desse documento, houve o reconhecimento através da Lei 10.436/02 que oficializa a LIBRAS como a língua materna das pessoas surdas. Sabe-se que a inclusão ainda não é consolidada na sociedade, seja pela falta de informação, formação continuada, políticas de conscientização e investimento do poder público, desta forma, quando se fala do ensino para surdos, há diversas barreiras, principalmente a atitudinal, que são atitudes que se fundam em preconceitos, estereótipos produzindo a discriminação. Mas esse trabalho buscou romper com esses paradigmas e, consequentemente, refletir sobre o papel do professor, portanto essa pesquisa foi sobre a metodologia do professor de química para estudantes surdos.

Material e métodos

A metodologia da pesquisa foi realizada por meio de uma análise qualitativa, descritiva da história sobre educação de surdos no meio histórico político-social e educacional. Buscando conhecer através de fontes e documentos que caracterizaram esse meio sócio-político dessa conquista inclusiva e igualitária, e sobre a formação do professor através da legislação e estudos bibliográficos. A pesquisa foi realizada no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia IFPB - Campus Sousa unidade São Gonçalo, zona rural do município de Sousa/PB. Os participantes foram dois professores de química, com formação superior na área, dois intérpretes de LIBRAS com formação em Letras/Libras, um deles já trabalhou em outra instituição como intérprete, e dois estudantes surdos, maiores de idade, usam a Libras como meio de comunicação, vieram de uma escola que atendem pessoas com deficiência, no instituto estudam em turmas diferentes, 1º e 2º ano do curso Técnico Integrado de Agroindústria. Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram roteiro de entrevista com cinco perguntas objetivas e discursivas para os estudantes surdos, intérpretes e professores. Como também observações durante as aulas de química para conhecer a metodologia usada em sala de aula. No intuito de resguardar os sujeitos envolvidos na pesquisa, foram utilizadas letras para caracterizá-los. Portanto, as turmas foram classificadas em A e B, professores K e W, estudantes surdos X e Y e intérpretes I e II. O projeto da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IFPB.

Resultado e discussão

Professores: As perguntas para os professores foram sobre a formação acadêmica, metodologia de ensino com estudante surdo, relação professor-aluno, meio de comunicação e as dificuldades no ensino de química. Os professores da instituição pesquisada atendem em sala de ensino regular, são licenciados compõem o quadro de servidores efetivos da instituição, sobre a experiência do professor na língua de sinais mostra o desconhecimento do professor com relação a Libras, uma vez que é preciso que o professor conheça a língua de sinais para facilitar sua transmissão dos conteúdos, esse desconhecimento da Libras compromete também a relação entre professor-aluno. Revelam a carência tanto nos recursos de aprendizagem quanto em posturas facilitadoras de diálogo e aproximação, dessa forma, o aluno está inserido em sala, porém não é sujeito participativo do processo ensino-aprendizagem. E por último trata-se da complexidade de lecionar química para alunos surdos, percebe-se que nesse diálogo o ensino de química para a comunidade surda nessa instituição é precário, pois, faltam metodologias acessíveis na língua do surdo. Intérpretes: Aos intérpretes, as perguntas foram sobre a formação, tempo na profissão, dificuldades em traduzir as aulas de química, a comunicação com o estudante, e as particularidades do ensino para surdos. Os intérpretes compõem o quadro de funcionários do instituto um como efetivo e outro como substituto. O Intérprete de Libras tem a função de ser o canal comunicativo entre o aluno surdo, o professor, colegas e equipe escolar. Os profissionais intérpretes são licenciados em Letras/Libras. Nas falas dos intérpretes há diferença nas experiências, um trabalha há oito anos, o outro apenas comentou a sua experiência de dois meses, quando, chegou a essa instituição. Em seguida, buscou saber sobre o aprendizado entre alunos-surdos e ouvintes, se tem os mesmos rendimentos no aprendizado, percebe-se que ambos os intérpretes veem essa aprendizagem comprometida se não estiver uma base desde anos iniciais e com fortalecimento da mediação da língua de sinais, até porque essa aprendizagem não depende só da presença do intérprete na sala de aula. O surdo precisa estar em um ambiente que propicie o desenvolvimento da sua língua e a sua cultura inserida no currículo e o acesso à comunicação através da sua língua. Alunos Surdos: As perguntas para os estudantes foram sobre qual a língua de comunicação, papel do intérprete, as dificuldades na ausência do intérprete, as dificuldades em aprender química e sugestões de metodologia. O meio de comunicação usado é Libras e a reconhecem como primordial para acesso a informação e conhecimento, um deles apresenta dificuldade na escrita do português. Identificou na fala do aluno Y que não havia intérprete antes em sua sala dando o auxílio necessário na comunicação, enquanto que o aluno X recebeu mais apoio em sala por disponibilidade de intérpretes, por os alunos estudarem no mesmo turno em sala e série diferentes, não havia intérpretes suficientes que atendesse a necessidades de todos alunos surdos. Diante de alguns imprevistos, quando o intérprete de Libras falta, a aluno surdo X permanece em sala, e faz uso da leitura labial, alguns colegas de turma tentam fazer a comunicação usando o alfabeto manual, ou usando a escrita, mas estudante surdo Y volta para casa, porque não faz uso de leitura labial e tem dificuldade com o português. Por não saber Libras, fica comprometida a interação entre professores – alunos, dificultando a aprendizagem. Constatou que os professores de química trabalham muito com a disciplina de forma tradicional, com aulas expositivas, não muito atrativas para os estudantes surdos, o interessante seria mostrar conceitos complexos através imagens, com jogos lúdicos, já que para os alunos surdos o método de aprendizagem fundamental é o visual. Identificou-se que há o hábito de decorar conceitos, esquecendo-se de contextualizar e tornar o conteúdo mais próximo da realidade dos discentes, fazer a relação dos conteúdos com o meio, e assim, o conteúdo não será visto como algo sem sentido. Segundo, Valente (2009) a Didática Geral é uma ciência teórica - prática que pesquisa, experimenta e sugere formas de comportamentos a serem adotados no processo ensino- aprendizagem, resultando na eficiência e eficácia das aulas, sendo ferramenta cotidiana do professor tendo uma contínua evolução, portanto, o professor deve se aperfeiçoar e atualizar seu conhecimento sobre novas técnicas que possam ser utilizadas em sala de aula.

Conclusões

Constatou-se que há problemas de metodologias de ensino de química, seja por não saberem Libras, ou não terem recebido uma orientação da coordenação pedagógica do Campus, em trabalhar com práticas que atendam a necessidade do estudante, então, uma capacitação seria fundamental, verificou-se que a escola não está preparada para atender a especificidade dos estudantes com deficiência, pois a comunicação depende exclusivamente dos intérpretes. Na fala dos estudantes surdos, percebe-se que os mesmos sentem falta de uma metodologia que os incluam, portanto, falta um suporte pedagógico, é preciso investir em formação continuada para comunidade escolar, e os professores precisam usar materiais didáticos adaptáveis à realidade do aluno, com uso de materiais visuais, concretos, aulas mais dinâmicas, a partir de jogos, aulas práticas que possa facilitar o ensino-aprendizagem, descobrindo com o estudante a melhor maneira de mediar os conceitos científicos, porque juntos encontrarão as ferramentas para aquisição do conhecimento.

Agradecimentos

Referências

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