Autores

Tolosa, F.E. (IFRJ) ; Pastana, V.G.S. (UFSCAR) ; Silva, M.D.B. (UEPA) ; Reis, A.S. (UFPA)

Resumo

A pesquisa buscou verificar o papel do Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPP) no processo de formação inicial de professores das Ciências da Natureza (Química, Biologia e Física). Para isso, observou-se no período de um mês, a dinâmica de apresentação de 15 (quinze) licenciandos das três referidas áreas científicas, que atuam como mediadores no CCPP. Além das observações, foi repassado aos indivíduos alvo da pesquisa um questionário contendo quatro perguntas com a finalidade de que fizessem considerações sobre a atuação em um espaço não formal. Na ocasião, obtivemos respostas de grande relevância, mas, também, foi possível notar certa dificuldade com questões relacionadas as tendências pedagógicas que referenciam as práticas de ensino em um ambiente não formal de educação.

Palavras chaves

Formação Inicial; Ciências da Natureza; Espaço não formal de educ

Introdução

O contínuo processo de desenvolvimento científico e tecnológico é um fator que tem influenciado bastante no âmbito econômico, ambiental, político e social de uma Nação. Partindo disso, faz-se conveniente que os cidadãos sejam capazes de discernir sobre as implicações que a Ciência e a Tecnologia trazem as nossas rotinas diárias. Nesse contexto, a prática docente de formação cidadã ganha novos significados na sociedade contemporânea, sendo necessária uma formação inicial ampla dos professores, especialmente, no que tange as ciências Biologia, Física e Química. As pesquisas relacionadas à formação inicial de professores das Ciências da Natureza salientam a necessidade de espaços que possam integrar ensino e reflexão da atividade docente. Assim, o futuro professor terá maiores possibilidades para construir a sua identidade profissional no decorrer de seu processo formativo. Desse modo, a formação de docentes de Química, Física e Biologia pode ser favorecida com a inserção nos currículos universitários dessas licenciaturas a atuação em espaços não formais de educação, como, por exemplo, o Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPP), que pode ser compreendido como um ambiente, que objetiva a divulgação e popularização dos conhecimentos científicos, e o desenvolvimento e aperfeiçoamento de discentes de determinadas áreas da Ciência. Para Marandino (2003), a incorporação de aspectos relativos à dinâmica dos espaços não formais na formação inicial de professores busca propiciar um amplo espectro de atuação do educador em ciências. Essa autora enfatiza ser necessário uma parceria entre o sistema formal e o não formal visando contribuir na formação de profissionais da educação que atuam nesses ambientes. Além disso, Marandino (2003) destaca que o estágio em ambientes não formais de ensino pode contribuir na relação mais próxima da ciência com a sociedade. É válido salientar que no Brasil são poucas instituições de ensino superior que apresentam em seus programas curriculares atividades voltadas a educação não formal. Nesse contexto, buscou-se por meio desta pesquisa conhecer a contribuição do Espaço Não formal de Ensino na formação inicial de professores das Ciências Naturais através do Centro de Ciências e Planetário do Pará.

Material e métodos

Para conhecer a contribuição do Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPP) como espaço não formal de educação no processo de formação inicial de professores foi desenvolvida uma rotina de observações, que compreendeu um período de um mês cujo os indivíduos alvos foram 15 monitores, sendo todos estudantes dos cursos de licenciaturas das Ciências Naturais (Química, Física e Biologia) vinculados as seguintes instituições de ensino superior, Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade do Estado do Pará (UEPA) e Universidade da Amazônia (UNAMA), com idades entre 18 a 26 anos, que atuam como mediadores no CCPP. Após a observação foi aplicado um questionário contendo quatro perguntas discursivas aos licenciandos com a finalidade de verificar suas concepções acerca de como a atuação em um espaço não formal de ensino como o CCPP pode ajudar na formação inicial do professor.

Resultado e discussão

As observações realizadas no CCPP evidenciaram que a construção do saber científico em um espaço não formal (Figuras 1 e 2) valoriza não a quantidade de conhecimentos, mas a capacidade de criar sentido, a atitude de estimular o uso do conhecimento aprendido em um momento conveniente. Nesse contexto, verificou- se que os futuros educadores se sentem à vontade, posto que, não seguem um padrão rígido de ensino, isto é, não tem um conteúdo a cumprir em um dado momento e outro mais adiante. A flexibilidade permite uma melhor compreensão de como um processo seja ele físico, químico ou biológico acontece, o que concebe o entendimento de que os conhecimentos científicos são abrangentes e não fragmentados como se observa nos currículos universitários e escolares. Para Pinto e Figueiredo (2010) os espaços não formais de educação, contribuem para o desenvolvimento do currículo de Ciências no sentido de possibilitar o enfoque dessas ciências ao mundo dos alunos, o que tem como consequência mostrar como os conhecimentos de Química, Física e Biologia estão atrelados ao cotidiano das pessoas. Esse aspecto possibilita aos licenciandos experiências das quais muitas vezes o seu currículo durante a graduação não contempla, isto é, atividades que tornem os futuros professores agentes pensantes e ativos dentro do processo educacional. Foi obtido uma variedade de considerações referente aos quatro questionamentos feitos aos licenciandos com a finalidade de verificar suas concepções acerca da contribuição do CCPP na formação inicial de professores das Ciências da Natureza, que estão inseridas após as perguntas, conforme segue abaixo: 1) De que forma o estágio em espaço não formal de ensino pode contribuir para a sua formação como docente nas Ciências da Natureza? “Destaco a transposição didática no qual é aperfeiçoada e colocada em prática devido o mediador (futuro docente) atender um público diversificado em gênero, idade e classe social.” (Licenciando X) “O espaço não formal te “obriga” a estar a todo momento evoluindo, adaptando-se, reinventando-se.” (Licenciando J) Nessa aventura relativa a relação intrínseca de ensino e aprendizagem está implícito um fator intermediário que interliga essa relação que é a ação formativa, pois tanto o educador quanto o educando estão sendo formados, diferindo somente em suas disposições. É nesse sentido que Machado (2010) sustenta que compete ao professor de ciências o entendimento de qual o seu papel educacional e social nos dias atuais, e de como deve estar sintonizada sua prática profissional com as demandas do século XXI. Essas questões devem ser objetos de frequente reflexão em um processo de formação inicial e continuada de professores, sobretudo, no que se refere aos educadores de uma ciência natural. É por essa razão que estudos realizados em espaços diversificados de educação são importantes, sobretudo, no que diz respeito a formação inicial de professores. Entendendo assim, que a atuação desses profissionais não pode ficar limitada ao campo da educação formal, a atuação em ambientes não formais de educação pelo que foi possível verificar acaba por ampliar o leque de experiências desses futuros educadores, além de contribuir com uma percepção mais abrangente de seu ofício, refletindo que tal requer disposição frequente para estar se transformando, a medida que compreenda que sua profissão é um contínuo processo de formação. Os licenciandos atuantes no CCPP, demonstraram que estão cientes das necessidades nas mediações realizadas durante as visitações é possível constatar o compromisso com as atividades, atentando sempre para as reações do público visitante na apresentação de cada ambiente. Isto decorre, provavelmente, da necessidade de se explicitar o papel dos conhecimentos científicos no decorrer do processo evolutivo da humanidade, contribuindo dessa forma para a popularização da ciência, e formação científica por parte do público que visita esse espaço não formal. 2) Para você, quais são as principais diferenças metodológicas entre espaços formais e espaços não formais de ensino? “No espaço formal, os professores para cumprir os conteúdos de suas disciplinas enchem os alunos com assuntos e exercícios para praticar. Quanto ao não formal, o mediador (futuro docente) do conhecimento busca da melhor forma demonstrar como tudo acontece cientificamente.” (Licenciado N) “O espaço não formal de ensino tem como pilares centrais a ludicidade, interdisciplinaridade e autonomia no sentido de o público visitante ser capaz de interagir com o espaço.” (Licenciando Y) O que se verificou e é aludido pelo licenciando Y, refere-se somente a questão da ludicidade nesses espaços, sem discriminar como ocorre a escolha de um certo material ou objeto a ser utilizado nas visitações, isto é, o que ele representa nesse meio de apropriação dos conhecimentos científicos. Esse aspecto é de suma relevância para o desenvolvimento de estudos mais abrangentes no campo da educação não formal. Além disso, é preciso que se compreenda melhor o papel da comunicação nesses locais e, para isso faz-se conveniente que haja um trabalho regular da equipe educacional dos ambientes não formais de ensino com o objetivo de ajudar aos mediadores em relação a certos entraves linguísticos no momento da comunicação de determinado painel ou material. 3) Quais os desafios de se atuar em um espaço não formal de ensino? “A necessidade de adaptação da linguagem, a manutenção da atenção dos visitantes, dinamismo, interdisciplinaridade.” (Licenciando K) “O principal desafio é ensinar os conhecimentos científicos com uma linguagem de fácil compreensão ao visitante, mas também, temos o desafio permanente de despertar nas pessoas o interesse pela ciência.” (Licenciando P) A terceira pergunta que foi direcionada a exposição dos desafios de atuação em um espaço não formal de ensino teve considerações que discriminaram como ponto chave, a linguística. Isso se deve, sobretudo, a diversidade do público visitante desses Centros ou Museus de Ciência. Ademais, como o tempo de visitação é breve, faz-se necessário que as estratégias de comunicação sejam bem planejadas. Dessa forma, o tempo utilizado na explicação de algum painel ou construção do entendimento de um certo objeto é determinada pelas concepções educativas do mediador. Por esse motivo, ao se ter uma noção clara sobre os desafios de atuação em espaço não formal. Segundo Pina (2014) a atuação dos profissionais dentro de um espaço não formal de educação está compreendida em três campos da aprendizagem que consistem no pensamento, no sentido de promover o processo cognoscitivo e no psicomotor, a fim de proporcionar experiências cada vez mais atrativas aos visitantes, e estabelecer uma relação afetiva sadia no intuito de alimentar um sentimento de aventura em relação ao conhecimento cientifico por parte dos visitantes. 4) Em sua opinião, o que pode ser melhorado na formação docente em espaços não formal de ensino? “Deveria haver estágio supervisionado para espaço formal e não formal para os futuros docentes vivenciarem as diferenças relativas ao ensino-aprendizagem nesses espaços.” (Licenciando D) “A promoção de debates sobre as referências nesse assunto e compartilhamento de experiências da atuação em espaços não formais.” (Licenciando X) Em relação à quarta pergunta, pode-se discorrer que uma das formas de melhoria em ambientes de educação não formal, parte da realização de pesquisas pautadas no esclarecimento da realidade dinâmica desses espaços, isso deve ser feito de forma a propiciar avanços no que se refere ao contexto metodológico empregado na educação não formal. Por conta disso, deve- se realizar um estudo aprofundado sobre as nuances educacionais desses ambientes. E um dos itens que deve ser questão foco é a necessidade de compreensão.

Figura 1

Mediação realizada por monitora da Biologia

Figura 2

Monitores da Química em uma mediação.

Conclusões

Os resultados obtidos demonstram que a atuação em um ambiente não formal de ensino, como o do Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPP), pode colaborar de forma bem acentuada na diversificação dos processos de ensino e aprendizagem e na formação inicial de professores das Ciências da Natureza, pois, permite aos licenciandos uma maior mobilidade na apresentação dos conhecimentos científicos, o que acaba por ajudar na linguística, percepção, diversificação, adaptação, preparo e evolução constante na labuta de um profissional da educação. Além de possibilitar atividades de reflexão e pesquisas educativas. A abordagem educacional que os Museus, os Centros e os Clubes de Ciências empregam implica processos específicos. Essas particularidades referem- se aos elementos presente nesse processo como o local, o tempo e os objetos a serem usados. As visitações possuem aspectos que podem ser planejados, e dessa forma acabam por auxiliar no processo de mediação, os pontos planejáveis dizem respeito ao percurso trilhado na visitação, os temas e as questões que devem ser abordadas no trajeto dos ambientes, o tempo de duração da visitação e como devem ser divididos em grupos os visitantes. Contudo, há também elementos surpresas que podem vir a surgir durante a visita como, por exemplo, imprevistos de última hora. Por fim, destaca-se que cabe um olhar atencioso para os trabalhos desenvolvidos em espaços não formais de ensino, e que se entenda que tais não podem serem entendidos como uma extensão da escola, ou um mero complemento dela. Sendo a escola, o local de tratamento dos conhecimentos teóricos, enquanto que os museus, centros e clubes de ciência são os ambientes da prática, não é bem assim, cada uma dessas instituições sejam elas formais ou não formais possuem características próprias.

Agradecimentos

Referências

MACHADO, J. R. C. Prática Pedagógica em Química IV: O Ofício do Professor. Belém: UFPA, 2010.

MARANDINO, M. A formação inicial de professores e os museus de ciências. In: SELLES, S. E.; FERREIRA, M.S. (orgs.). Formação docente em Ciências: memórias e práticas. Rio de Janeiro: EdUFF, 59-73, 2003.

PINA, O. C. Contribuições dos espaços não formais para o ensino e aprendizagem de ciências de crianças com Síndrome de Down. 2014. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Matemática) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

PINTO, L. T.; FIGUEIREDO, V. A. O Ensino de Ciências e os espaços não formais de ensino. Um estudo sobre o ensino de Ciências no município de Duque de Caxias/RJ. In: II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia. Ponta Grossa, 2010, ISSN: 2178‐6135.