Autores

Parente, A.G.L. (UFPA) ; Maciel, E.P. (UFPA) ; Ferreira, G.L.A. (UFPA) ; Lopes, L.C.S. (UFPA)

Resumo

O processo de construção de recursos didáticos é uma possibilidade de realizar investigação sobre a própria prática e este pode se constituir em espaço de (auto)formação. Objetivamos responder sobre “como a criação de um recurso didático pode se constituir num espaço de aprendizagem e de pesquisa para o professor?” Tal resposta implica considerar ideias teóricas como pesquisa narrativa, pesquisa sobre a prática pedagógica, (auto)formação, texto de campo, texto de pesquisa. Observamos influencias, possibilidades e parcerias entre universidade e escola não só pela proposição de materiais didáticos novos, mas nas mudanças da prática de cada professor que se desafia na construção de um recurso didático. Essa mudança é dinâmica e complexa, mas pretende ser duradoura e catalisar outras.

Palavras chaves

(Auto)formação; Pesquisa narrativa; Recurso didático

Introdução

Pesquisar sobre a própria prática exige condições específicas e o compromisso com tarefas novas que não se reduzem ao ensino, mas acreditamos que operam mudanças neste e repercutem na aprendizagem dos estudantes (ANDRÉ, 2016; GATTI et al., 2019). O processo de construção de recursos didáticos é uma possibilidade de realizar investigação sobre a própria prática e este pode se constituir em espaço de (auto)formação. A (auto)formação se origina da necessidade de um modelo de formação que situa o professor, suas ideias, interesses e motivações no centro do processo formativo, entendo que “a ação educativa só adquire capacidades formadoras quando consegue interagir com uma certa lógica de evolução pessoal de cada um” (NÓVOA, 2010, p.172). Quando a pesquisa está orientada para a (auto)formação as experiências formativas e profissionais são propulsoras das ideias iniciais que nortearão a processo de criação, bem como sinalizam focos de investimento teórico imprescindíveis para a aprendizagem e reflexão crítica dos envolvidos. Por assumir a experiência como foco, a pesquisa narrativa se constitui uma opção teórica e metodológica para estudos (auto)formativo de produção de recursos didáticos, que visam interpretar sobre os sentidos gerados nas vivências de professores que cooperam uns com os outros, colaborativamente. Objetivamos responder a pergunta: “como a criação de um recurso didático pode se constituir num espaço de aprendizagem e de pesquisa para o professor?” É no âmbito do ensino superior e do mestrado profissional em Docência em Educação em Ciências e Matemática que se concretizam nossas aprendizagens colaborativas de produção de recursos didáticos.

Material e métodos

Desde seu início, toda pesquisa narrativa é orientada autobiograficamente. Nesse sentido, são conceitos teóricos, os termos e as dimensões da pesquisa. Assim, toda experiência configura-se no espaço tridimensional da pesquisa, sendo esta constituída de três termos. São termos: a continuidade (presente, passado e futuro) a interação (pessoal e social) e o lugar (situação). Além dos termos, as direções introspectivo, extrospectivo, retrospectivo e prospectivo (CONNELLY; CLANDININ, 2011). Tais conceitos teóricos auxiliam a produção dos textos de campo e textos de pesquisa. Mas transformar os textos de campo em textos de pesquisa requer interpretá-los, construir sentidos sem descuidar de sua relevância. Isto requer relacioná-los com discussões teóricas, tematizando os textos de campo, produzindo linhas narrativas que expressam tensões, dilemas, sonhos, aprendizagens. A pesquisas têm se configurado como momentos de um processo contínuo, no qual podem ser suscintamente descritos: a) Produção de textos de campo: são registros produzidos pelos pesquisadores que contem evidências ou aspectos da experiência de campo. Temos produzido textos de campo com base na memória dos envolvidos sobre suas práticas formativas e pedagógicas. Também temos construído textos de campo nas seções de criação do recurso didático, estes gravados integralmente. Pretendemos também compor textos de campo nas seções de apresentação e avaliação do recurso didático por professores. b) Produção de textos de pesquisa: Os textos de pesquisa se originam a partir da interpretação dos textos de campo. As interpretações relacionam-se aos próprios interesses que movem a produção do recurso didático. Tais interpretações estão alinhadas a uma compreensão de Educação Científica (CACHAPUZ, 2016).

Resultado e discussão

Ao assumir a pesquisa narrativa temos transformado o processo de criação de recursos didáticos em um espaço de aprendizagem e de pesquisa sobre a própria prática. Como espaço de pesquisa sobre a própria prática situamos a criação de textos de campo. Estes têm se organizado tanto a partir das memórias quanto das vivências que construímos coletivamente nas seções de criação, cooperativamente/colaborativamente entre orientandos e orientadora. As memórias de formação evidenciam momentos singulares das histórias de cada professor, seus planos, inquietações, dúvidas e aprendizagens. Nas memorias de aulas emergem as experiências concretizadas em espaços de ensino diversificado, os propósitos estabelecidos, as relações construídas com os estudantes e com outros professores/profissionais. São a partir dessas memórias que indicamos o estudo aprofundado de aspectos teóricos relativos à formação, às abordagens de ensino e/ou concepções de aprendizagem. Também buscamos problematizar sobre assuntos que importam para Educação Cidadã (por exemplo: Alimentação, Água, Consumismo). As vivências de construção coletiva do recurso demonstram o engajamento dos envolvidos no processo criativo, deste o estudo do assunto que será abordado, a definição da natureza do recurso (um experimento investigativo, um jogo, uma sequência) e a apresentação de um protótipo. Elas são desafiadoras para todos, pois importa um recuso didático que incentive o interesse, a curiosidade e aprendizagem dos envolvidos. Os textos de pesquisa são construção que se originam da interpretação dos textos de campo. Essas interpretações primam pela investigação dos sentidos da experiência vivida, que inclui tanto as memórias do autor principal do recurso quanto as vivências de produção colaborativamente projetadas.

Conclusões

Pesquisar narrativamente o processo de construção de um recurso didático tem se constituído para nós um espaço de (auto)formação, de aprofundamento e debates na direção da pesquisa sobre a própria prática. Observamos influencias, possibilidades e parcerias entre universidade e escola não só pela proposição de materiais didáticos novos, mas nas mudanças da prática de cada professor que se desafia na construção de um recurso didático. Essa mudança é dinâmica e complexa, mas pretende ser duradoura e catalizadora de outras mudanças no espaço escolar e na própria universidade.

Agradecimentos

Referências

ANDRÉ, Marli. Formar o professor pesquisador para um novo desenvolvimento profissional. In: Práticas inovadoras na formação de professores. Papirus Editora, 2018. p. 17-34
CACHAPUZ, António F. Cultura científica e defesa da cidadania. 2016. Campo Abierto, v. 35, n. 1, p. 3-12, 2016
CONNELLY, F. Michael; CLANDININ, D. Jean. Pesquisa narrativa: Experiência e História em Pesquisa Qualitativa. Tradução Grupo de Pesquisa narrativa e Educação de Professores ILEEL/UFU, Uberlândia: EDUFU, 2011.

GATTI, Bernardete Angelina; BARRETTO, Elba Siqueira de Sá; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de; ALMEIDA, André Patrícia Cristina Albieri de. Professores do Brasil: novos cenários de formação. Brasília: UNESCO, 2019.

NÓVOA, António. A formação tem que passar por aqui: as histórias de vida no Projeto Prosalus. O método (auto) biográfico e a formação. Lisboa: Ministério da Saúde, p. 107-130, 1988.