Autores

Pastana, V.G.S. (UFSCAR) ; Tolosa, F.E. (IFRJ) ; Souza, J.P.I. (UFPA)

Resumo

A pesquisa em questão buscou desenvolver e avaliar uma sequência didática que envolvesse o conteúdo de astroquímica, e quais os efeitos da mesma, na questão de motivação e encorajamento, para o aprendizado de química, de alunos do 9° ano do ensino fundamental. Os instrumentos de coleta de dados foram a gravação das aulas, perguntas e observações pertinentes dos estudantes, além da aplicação de três questionários. Na análise das respostas do questionário notou- se uma admiração e excitação por temas que envolvem astronomia e química. De modo geral, com o feedback positivo dos estudantes, conjectura-se que a sequência didática concebida pode influenciar no encorajamento de alunos do 9° ano do ensino fundamental na sua motivação para estudar e aprender química.

Palavras chaves

Astroquímica; Sequência didática; Encorajamento

Introdução

No campo de pesquisas em educação é muito comum encontrar estudos sobre novos métodos de ensino para serem utilizados em sala de aula por professores. De uma forma geral, essas metodologias vêm ancoradas em críticas a sistemas de ensino presentes em espaços educacionais. O tradicionalismo no ensino é um destes tópicos, visto a perpetuação de práticas em sala de aula frente ao avanço da sociedade em termos científicos que impactam todo o cenário de educação de um país. O método tradicional, de modo geral, traduz-se como uma perdura de ações de docentes em sala de aula com ausência de inovação, desmotivação de alunos e avaliações pautadas em instrumentos classificatórios. Bernardelli (2004) afirma que uma boa parte dos alunos que adentram o ensino médio trazem consigo uma química ‘difícil e complicada’ em suas visões, consequências de metodologias ultrapassadas ainda sendo abordadas por professores na introdução à química ocorrida no ensino fundamental, onde os estudantes adquiriram resistência ao aprendizado da mesma devido à falta de contextualidade nas aulas, e que cabe ao professor a função de cativar, através da afetividade, o aluno para levá-lo à construção de conhecimentos significativos. Garcia e Taveira (2013, apud, MENDES, 2011) afirmam que sem motivação não há aprendizagem, pois a falta da mesma gera desinteresse nos alunos e que a criação de vínculos afetivos promove o processo de ensino aprendizagem e surte efeitos positivos como redução de ansiedade e aumento da autoconfiança. Mendes (2011) indaga ao leitor situações de abandono de contextualizações em sala de assuntos distantes que, num olhar próximo, não parecem influenciar ou estar presente na vida do aluno. No caso da Química, tem-se o desafio de encontrar melhores formas de contextualizar o desconhecido sem cair na tentação de deixar de lado tais conjunturas por algo mais fácil e simples para os estudantes. A Base Nacional Comum Curricular traz em suas unidades temáticas para o ensino de ciências no ensino fundamental o Universo. Apesar de conceitos mais voltados à astronomia estarem nessas unidades a partir do 5° ano, é na última série do ensino fundamental, 9° ano, que definições mais específicas de astronomia tomam forma. Busca-se a compreensão de características – dimensões, composição, localizações, movimentos e forças – de corpos celestes, e que a partir de uma compreensão mais aprofundada da evolução destes corpos, das galáxias e das ordens de grandeza envolvidas, espera-se que os alunos possas refletir sobre a posição da Terra e da espécie humana no Universo (BRASIL, 2018). Partindo da necessidade de metodologias interessantes para os alunos em sala ponteadas com o desenvolvimento do encorajamento pelo aprendizado de química e da desconstrução de pré-julgamentos de uma química difícil e trabalhosa, a abordagem sobre Astronomia, um tema chamativo e interessante, nas aulas de química do ensino fundamental tem sua validez, uma vez que, a sequência desenvolvida envolve discussões, diálogo, dinâmicas e imaginação. Partindo dos pressupostos citados, esta pesquisa teve como alvo alunos do 9° ano do ensino fundamental, prestes a adentrarem o ensino médio. A Astroquímica abordada fora introdutória, associado com assuntos do currículo que os alunos já tinham, ou não, visto, para viabilizar a conexão de saberes. Buscou-se levar aos estudantes temas interessantes de Astronomia, como imaginação de distâncias interplanetárias, interestelares e intergalácticas, tempo de vida do universo, nascimentos, vida e morte das estrelas, além de experimento de cor de chama, vídeos e curiosidades, sempre instigando o aluno a pensar um passo à frente, encorajando a sua imaginação e provocando um sentimento, relatado pelos próprios, de desejo de aprender mais sobre os assuntos abordados. E diante disso, avaliar a sequência didática, construída para três aulas, e definir se a mesma surtiu efeito desejado na sua objetivação. O objetivo geral do trabalho foi desenvolver e avaliar uma sequência didática utilizando o tema gerador Astroquímica para encorajamento e motivação para o aprendizado de química de alunos do 9° ano do ensino fundamental. Além de aproximar a Astronomia, uma ciência distante, do aluno, fazendo com que este se interesse mais pela ciência em geral e facilitar o aprendizado de conceitos associados à química presentes no ensino fundamental. Por limitações de softwares, os questionários não poderão ser anexados para leitura nesta etapa de avaliação.

Material e métodos

A escolha da metodologia de natureza qualitativa partiu do objetivo do trabalho, onde julgou-se que a análise dos questionários e diálogos coletados não se relacionariam com os métodos de análise de dados característicos das pesquisas quantitativas. Porém, decidiu-se que algumas perguntas objetivas nos questionários utilizariam uma escala de 0 a 10 para verificação de aprendizagem e satisfação, assente que os alunos se sentiriam cansados ao responder apenas questões subjetivas que demandam escrita. A escola disponibilizou 3 encontros (aulas) para o desenvolvimento da sequência didática, sendo 2 encontros de 90 minutos e 1 de 45 minutos. O tempo de duração das aulas ou a quantidade das mesmas não afetou qualquer ponto da sequência didática de forma negativa. O acompanhamento prévio para com a turma fora realizado por duas aulas anteriores ao início da aplicação por pedido da coordenação pedagógica da escola, pois haviam me advertido para não chegar de supetão nas aulas, uma vez que os alunos possuem cronograma das mesmas e a mudança repentina de aula-professor poderia causar timidez excessiva nos educandos e prejudicar meus resultados. Optou-se pela construção de uma sequência não demorada e não cansativa, com materiais e métodos acessíveis a qualquer professor que venha a desejar utilizar a astroquímica em aulas de química, pois a viabilidade da perpetuação deste trabalho, sob formas adaptadas ou não, é um dos objetivos pessoais deste autor. Todas as aulas foram gravadas em arquivos de áudio para extração de diálogos e observações importantes efetuadas durante a aplicação, durante todo o processo de aplicação, o professor da disciplina estava presente em sala. A escola está localizada no município de Castanhal, no Pará. É uma instituição privada que atende crianças do ensino infantil até o ensino fundamental II e cunha-se por ser a única escola de rede particular do bairro. O educandário possui ótima infraestrutura, incluindo uma sala de vídeo, utilizada em dois encontros. A sala de aula do 9° ano é fisicamente pequena, porém suficiente para os alunos matriculados regularmente na série. Participaram da pesquisa e das aulas todos os estudantes assíduos na série, todos pertencentes ao 9° ano do ensino fundamental. Estes foram avisados que seus nomes seriam preservados na escrita do trabalho, não sendo solicitado nenhum tipo de identificação individual nas aulas ou nas resoluções dos questionários. A disciplina que os mesmos estudam é C.F.B. e não Química especificamente, o que aumentou os desafios de aperfeiçoamento dos encontros e da sequência.

Resultado e discussão

Aqui, todos os alunos estão identificados como letras do alfabeto, de A a K. Na questão 2 do questionário, intitulada “Você acha que aprender química é importante para a sua vida?” Justifique sua resposta.”, os retornos dos alunos basearam-se no entendimento que a química tem envolvimento na nossa vivência e cotidiano. As alunas G e K se fundamentaram em eventos do dia-a-dia que, em uma visão simplista, parecem irrelevantes pois as pessoas em geral não se interessam em saber o porquê de seus acontecimentos, entrando a química como uma ciência que explica estes fenômenos. De uma forma geral, as respostas apresentaram afirmações de que a química é importante para a vida dos alunos, tendo um reconhecimento da importância desta disciplina no seu cotidiano. O reconhecimento dos alunos nas respostas da questão 2 aliou-se à crucial questão 4: “Você tem algum interesse em aprender sobre astronomia? [...] Justifique o que você respondeu”. Pelas respostas obtidas, a maioria dos alunos já tinham estudado sobre astronomia na escola, porém limitada a sistema solar. Todos os alunos afirmaram interesse em aprender sobre astronomia. Eis algumas respostas: “[...] Astronomia sempre foi algo que me fascinou muito, é um dos assuntos que mais gostei de estudar. Além de pesquisas feitas por mim, outro contato que tive com astronomia foi na escola” (Aluno K) “Sim, o universo é algo que me fascina e isso faz com que eu sempre vá atrás de pesquisas sobre isso” (Aluno A) “Sim. Sim, na aula de geografia e as fases da lua que aparecem no quintal de casa” (Aluno F) Percebe-se que alguns alunos procuram por si mesmos assuntos sobre astronomia para estudo próprio. Dessa forma, com o interesse no aprendizado em astronomia indicado nas respostas, nota-se uma motivação paralela, pelo apetite dos alunos no assunto, oportunizando uma forma mais eficaz de aprendizado dos conceitos. (MENDES, 2011). Questão 7: De onde você imagina que os elementos químicos vêm? “Eles são descobertos por pessoas curiosas ou com interesse imenso em descobrir coisas novas” (Aluno E) “Por recursos naturais” (Aluno F) “Para mim os elementos já estavam no planeta e os humanos precisaram descobrir” (Aluno H) Sobre a resposta do aluno E, o restante da turma concordou que a descoberta de todos os elementos se deu por parte de pessoas comuns. A resposta do aluno F deixou alguns alunos em dúvida sobre a origem natural dos elementos, com alguns deles crendo que os mesmos não surgiam naturalmente. Quando o aluno H afirmou que os elementos já estavam na Terra, fiz uma segunda pergunta aos mesmos: “Será que a Terra foi criada com todos os elementos químicos aqui?”, e obtive respostas como: “Os elementos já estavam aqui e os cientistas descobriram”; “Acho que tudo é uma questão de evolução, eles foram evoluindo até chegar nos elementos químicos que a gente conhece hoje, assim como a gente, a gente surgiu mas a gente não era assim, com o passar dos anos a gente foi evoluindo até chegar como é hoje [...]”. Para dar início ao estudo das classificações estelares por cor e temperatura, primeiro os alunos tiveram que estudar sobre ondas eletromagnéticas e definição de cor. Esse encontro foi o mais culto de todos e a maior parte de sua duração foram gastas explicando conceitos, ou seja, se aproximou das aulas que os alunos estão acostumados a ter, e para não haver tédio ou perda de concentração, foram trazidos experimentos, um vídeo e uma dinâmica para encorajamento de aprendizado. Neste encontro foram distribuídos uma folha contendo uma ilustração de um espectro eletromagnético colorido para cada aluno, para que eles pudessem acompanhar e rabiscar a folha conforme a aula ia avançando. Foi pedido dos alunos, em tom sério, para que os mesmos prestassem bastante atenção na explicação, pois o que seria aprendido nesta aula os mesmos ainda não tinham visto no ano letivo ou em anos anteriores. Apresentando imagens ilustrativas nos slides, os conceitos de ondas foram explorados, explicando sobre crista, vale, amplitude e frequência. Cada onda possui certa frequência e comprimento, com os alunos visualizando seu material, os mesmos identificaram a faixa de 400nm a 700nm no espectro e as frequências relativas para cada tipo de onda. As estrelas possuem luminosidade, que é um tipo de energia que possui comprimento de onda, que quanto menor, maior a frequência. Menores frequências determinam menores temperaturas, maiores frequências definem maior energia, e assim, maior temperatura. De todo o espectro eletromagnético, o olho humano é capaz de absorver (enxergar) apenas uma diminuta faixa, e dentro desta mesma faixa se encontra todas as cores que vemos. Foi explicado aos alunos que as cores dos objetos que vemos no mundo não é nada mais que uma onda eletromagnética emitida por aquele objeto. Após as discussões e aproximação de conceitos, houve a realização de um teste de chama colorida em sala. Foram utilizados sais diversos e um maçarico. O experimento foi realizado longe dos alunos, obedecendo normas de segurança. Durante o experimento era perguntado dos alunos as faixas aproximadas das cores emitidas no espectro distribuído, os alunos responderam corretamente todas as faixas. O momento deste experimento causou grande entusiasmo na turma, com os estudantes emitindo exclamações de surpresa e curiosidade com as chamas, a análise dos seus semblantes era de fascínio. Após decorrido experimento, buscou- se explicar o que aconteceu para os alunos entenderem corretamente o fenômeno. Primeiramente, foi mostrado aos mesmos o modelo atômico de Bohr, assunto já estudado pelos alunos para relembrarem de conceitos, o mesmo explica espectros de emissão dos átomos e descreve os mesmos como um núcleo pequeno e carregado positivamente cercado por elétrons em órbita circular (BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005). O último encontro serviu para contextualizar a "fábrica" de elementos químicos nas estrelas e o futuro do universo. No questionário de avaliação crítica e pessoal das respostas, podemos destacar algumas respostas à questão 2: “Você acha que aprendeu mais sobre Química com esse tipo de aula através do ensino de astroquímica que o professor ministrou? O que mais lhe agradou?”. “Sim, de descobrir que as estrelas têm cores e que existem estrelas maiores que o sol” Aluno J “Sim, os vídeos e a forma com que foi abordado o assunto nos prende na explicação e nos deixa curiosos para buscar mais sobre o assunto” Aluno C “Sim, o que mais me agradou nas últimas aulas foi a forma que o professor apresentou o conteúdo” Aluno A De acordo com Mendes (2011), a contextualização da astroquímica em aulas de química faz com que os alunos despertem seu interesse em estudar e conhecer o espaço que instiga muitas pessoas, não havendo uma separação concreta entre qual das ciências, química ou astronomia, ajuda mais a outra. O ponto é que é possível trabalhar tópicos de astronomia lecionando química, livrando os alunos da rotulação e separação das ciências. Analisando a quantidade de respostas positivas dos alunos à metodologia trabalhada explícita nos gráficos, as respostas à questão 8, que analisa de forma geral a satisfação dos estudantes, foram muito positivas. Eis a questão: “De modo geral, escreva um texto sobre a sua avaliação da sequência de aulas ministradas sobre astroquímica”. Eis algumas respostas: “Uma aula claramente chamativa, todos se interessaram, conseguiram entender o tema, o professor explica muito bem, uma das melhores aulas”. Aluno B “O professor que ministrou as aulas nos incentiva a buscar e nos interessar sobre o assunto, já que ele nos passa amor pelo que faz”. Aluno E “Bom, na minha opinião, essas aulas que tivemos foram muito interessantes e legais porque a astroquímica me influenciou a querer aprender mais sobre essa área voltada à química, então foi muito bom ter tido essa experiência mesmo que tenha sido por pouco tempo”.

Gráfico 1

Resultados da 4ª questão do 2º questionário final

Gráfico 2

Resultados da 7ª questão do 2º questionário final

Conclusões

A pesquisa em educação em química, em sua área como um todo, aborda de forma extensa temas sobre ensino tradicional ultrapassado e novas ideias, sequências e propostas para ensinos inovadores e efetivos. A motivação e o encorajamento de aprendizado já são bem trabalhados na educação principalmente nos campos pedagógicos, o que inclui as licenciaturas. Quando se trabalha com astronomia, percebe-se o grande número de caminhos que podem ser percorridos, especialmente quando os mesmos se encontram com a química, nascendo a astroquímica. No entanto, trabalhos nesta área voltados à área especifica astroquímica no ensino fundamental são praticamente inexistentes na literatura. Dessa forma, com um planejamento bem elaborado, a motivação e o encorajamento, servindo como bagagem apanhada no meio da jornada, partimos para o desafio de aplicar em sala de aula nossa proposta didática. Os resultados da aplicação da sequência didática, externados pelos próprios alunos, demonstram a carência que o sistema de ensino tem por ações de ensino inovadoras. Também, pelas suas opiniões finais e semblantes durante as aulas, que a união de assuntos chamativos para suas idades pode e consegue encorajá-los a aprender mais sobre química. Os estigmas negativos que rondam e assombram educadores e educandos de química, podem ser superados quando a apresentação dos conceitos for completamente inserida em um contexto adequado e as aulas realizadas se darem de forma muito mais alegre e significativa. À vista disso, pressupõe-se que a sequência didática trabalhada pode influenciar no encorajamento do aluno de química do ensino fundamental, e que os experimentos e abordagens de astronomia trabalhados podem vir a acrescentar aos estudantes uma ascensão positiva em suas visões frente à disciplina.

Agradecimentos

À Universidade Federal do Pará e ao C. E. M. L. pela oportunidade e espaço para aplicação.

Referências

BERNARDELLI, M. S. Encantar para ensinar – um procedimento alternativo para o ensino de química. In: VOLPI, José Henrique; VOLPI; Sandra Mara (Org.). Anais. 1ª CONVENÇÃO BRASIL LATINO AMÉRICA e 9ª CONGRESSO BRASILEIRO DE
PSICOTERAPIAS CORPORAIS. Foz do Iguaçu/PR. Centro Reichiano, 2004. CD- ROM. [ISBN – 85- 87691-12-0].


BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a base. Brasília, DF, 2018. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 01 jul. 2022.

BROWN, Theodore L.; LEMAY H. Eugene; BURSTEN, Bruce E. Química: a ciência central. 9. Ed. São Paulo: Pearson-Prentice Hall, 2005.

MENDES, C. C. A. Astroquímica: uma viagem pela estrutura do átomo. Livraria da Física. 1a. ed, 2011.