Autores

Carvalho, E.L. (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) ; Aucélio, R.Q. (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

Resumo

A pandemia da Covid-19 impactou diversos setores, inclusive na educação, sendo necessário realizar um acompanhamento dos alunos nesse retorno presencial após dois anos em distanciamento social.O trabalho propôs realizar um diagnóstico do impacto do retorno do ensino presencial no desempenho dos discentes na disciplina – com foco nas dificuldades de aprendizagem, importância das monitorias e preferência por formato de ensino dos discentes de Engenharia Química, da PUC-Rio, matriculados na disciplina Química Analítica B no primeiro semestre de 2022. A metodologia teve caráter exploratório-descritivo de abordagem qualitativa adotando como procedimento técnico-metodológico questionário aberto com a coleta de dados através de entrevistas.

Palavras chaves

Ensino de Química; Ensino Presencial; Ensino Superior

Introdução

Em dezembro de 2019 foram registrados, em Wuhan, na China, os primeiros casos de uma nova infecção que atinge o trato respiratório ocasionada pelo coronavírus denominado Sars-CoV-2. A transmissão da doença rapidamente se espalhou pelo mundo e foi decretado, pela a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia do COVID-19 que vitimou milhões de pessoas globalmente. No Brasil, em março de 2020, através da portaria MEC nº 343, todas as instituições de ensino foram obrigadas fechar presencialmente e o ensino passou ser realizado remotamente numa adaptação emergencial, se utilizando de recursos digitais, como medida de contenção do espalhamento do vírus ao promover um distanciamento social devido ao estado de calamidade reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020. Com o avanço da cobertura vacinal – e consequente redução da taxa de letalidade da doença – a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) retornou integralmente suas atividades presenciais em 2022, porém, adotando diversos protocolos sanitários para a segurança no campus, como o uso constante de máscaras adequadas, restrição a aglomerações, apresentação de comprovante de vacinação e higienização das mãos. Além disso, estabeleceu protocolos para alunos e professores com Covid-19 ou com suspeita da doença, amplamente divulgados pelo Serviço de Medicina Ocupacional (SMO) da PUC-Rio. Nesse retorno de uma situação atípica também se faz necessário que seja adotado escuta ativa e acolhimento da comunidade acadêmica. Soares et al. (2016) aponta sobre a importância de diagnosticar a realidade escolar para que o planejamento de atividades e definição de estratégias que sejam adequadas para determinado contexto escolar. O artigo 27, parágrafo 4, da Resolução CNE/CP Nº 2/2020 também recomenda a avaliação diagnóstica para identificar lacunas de aprendizagem e, a partir disso, que cada instituição de ensino desenvolva orientações de programas de recuperação da aprendizagem ao longo do retorno. Sendo assim, o seguinte estudo foi concebido com o objetivo de se analisar os impactos da pandemia na educação superior, com enfoque na aprendizagem da disciplina Química Analítica, e busca verificar as vivências dos alunos nesse contexto de pós-pandemia e assim orientar ações na retomada do presencial.

Material e métodos

Essa pesquisa teve caráter exploratório-descritivo de abordagem qualitativa adotando como procedimento técnico-metodológico questionário aberto com a coleta de dados através de entrevistas realizadas em 5 de julho de 2022. A população da pesquisa consistiu em 7 (sete) alunos matriculados no Curso Superior de Engenharia Química e na disciplina Química Analítica B, do departamento de Química da PUC- Rio, no primeiro semestre de 2022. Foram desenvolvidas 5 (cinco) perguntas a fim de compreender o impacto do retorno do ensino presencial no desempenho dos discentes na disciplina – com foco nas dificuldades de aprendizagem, importância das monitorias e preferência por formato de ensino.

Resultado e discussão

Devido ao momento pandêmico houve uma adaptação do ensino presencial para o modo remoto de forma emergencial, mas devido a situação atípica a modalidade foi implementada de modo abrupto e com propostas pedagógicas que não atendiam ao perfil e formas de aprender dos alunos que estavam acostumados com cultura escolar presencial. Além disso, muitos professores não estavam preparados para os desafios do ensino remoto. Apesar das respostas serem subjetivas e colhidas individualmente, os discentes foram unânimes em relação ao retorno presencial estar facilitando a aprendizagem, pois conseguem aumentar o foco e se tornam mais participativos. Apesar de alguns apontarem algumas facilidades que o ensino remoto trouxe, como flexibilidade de horários e consulta de diversos materiais, também houve unanimidade em relação a preferência ao ensino presencial, pois os alunos também não estavam preparados para enfrentar estes e outros desafios. Amarilla Filho (2011) aponta que o ensino de modo remoto demanda disciplina e autonomia do aluno, pois se baseia em um estudo solitário devido a distância física com o professor e dos demais estudantes – que afeta a socialização entre os pares – e também apresenta o desafio na compreensão e utilização das ferramentas disponibilizadas no ambiente virtual. O projeto de monitorias ocorreu, ao longo de todo o semestre, por intermédio de uma doutoranda do Departamento de Química e orientada pelo professor da disciplina. De acordo com Friedlander (1984, p.113), aluno monitor é aquele que “interessado em desenvolver-se, aproxima-se de uma disciplina ou área de conhecimento e junto a ela realiza pequenas tarefas ou trabalhos que contribuem para o ensino, a pesquisa ou o serviço de extensão à comunidade dessa disciplina”. Dessa maneira, o projeto permite que um aluno da pós-graduação aprimore suas habilidades de docência de forma prática. Os alunos apontaram que as monitorias foram essenciais para o aprendizado da matéria e possibilitaram maior compreensão dos conceitos de cálculos, pois foram destinadas, em sua maioria, para a resolução de exercícios com cálculos matemáticos por ser uma necessidade manifestada por eles. As dificuldades em cálculo no Ensino Superior não são um fenômeno recente nos cursos de Química. Podendo ser oriundas de defasagens do ensino fundamental, médio ou até mesmo por abstração em como esses conteúdos são explanados no Ensino de Química (MORAES; TEIXEIRA JUNIOR, 2014). Em relação a preferência pelo formato que as monitorias seriam aplicadas houveram respostas mistas. O formato remoto flexibiliza os horários e permite participação daqueles que trabalham ou fazem estágio, porém no modo presencial os alunos se sentem mais participativos e conseguem sanar dúvidas com mais facilidade.

Conclusões

Ao longo do estudo procurou-se destacar os desafios encontrados pelos alunos ao longo da disciplina Química Analítica B nesse retorno presencial. A avaliação diagnóstica é uma importante ferramenta que permite a obtenção de informações pedagógicas para direcionamento da atuação do professor, dos departamentos e instituições. Por intermédio dessas avaliações se pode nortear o planejamento de atividades de modo que atenda efetivamente às necessidades dos alunos. A modalidade ensino remoto foi uma necessidade emergencial devido ao momento pandêmico, pois surgiu para não inviabilizar o ensino em meio a obrigatoriedade de um distanciamento social. Porém, com a urgência da situação não houve um preparo adequado para alunos e professores que foram apenas inseridos nesse sistema. Com o retorno presencial se torna necessário um acompanhamento empático e de acolhimento com esses alunos que ficaram tanto tempo longe da sala de aula. As monitorias foram essenciais para auxiliar nas dificuldades enfrentadas pelos estudantes no entendimento adequado dos conceitos e cálculos, sendo de suma importância que continuem a serem ofertadas nos próximos semestres independente do formato remoto ou presencial. Além disso, se espera que mais professores ofereçam essa possibilidade em suas disciplinas junto com seus orientandos de pós- graduação.

Agradecimentos

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq-Brasil) pelo financiamento através de bolsa de fomento.

Referências

AMARILLA FILHO, Porfírio. Educação a distância: uma abordagem metodológica e didática a partir dos ambientes virtuais. Educação em Revista, Belo Horizonte , v. 27, n. 2, p. 41-72, Ago. 2011.

BRASIL. Decreto Legislativo nº 6 de 20 de março de 2020.Reconhece, para os fins do art. 65 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, a ocorrência do estado de calamidade pública, nos termos da solicitação do Presidente da República encaminhada por meio da Mensagem nº 93, de 18 de março de 2020.

BRASIL. Portaria nº 343 de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - COVID-19.

BRASIL. Resolução CNE/CP nº 2 de 10 de dezembro de 2020. Institui Diretrizes Nacionais orientadoras para a implementação dos dispositivos da Lei nº 14.040, de 18 de agosto de 2020, que estabelece normas educacionais excepcionais a serem adotadas pelos sistemas de ensino, instituições e redes escolares, públicas, privadas, comunitárias e confessionais, durante o estado de calamidade reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020.


FRIEDLANDER, M. R. Alunos-monitores: uma experiência em Fundamentos de Enfermagem, Rev. Esc Enf. USP, São Paulo, 18(2):113-120,1984.

MORAES, C.A; TEIXEIRA JUNIOR, J.G. Reflexões Sobre o Ensino de Cálculo Diferencial e Integral em Cursos de Graduação em Química. DiversaPrática - UFU, Uberlândia, v. 2, n. 1, p. 194-217. 2014


SOARES, J. M. C. et al. Diagnóstico Da Realidade Escolar Como Instrumento Norteador De Ações Do Programa Institucional De Bolsa De Iniciação À Docência (PIBID).Itinerarius Reflectionis - UFG, Jataí, v. 12, n. 1, 1 fev. 2016