Autores

Lima, A.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Colins, F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Corumba, L.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)

Resumo

Os estudos dentro dos conceitos de educação ambiental possuem um avanço no decorrer da história, hoje com o advento de documentos curriculares que norteiam o ensino das escolas, os temas de meio ambiente estão configurados de forma transdisciplinar, porém a escolha dos livros se faz fundamental, assim se forma este trabalho, com o objetivo de analisar os livros didáticos dos anos finais do ensino fundamental por meio de categorias elencadas pelo autor, que se baliza em seleção dos livros, reconhecimento do material e assim feita uma leitura superficial ampliada e depois a focalização dos conteúdos que são específicos e relacionados a educação ambiental. Este estudo tem por função então contribuir para a ampliação dos conhecimentos acerca dos conteúdos que são levados para a escola e discutir suas eficiências e deficiências.

Palavras chaves

Educação Ambiental; Escola; Ensino

Introdução

Sobre o ensino de Ciências, existem alguns documentos norteadores tais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Os PCN são os documentos de orientação publicados em 1998, nele são elencados os conteúdos e formas de ensino padronizado que permitem a discussão de temas relacionados a cada nível de escolarização, levando em consideração a adequação do assunto e série escolar (BRASIL, 2006). De acordo com o PCN de ciências dos anos finais do ensino fundamental, elencam-se as responsabilidades que devem ser assumidas pelos cidadãos, o desenvolvimento de uma postura crítica dos estudantes em relação aos problemas ambientais causados pelos seres humanos (BRASIL, 2000). Os PCN buscam mostrar a Ciência como elaboração humana para a compreensão do mundo, uma meta estabelecida para o ensino da área na escola fundamental” (BRASIL, 1998, p.22). Por isso, os conteúdos conceituais e procedimentais devem fomentar nos alunos uma visão crítica e reflexiva acerca dos problemas ambientais gerados pela ação irresponsável dos seres humanos. Nesse sentido, os professores que ensinam Ciências poderiam planejar atividades que contribuíssem para a formação de um aluno questionador e que pudesse [...] interpretar os fenômenos da natureza, para compreender como a sociedade nela intervém utilizando seus recursos e criando um meio social e tecnológico. É necessário favorecer o desenvolvimento de postura reflexiva e investigativa, de não-aceitação, a priori, de ideias e informações, assim como a percepção dos limites das explicações, inclusive dos modelos científicos, colaborando para a construção da autonomia de pensamento e de ação (BRASIL, 1998, p. 23). Os PCN e a BNCC apresentam abordagens teórico- metodológicas distintas em relação, sobretudo, aos temas ambientais no contexto do ensino de Ciências. O tema Meio Ambiente, por exemplo, é apresentado de maneira interdisciplinaridade e como um tema transversal, ou seja, como uma possibilidade de integrar o ensino das diversas áreas do conhecimento. Entre os temas transversais elencados nos PCN estão: saúde, ética, orientação sexual, pluralidade cultural e trabalho e consumo, temáticas que possibilitam uma prática pedagógica interdisciplinar (BRASIL, 2000). A BNCC fala sobre a questão do letramento científico, ou seja, “a capacidade de compreender e interpretar o mundo (natural, social e tecnológico), mas também de transformá- lo com base nos aportes teóricos e processuais das ciências” (BRASIL, 2017, p. 321). Nesse sentido, estar letrado cientificamente significa compreender e agir no e sobre o mundo em que vive, isso implica na ação de exigir seus direitos e exercer seus deveres. Para Bertoldi (2020), o indivíduo letrado consegue relacionar os conteúdos científicos aprendidos na escola com sua vivência cotidiana, possibilitando ao aluno um novo olhar acerca da sociedade e da interação entre seres humanos e a natureza. Como a conservação ambiental depende diretamente de uma conscientização e isso está diretamente vinculado a mudança de hábitos pessoais, a educação passa a ser a ferramenta mais adequada de gerar essa mudança e visualização, assim sendo, as instituições de ensino são responsáveis por atuar em paralelo à educação recebida em casa para gerar princípios e valores, dessa forma os alunos, professores e seus pares passam a gerar ferramentas que vão possibilitar a formação de cidadãos mais responsáveis e viverem em uma sociedade mais civilizada (CUBA, 2010). São com pequenos atos que se pode ensinar educação ambiental na escola, esses pequenos atos são direcionados principalmente a educação infantil, tal como o incentivo de uso correto e consciente dos recursos naturais como água e seu derivado a energia elétrica, onde a economia seja centralizada por meio de placas e conversas, o ensino de forma correta do descarte de materiais por meio de coleta seletiva, ensinando as cores corretas das lixeiras e o que deve ser depositado em cada uma delas, promover um consumo consciente de plásticos, se utilizando mais de objetos que possam ser reutilizados do que os descartáveis e até mesmo o uso de técnicas de ensino de elaboração de compostagem e a criação de uma horta coletiva na escola, tudo isso possibilita a ampliação das consciências ambientais de forma leve e linear nos estudantes, não havendo uma necessidade de restringir nível de ensino ou mesmo idade (CUBA, 2010). Althusser (1985) sustenta que, diante de todos os aparelhos ideológicos pertencentes ao estado, o que mais possui influência na vida de uma criança é o aparelho ideológico escolar, já que é nele que os indivíduos passam horas e anos absorvendo e aprendendo, não só conteúdos teóricos, mas também conceitos e valores. É diante dessa perspectiva que a presente pesquisa está inserida, levando em consideração que o livro didático, é indiscutivelmente o material mais utilizado no ambiente escolar, tido como uma das principais ferramentas metodológicas do processo de ensino.

Material e métodos

A análise  foi desenvolvida a partir da discussão se os temas e conteúdos que fazem parte dos livros, abordam ou não os aspectos selecionados que direcionam o olhar sobre as concepções referentes à educação ambiental. Nesse sentido, após catalogar os trechos significativos para o objetivo da pesquisa, estes foram classificados em categorias referentes aos enfoques que norteiam a educação ambiental. São elas: Contextualização dos conhecimentos; O meio ambiente em sua totalidade; Temas atuais e Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente. Quadro 1 - Matriz de análise da educação ambiental. Categorias Descrição da categoria C1 Contextualização dos conhecimentos: Apresenta conteúdos que relacionam a origem do conhecimento científico para sua aplicação no cotidiano. C2 O meio ambiente em sua totalidade: Tem a concepção do meio ambiente considerando a interdependência entre o meio natural,  o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade, abordando questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais. C3 Temas atuais: Enfatiza os objetos de debate da sociedade, estabelecendo relações entre o meio ambiente e o exercício da cidadania. C4 Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente: Adota uma visão contextualizada abordando as interações entre a Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA), mostrando os benefícios mas também os malefícios em relação ao meio ambiente e a sociedade. Fonte: Próprio autor Após serem realizadas todas as etapas da análise dos conteúdos de modo a verificar se e como a educação ambiental é tratada nos livros didáticos, em seguida serão apresentados os resultados da pesquisa. De modo geral, nos quatro volumes da coleção analisada, os conteúdos programáticos distribuem-se em capítulos, apresentando textos científicos com ilustrações, seguidos por sugestões de atividades que não fogem aos padrões dos livros didáticos. Esta investigação buscou identificar se e como os enfoques da educação ambiental estavam presentes nos livros didáticos da coleção “Araribá mais Ciências”, e para apresentar melhor os resultados da pesquisa, após a análise dos conteúdos, foi gerada a Tabela 1, que deu origem a quantidade total de representatividade de cada categoria de análise em cada um dos quatro livros analisados (6ºano  ao  9ºano).   Tabela 1 - Categorias de análise nos livros didáticos. Categorias 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano Total C1 3 0 1 0 4 C2 4 0 4 0 8 C3 3 7 3 3 16 C4 3 6 1 0 10 Total 13 13 9 3    - Fonte: Próprio autor   A coleção apresenta relação entre a ciência, desenvolvimento e a sustentabilidade, aborda conceitos ligados com situações práticas das diversas áreas do conhecimento e com as teorias atuais do ensino de Ciências condizentes com as diretrizes dos documentos curriculares. Contudo, a partir dos dados obtidos e das análises realizadas, concluímos que o desenvolvimento dos conteúdos programáticos da coleção mantém estreita relação com os preceitos

Resultado e discussão

A análise  foi desenvolvida a partir da discussão se os temas e conteúdos que fazem parte dos livros, abordam ou não os aspectos selecionados que direcionam o olhar sobre as concepções referentes à educação ambiental. Nesse sentido, após catalogar os trechos significativos para o objetivo da pesquisa, estes foram classificados em categorias referentes aos enfoques que norteiam a educação ambiental. São elas: Contextualização dos conhecimentos; O meio ambiente em sua totalidade; Temas atuais e Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente. Quadro 1 - Matriz de análise da educação ambiental. Categorias Descrição da categoria C1 Contextualização dos conhecimentos: Apresenta conteúdos que relacionam a origem do conhecimento científico para sua aplicação no cotidiano. C2 O meio ambiente em sua totalidade: Tem a concepção do meio ambiente considerando a interdependência entre o meio natural,  o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade, abordando questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais. C3 Temas atuais: Enfatiza os objetos de debate da sociedade, estabelecendo relações entre o meio ambiente e o exercício da cidadania. C4 Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente: Adota uma visão contextualizada abordando as interações entre a Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA), mostrando os benefícios mas também os malefícios em relação ao meio ambiente e a sociedade. Fonte: Próprio autor Após serem realizadas todas as etapas da análise dos conteúdos de modo a verificar se e como a educação ambiental é tratada nos livros didáticos, em seguida serão apresentados os resultados da pesquisa. De modo geral, nos quatro volumes da coleção analisada, os conteúdos programáticos distribuem-se em capítulos, apresentando textos científicos com ilustrações, seguidos por sugestões de atividades que não fogem aos padrões dos livros didáticos. Esta investigação buscou identificar se e como os enfoques da educação ambiental estavam presentes nos livros didáticos da coleção “Araribá mais Ciências”, e para apresentar melhor os resultados da pesquisa, após a análise dos conteúdos, foi gerada a Tabela 1, que deu origem a quantidade total de representatividade de cada categoria de análise em cada um dos quatro livros analisados (6ºano  ao  9ºano).   Tabela 1 - Categorias de análise nos livros didáticos. Categorias 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano Total C1 3 0 1 0 4 C2 4 0 4 0 8 C3 3 7 3 3 16 C4 3 6 1 0 10 Total 13 13 9 3    - Fonte: Próprio autor   A coleção apresenta relação entre a ciência, desenvolvimento e a sustentabilidade, aborda conceitos ligados com situações práticas das diversas áreas do conhecimento e com as teorias atuais do ensino de Ciências condizentes com as diretrizes dos documentos curriculares. Contudo, a partir dos dados obtidos e das análises realizadas, concluímos que o desenvolvimento dos conteúdos programáticos da coleção mantém estreita relação com os preceitos da Educação Ambiental, pois se restringe a abordagens comportamentalista-individualistas, com vistas ao indivíduo de forma muito isolada. Nos volumes do 6° e 7° anos dessa coleção, o número de fragmentos que abordam as categorias elencadas pelo autor e que norteiam e direcionam o olhar para a efetivação da conservação do meio ambiente, atingiram maior quantidade. Apesar das poucas discussões sobre a Educação Ambiental em volumes que, teoricamente, deveriam tratar mais diretamente a questão, os conteúdos que trazem temáticas ambientais apresentam-se de forma superficial, fragmentada, com ênfase na resolução de problemas. Outras discussões sobre a problemática ambiental, abordadas nos demais volumes do 8° e 9° ano do ensino fundamental da educação básica, correspondem às relações entre saúde e ambiente, à descrição de doenças e transformações químicas e físicas. Embora seja oportuna a correlação entre o conteúdo programático, especialmente da área de Química com a Educação Ambiental, a dinâmica da discussão dos temas ambientais nesses volumes tem caráter formativo e descritivo, referente às noções de Química e Física. Esse enfoque não foge à regra da maioria dos livros didáticos, como aponta Bizzo (2002), e pouco ou quase não proporciona mudanças de atitudes e valores, muito menos a participação social ativa do indivíduo para sua formação como cidadão. Apesar de a organização de conteúdos na perspectiva da transversalidade sugerida pelos PCN, favorecer a abordagem interdisciplinar da temática ambiental, o que se deve considerar é que dialogar com as diferentes concepções da Educação Ambiental presentes na dinâmica das salas de aula é outro grande desafio para a Educação, tendo em vista que “as práticas pedagógicas comprometidas com mudanças contrapõem os mais diversos ‘sujeitos’, ora considerados nos papéis diferenciados do professor (a) e aluno(a), ora compreendidos na condição de diferentes diante de uma história comum” (REIGOTA, 2004, p. 9). Ao levarmos em consideração os termos teórico- metodológicos, a BNCC sugere o trabalho pedagógico a partir de práticas investigativas. Para isso, o professor precisa partir de “questões que sejam desafiadoras e, reconhecendo a diversidade cultural, estimulem o interesse e a curiosidade científica dos alunos e possibilitem definir problemas, levantar, analisar e representar resultados; comunicar conclusões e propor intervenções” (BRASIL, 2017, p. 322). Portanto, o processo investigativo deve ser o centro do processo de ensino-aprendizagem de Ciências. Dito isso, é importante salientar que não existe livro melhor ou pior, afinal, o valor textual e a decisão de como usar uma coleção de livro didático são determinados pelo professor que irá fazer uso desse material.

Conclusões

De modo geral, nos quatro volumes da coleção analisada, os conteúdos programáticos distribuem-se em capítulos, apresentando textos científicos com ilustrações, seguidos por sugestões de atividades que não fogem aos padrões do que deseja dentro de termos de educação ambiental, porém as dificuldades observadas para a geração de aproximações práticas da temática dentro do contexto educacional se torna um ponto de desafio, tendo em vista que alguns ambientes de promoção de educação ambiental não são explorados como deveriam. Como elencado, as escolas são as primeiras etapas dos indivíduos para a formação de um cuidado para com o meio ambiente, tendo assim então a visualização que as escolhas de livros adequados são fundamentais e apesar de ter o livro como o elemento didático principal, é fundamental que ainda se utilize materiais além destes que são pré-estabelecidos pelo Governo. 

Agradecimentos

Referências

ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. 1985.

 

BIZZO, Nelio. A avaliação oficial de materiais didáticos de Ciências para o ensino fundamental no Brasil. In: ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE BIOLOGIA, 7.. 2000, São Paulo. Anais... São Paulo: 2002.

 

BERTOLDI, Anderson. Alfabetização científica versus letramento científico: um problema de denominação ou uma diferença conceitual?. Revista Brasileira de Educação, v. 25, 2020.

 

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências. Secretaria de Ensino

Fundamental. Brasília: SEF/MEC, 1998.

 

______. Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN+). Ciências da Natureza e Matemática e suas tecnologias.

Brasília: MEC, 2006.

 

______. Parâmetros Curriculares Nacionais. Bases Legais. Brasília: MEC, 2000.

 

______.Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Secretaria de

Educação Básica. Brasília: SEB/MEC, 2017.

 

CUBA, Marcos Antônio. Educação ambiental nas escolas. Educação, Cultura e

Comunicação, v. 1, n. 2, 2010.

 

REIGOTA, Marcos. Meio ambiente e representação social. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2004.