Autores

Martins, M.T. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Martins, A.G.P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Lima, K.S.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Pinheiro, S.O. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Urcezino, A.S.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)

Resumo

As Olimpíadas Científicas ocorrem há décadas, mas, em geral, somente estudantes do Ensino Médio podem se inscrever. Em 2017, no Ceará, surge a Olímpiada de Química voltada para alunos de Graduação, a Olimpíada Cearense do Ensino Superior de Química (OCESQ), que ocorre em duas fases e possui cinco (5) modalidades envolvendo subáreas da Química. Esta pesquisa, através de dados obtidos pelo site oficial da OCESQ, analisou em termos qualitativos e quantitativos, o perfil das provas de Química Orgânica da OCESQ, nas primeiras fases das quatro (4) primeiras edições, através da frequência com que aparecem em relação ao conteúdo programático. Observou-se que quatro (4) dos dezoito (18) conteúdos programáticos cobrados na OCESQ, foram os que mais cobraram nas provas.

Palavras chaves

Ensino de Química.; Olimpíada.; Ciência.

Introdução

As Olimpíadas Científicas ocorrem há várias décadas, como a Internacional de Química (IchO, sigla oficial em inglês), que surgiu em 1968 (FUNG et al., 2018)⁠, a Brasileira de Química (OBQ), realizada pela primeira vez em 1986 (OBQUIMICA, 2022), todas voltadas aos estudantes do Ensino Médio. Em 2017, o Brasil tem a sua primeira experiência que permite a inscrição de estudantes de graduação neste tipo de provas, com a Olimpíada Cearense do Ensino Superior de Química (QUÍMICA, 2022). Ela praticamente manteve seu objetivo, ao longo de suas edições, sendo em síntese: Estimular os estudantes dos Cursos de Ensino Superior: Licenciatura em Química, Bacharelado em Química, [...] a se aperfeiçoarem, contribuindo para a descoberta de jovens talentos na área de Química, a curiosidade científica e a desenvolverem seus conhecimentos e habilidades a partir do espírito olímpico (QUÍMICA, 2022). No ano seguinte, 2018, surgiu a Olimpíada Brasileira do Ensino Superior de Química (OBESQ) (OBESQ, 2022). Tanto a OCESQ como a OBESQ, possui financiamento estatal, fenômeno comum as Olimpíadas científicas (REZENDE E OSTERMANN, 2012)⁠, abordam conhecimentos teóricos de Química, e são divididas em 5 modalidades, a saber: Química Geral, Química Inorgânica, Química Orgânica, Físico-Química e Química Analítica, tendo, cada uma dessas, questões em três níveis de dificuldade, sendo: primeiro, referente a conhecimentos básicos; segundo, a conhecimentos intermediários; e o terceiro, a avançados. O processo dessas olimpíadas envolve duas etapas, e os (as) estudantes que apresentam melhor desempenho recebem premiações. Interessante destacar que, nesses processos, segundo Tomkins et al. (2003)⁠ não somente os(as) estudantes, como também os(as) professores(as), expandem seus conhecimentos científicos, e, com isso, segundo Quadros et al. (2011), é possível mitigar um dos sérios problemas educacionais, no Brasil, que é a existência de professores(as) formados sem problematização do conteúdo. Nesse contexto, visando compreender a OCESQ, nos anos anteriores ao corrente, este trabalho analisou o perfil de suas provas de Química Orgânica, através da frequência com os conteúdos aparecem nas suas primeiras fases.

Material e métodos

A pesquisa ocorreu em duas etapas: Na primeira, em julho de 2022, através do site oficial da OCESQ (http://ceara.obquimica.org), conseguiu-se os dados para as análises qualitativa e quantitativa e consistiu em conferir a semelhança entre os conteúdos programáticos, da área de Química Orgânica, nas edições da OCESQ. Os dados foram analisados na 2ª edição, ocorrida em 2018 (http://ceara.obquimica.org/arquivos/download/599/edital-01-2018-dqoi-ii-ocesq); Na 3ª edição, ocorrida em 2019 (http://ceara.obquimica.org/arquivos/download/975/edital-iii-ocesq) e na 4ª etapa, ocorrida em 2021 (http://ceara.obquimica.org/arquivos/download/1212/edital-iv-ocesq). Em relação a 1ª edição, não se conseguiu acesso ao edital. Em 2020, devido a pandemia da COVID-19, a OCESQ não ocorreu. A segunda etapa consistiu na quantificação da frequência de ocorrência dos conteúdos programático, e para tanto conseguiu-se as prova através dos sites: http://ceara.obquimica.org/arquivos/download/589/prova-1a-ocesq-fase-i, referente a 1ª edição; http://ceara.obquimica.org/arquivos/download/604/prova- da-1a-fase-daii-ocesq, referente a 2ª edição; http://ceara.obquimica.org/arquivos/download/979/prova-1afase-iii-ocesq-2019, referente a 3ª edição; http://ceara.obquimica.org/arquivos/download/1212/edital- iv-ocesq, referente a 4ª edição. Para termos metodológicos, se fez as seguintes delimitações: 1) Quando um tópico analisado apresentou uma frequência de ocorrência igual, ou superior a 25%, ele foi categorizado como concentrado, e quando sua frequência foi abaixo de 25%, ele foi categorizado como diluído. 2) Devido ao amplo conteúdo programático, resolveu-se trabalhar somente com os tópicos que o organiza. 3) Ao delimitar uma questão em um conteúdo programático, fez-se buscando o tópico hegemônico da mesma, apesar de se averiguar diversas questões em diálogo com mais de um.

Resultado e discussão

Em relação a 1ª etapa desta pesquisa, constatou-se que os conteúdos programáticos, na área de Química Orgânica, eram iguais nas 4 primeiras edições da OCESQ, totalizando 18 (dezoito), e sendo: 1) Teoria Estrutural; 2) Funções Orgânicas; 3) Estereoquímica; 4) Ácidos e Bases; 5) Biomoléculas; 6) Mecanismo, reatividade e estereoquímica das Reações dos hidrocarbonetos insaturados; 7) Reações dos alcanos e cicloalcanos; 8) Reações dos compostos aromáticos; 9) Reações dos haletos de alquila; 10) Reações dos álcoois, fenóis e éteres; 11) Reações de aldeídos e cetonas; 12) Reações de ácidos carboxílicos e seus derivados; 13) Reações de compostos Orgânicos Nitrogenados; 14) Bioquímica; 15) Espectroscopia no Ultravioleta e Visível (UV–VIS); 16) Espectroscopia no Infravermelho (IV); 17) Espectrometria de Massas (EM); 18) Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN). Em relação à segunda etapa (Tabela 1) que analisa a frequência com que ocorrem os tópicos do conteúdo programático, nas provas de 1ª fase das 4 primeiras edições da OCESQ, de Química Orgânica. Nessa, a primeira coluna apresenta os nomes dos conteúdos programáticos. Da segunda à quinta coluna tem-se, para cada edição pesquisada, o quantitativo de questões que abordaram o tópico descrito em cada linha, sendo que, em parêntese, consta a numeração das questões que abordaram o tópico, na respectiva edição da OCESQ. E a última coluna apresenta para cada tópico analisado o total de questões que o abordaram em relação às edições pesquisadas, e, em parênteses, tem-se o percentual em relação à quantidade total de questões, das 4 edições da OCESQ. Analisando a Tabela 1, percebe-se que, nas 2 primeiras edições, todos os tópicos estão na categoria de diluídos, visto apresentarem uma frequência menor a 2,5. Ou seja, essas edições apresentaram um perfil de diversificação dos tópicos passíveis de cobrança, apesar de cada uma ter repetido o item 11 (Reações de aldeídos e cetonas). Mas para as 2 últimas edições, tem-se alguns itens que estão na categoria de concentrados, sendo, para a 3ª edição (frequência igual, ou acima, de 2, os tópicos 3 (Estereoquímica) e 6 (Mecanismo, reatividade e estereoquímica das Reações dos hidrocarbonetos insaturados) e para a 4ª edição (frequência igual, ou acima, de 1,5 o conteúdo 1 (Teoria Estrutural). Com isso, em relação as edições pesquisadas da OCESQ, nota-se uma mudança de perfil na área de Química Orgânica, o que corrobora com Erthal et al. (2014) sobre alterações, ao longo do tempo, nos perfis nas Olimpíadas do campo das Ciências Naturais. Quando se analisa a última coluna, percebe-se que, mesmo tendo as 4 edições 34 questões, 1/3 (um terço) dos tópicos do conteúdo programático nunca foram cobrados, ou seja, 6 dos 18. São eles: 2) Funções Orgânicas; 7) Reações dos alcanos e ciclo alcanos; 10) Reações dos álcoois, fenóis e éteres; 14) Bioquímica; 15) Espectroscopia no Ultravioleta e Visível (UV–VIS); e 17) Espectrometria de Massas (EM). Enquanto que 1/6, ou seja, 4 dos 18 tópicos, são abordados em 56% das questões, ou 19 das 34. São eles: 1) Teoria Estrutural; 3) Estereoquímica; 6) Mecanismo, reatividade e estereoquímica das Reações dos hidrocarbonetos insaturados; e 11) Reações de aldeídos e cetonas. E o com maior frequência, 3) Estereoquímica, com 6 questões, é o único tópico que foi cobrado em todas as edições pesquisadas.

Tabela 01.

Análise da frequência com que ocorrem os conteúdos programáticos nas provas de 1ª fase das 4 primeiras edições da OCESQ da área de Química Orgânica.

Conclusões

Ao analisar as 4 primeiras edições da OCESQ, em termos da frequência com que ocorrem os tópicos do conteúdo programático nas provas de 1ª fase da área da Química Orgânica, conclui-se que elas mudaram o seu perfil, passando de diversificado, tendo uma diluição entre os tópicos nas 2 primeiras edições para concentrado nas 2 últimas, em 4 de 18 tópicos cobrados. Essa constatação estimula futuras pesquisas, como: nas edições da OCESQ, o perfil e tópicos cobrados vão ao encontro dos objetivos da OCESQ? Estão em sintonia com as necessidades de superação do atual estado da arte da Química Orgânica? Fortalecem as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos relacionados à Química? E uma possível utilidade desta pesquisa, oriunda da identificação de uma forte tendência para determinados conteúdos, é na construção de rotinas de estudos com vistas à um bom desempenho na OCESQ, mesmo esta pesquisa não permitindo predizer exatamente como será o perfil, e quais os tópicos cobrados da área da Química Orgânica das futuras edições da OCESQ.

Agradecimentos

A UECE pelas bolsas de preparação para competições acadêmicas/OCESQ, e as (aos) bolsistas: Giovanna Hellen Lima Sousa, Gloria Stefany Carias Santos e Mauricio da Silveira Gomes.

Referências

ERTHAL, J. P. C., et al. Análise e caracterização das questões das provas da Olimpíada Brasileira de Física. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Alegre, v. 32, n. 1, p. 142, 28 jul. 2014. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). http://dx.doi.org/10.5007/2175-7941.2015v32n1p142. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/view/2175-7941.2015v32n1p142. Acesso em: 10 jul. 2022.

FUNG, F. M., et al. Celebrating the Golden Jubilee of the International Chemistry Olympiad: back to where it all began. Journal of Chemical Education, [S.I.], v. 95, n. 2, p. 193-196, 21 dez. 2017. American Chemical Society (ACS). http://dx.doi.org/10.1021/acs.jchemed.7b00640. Disponível em: https://pubs.acs.org/doi/10.1021/acs.jchemed.7b00640. Acesso em: 08 jul. 2022.

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QUADROS, A. L., et al. Ensinar e aprender Química: a percepção dos professores do ensino médio. Educar em Revista, Curitiba, n. 40, p. 159-176, jun. 2011. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0104-40602011000200011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/8YKJJSPswz48dQxghp8K4yn/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 10 jul. 2022.

QUÍMICA, Olimpíada Cearense de. Arquivos. Disponível em: http://ceara.obquimica.org/arquivos. Acesso em: 8 jul. 2022.

REZENDE, F.; OSTERMANN, F. Olimpíadas de ciências: uma prática em questão. Ciência & Educação, Bauru, v. 18, n. 1, p. 245-256, 2012. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1516-73132012000100015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ciedu/a/sJnHSPHS8dWXtMh9mBz3MKH/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 09 jul. 2022.

TOMKINS, R. P. T., et al. The New Jersey Chemistry Olympics Revisited. Journal of Chemical Education, v. 80, n. 10, p. 1161, 1 out. 2003.