Autores

Emidio-silva, C. (UNIFESSPA) ; Almeida, F.F. (UNIFESSPA) ; Silva, D.C. (UNIFESSPA)

Resumo

A monitoria em cursos de formação de professores se constitui em um importante instrumento de engajamento do futuro profissional. Na Unifesspa, na Licenciatura em Química, busca-se a formação de professores reflexivos de sua prática escolar. Com o objetivo de complementar a formação, as monitorias procuram fazer com que o futuro professor passe a refletir sempre a sua prática como uma metodologia inerente, mesmo após a sua saída da universidade. A partir da pesquisa qualitativa, tendo como foco a pesquisa-ação obtivemos como resultados uma síntese positiva da experiência, trazendo aspectos do professor reflexivo para a formação dos estudantes, dos monitores e do próprio professor ministrante. Conclui-se que a monitoria é uma atividade muito viável para a formação de professores de química.

Palavras chaves

Ciências-Química; Professor-Reflexivo; Monitoria

Introdução

Este trabalho mostra os resultados das atividades de monitoria no curso de química da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). Aqui trazemos uma análise da experiência com a monitoria em 3 disciplinas: Didática para o Ensino de Química (2º Semestre-2020), Prática Pedagógica em Química I e Prática Pedagógica em Química II (Ambas no 1º Semestre-2021). As disciplinas aconteceram em plena pandemia e a monitoria foi uma forma de maior inclusão dos estudantes no processo de ensino-aprendizagem, do professor-ministrante e dos próprios monitores. Durante a Pandemia do Coronavírus (iniciada em março de 2020, conforme registrado, e se estendendo em 2021) toda a sociedade se viu perdida e com muitas indefinições de como iriam prosseguir suas atividades. Na Universidade não foi diferente. Os professores não sabiam como fazer para dar prosseguimento em suas atividades acadêmicas. Especialmente as disciplinas de laboratório, de prática e estágio, contavam com poucas alternativas. Sem contar as pressões do governo de que algo deveria ser feito, os próprios professores começaram a se inteirar melhor das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e a pensar como suas disciplinas poderiam ser realizadas em modo remoto. Para isso a Unifesspa criou o Período Letivo Emergencial (PLE), onde os professores poderiam ou não disponibilizar suas disciplinas para que os estudantes cursassem. Por outro lado, os estudantes também poderiam cursar ou não as disciplinas. E, também poderiam desistir das disciplinas caso assim achassem melhor, depois de iniciadas. Essa liberdade foi salutar pois o momento era (e ainda continua sendo) de muitas incertezas, dificuldades, pressões (do governo, da sociedade como um todo, dos estudantes, especialmente dos que precisavam se formar) e da carga-horária de trabalho do professor que aumentou absurdamente, nesse período. Antes mesmo do PLE (2º Semestre-2020) o corpo docente da Faculdade de Química (Faquim), do Instituto de Ciências Exatas (ICE), da Unifesspa, já havia disponibilizado formações para os estudantes e para os próprios professores para que estes pudessem realizar algumas atividades mesmo com todas as incertezas e dificuldades. Na Licenciatura em Química muitas disciplinas foram oferecidas, mas aqui vamos tratar apenas das mencionadas no início desse texto. A atividade de monitoria é parte fundamental da Proposta de Trabalho da Faquim, respondendo a instância do ensino, não deixando de compreender a pesquisa e a extensão como elementos que estão inter-relacionados. A prioridade do monitor é desenvolver atividades voltadas para o ensino, mas oferecendo a possibilidade de realização de Iniciação Científica na área do Ensino de Química. A integração entre ensino, pesquisa e extensão permeia o Plano Acadêmico da Faquim. Ser um monitor, antes de tudo, é ser um facilitador do aprendizado em sala de aula. A relação ensino-aprendizagem se realiza de forma especial e própria em cada sala de aula, em conjunto com os alunos e o professor. Entre as atividades previstas para a monitoria no curso de Licenciatura em Química da Faquim-ICE-Unifesspa, o monitor (remunerado e não remunerado) terá as seguintes responsabilidades e atribuições: 1) Colaborar com o professor na orientação dos alunos, na realização de trabalhos experimentais, e na elaboração de material didático para o uso em aulas teóricas, aulas práticas e teórico-práticas; 2) Participar de atividades que proporcionem o desenvolvimento de habilidades cognitivas e psicomotoras ou outras atividades inerentes a cada disciplina, em particular; 3) Participar do planejamento das atividades a serem desenvolvidas junto ao componente curricular; 4) Executar atividades pedagógicas previstas no projeto de monitoria; 5) Participar com o professor na execução e avaliação do plano de atividades da disciplina, objeto de monitoria; 6) Cadastrar, o relatório final, após o término da monitoria; 7) Participar do evento anual de monitoria, quando houver; 8) Exercer suas funções de monitor semanalmente com uma carga horária de 12 (doze) horas de trabalho acadêmico, sob orientação e responsabilidade institucional do professor-orientador, durante o período letivo; O grande desafio aqui tratado como nossa questão norteadora de pesquisa é como essa atividade poderia ser executada em plena pandemia, onde o professor possui um domínio mínimo das TIC, os estudantes não possuem uma boa conexão de internet e onde as incertezas eram muito maiores do que quaisquer planejamento, que se fizesse. Daí a importância do Professor reflexivo, fazendo a avaliação constante do processo de ensino-aprendizagem para adequar metodologia, organização dos espaços virtuais de aprendizagem e muitos outros fatores. Um grande desafio.

Material e métodos

Como o projeto de monitoria aqui relatado era também um projeto de pesquisa, precisava ser avaliado no final do processo. Desta forma, quanto a avaliação de todo o processo de monitoria ou seja das ações estabelecidas no Projeto de Monitoria e no Plano de Ensino da disciplina objeto da monitoria foram utilizadas as seguintes estratégias: 1) Registro de acompanhamento às atividades durante todo o curso, pelo professor da disciplina; 2) Relatório Final da Monitoria produzido pelos monitores, em cada disciplina, com os critérios a definir pelo professor da disciplina; 3) Enquete dos alunos da disciplina sobre as atividades de monitoria na disciplina. Para a execução do projeto de monitoria e no Plano de Ensino da disciplina objeto da monitoria também foram eleitas as seguintes atividades: a) Realização de reuniões (de forma virtual, pelo Google Meet) para discutir sobre as ementas, uma semana antes de iniciar cada disciplina, sua forma de aplicação, as estratégias de utilização das TIC para a materialização das disciplinas e a forma de avaliação de cada uma delas; b) Estudo de textos próprios das disciplinas; c) Planejamento (e replanejamento) das atividades de tempos em tempos em cada disciplina; d) Produção de artigo científico sobre o desenvolvimento das disciplinas, objeto das monitorias; e) Participação em evento próprio da monitoria ou outros relacionados (o que ainda não houve, justamente devido a pandemia, mas é uma atividade ainda a ser realizada); f) Acompanhar os alunos para ajudar na solução de problemas das disciplinas, sejam os propostos ou os imprevistos; g) Organizar estratégias para as aulas acontecerem de forma remota, com atenção aos instrumentos disponíveis e TIC possíveis de serem utilizadas por todos os sujeitos envolvidos no processo; h) Na última quinzena do último mês realizamos a avaliação geral das monitorias e foram construídos os relatórios do projeto de monitoria de cada disciplina. A pesquisa aqui apresentada possui um enfoque qualitativo com aportes teóricos e abordagem da pesquisa-ação, conforme discutido por Sampieri, Collado & Lucio (2013; p.514). Segundo os autores a finalidade desse tipo de pesquisa é justamente resolver os problemas do cotidiano e de forma imediata, o que se mostrou muito adequada aos objetivos do projeto de monitoria, em tempos de pandemia, aqui relatado, além de potencialmente melhorar as práticas de sala de aula (em atividade remota) nesse período de tantas incertezas.

Resultado e discussão

Um dos resultados do projeto descrito aqui em tela que apresentamos é a percepção sobre a experiência de monitoria a partir dos próprios monitores- autores. Nesse sentido os monitores são autores juntamente com o professor- pesquisador, mas também são sujeitos da pesquisa. Assim, a pesquisa além de ser uma pesquisa-ação é também uma pesquisa participante-participativa, onde os sujeitos da pesquisa são também autores, pois estão todos envolvidos com a ação, na ação e avaliando/refletindo sobre a ação. No Quadro 1 apresentamos algumas dessas percepções, colhidas a partir dos relatórios produzidos pelos monitores ao final das disciplinas. Quadro 1: A percepção da monitoria a partir dos monitores. Questões importantes Fala/percepções dos discentes monitores Questões relacionadas ao ensino remoto Um dos conhecimentos a serem atribuídos ao ensino remoto foi a possibilidade de se ter um melhor domínio de ferramentas digitais que podem auxiliar na aprendizagem, tanto dos alunos quanto dos professores; ferramentas essas que durante a formação docente podem ser incorporadas nas atividades de sala de aula. Outro ponto que condiz com os objetivos previstos da monitoria é a possibilidade de interação com os alunos que proporcionou uma melhor percepção quanto às habilidades que precisam ser desenvolvidas pelo discente monitor, como a organização do tempo, de atividades, disponibilidade de atendimento dos alunos e também como organizar essas demandas todas. M1 Quais as dificuldades enfrentadas pelos discentes atendidos pela monitoria? Os discentes tinham dificuldades para utilizar as ferramentas escolhidas para as aulas, como o Google Meet. Alguns não sabiam como entrar no aplicativo e não tinham conhecimento de como fazer o compartilhamento de tela para as apresentações de seminários. A conexão de internet também era um problema. Alguns moram longe da cidade e de pontos de internet mais estável. Dessa forma, em muitos momentos o sinal ficava intermitente ou ainda caia a energia. Outro ponto que é preciso destacar é o ambiente em que eles assistiam às aulas, pois, em muitos casos as casas dos alunos tinham muito barulho o que dificultava a atenção nas aulas. Além disso, alguns alunos começaram a trabalhar e não conseguiram conciliar as duas coisas: aulas síncronas e trabalho. M2 Houve discussão com o docente sobre as metodologias, conteúdos e ações a serem priorizados? Quais metodologias foram adotadas? Sim, a forma como a disciplina seria desenvolvida foi discutida anteriormente entre o docente e monitor e também com os próprios alunos, que iriam cursar a disciplina, onde foi levado em consideração as dificuldades de cada um nesse novo método de ensino. A disciplina ocorreu com apresentação de slides, atividades semanais, seminários, discussões sobre vídeos assistidos e artigos que foram passados para os alunos, dentro das temáticas da disciplina. M2 Faça um breve relato do trabalho desenvolvido. A monitoria foi um trabalho realizado com o intuito de colaborar com o professor e com os alunos, onde o monitor assistia as aulas dadas e comentava sobre os assuntos tratados no momento dividindo seus conhecimentos adquiridos por ter feito anteriormente a disciplina e também com uma ajuda mais técnica onde se ensinava como utilizar as ferramentas digitais na aula. M2 Pontos positivos da monitoria (principais resultados obtidos) Pudemos aprender um novo formato de aulas; houve releitura de um conteúdo de artigo; conhecimento a respeito de diversas ferramentas digitais; maior participação nas atividades e nas aulas. A possibilidade de começar a perceber como é se inserir com a responsabilidade de um professor em sala de aula, sendo esse um dos principais benefícios do Projeto de Monitoria. M2 Pontos negativos da monitoria (principais dificuldades encontradas). Os alunos matriculados na disciplina tinham dificuldades com as ferramentas de aula, e não sabiam como utilizar os aplicativos; a conexão de alguns deles não era boa não permitindo o acesso à internet de qualidade e outros não tinham nem mesmo o acesso; dificuldades de concentração em aulas em formato on line. Entre as dificuldades do monitor estava a procura pelos alunos em diversos horários e não no tempo agendado para tirar dúvidas, isso atrapalhava tanto na vida pessoal quanto na acadêmica. M2 (M1: Monitor 1; M2: Monitor 2) Outro resultado encontrado foi com relação a receptividade dos monitores nas salas virtuais, durante os encontros síncronos e no grupo do WhatsApp, onde a atuação deles foi bem registrada. A todo momento eram solicitados a ajudar a compreender um aspecto da disciplina, a dar informações sobre a entrega de algum trabalho, a elucidar alguma dúvida de como teriam de desenvolver uma temática ou realizar um exercício. Essa dinâmica foi de suma importância para que as disciplinas pudessem chegar ao final de forma produtiva e com o engajamento dos estudantes. E, também, dentro dos pressupostos e conceituações do Ensino de Química, onde encontramos uma área em franco desenvolvimento que precisa deixar as estratégias do passado e se adequar às novas realidades de ensino-aprendizagem para dar conta de um ensino que se quer mais eficiente, mais dinâmico e com maior engajamento dos alunos, o que é corroborado por Berton (2015, p. 26.554). As estratégias de ensino também devem aprimorar: o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o aprender a conviver e o aprender a ser (PRIESS, 2012). Primeiro o professor de química pode expor os conteúdos da Química, de maneira expositiva, mas de forma a incentivar os discentes a aprender a conhecer sem que se preocupem em decorar conceitos e sim em entender a essência do conceito que está sendo ensinado. No ensino da Química é muito importante trazer para dentro da sala de aula ou fazer experimentações em laboratórios específicos, proporcionando ao alunado a aprender a fazer. Com tudo isso os discentes aprendem a conviver, pois entendem também como estudar em equipe e se entusiasmam com esta ciência, e ao final têm-se profissionais que aprenderam a ser. Percebemos que a intersecção desses dois campos de estudos é de fundamental importância para o professor organizar o Ensino de Química da melhor forma possível, produzindo uma maior interação entre esse conhecimento e os educandos. E também, seguindo o Projeto Pedagógico do Curso de Graduação de Licenciatura em Química (UNIFESSPA, 2010): Formar educadores na área da Química, dotados de consciência crítica e espírito científico, capazes de elaborar e reconstruir o conhecimento de forma a intervir na realidade, tornando-se sujeitos de propostas próprias e aptos a participarem e contribuírem para o avanço democrático da sociedade brasileira (p.11). O Licenciado em Química deve ter formação generalista, mas sólida e abrangente em conteúdo dos diversos campos de Química, preparação adequada à aplicação pedagógica do conhecimento e experiências de Química e de áreas afins na atuação profissional como educador no ensino fundamental e médio (p.12). Apostamos que a Monitoria está de acordo com todas essas premissas, apontada acima podendo ser desenvolvida para melhorar ainda mais as atividades formativas da disciplina e do próprio licenciado monitor. Para Nascimento, Silva & Sousa (2010): a monitoria é compreendida como uma ferramenta para o progresso do ensino superior, através da construção de novas práticas e estratégias pedagógicas, com finalidade de potencializar o vínculo entre prática e teoria, com práticas transversais, a fim de um compartilhamento recíproco entres professores e alunos. Desta forma a monitoria, se for seguir os critérios apontados na literatura especializada pode ser uma importante ferramenta de auxílio ao professor, aos alunos e ao próprio monitor que se propõe a encampar essa atividade como estabelecido neste projeto. Uma monitoria bem-feita agrega valores ao ensino- aprendizagem e melhora as relações humanas tomadas em várias direções.

Conclusões

A monitoria é uma importante ferramenta que os cursos/disciplinas em todos os níveis de ensino e em todas as modalidades de educação precisam/devem/podem utilizar. Essa atividade promove aprendizado em todos os sujeitos envolvidos e é um importante mecanismo de formação de futuros professores. Frente a pandemia do Coronavírus, foi uma estratégia muito bem estabelecida pela Unifesspa, que permitiu uma distribuição de renda entre os estudantes, em um momento em que estes contavam com poucos recursos; permitiu um maior engajamento no ensino-aprendizagem, uma vez que esses estudantes voltavam as atividades com uma perspectiva maior de participação na sala de aula possibilitando uma experiência como “docente”, se materializasse. Para o professor em muitas disciplinas e em muitos cursos, foi um momento de compartilhar o planejamento dos conteúdos ministrados, trocar ideias com alguém que já tem um certo domínios desses, ser ajudado nas tecnologias da informação e comunicação (uma vez que os estudantes estão mais próximos dessas do que o professor, em muitos casos) e alguém para ajudar a acompanhar os alunos, no dia a dia. Para os estudantes permitiu um canal direto para tirar dúvidas, havendo um leque maior de opções e ainda um apoio no uso das tecnologias de comunicação e informação, que muitos ainda não dominam totalmente ou têm alguma dúvidas, em algumas delas. Uma experiência exitosa dessa natureza, onde todos os envolvidos ganham de alguma forma, é inestimável para o ensino-aprendizagem de ciência-química em muitas dimensões. O professor reflexivo deve fazer a sua reflexão do processo de ensino-aprendizagem, sempre: antes, durante e depois da aula. Ter a possibilidade de discutir com pessoas que embora não sejam o foco desse processo, mas o estão olhando bem de perto, ajudando no planejamento, acompanhamento e avaliação, é uma experiência de muito proveito. É preciso que haja mais monitores sempre, em todos os níveis de ensino, em todas as salas de aula.

Agradecimentos

Agradecemos a Unifesspa, Instituto de Ciências Exatas (ICE) e Faculdade de Química (Faquim), pela bolsa de monitoria mantida durante todo o projeto.

Referências

NASCIMENTO, C. R.; SILVA, M. L. P; SOUZA, P. X. Possíveis contribuições da atividade de monitoria na formação de estudantes-monitores do curso de pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Recife. UFPE, 2010. Disponível em: http://www.ufpe.br/ce/images/Graduacao_pedagogia/pdf/2010.1/possveis%20contribuies%20das %20atividades%20de%20monitoria%20na%20forma.pdf. Acesso em: 03 de outubro de 2020.

SAMPIERI, Roberto Hernández; COLLADO, Carlos Fernández; LUCIO, Maria del Pilar Baptista. Metodologia de Pesquisa. 5ª ed. Porto Alegre. Penso. 2013. 624p.

UNIFESSPA. Projeto Pedagógico do curso de Licenciatura Plena em Química. Marabá. Serviço Público Federal / Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará / Instituto de Ciências Exatas. 2010. 90p.

BERTON, Alessandra Novais Bassetto. A didática no ensino da química. EDUCERE – XII Congresso Nacional de Educação (PUC-PR-26 a 29/10/2015). 2015. p.26550-26559.