Autores

Duarte Nogueira, P.A. (UFAM/ INPA) ; Cativo dos Santos, H. (UFAM/ INPA) ; da Silveira Pio, M.C. (IFAM)

Resumo

A execução de uma proposta de intervenção na disciplina de química em uma escola de ensino médio no interior do estado do Amazonas é descrita neste trabalho. Um laboratório de ciências foi criado para realização de aulas práticas. Realizou-se atividades com turmas de 3ª série, tendo como objetivo ampliar o interesse dos estudantes, visando melhorar suas percepções sobre os fenômenos químicos e físicos, e suas médias (notas) na disciplina. Os resultados foram aferidos por meio da aplicação de questionários com o intuito de medir o grau de interesse dos alunos pelas aulas de química. Estes resultados mostraram que houve uma pequena elevação no rendimento e no interesse dos mesmos pela disciplina, estando de acordo com as hipóteses e objetivos do projeto.

Palavras chaves

Intervenção; Atividades pratica; Aula diferenciada

Introdução

Um dos principais desafio no ensino da química, é o de buscar diferentes métodos que facilitem a aprendizagem, para que os alunos desenvolvam competências e habilidades necessárias para a sua formação. Além disso que seja capaz de construir uma ponte entre o conhecimento escolar e o cotidiano dos alunos. A ausência desta relação é responsável por elevar o desinteresse pelo conhecimento químico, distanciando alunos e professores (VALADARES, 2001). Entretanto, a maioria dos profissionais da área que trabalham lecionando no ensino médio, afirmam que esta situação se dá devido à falta de um laboratório ou de equipamentos que permitam a eles desenvolverem estas atividades no cotidiano (QUEIROZ, 2004, MORETO, 2007). Nesse contexto, as atividades experimentais são muito úteis neste processo, isso quando bem elaboradas e aplicadas, possuindo objetivos claros, sempre voltados para o cotidiano dos alunos (GIORDAN, 1999 e SANTANA, 2011). Atualmente observa-se que a realidade de muitas escolas nos grandes centros urbanos vem melhorando gradativamente no que se refere ao uso do laboratório de química. Entretanto, nos municípios interior e mais especificamente no Amazonas, esse tipo de aula ainda são raras. O que é propiciado pela ausência de laboratórios, equipamentos e reagentes, bem como de profissionais qualificados. Dentro desse contexto, realizou-se uma intervenção junto a escola estadual professor José Paula de Sá, com o intuito de transformar uma sala de aula comum em um laboratório de química. Esse projeto foi desenvolvido como parte do estágio da segunda licenciatura de química do PARFOR-IFAM. A obra foi realizada com recursos do Programa Ensino Médio Inovador-PROEMI. O projeto de intervenção foi realizado em quatro etapas, que coincidiram com as etapas do estágio supervisionado. A primeira foi implantar o laboratório de ciências, a segunda foi instrumentaliza-lo, a terceira foi o desenvolvimento das aulas experimentais e a quarta, e não menos importante, foi a de aferir o rendimento do aprendizado de química.

Material e métodos

O trabalho foi desenvolvido na escola estadual professor José Paula de Sá, no município de Nova Olinda do Norte, estado do Amazonas, entre os anos de 2014 e 2016. A metodologia utilizada foi pesquisa-ação, com obtenção de dados de forma quantitativa. Foi aplicado um questionário semiestruturado, como perguntas objetivas fechadas, à 72 alunos de 4 turmas da 3ª série do Ensino Médio Regular, dos quais 51% eram do sexo masculino e 49% do feminino. A idade da maioria dos entrevistados variou entre 16 e 19 anos, sendo que esta faixa etária está de acordo com o que prevê o plano de educação. Este projeto teve início com o estágio supervisionado I, com a obtenção de verbas e o local para o projeto. Em seguida as obras de reforma tiveram inicio (fase de implantação). A sala possui 6m de largura por 8m de comprimento, onde foram construídas bancadas medindo 0,8m de largura por 6m de comprimento, um lavatório do tipo expurgo para vidrarias e outros equipamentos. Foi instalado um chuveiro de emergência e deixou-se um espaço para a colocação de uma capela com exaustor, para a realização das reações que envolvem liberação de gases tóxicos. Na primeira fase (fase de implementação), foram adquiridos algumas vidrarias e alguns equipamentos de laboratório como balança semi-analítica digital, pHmetro digital, suportes universais, homogeneizador, geladeira e armários de metal. Está em processo de analise, a liberação da segunda parcela das verbas, as quais serão utilizadas para aquisição dos demais equipamentos, vidrarias e reagente. A avaliação se deu através do grau de envolvimento dos alunos e do grau de interesse despertado nos discentes buscando entender e explicar os fenômenos observados nos experimentos. Para tanto foram aplicados alguns questionários aos alunos das quatro 3ª séries do turno vespertino que participaram das aulas teóricas e praticas durante o projeto. A escolha das turmas, foram feitos por possuírem o mesmo professor de química, bem como por serem turmas que ainda não estavam sendo assistidas por aulas praticas no laboratório. No primeiro momento os alunos foram apresentados aos equipamentos de proteção individual, as normas e regras de segurança que são adotas ao entrem no laboratório. Também, foram apresentados os equipamentos, vidrarias e reagentes que seriam usados nas aulas, e os devidos cuidados que se deve tomar ao entrarem em contato com eles. No segundo momento, foram realizados alguns experimentos para os alunos, realizadas em parcerias com o professor de química. No momento seguinte, foi realizado um debate sobre os experimentos em algumas turmas, onde se pode notar o crescente interesse pela química e pelos experimentos realizados. Observou-se as notas bimestrais para se certificar se houve ou não alguma melhora no rendimento das turmas avaliadas. É importante ressaltar que o fato de possuir um laboratório amplia as chances de realização dos experimentos e facilita o desenvolvimento deste tipo de atividade.

Resultado e discussão

Quando questionados sobre a frequência de aulas praticas de química 51% responderam que estão sendo aplicadas regulamente os outros 49% responderam que não gostaria de mais aulas praticas de química. Isso pode está relacionado com a quantidade de alunos no laboratório em apenas uma aula, o que de certa forma está prejudicando a absorção da aula. Ou até mesmo pode ser que algumas turmas estejam sendo melhores assistidas, em relação à quantidade de aulas praticas da disciplina, do que outras. Isto está de acordo com o que afirma Pinheiro (2012), que os professores de Química, muitas vezes, perdem o estimulo de ministrar aulas praticas, para algumas turmas devido a falta de interesse e indisciplina dos alunos. Segundo ele os alunos estão envolvidos, de forma esmagadora, pelos meios de comunicação e pelas tecnologias atuais não conseguindo se concentrar nas aulas, mesmo estas sendo praticas e motivadoras, o que gera uma concorrência desleal para com aulas de qualquer natureza. (p. 174) Ao serem perguntados se gostam das aulas de química no laboratório os mesmos responderam, em sua maioria, que sim (gráfico 1). Isso está de acordo com as observações de Leal et al., 2001; Silva e Pinheiro, 2003, que afirmam que as aulas experimentais são consideradas, pelos estudantes, as mais atraentes, relevantes e envolventes. Além disso, se as atividades ex¬perimentais forem trabalhadas com esse tipo de abordagem, é possível criar situações que proporcionam maior motivação nos alunos (Ferreira et. al., 2010, p. 102). Segun¬do Lewin e Lomascólo (1998), “o processo de formulação das hipó¬teses, preparo e a realização das experiências, o recolhimento dos dados e a analise dos resultados dos trabalhos de laborató¬rio, quando tratados como ‘projetos de investi¬gação’, provoca, fortemente, a motivação dos estudantes, instigando-os a adquirir atitudes de curiosidade, do dese¬jo do experimentar, do acostumar-se a duvidar de informa¬ções, de confrontar resultados, de obterem profundas mudanças conceituais, metodológicas e atitudinais. (p. 148) Quando questionados sobre com qual tipo de aulas apreendem melhor as informações estudas, 38% dos alunos informaram que aprender melhor somente com as aulas teóricas e 63% com as aulas práticas (gráfico 1). Observou-se que, devido a grande quantidade de alunos em apenas uma aula de laboratório, torna-se difícil para o professor atender as expectativas de todos de uma só vez. Também é importante mencionar que ne¬nhuma investigação parte do zero, ou seja, necessitam de conhecimentos prévios que orientem a observação. Em uma proposta de atividade investigativa, faz-se necessário a explicitação dos conhecimentos prévios disponíveis sobre a atividade, sem os quais se torna impossível a sua realização da mesma (Lewin e Lomascólo, 1998; Gil-Pérez e Valdés-Castro, 1996). Quando questionado sobre melhoria de rendimento a maioria respondeu que percebeu uma melhoria no rendimento após o inicio das aulas praticas (Gráfico 1). Observa-se que os alunos, em sua maioria perceberam uma melhoria nas notas e no rendimento, pincipalmente em química, isso pode ser explicado pelo fato de se ter gerado uma grande expectativa sobre a introdução das aulas praticas, por parte dos alunos. Porém, Borges (2002) alerta para o fato de que o progresso no desempenho dos alunos, sua autonomia e outras habilidades que se desenvolvem por meio das atividades investigativas não são imediatas. Quando perguntados se assimilam bem o conteúdo das aulas práticas 79% dos alunos afirmaram que sim como visto no gráfico 01. O resultado da percepção dos alunos estão em desacordo com as observações de Pinheiro (2012) onde afirma que “mesmo no ensino médio, as aulas experimentais são pouco desenvolvidas e, quando introduzidas no currículo, dialogam pouco com os aspectos teóricos do conhecimento químico e promovem quase nenhuma investigação/pesquisa por parte dos alunos” (p. 175). No entanto, concordam com ele quando afirma que: “são as aulas experimentais que os estudantes consideram as mais atraentes, relevantes e envolventes” (Leal et al., 2001; Silva e Pinheiro, 2003). Quando questionados sobre como observam a forma como o professor aplica sua aula pratica, os mesmos afirmam, em sua maioria, que gostam. (Gráfico 1). Isso mostra que quando a aula pratica é bem planejada e aplicada o professor se torna um questionador, conduzindo debates e propondo desafios aos alunos para que estes possam levantar suas próprias hipóteses e propor possíveis soluções para o problema (Suart e Marcondes, 2008). Entretanto, se o professor apenas demonstrar um experimento para comprovar uma teoria e não o problematizar, essa atividade perderá grande parte das potencialidades que a experimentação investigativa pode desenvolver (SUART et. al., 2010). Ao comparar-se as médias do 1º semestre, período de implantação do laboratório, com o 2º semestre, período de implementação das aulas praticas no laboratório, notou-se que houve uma leve melhora de todas as turmas envolvidas como pode-se observar no gráfico 2. Isso está de acordo com o que diz Santana (2011), “os laboratórios de ciências, são palcos fundamentais para se inserir os alunos nos ambientes de pesquisa e tecnologias cientificas, podendo instigá-los a adquirir um espirito investigativo, tornando-se assim um agente colaborador para o seu desenvolvimento”.

Conclusões

Analisando os resultados do projeto de intervenção, pode-se observar que o mesmo teve seu objetivo cumprido, pois, percebeu-se que os alunos aumentaram seu interesse pela disciplina de química, após a introdução das aulas praticas. Notou- se que os alunos criaram uma forte expectativa sobre a inserção das aulas praticas no laboratório, pois os mesmos, nunca antes haviam entrado num espaço para esta finalidade. Pesquisas educacionais mostram que estes espaços estimulam a aplicação de varias atividades praticas e melhoram o aprendizado (Mayer, 1989; Mayer e Sims, 1994). Quando locais como estes são colocados disponíveis para pratica agendada e livre, os alunos podem ir ao laboratório e investigar um problema proposto pelo professor, utilizando roteiros experimentais, mas também podem propor a hipótese a ser investigada e o procedimento ex-perimental, sendo essas atividades denominadas Laboratório Aberto (Carvalho e cols., 1999). A escola onde realizou-se o projeto de intervenção ganhou um laboratório equipado e em pleno funcionamento para avançar em diversas pesquisas, além disso os professores, que ali lecionam, ganharam uma ótima oportunidade para colocar em pratica seus conhecimentos de química.

Agradecimentos

Ao Programa Ciência na Escola – PCE, através da FAPEAM, a Escola Estadual Prof. José Paula de Sá, ao Instituto Federal do Amazonas – IFAM e ao PARFOR.

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