Autores

Sousa, W.O. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Lopes, D.B.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Duarte, A.R.C.L.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Martins, A.S. (SEDUC/PA) ; Dantas, K.G.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)

Resumo

Este trabalho teve como objetivo constatar a relevância tanto de se trabalhar o tema “ansiedade” sob o viés da química, quanto fazer uso das metodologias ativas de ensino-aprendizagem para tornar a aprendizagem mais significativa no contexto das aulas remotas durante a pandemia. Sendo assim, uma atividade sobre “As emoções sob uma perspectiva química” foi realizada de forma remota com alunos da E. E. E. F. M Prof. Manoel Leite Carneiro através do PIBID/UFPA. Os resultados mostraram uma contribuição para o ensino-aprendizagem e acrescentou significativamente na vida dos alunos. A análise da ansiedade e uso das metodologias ativas de ensino-aprendizagem constituíram abordagens imprescindíveis nas escolas, principalmente no cenário desafiador provocado pela COVID-19 e das aulas remotas.

Palavras chaves

Ensino-aprendizagem; Neurotransmissores; Ansiedade

Introdução

A saúde mental se relaciona diretamente com uma boa qualidade de vida, promovendo sentimentos como felicidade, disposição, bom humor, satisfação e autoconfiança para lidar com as adversidades (KIELING et al., 2011). Dessa forma, é de muita importância compreender e reconhecer como os adolescentes, indivíduo que está entre os doze e dezoito anos de idade (BRASIL et al., 2014), são afetados pelo isolamento social obrigatório, uma vez que eles experimentam maiores sentimentos de solidão, aflição, confusão e incompreensão das próprias emoções e sentimentos, de modo a acarretar efeitos negativos na saúde mental através de sintomas de ansiedade, depressão, distúrbios no sono e no apetite (YOSHIKAWA et al., 2020). Alguns dos principais fatores que causam o estresse estão relacionados à duração da quarentena, ao distanciamento social, à frustração, ao tédio, ao aumento e acúmulo de tarefas, incluindo a realização de atividades normalmente feitas fora de casa, à falta de suprimentos, informações confiáveis, má interação familiar, dificuldades econômicas e o uso intenso e inadequado das tecnologias de comunicação e informação (SILVA et al., 2020), sendo o uso intenso e inadequado da internet por si só um fator que já tem preocupado a sociedade pelos efeitos negativos que traz para a vida cotidiana, vida off-line, como por exemplo, as relações familiares (AYALA et al., 2015). Diante do contexto pandêmico é essencial que haja iniciativas principalmente partindo dos profissionais e envolvidos na área da educação que busquem ajudar os adolescentes a compreenderem de uma forma mais significativa e saudável como suas emoções, sentimentos e suas interações e consequências realmente funcionam e são estimuladas (DELLA et al., 2016). Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo demonstrar a importância do estudo da ansiedade na escola de ensino médio fazendo uso das metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Foram abordados fatores centrais relacionados às nossas emoções e sentimentos do ponto de vista bioquímico, desenvolvendo conceitos como matéria, moléculas, átomos, reações e equações químicas, psicoativos, hormônios e neurotransmissores, assim como, expôs de forma lúdica e interativa por meio de simulações virtuais em três dimensões (3D), a geometria molecular dos principais neurotransmissores envolvidos no processo de ansiedade como dopamina, serotonina, melatonina, Ácido gama-aminobutírico (GABA) e noradrenalina. Tudo isso com o propósito de uma melhor qualidade de vida para os educandos, de forma que possam tanto entender de forma mais significativa conceitos altamente relevantes dentro do estudo de química quanto compreender melhor suas emoções e sentimentos e dessa forma se fundamentar no estudo do tema para elaborar hábitos que possam ser mais saudáveis e venham a minimizar e evitar potencialmente o desenvolvimento da ansiedade e depressão.

Material e métodos

A atividade sobre “As emoções sob uma perspectiva química” foi efetuada de forma remota com duas turmas (Turma A e Turma B) do ensino médio da E.E.E.F.M Prof. Manoel Leite Carneiro, localizada no município de Belém- Pará. Por mais que o tema citado tenha sido desenvolvido em ambas as turmas ao decorrer do estudo, a metodologia aplicada foi diferente, visto que essa atividade sofreu alterações significativas antes de ser aplicada pela segunda vez, ou seja, a metodologia utilizada na execução do tema na Turma B teve a implementação das metodologias ativas de ensino-aprendizagem, assim como, melhorias pautadas na análise de dados obtidos da aplicação com a Turma A. A execução desta atividade se deu por meio do PIBID/UFPA. Os recursos utilizados em ambas as turmas foram a plataforma Google Meet, vídeos lúdicos no Youtube, o software Avogadro, slides e formulários no Google Forms, sendo que foram produzidos pelos bolsistas as simulações no aplicativo Avogadro, os slides e os formulários. A primeira execução da atividade ocorreu nos dias 15 e 29 de abril de 2021 com a Turma A e contou com a presença de um supervisor, dois bolsistas e nove alunos. Na primeira parte da aula, no dia 15, a atividade iniciou com um diálogo entre alunos e professores, onde pontos importantes como o atual cenário pandêmico, dificuldades em compreender emoções, assim como, ansiedade foram levantados. Depois a aula teve o seguinte percurso: os discentes resolveram um formulário diagnóstico acerca do tema ministrado, sendo seguido do “momento química” que foi um momento no qual se fez uso de recursos audiovisuais, slides e vídeos para desenvolver algumas definições importantes como moléculas, neurotransmissores e psicoativos. Na segunda parte da aula, no dia 29, a seguinte sequência foi realizada: apresentação dos principais neurotransmissores envolvidos nas emoções do cotidiano e no processo da ansiedade, sendo seguido pela exibição das suas funções no cérebro, assim como, as formas que estão relacionadas com a sua produção pelo corpo naturalmente, através da inclusão de hábitos saudáveis. Em seguida, houve um momento para retirar as dúvidas dos alunos, que foi sucedido pela finalização da atividade proposta, onde um formulário de caráter mais avaliativo foi fornecido e resolvido pelos alunos. A segunda execução do projeto, Turma B, também foi realizada em duas partes, nos dias 13 e 20 de maio de 2021. Na Turma B, a atividade contou com um supervisor, dois bolsistas e treze alunos. Foram feitas modificações na metodologia aplicada à Turma A, visando aumentar a participação dos discentes. As principais modificações na metodologia aplicada foram o aumento significativo na busca por interação professor-aluno durante toda atividade, a dedicação de mais tempo para trabalhar as definições mais essenciais e complexas do tema e o uso de mecanismos para reforço dos conteúdos desenvolvidos.

Resultado e discussão

Os resultados obtidos na Turma A foram referentes a análise de dados do formulário diagnóstico de seis alunos, enquanto apenas seis responderam o formulário final e que foi consequência de uma atividade em sua maioria desprovida das metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Por outro lado, os resultados obtidos na Turma B foram referentes a análise de dados do formulário diagnóstico e final de treze alunos e foi fruto de uma atividade que em sua maioria teve como uma das preocupações a aplicação das teorias ativas de ensino-aprendizagem. Os principais dados coletados pelo formulário diagnóstico com a Turma A podem ser observados de forma clara e concisa na Figura 1 (parte A), enquanto outros serão apresentados apenas no texto. Observando a Figura 1 (parte A) pode ser verificado que 66,67% da turma se considera ansiosa, 44,43% não possuem conhecimento dos fatores que causam ansiedade e 77,78% não conhece a relação da química com seus sentimentos e emoções. Outros dados que não se encontram nos gráficos, mas que ainda são referentes ao formulário diagnóstico são que 100% dos alunos se interessam pelo tema ansiedade, 100% não conhece a definição de neurotransmissores e 55,56% não possui uma boa relação com a química. Além disso, no questionamento “O que vem a sua mente quando pensa em química?” A resposta "Experimentos" se destacou marcando presença em 44,43% das respostas, onde as demais foram distintas entre si. Os dados mais relevantes coletados pelo formulário final com a “Turma A” podem ser observados na Figura 1 (parte B), onde pode ser visualizado que 66,67% dos educandos declararam maior preparo para manter ou iniciar hábitos que reduzam a ansiedade e 100% apontaram ter entendido a relação da química com suas emoções e sentimento. Por fim, por mais que os dados apontem uma certa satisfação da parte dos alunos com relação a aula, o formulário revelou que o conceito central da aula, neurotransmissores, não ficou claro para uma grande maioria 66,67% da turma, também podendo ser visto na Figura 1 (parte B). Uma vez mostrado os resultados da Turma A, desprovida de metodologias ativas de ensino- aprendizagem, os resultados obtidos na Turma B que teve como uma das preocupações a implementação das teorias ativas de ensino-aprendizagem serão apresentados. Os principais dados obtidos pelo formulário diagnóstico com a Turma B podem ser verificados de forma simples na Figura 2 (parte A), enquanto outros serão apresentados apenas no texto. Verificando a Figura 2 (parte A) pode ser visto que 76,67% dos discentes se consideram ansiosos, 15,38% não possuem conhecimento dos fatores que causam ansiedade e 30,77% não conhecem a relação da química com seus sentimentos e emoções. Os demais dados que são relevantes e não se encontram nos gráficos mostram que 92,31% se interessam pelo tema ansiedade, 61,54% não conhecem a definição de neurotransmissores e 53,85% não possuem uma boa relação com a química. Ademais, no questionamento “O que vem a sua mente quando pensa em química?”, os feedbacks indicaram que "Experimentos”, “Tabela Periódica” e “elementos químicos" se destacaram estando presente em cerca de 23,08% das respostas. Os dados mais relevantes coletados pelo formulário final com a Turma B podem ser observados na Figura 2 (parte B), onde pode ser visualizado que 100% dos alunos declararam maior preparo para manter ou iniciar hábitos que reduzam a ansiedade e 100% apontaram ter entendido a relação da química com suas emoções e sentimento. Enfim, o formulário indicou que a definição de neurotransmissores, conceito este central na aula, não ficou claro para apenas 30,77% da turma, informações essas que também podem ser acompanhadas na Figura 2 (parte B). Por meio da análise das respostas fornecidas pela turma A e B no questionamento “O que vem a sua mente quando pensa em química?” é possível perceber que a química ainda é fortemente relacionada à experimentos e, em grande maioria, com assuntos muito fechados e técnicos. Dessa forma, é importante que durante o ensino de química, os professores estejam atentos para que mostrem a real abrangência e interdisciplinaridade da química, uma vez que a mesma pode abordar áreas muito distintas, relevantes na atualidade e interessantes. Por exemplo, por meio da atividade “As emoções sob uma perspectiva química” foi possível verificar tanto que a atividade foi eficaz na tarefa de mudar de forma significativa a ideia mais tradicional relacionada a química, quanto contribuir na relação dos alunos com a química uma vez que 50% dos alunos da turma A e 38,46% da Turma B declararam que a ideia geral de química tinha sido modificada após o estudo e 83,34% da Turma A e 92,31% da Tuma B indicaram uma melhora razoável nas suas relações com a química. De modo geral, realizando uma comparação entre os resultados obtidos na turma A e B, pode ser observado que a implementação das metodologias ativas de ensino-aprendizagem na Turma B resultaram em respostas muito positivas em todos os requisitos avaliados, estando de acordo com o relatado na literatura.

Figura 1

Dados coletados com o formulário diagnóstico (parte A) e final da Turma A (parte B).

Figura 2

Dados coletados com o formulário diagnóstico (parte A) e final da Turma B (parte B).

Conclusões

O tema “ansiedade” abordado neste estudo, principalmente, sob uma perspectiva química foi considerado muito importante, interessante e essencial pelos alunos, sendo ele muito bem recebido pelos mesmos. Além disso, foi possível verificar que, uma vez desenvolvido com a utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem, os resultados obtidos apresentaram uma qualidade superior e mais significativa quando comparados às metodologias mais tradicionais de ensino, contribuindo com a formação de alunos mais preparados para viver em sociedade, cidadãos mais críticos, reflexivos e autônomos. Além disso, a utilização da metodologia aplicada ao tema demonstrou ser eficiente no processo de contribuir na relação dos alunos com a química e de realizar mudanças no paradigma que os alunos possuem sobre a química.

Agradecimentos

À CAPES e ao PIBID/UFPA.

Referências

AYALA-LÓPES, M. C. L. DE, GUTIERREZ, J. C., & GARCIA-JIMÉNEZ, A. (2015). Problematic internet use among spanish adolescents: the predictive role of internet preference and family relationships. European journal of communication, 30(4), 470-485. DOI:10.1177/0267323115586725
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DELLA MÉA, CRISTINA PILLA; BIFFE, ELIANE MARIA; FERREIRA, VINÍCIUS RENATO THOMÉ. Padrão de uso de internet por adolescentes e sua relação com sintomas depressivos e de ansiedade. Psicologia revista, v. 25, n. 2, p. 243-264, 2016.
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SILVA, H. G. N.; SANTOS, L. E. S.; OLIVEIRA, A. K. S.; efeitos da pandemia no novo coronavírus na saúde mental de indivíduos e coletividades. J. Nurs. Health. 2020;10(n.esp.):e20104007
YOSHIKAWA, H.; WUERMLI, A.J.; BRITTO, P.R.; DREYER, BREYER, B.; LECKMAN, J.F.; LYE, S.J.; ET AL. Effects of the global coronavirus disease-2019 pandemic on early childhood development: short- and long-term risks and mitigating program and policy actions. J pediatr., v, 233, p. 188-193, 2020.