Autores

Favacho Ribeiro, A. (UFPA – CAMPUS ANANINDEUA) ; do Socorro Ramos Gatinho, K. (E.E.E.F.M. LUIZ NUNES DIREITO) ; Beltrão Franco, A.R. (UFPA – CAMPUS ANANINDEUA) ; da Silva de Souza, G. (UFPA – CAMPUS ANANINDEUA) ; de Jesus Sousa, N. (UFPA – CAMPUS ANANINDEUA)

Resumo

O presente trabalho discorre sobre os resultados de uma pesquisa-ação realizada em uma turma do 1º ano do Ensino Médio, cujo objetivo foi apresentar instrumentos alternativos que foram usados no ensino de Reações Químicas, visando auxiliar docentes no processo de reelaboração de atividades experimentais, adequando-os para o ensino remoto, em virtude da pandemia da COVID-19. Sendo assim, este estudo, foi desenvolvido com materiais de baixo custo, fácil aquisição, e para facilitar o diálogo com os alunos, os experimentos foram realizados via Google Meet. Pela análise dos questionários aplicados notou-se um maior entendimento do assunto. Diante disso, verifica-se que, a realização de atividades experimentais, durante o ensino remoto, é importante no ensino- aprendizagem de química.

Palavras chaves

Reações químicas; ensino remoto; atividades experimentais

Introdução

O ensino de química, principalmente sua prática experimental, durante o ensino remoto, tem se tornado desafiador. Mediante a necessidade do distanciamento social, a reestruturação do processo de ensino-aprendizagem tornou-se mais necessária. Por conta deste decurso, muitas instituições de ensino, públicas e privadas, que aderiram ao Ensino Remoto Emergencial (ERE), encontram dificuldades em acompanhar essa eventual mudança. Em meio a este cenário, os professores acostumados à sala de aula presencial tiveram que se reinventar, pois a grande maioria não estava preparada e nem capacitada para isso (ANDRADE, PINHEIRO e PINHEIRO, 2020). É importante ressaltar que, o conceito de “Ensino Remoto” é diferente do de “Educação a Distância”, ainda que as ideias estejam próximas e que em ambas, utilizem-se recursos digitais. De acordo com Moore e Kearsley (2007), além do uso de tecnologias e da temporalidade diferenciada do processo, um curso é considerado como EaD quando existe a presença de professores e alunos que se encontram em um espaço virtual (predominantemente) organizado a partir de pressupostos didático- pedagógicos propostos para tal fim, que orientam a proposição de atividades e sua avaliação subsequente. Dessa forma, verifica-se que tal definição difere do conceito de Ensino Remoto apresentado por Bozkurt e Sharma (2020), que se referem ao ensino remoto como uma solução temporária para uma problemática que se instala de modo imediato. Portanto, entende-se como ensino remoto, aquele que deu início por uma necessidade de suspensão das aulas presenciais. Com a suspensão das aulas presenciais, Rodrigues e colaboradores (2021) reforçam que a migração de professores e estudantes para as plataformas de ensino remoto trouxe novos desafios. A pandemia causada pelo novo corona vírus exigiu a adoção de metodologias alternativas que, até então, não era utilizada por grande parte dos professores. Fundamentado nessa temática, o presente trabalho teve por finalidade frisar a importância da prática experimental como um meio comprobatório, prático e até mesmo lúdico dos conteúdos estudados na disciplina de química. Dessa forma, objetivo foi apresentar instrumentos alternativos usados no ensino do conteúdo de Reações Químicas com o intuito de auxiliar docentes no processo de reelaboração de atividades experimentais, demonstrando que, mesmo com a ausência de laboratórios, é possível a realização de experimentos por meio do ensino remoto, utilizando e adaptando materiais de baixo custo e de fácil aquisição.

Material e métodos

O cenário atual gerou o questionamento de como seria o ensino-aprendizagem dos alunos na disciplina de química durante o ensino remoto. Dessa forma, o trabalho teve início a partir da necessidade de saber mais sobre o assunto. Logo, iniciou-se uma pesquisa visando obter o máximo de informações de acordo com questionário previamente aplicado. O projeto foi executado em uma turma do 1º ano do Ensino Médio da escola E.E.E.F.M Luiz Nunes Direito, no município de Ananindeua-PA. A coleta de dados foi obtida durante as aulas remotas de química, as quais foram realizadas por meio de ferramentas como o Whatssap, o Google Suit e o Google Meet. Dessa forma, a aula foi ministrada por meio da plataforma de videoconferência Google Meet, para que houvesse um diálogo diretamente com os alunos, além da possibilidade de apresentar slides e experimentos previstos nesta pesquisa. O tema abordado na aula foi “Reações Químicas”. Para a execução deste assunto, usou-se slides para a apresentação dos conceitos de forma teórica e alguns materiais de baixo custo e de fácil aquisição para a realização de quatro experimentos, conforme os descritos a seguir. Além disso, para obter registros dos resultados desta pesquisa, foram aplicados durante a aula, dois formulários, um no início e o outro antes do término da aula. O primeiro experimento consistia em uma atividade com uma folha de papel, visando explicitar os conceitos de reações físicas e químicas. Nessa atividade, o papel foi amassado e os alunos indagados de qual fenômeno se tratava. Após a exposição dos conceitos, o papel foi queimado e se repetiu a pergunta. O segundo, referia-se a uma reação química entre balas de mentos e um refrigerante tipo cola. Neste, foram colocadas três balas de mentos dentro do refrigerante, resultando em um jato explosivo. Nessa experiência, o intuito era demonstrar aos alunos de forma prática outras evidências de reações químicas. A terceiro experiencia, consistia em uma reação endotérmica, usando uma vela, uma colher e um pouco de açúcar. Neste experimento, a vela foi acesa e foi colocado uma pequena quantidade de açúcar na colher e pôs sob a vela. Com absorção de calor o açúcar foi derretido. E então foi explicado aos alunos o motivo desse acontecimento. Para o último experimento, usou-se bicarbonato de sódio, vinagre, uma vela, e dois fundos de garrafas PET, usados como recipiente. Nessa atividade, o principal objetivo era esclarecer aos alunos como ocorre uma reação exotérmica. Dessa forma, com a vela acesa foi feito um teste em branco. Ao observar que nada aconteceu, foram adicionados vinagre e bicarbonato de sódio em uma das garrafas PET. Feito isso, foi transferido para a outra garrafa, o gás carbônico resultante da mistura, em seguida, o gás foi despejado sob a vela acesa, que rapidamente se apagou. Feito isso, foi exposto o motivo da reação.

Resultado e discussão

Vale ressaltar que a pandemia fez imperar uma ausência muito forte de discentes no ensino remoto. Apesar disso, o trabalho recebeu resposta dos questionários dos discentes que estudavam na turma em pesquisa. O questionário prévio aplicado aos estudantes, no início da aula, consistiu em perguntas com o objetivo de analisar as percepções dos alunos a respeito da disciplina de Química e do seu conteúdo no ensino remoto. Ao serem questionados se gostavam de estudar essa disciplina, cerca 14% dos entrevistados disseram que gostam, assim como o mesmo valor disseram que não gostam de estudar química. Por outro lado, mais de 70% dos entrevistados revelaram que gostam apenas um pouco dessa disciplina, conforme o Gráfico A na figura 1. Quando questionados sobre o que achavam da disciplina de química, foi possível identificar que por mais que os alunos achem importante e interessante, eles a consideram difícil. Como observa-se a seguir, as respostas de alguns alunos reforçam esse entendimento. Aluno A: “Acho interessante, porém difícil.” Aluno B: “Eu acho interessante, mas é muito difícil entender algumas coisas, agora que estou entendendo certas coisas, porém ainda acho difícil.” Aluno C: “Acho uma disciplina importante diferente de outras.” Quando perguntados se havia dificuldades em aprender essa disciplina no ensino remoto, todos responderam que sim. Pois além das dificuldades com relação à internet, muitos apresentam dificuldades no conteúdo em si. Como observa-se a seguir: Aluno A: “No início eu tive muita dificuldade por causa que eu não tinha muito contato com essa matéria, eu não estudava frequentemente ela, então no início foi bem difícil de entender só que agora eu já sei o básico e consigo entender mais do que antes.” Aluno B: “Sim, pois além da disciplina ser difícil para a minha compreensão, eu não consigo tirar algumas dúvidas.” Aluno C: “Sim, pra entender o conteúdo é praticar.” Considerando as respostas dos alunos, é perceptível um interesse pela disciplina, em paralelo a dificuldade de compreender a mesma. Isso nos leva a refletir sobre a importância da aplicação de métodos experimentais, pois, se estes conseguem facilitar o aprendizado aumentamos a probabilidade de sucesso no processo de ensino e aprendizado. Pode-se afirmar que grande parte da dificuldade dos discentes está no fato da disciplina de química não trabalhar com questões palpáveis (pelo menos no tocante ao ambiente escolar), e, nem sempre este tem consciência que sua dificuldade estar relacionada a isso, o que certamente, dificulta mais auxiliá-los. Com a aplicação de experimento a dinamicidade da aula aumenta, assim como a resposta positiva por parte dos estudantes que passam a visualizar de forma prática o que aprenderam apenas por teoria. Monteiro e autores (2013) reforçam esse pensamento de que o uso de experimentos, tanto em laboratórios quanto em sala de aula, no processo de ensino-aprendizagem, seja para demonstração, ilustração ou construção de conceitos químicos, quando utilizado para fins pedagógicos, torna-se uma ferramenta fundamental no ensino dessas ciências. Como os discentes já haviam tido contato prévio com o conteúdo ministrado na aula, durante as aulas presenciais, eles não apresentaram dificuldades com o assunto Reações Químicas. Dessa forma, quando indaga-se sobre o que entendiam a respeito de Reações Químicas e se saberiam citar alguns exemplos presentes no seu dia a dia, todos conseguiram demonstrar domínio no assunto. Antes do término da aula, os alunos foram indagados, por meio do segundo questionário, se haviam gostado dos experimentos realizados durante a aula, e todos demostraram plena satisfação. Conforme o Gráfico B na figura 1. Quando questionados se no ensino remoto deveriam ser desenvolvidas aulas práticas como a realizada, os alunos responderam que sim, pois além da aula ficar mais divertida, facilita a compreensão dos assuntos abordados. Nota-se que as respostas dos alunos e os dados obtidos apontam a prática experimental no ensino remoto como um mecanismo facilitador e potencializador do processo de ensino-aprendizagem, como observa-se nas falas a seguir: Aluno A: “Sim, pois a aula fica mais divertida e melhor de entender” Aluno B: “Sim, porque fica mais detalhado para gente entender. E mostrado em uma imagem é muito diferente de como se a gente tivesse realmente fazendo.” Aluno C: “Sim. Porque fica entediante o tempo todo as aulas teóricas, é bom na prática de vez em quando”. Sobre os experimentos, também é importante fazer algumas ponderações. Começando pelo experimento da “Folha de Papel”, que consiste primeiramente em amassar a folha de papel mudando por completo seu formato, e depois desamassá-la para demonstrar como ela continua sendo uma folha de papel, logo não sofreu nenhuma reação química. Em seguida aproxima-se a folha de uma chama qualquer, para demonstrar como ao entrar em combustão passa ase tornar um material totalmente diferente, caracterizando assim uma reação química. Esse primeiro experimento, por ser simples e acessível, atende por completo as necessidades do trabalho aqui proposto. Certamente todos os estudantes já sabem previamente o que vai acontecer quando a folha de papel for amassada e depois quando se atear fogo a ela. Mas, levados a reflexão podem constatar de forma prática o que é uma reação química e diferenciar quando uma ocorre ou não. O experimento do “Refrigerante de Cola com Mentos” consiste em adicionar o doce Mentos em uma garrafa de refrigerante de Cola até que aconteça uma reação química na qual o líquido começa a jorrar em forma de espuma. A bala de mentos é mais densa que o refrigerante, por isso vai para o fundo, é cítrico aumentando a concentração de gás carbônico, ela possui uma superfície irregular e buracos minúsculos, aumentando a tendência de provocar bolhas. Já no caso de refrigerante diet ou light, que não leva açúcar na fórmula, as bolhas têm mais liberdade para se expandir. No experimento do “Açúcar e Fogo” coloca-se uma porção de açúcar numa colher e aproxima-se a mesma de uma chama, para demonstrar como quando exposto ao calor o açúcar muda sua consistência. É devido a oxidação do açúcar. A sacarose perde água, durante a fundição do açúcar, e se transforma em anidridos de glicose e anidridos de frutose ou glicosanos e levulosanos. Os ácidos formados são responsáveis pelo novo aroma e cor dada ao caramelo. A nova cor marrom dada ao caramelo é devida à formação de polímeros com pigmentos chamados de melanoidina. Fatores que influenciam na produção de caramelos são os ácidos carboxílicos, alguns metais e o pH básico ou ácido. Por fim, na experiência com “Vinagre e Bicarbonato de Sódio” acende-se uma vela, mistura-se em um recipiente vinagre e bicarbonato de sódio e enquanto estes reagem fecha-se o primeiro recipiente com o outro vazio. Em seguida aproxima-se o recipiente vazio da chama da vela, a qual se apaga. O CO2, produto da reação entre o bicarbonato de sódio e vinagre (ácido acético) é mais denso que o ar, assim ele pode ser "derramado" sobre as velas cortando o suprimento de oxigênio que é essencial para a combustão. Ao final da aula percebe-se que os estudantes compreenderam bem o assunto, impressão confirmada pelas respostas no segundo questionário. Isso serve como indicador de sucesso do método experimental, e é importante salientar que, a longo prazo, esta metodologia garante uma formação adequada no tocante a compreensão do que é ciência, e de seus conceitos mais básicos. Visto que assim, os alunos passam a ser agente responsável pelo seu próprio conhecimento, pois de acordo com Demo (2004), através de uma aprendizagem criativa e atrativa os estudantes deixam de ser meros espectadores e passam a ser protagonistas de seu próprio saber.

Figura 1: Gráficos A e B



Figura 2: Imagens dos Experimentos Realizados



Conclusões

Considerando os dados obtidos desta pesquisa, conclui-se que mesmo na ausência de laboratórios, a prática experimental mostra-se eficiente no processo de ensino- aprendizagem do aluno. Tal prática, pode ser desenvolvida usando apenas materiais de baixo custo e de fácil acessibilidade. Dessa forma, é necessário que o professor dei espaço a essa metodologia. São desenvolvidos ao longo dos anos, muitos estudos a respeito da importância das práticas experimentais. No entanto, existe uma resistência por parte dos educadores em executar tais práticas. Diante disso, nota-se que barreiras ainda precisam ser rompidas. Com a pandemia da COVID-19, o rompimento de tais barreiras tornam-se ainda mais necessário. Visto que, os dados obtidos por meio dos questionários aplicados, evidenciam que a experimentação de forma remota e o ambiente virtual de aprendizagem, possui um papel fundamental quando acompanhada de uma reflexão sobre sua aplicação. Além de contribuir para melhor compreensão de teorias estudadas. Embora, diante da situação em que a educação se encontra, o uso da experimentação, utilizando-se de materiais de fácil acesso e baixo custo, torna-se uma ferramenta valiosa. Por fim, evidencia-se que esta experiência foi bem-sucedida de modo que os discentes desenvolveram a habilidade de relacionar os conceitos abordados na química partindo da experimentação. Além de se sentirem mais motivados a perguntarem, expondo desta maneira dúvidas e alegrias.

Agradecimentos

A Deus, a família, ao PIBID junto ao projeto LABINFRA pela oportunidade de atuar em sala de aula de forma remota, e aos parceiros no projeto.

Referências

ANDRADE V. F.; PINHEIRO Thales A; PINHEIRO Thaisa A. Aulas práticas de química online no processo de ensino e aprendizagem em tempos de pandemia. In INTEGRA EDA. 2020. Mato Grosso do Sul. Anais...Mato Grosso do Sul: UFMS, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufms.br/index.php/IntegraEaD/issue/view/601. Acesso em: 20 jun. 2021.

BOZKURT, Aras; SHARMA, Ramesh Chander. Emergency Remote Teaching in a Time of Global Crisis Due to Coronavirus Pandemic. Asian Journal of Distance Education, Nova Deli, v. 15, n. 1, p. 1-6, 2020. Disponível em: http://asianjde.org/ojs/index.php/AsianJDE/article/download/447/297. Acesso em: 20 jun. 2021.

DEMO, P. Pesquisa como princípio educativo na Universidade. In: MORAES, R., LIMA, V. M. R. (orgs.). Pesquisa em Sala de Aula: tendências para a Educação em Novo Tempos. 2 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, p. 51-86, 2004.

MONTEIRO, I.G.S.; SALES, E.S.; LIMA, K.S. (2013). Experimentos em sala de aula: minimizando barreiras do ensino da Química. In: VII Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, Anais do VII EDUCON, Sergipe, UFS, p, 2-3, 2013.

MOORE, Michael Grahame; KEARSLEY, Greg. Educação a Distância: uma visão integrada. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

RODRIGUES, et al. Recursos didáticos digitais para o ensino de Química durante a pandemia da Covid-19. RESEARCH, SOCIETY AND DEVELOPMENT, v. 10, n. 4, e22710413978, 2021 (CC BY 4.0). ISSN 2525-3409. Disponível em: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i4.13978. Acesso em: 20 jun. 2021.