Autores

Carvalho, E.L. (IFRJ) ; Ferreira, L.C. (IFRJ) ; Araújo, S.E.E.T. (IFRJ) ; Santos, B.S. (IFRJ) ; Almeida, L.D. (IFRJ) ; Vaz, Y.R. (IFRJ) ; Souza, J.T.A. (IFRJ) ; Gomes, S.S. (IFRJ) ; Pinho, G.S.A. (IFRJ) ; Estevão, A.P.S.S. (IFRJ) ; Guimarães, T.C.L. (IFRJ)

Resumo

O presente trabalho é um diagnóstico da realidade escolar do CIEP Brizolão 170 – Gregório Bezerra, fruto das atividades realizadas durante o período de ambientação, construído como parte da inserção de licenciandos em Química no cotidiano de uma escola parceira do Instituto Federal do Rio de Janeiro – campus Duque de Caxias no Programa de Residência Pedagógica. Teve como objetivo nortear o planejamento anual de atividades desenvolvidas na etapa de imersão na escola, a fim de aumentar a eficácia das futuras ações pedagógicas, buscou-se conhecer a rotina da escola, seus contextos e as interrelações do espaço social escola. Para isso, foram realizadas entrevistas com alunos, professores e equipe gestora, além de análise do Projeto Politico Pedagógico (PPP)

Palavras chaves

formação de professores; residência pedagógica; diagnóstico escolar

Introdução

Na mais recente reforma educacional, o Ministério da Educação (MEC) realizou uma revisão no estágio supervisionado para melhor qualificar os futuros docentes como parte da Política Nacional de Formação de Professores, estabelecidas pela Resolução CNE (Conselho Nacional de Educação) Nº 02/2015 e pelo Decreto Nº 8.752/2016, que dispõe sobre a Política Nacional de Formação dos Profissionais da Educação Básica. Através da Portaria nº 38 de 28 de fevereiro de 2018 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) (BRASIL, 2018), foi instituído o Programa de Residência Pedagógica em parceria com as redes públicas de educação básica. O objetivo do programa, definido no edital nº 06/2018, é emergir o residente na sala de aula e no cotidiano escolar para experimentar situações que estimulem a reflexão da prática docente e, a partir disso, desenvolva “projetos inovadores que estimulem a articulação entre teoria e prática nos cursos de licenciatura”. O Programa Institucional de Residência Pedagógica define como primeira etapa a ambientação do residente, que deve ser em orientação conjunta (docente orientador/preceptor), com o mínimo de 60 horas na escola campo. As atividades realizadas durante o período de ambientação geraram um diagnóstico da realidade escolar do Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) Brizolão 170 – Gregório Bezerra, localizado em São João de Meriti, Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, construído como parte da inserção de licenciandos em Química no cotidiano de uma escola parceira do Instituto Federal do Rio de Janeiro – campus Duque de Caxias. Soares et al. (2016) afirma que “diagnosticar a realidade escolar antes do planejamento das atividades a serem desenvolvidas torna-se ação indispensável para a garantia de que a execução das atividades ocorra de acordo com as reais necessidades do contexto escolar”, logo, o seguinte estudo foi concebido com o objetivo de se nortear o planejamento anual de atividades desenvolvidas na etapa de imersão na escola. A fim de aumentar a eficácia das futuras ações pedagógicas buscou-se conhecer a rotina da escola, seus contextos e as interrelações do espaço social escola. Para isso foram realizadas entrevistas com alunos, professores e equipe gestora e análise do Projeto Politico Pedagógico (PPP).

Material e métodos

A ambientação na escola-campo CIEP Brizolão 170 - Gregório Bezerra, abrangeu o espaço de tempo de outubro de 2018 a janeiro de 2019. Essa pesquisa teve caráter qualitativo adotando como procedimento técnico-metodológico questionário aberto com a coleta de dados através de entrevistas com o corpo docente, discente e equipe gestora. Para os alunos, as perguntas foram elaboradas a fim de entender como é o relacionamento deles com a escola – importância, interação aluno-aluno e metodologias de ensino – e as expectativas deles quanto aos projetos dos residentes. Já para os professores, os temas foram formação docente, dificuldades em sala de aula, metodologias de ensino, funções da escola e a importância da mesma. A entrevista com a equipe gestora aconteceu apenas com a diretora adjunta, pois a escola não possui coordenador pedagógico e o diretor geral estava ocupado com quesitos burocráticos de fim de ano. Sendo assim, o teor das questões foi direcionado para o Projeto Político Pedagógico, que, posteriormente, foi analisado pelos residentes.

Resultado e discussão

Apesar das respostas serem subjetivas e colhidas individualmente, os docentes foram unânimes na suposição de que escola virou um depósito de crianças e os professores estão sobrecarregados por terem que exercer múltiplas funções, sendo, ao mesmo tempo educador, psicólogo, médico, família (pai, mãe e outros responsáveis legais). Steigenberg (2007) pontua sobre as novas funções que sobrecarregam a escola que ‘tem tido dificuldade em aceitar essas novas atribuições consequentes das mudanças sociais. Fatos são conclusivos que a escola sozinha não superará suas dificuldades”. Um dos professores entrevistados diz: “são alunos que por terem certas deficiências trazem problemas para dentro da escola e que aparentemente a escola se tornou responsável por esses problemas. Temos alunos muito bons e muitos problemáticos”. Para Pontes (2006), o aluno- problema é caracterizado a partir de vários aspectos, como problemas orgânicos, emocionais, dificuldade de socialização e de aprendizagem, sendo principalmente aquele que de alguma forma incomoda o professor e sua dinâmica de aula. O caracterizador do “aluno-problema” foi a indisciplina e algumas queixas de agressão verbal de discentes para docentes. Porém, nenhum professor entrevistado apresenta queixa de ser um ambiente hostil e com agressões físicas aos professores. A maioria dos pais não acompanha a vida escolar de seus filhos, não respondem quando são solicitados pelos professores, não comparece às reuniões de pais e mestres e outras situações em que a equipe gestora precisa do acompanhamento dos responsáveis. A falta de participação das famílias deve-se ao fato de os pais estarem em longas jornadas exploratórias de trabalho em nossa sociedade que remunera mal devido ao sistema econômico atual. Portanto, cada caso deve ser analisado sem pré julgamentos e deve-se buscar a adoção de medidas que possam resolver esse problema, tendo como objetivo o fortalecimento da casa-escola para “ajudar os pais a lidarem com suas dificuldades, pois se encontram sem saber como interferir positivamente na vida de seus filhos, trazendo o abandono intelectual, emocional e social” (STEIGENBERG, 2007). Outra fala que merece destaque é: “algumas coisas de tanto dar aula, você acaba não preparando mais as aulas, acabam entrando no automático. O que já está no automático, eu não me preocupo mais em preparar”. Segundo Piaget (1984) não adianta ter reformas pedagógicas se a preparação das aulas e dos próprios professores não mudar e seguir o que os educandos necessitam, pois cada sala é um público diferente e cada aluno tem suas limitações cognitivas. Esse tipo de postura gera o desinteresse dos alunos que, durante as entrevistas, mostraram um interesse por aulas diferenciadas, como slides, vídeos e experimentos. Metodologias que fogem do acúmulo de informações costumam aproximar o aluno da disciplina, trazendo sentido para o conteúdo. Esses alunos dizem estar inseridos numa classe média baixa, que eles denominam de humilde, e que são esperanças de um bom futuro para a família com as expectativas depositadas inteiramente na escola. Eles representam uma geração de jovens que possui mais escolaridade que seus pais e enxergam a escola apenas como uma exigência do mercado de trabalho, ou seja, se o mercado de trabalho não limitasse o ensino médio como requisito, a escola não teria sentido na vida desses jovens (CORROCHANO, 2014). Existe uma ambição pela conclusão do ensino médio e eles saem sem desfrutar de uma formação de concepções e valores, de forma que os jovens tenham identidade própria e independência. A escola não oferece tal suporte e os alunos não são motivados a alcançar, porém, o papel da escola não é limitado apenas à formação de um cidadão intelectual, o espaço escolar deve preocupar-se com a sua formação enquanto ser humano ético, desenvolvendo competências e habilidades que estimulem sua participação crítica na sociedade. Em 2018, houve a troca de toda a gestão da escola e a elaboração de um novo Projeto Político Pedagógico, que tem atualizações a cada dois anos. Este encontra-se ainda em processo de conclusão e sem uma previsão de término, sendo impossível de fazer uma avaliação completa. Sua construção se deu pela equipe gestora, composta pelo diretor geral, a diretora adjunta e duas articuladoras pedagógicas, em conjunto com um conselho escolar composto por alguns professores da instituição. Entretanto, nos foi informado pelos próprios docentes que apenas os participantes do conselho foram consultados para auxiliar nesta construção, sendo restrita aos atuantes no conselho e ausentando a participação dos pais, responsáveis e comunidade escola Por ser localizada em uma área periférica e com baixo poder aquisitivo, toda a comunidade docente e gestora da escola volta sua preocupação em formar “cidadãos de bem”. Esses seriam indivíduos que estão “dentro dos comportamentos aceitáveis e apropriados para cada momento. [...] extremamente qualificado para a vida social [...]”, conforme diz Moura (2013). Logo, cada atividade, evento ou aula aplicada na escola visa mostrar ao aluno que existem diversas oportunidades a serem alcançadas por eles, e a escola está ali para auxiliar no percurso. Esses objetivos podem ser encontrados na seguinte fala contida na entrevista com a diretora adjunta: “… o PPP tem que estar articulado o tempo todo com o contexto social e político, sabendo que o aluno é sempre um agente de mudança, tem que estar atuante, tem que pensar, tem que saber aquilo que ele quer pro seu futuro, tem que estar mesmo acompanhando esse momento político também que é tão difícil, tanta corrupção, o que ele pode fazer como homem de bem pra tentar mudar, resgatar o que de bom nós temos ainda na sociedade e conseguir ter um futuro mais digno, um futuro um pouco melhor. É possível. Nós como professores temos lutado por isso e cabe aos nossos alunos serem esse agente de transformação também.” (diretora adjunta entrevistada). Uma das abordagens do PPP era sobre o Ensino de Jovens e Adultos, algo que agora não existe na escola. Contudo, percebe-se a carência e importância do segmento na região, pois até então era a única escola a oferecer esta modalidade de ensino. De acordo com Colavitto e Arruda (2014), ser alfabetizado torna o sujeito dono de sua própria história, que permite que ele siga “atualizando-se tecnologicamente e, assim, podendo inserir-se no mercado de trabalho e evoluir cada vez mais como cidadão”. Tendo em vista uma mudança de vida, estas pessoas voltam a procurar a escola em busca da EJA. Em relação à inclusão digital na escola, conforme Marinho (2006) pondera, cabe à escola gerar condições para favorecer esta inclusão para os excluídos digitais. No papel, é garantido um espaço para a utilização de recursos digitais e biblioteca, contudo ambas encontram-se sempre fechadas. Os recursos digitais são escassos e/ou em mau funcionamento, uma vez que os professores são obrigados a arcarem financeiramente na compra de data show e outros equipamentos eletrônicos para o desenvolvimento de suas aulas.

Conclusões

A confecção do relatório de diagnóstico escolar nos permitiu visualizar diferentes aspectos presentes no CIEP 170 - Gregório Bezerra, desta forma, constituindo-se como uma ferramenta facilitadora para a elaboração de futuros projetos do Programa de Residência Pedagógica, alguns já colocados em prática no presente momento, para solucionar algumas dificuldades encontradas, como, por exemplo, a dificuldade no processo de ensino aprendizagem na disciplina de química. Os questionários aplicados proporcionam para os residentes um melhor entendimento dos alunos, realçando as potencialidades e dificuldades que afetam os mesmos, nos estimulando a utilização de novas metodologias que diminua o espaço entre os alunos e a educação. Além disso, permitiu reflexões sobre nosso imaginário ideal em que os alunos ficariam quietos durante a aula, conversando apenas no intervalo, copiando toda matéria, fazendo as tarefas propostas, respeitando a figura do professor. Porém, no dia a dia e isso não é o que ocorre no magistério, então cabe ao professor trabalhar as próprias expectativas e se reinventar para seguir seu objetivo, a aprendizagem de seus alunos, por mais difícil que ele possa aparentar. Dessa forma, é importante todo um planejamento pedagógico de metodologias que orientem os alunos quanto à sua própria construção de conhecimento, levando em consideração suas experiências, ao passo que observam a magnitude das disciplinas presentes em situações diferenciadas, estimulando a tomada de decisão de caráter sócio-científico (SILVA et al., 2011). A obtenção desses dados permitiu uma melhor compreensão do meio escolar como um todo, podendo perceber o ponto de vista de todos os envolvidos independente da hierarquia. A partir disso, pode-se melhorar a futura abordagem dos

Agradecimentos

Referências

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