Autores

Vilela, A.L.S. (IFPR) ; Fernandes, T.C. (IFPR)

Resumo

Este trabalho discute os resultados de um projeto de extensão. O objetivo foi relatar a proposta e resultados do módulo inicial de um curso de formação continuada de professores, que tratava de metodologias ativas e tecnologias. Durante a realização do projeto, os professores realizaram encontros online com a coordenadora e bolsistas, e coletaram-se dados por meio de questionários e gravação das aulas. Constatou-se que 67,8% dos participantes não tiveram, durante a formação inicial, aulas voltadas para tecnologias, além disso, apenas 23% consideravam ter um bom conhecimento sobre metodologias ativas. Após a realização do módulo, os professores afirmaram ter aprendido tanto sobre as metodologias, quanto sobre as tecnologias e que esses conhecimentos seriam aplicáveis em sua realidade.

Palavras chaves

metodologias ativas; ensino de química; TDIC

Introdução

O projeto ‘’Reflexões e práticas de ensino mediadas pelas Tecnologias da Informação e Comunicação: uma proposta de formação continuada para professores das escolas estaduais do Paraná’’, foi desenvolvido no Instituto Federal do Paraná - Campus Paranavaí. A proposta foi elaborar e aplicar um curso de extensão, de 40 horas, voltado a aplicações das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) no ensino de ciências. O público alvo foram professores de ciências, física, química ou biologia, da rede pública de ensino. Neste trabalho, discutiremos o desenvolvimento do primeiro módulo do curso, que tratava de metodologias ativas e como instrumentalizá-la por meios das TDIC. Os objetivos foram diagnosticar a percepção dos professores acerca do uso das TDIC e metodologias ativas, discutir a importância das mesmas, verificar quais as condições de trabalho dos professores e de seus alunos, e quais as possibilidades de utilizar as ferramentas estudadas no curso, no contexto em que lecionam. Além disso, espera-se auxiliar os professores da rede pública a aprimorar sua prática pedagógica através da formação continuada, tendo como consequência a melhora no processo de ensino e aprendizagem. O período da pandemia de COVID-19 foi um momento atípico para os docentes, que tiveram de adaptar-se a um novo modelo de ensino-aprendizagem, utilizando-se obrigatoriamente das TDIC como ferramentas pedagógicas. Desta forma, viu-se que era um momento propício para que esse projeto fosse desenvolvido, apresentando aos participantes diferentes formas de se fazer uso das tecnologias, aliando-as a metodologias ativas. As formas de se adquirir e compartilhar conhecimento, atualmente, passam por constantes mudanças. Devido a isso, a compreensão e flexibilização dos modelos pedagógicos deveriam ser preponderantes na prática docente, a fim de preparar o indivíduo para a autonomia e cidadania, podendo agir e modificar o seu próprio meio (JUNGES; KETZER; OLIVEIRA, 2018). Logo, os professores precisam de preparo, para mediar a informação, tão amplamente disponível, e auxiliar seus estudantes a converter esta informação em conhecimento real. Durante o projeto, foram trabalhados quatro diferentes módulos, sendo o primeiro deles focado nas metodologias ativas, e como instrumentalizá-las através das TDIC. Para Neusi Berbel (2011), as metodologias ativas são uma forma de promoção da autonomia dos estudantes, ou seja, quando as pessoas não são motivadas, sentem-se como marionetes da autoridade e, ao contrário, quando motivadas, sentem-se como origem e comportam-se com liberdade e auto investimento. Nos escritos de Paulo Freire há uma defesa para as metodologias ativas, segundo o educador, a superação dos desafios é o que irá impulsionar a aprendizagem, a resolução de problemas e a construção de novos conhecimentos (BERBEL, 2011 apud FREIRE, 1996). É de grande importância que os docentes conduzam seus alunos a problematizar aspectos da realidade viva, relacionando-os com temas de estudos pedagógicos, tornando o processo ainda mais rico (BERBEL, 2011). O uso das tecnologias no processo de ensino-aprendizagem pode permitir uma aproximação com os alunos, e as metodologias ativas contribuem para esse processo de proporcionar um pensamento crítico dentro das salas de aula e também no convívio em sociedade. Tendo em vista os fatores discutidos, pode-se aferir que a formação continuada de professores precisa auxiliar estes no processo de ensino, na busca de novos procedimentos teórico metodológicos e na compreensão, análise e transformação da própria realidade. Alvarado-Prada, Freitas e Freitas (2010) verificaram que, para a maioria dos professores, as oficinas são ações que agradam, por apresentar formas variadas de trabalhar, dinâmicas e debates. Desta forma, optou-se por utilizar a aplicação de oficinas relacionadas às TDIC no curso de extensão, afim de atender da melhor forma possível a necessidade dos docentes, tanto no contexto da pandemia, quanto no dia a dia escolar. Durante este trabalho, serão discutidos dados coletados a partir de formulários aplicados antes e após as oficinas, com os docentes participantes do projeto, relacionados ao conhecimento e contato dos mesmos com as tecnologias utilizadas e as metodologias ativas.

Material e métodos

Considerando que o foco da pesquisa eram questões que concernem à prática docente, acredita-se que uma abordagem qualitativa seja mais adequada. Martins (2004) discute a complexidade dos fenômenos sociais que, ao contrário das ciências naturais, não podem ser replicados em laboratório e não há controle dos fatores interferentes. Assim, as metodologias qualitativas buscam investigar os microprocessos, analisando as ações dos indivíduos ou de um grupo, de forma flexível, porém cuidadosa e detalhada, aproximando os dados e fazendo com que eles conversem com a teoria. A estratégia que se pretende utilizar é a Pesquisa Participante. Segundo Rosa (2013), a definição desse tipo de pesquisa é imprecisa, não havendo ainda um consenso. Todavia, todas as expressões utilizadas se referem ao fato de que pesquisadores e pesquisados são sujeitos de um trabalho em comum. Pretende-se que, com o auxílio do pesquisador vinculado à comunidade, esta analise sua realidade e promova uma transformação social que a beneficie. Thiollent (2005) corrobora com as ideias explanadas anteriormente acerca da Pesquisa Participante. Para ele, esta contribui na reflexão e aprendizado não apenas dos sujeitos da pesquisa, mas também do pesquisador e da comunidade envolvida, fornecendo recursos que solucionem demandas específicas da condição na qual os pesquisados se encontram. O projeto desenvolvido foi apresentado em quatro módulos, cada um dos módulos possui uma carga horária de 10 (dez) horas, totalizando 40 (quarenta) horas. Para o desenvolvimento de cada encontro, as alunas bolsistas realizaram leituras e fichamentos, que basearam a estrutura de cada módulo, todos os artigos utilizados são validados cientificamente. Dentro do módulo, 3 horas correspondiam ao encontro síncrono, feito através do Google meet, e as 7 horas restantes, com a produção de material didático, pelos participantes, para que aplicassem os conhecimentos adquiridos em suas salas de aula. Durante o encontro, que foi gravado, com autorização prévia dos participantes, foram discutidas as principais metodologias ativas aplicáveis no ensino de ciências, demonstrando-se ferramentas tecnológicas que poderiam facilitar este processo. A vídeo gravação foi utilizada como ferramenta de coleta de dados. No momento da inscrição, os docentes preencheram um formulário, com questões diagnósticas, que auxiliaram as pesquisadoras na organização dos módulos, a fim de que atendessem às reais necessidades dos participantes. Após os encontros, as listas de presença também contavam com formulários, aplicados para verificar as percepções dos docentes sobre as metodologias discutidas. Após a aplicação da oficina, os dados foram analisados e interpretados, a fim de perceber quais os impactos que a formação continuada teve sobre os docentes.

Resultado e discussão

Os resultados a serem apresentados foram coletados através de formulários aplicados aos professores participantes. Os dados coletados (figura 1) mostraram que 67,8% dos professores não tiveram aulas que fornecessem informações sobre as TIC durante a formação inicial, enquanto somente 35,7% disseram que sim, tiveram aulas voltadas a isso. Dos 90 professores que responderam o formulário 19 deles (21,1%) faziam uso de tecnologia muito raramente durante as aulas, antes da pandemia, 11 (12,2%) faziam uso raramente, 36 (40%) utilizavam as tecnologias de forma mediana nas aplicações das aulas, 8 (8,9%) usavam de forma frequente e 16 (17,8%) de forma bastante frequente, observa-se que 73,3% dos professores não utilizavam de tecnologias de forma tão frequente durante as aulas e foram submetidos a reinventar a forma de trabalho devido a pandemia de COVID-19. Figura 1 - dados sobre conhecimentos e uso das TDIC antes da pandemia Atualmente, existem expectativas elevadas sobre a utilização das TIC no contexto da educação, porém, ela ainda ocupa pouco espaço nas atividades curriculares. Estudos mostram que a utilização das TIC para fins pedagógicos funcionam como um fator de motivação e de inovação educativa, além disso há um grande desenvolvimento tecnológico na sociedade durante os últimos anos, além de uma grande difusão, o que demostram uma necessidade de que os docentes se adaptem a esta nova realidade e façam uso das tecnologias de forma benéfica ao processo de ensino-aprendizagem. Segundo Costa e Viseu (2008) para que a integração do computador nas atividades regulares da sala de aula se torne mais frequente, será necessária uma modificação significativa das crenças e do comportamento do professor, e não apenas do nível de sofisticação da tecnologia. Quando o docente proporciona ao aluno uma vivência do método de projetos ocorrem alguns benefícios, por exemplo: proporcionar conteúdo vivo ao processo de aprendizagem real, significativa, ativa, interessante e atrativa. É possível concentrar na aprendizagem do aprendiz o desenvolvimento do pensamento divergente, despertar o desejo de conquista, de iniciativas, investigação, criação e responsabilidade o que leva os alunos a se inserirem na vida social ou profissional (BERBEL, 2011 apud BORDENAVE; PEREIRA, 1982). Essas colocações nos fazem refletir sobre a importância de compreender o uso das tecnologias no âmbito educacional como um método de projeto, uma metodologia ativa e uma inovação, que utilizadas de forma certa contribuem para o processo de ensino aprendizagem. Para nortear a prática pedagógica destes professores, pouco habituados ao uso das TDIC, iniciou-se o curso discutindo metodologias ativas. No encontro síncrono, a própria ferramenta utilizada para mostrar os slides já era um exemplo de algo que os professores poderiam inserir em seu dia a dia. O nearpod, plataforma online baseada em aprendizagem móvel, que possui diversas funcionalidades para tornar uma aula mais atrativa e engajadora. Usando o nearpod, foram inseridas questões durante o encontro, verificando as percepções dos docentes sobre o tema. Ao serem questionados sobre o que são metodologias ativas, muitos possuíam certa noção do que seriam, todavia, sem saber detalhar seu funcionamento, termos como protagonismo e participação ativa apareceram em cerca de 40% das respostas. No entanto, muitos participantes relacionavam as metodologias ativas apenas à “fuga do tradicional” e interatividade dos alunos, demonstrando não ter pleno domínio. Não somente é importante que a formação dos professores contenha base sobre aquisição de conhecimentos sobre as tecnologias disponíveis, é necessário também que exista a base sobre o modo de adquirir esse conhecimento (COSTA; VISEU, 2008). Desta forma, atrelar as TDIC às metodologias ativas, pode ser uma maneira de auxiliar o professor a planejar suas aulas, tornando as tecnologias não apenas um atrativo, mas um meio de facilitar a aprendizagem. Devido ao tempo restrito, optou-se por discutir 2 metodologias ativas, considerando sua aplicabilidade para as ciências da natureza: Sala de aula invertida e instrução por pares. A sala de aula invertida é um método que seria de fácil aplicabilidade no contexto da pandemia, e também após a volta ao presencial. Quanto às TDIC relacionadas, apresentou-se o Edpuzzle e o Playposit, ferramentas para inserir questões em vídeos. Os professores relataram as dificuldades que tiveram, pois ao passar vídeos e conteúdos assíncronos aos alunos, não sabiam como verificar se eles estavam mesmo estudando os materiais. A instrução por pares é uma metodologia colaborativa, na qual os estudantes são submetidos a testes conceituais. Para facilitar os testes conceituais, e fazer uso das TDIC, engajando mais os alunos, pode-se utilizar diversas ferramentas de quiz. Algumas delas foram mencionadas no curso, e a ferramenta Wordwall, foi trabalhada em mais detalhes, pelas alunas bolsistas. Os professores, como parte da oficina, também desenvolveram seus próprios quiz, nas 7 horas de trabalho assíncrono, demonstrando que compreenderam o uso da ferramenta, e conseguiram aplicar seus conteúdos de forma didática e interativa, inserindo a atividade em um plano de aula completo, com clareza pedagógica. É visível que há uma grande expectativa sobre a utilização das TIC no contexto educativo, porém, atualmente, o grau efetivo na atividade curricular é muito reduzido. Primeiramente, pensa-se que isso pode estar ocorrendo devido a uma desfavorável utilização das novas tecnologias por parte dos docentes mas é possível perceber que também há uma questão fulcral por parte dos docentes sobre o como fazê-lo e como utilizá-lo de forma adequada em uma relação estreita com as práticas educativas (COSTA; VISEU, 2008). Através das atividades do curso, pôde-se perceber que os professores conseguiram relacionar seus conteúdos às TDIC, com uma metodologia adequada. Os dados obtidos durante a pesquisa expressam algo parecido por aquilo que é mostrado na literatura, a falta de uso da tecnologia como conteúdo em grade curricular para docentes, a falta de contato ou formação sobre o tema e a falta do uso das tecnologias pelos mesmos docentes com os seus alunos. Já após o curso, muitos participantes demonstraram ter adquirido novos conhecimentos, pois termos como ferramentas e recursos desconhecidos apareceram em diversas respostas. O projeto também levava em conta a importância dos conhecimentos do curso serem de fato levados à sala de aula. De acordo com as respostas dos cursistas, dentre 34 participantes, 28 consideram as metodologias aplicáveis, conforme a figura 2. Aqueles que consideram difícil de aplicar, citam que os motivos são falta de aceitação por parte dos alunos, que são habituados à metodologia tradicional, e falta de tempo para planejamento. Figura 2 - dados sobre aplicabilidade dos conhecimentos do curso Ao serem questionados se aplicariam alguma metodologia ou ferramenta vista no módulo do curso, 50% dos participantes afirmaram que sim, em breve, e 50% que sim, em algum momento. Nenhum participante afirmou que não aplicaria. Este resultado se configura como positivo, mostrando que os objetivos foram atingidos. Segundo Galindo e Inforsato (2018) algo central diante os processos de formação para professores é fornecer uma formação direcionada para a prática profissional nas dimensões e estruturas que as aulas ocorrem. A aplicação do projeto ocorreu de acordo com essas colocações, visando mostrar para os professores não somente a teoria mas como realizar as ações na prática.

Figura 1

dados sobre conhecimentos e uso das TDIC antes da pandemia

Figura 2

dados sobre aplicabilidade dos conhecimentos do curso

Conclusões

O projeto permitiu observar na prática dados já mencionados na literatura. Sendo assim, foi possível analisar através dos dados coletados a real situação de professores da educação básica frente às TDIC nos processos de ensino aprendizagem, compreendendo o cotidiano e a prática no dia a dia, bem como as dificuldades. Além do aprendizado obtido, foi possível contribuir com a formação continuada dos docentes inscritos e assíduos no projeto, construindo um resultado proveitoso de acordo com respostas fornecidas pelos participantes, que consideraram as metodologias ativas como algo aplicável em sua realidade. Essas considerações reforçam a ideia de que não somente é necessário mostrar para os professores quais são e como funcionam as TDIC, é importante também mostrar como inseri-las em sua metodologia, com propósito pedagógico claro, e como aplicá- las dentro de questões em diferentes contextos, estruturas e subjetividades. A partir deste artigo é possível enxergar a necessidade desse olhar voltado para a temática em relação a prática dentro de uma sala de aula em sua estrutura, o que pode ser melhor explorado em pesquisas na área, tudo indica uma crescente na modernização em todos os âmbitos, no âmbito do ensino e educação não será diferente, além de um avanço forçado e abrupto da utilização das tecnologias em contextos educacionais já obtidos devido a pandemia de COVID-19.

Agradecimentos

À Diretoria de Extensão, Arte e Cultura do IFPR e ao CNPq pela promoção e estímulo do desenvolvimento da investigação científica e tecnológica.

Referências

ALVARADO-PRADA, L. E; FREITAS, T. C & FREITAS, C. A. Formação continuada de professores: alguns conceitos, interesses, necessidades e propostas. Diálogo Educação, v(30), p. 367- 387, 2010.
BERBEL, N. A. N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia dos estudantes. Semana: Ciências Sociais e Humanas, v. 32, n. 1. Londrina – PR. 2011.
COSTA, A. F. VISEU, S. Formação – Acção – Reflexão. Um modelo de preparação de professores para a integração curricular das TIC. 2008.
GALINDO, J. C. INFORSATO, C. E. Formação continuada de professores: impasses, contextos e perspectivas. Revista online de política e gestão educacional, v. 20, n. 03. 2016.
JUNGES, C. F. KETZER, M. C. OLIVEIRA, A. M. V. Formação continuada de professores: saberes ressignificados e práticas docentes transformadoras. Revista Educação e Formação, v. 3, n. 9. 2018.
MARTINS, H. H. T. S. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educação e Pesquisa, 30(2), p. 289-300, 2004.
ROSA, P. R. da S. Uma Introdução a Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciencias. Campo Grande: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. 2013.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2005.