Autores

Ribeiro, I.A. (UEA) ; Pereira, P.M. (UEA) ; Souza, A.L.S. (UEA) ; Jacaúna, M.C. (UEA) ; Marques, A.S.V. (SEDUC)

Resumo

O presente trabalho discorre sobre uma experiência vivenciada pelos bolsistas do PIBID/Química-UEA Parintins e teve por objetivo identificar a concepção dos estudantes sobre a contaminação do Rio Madeira por mercúrio (Hg). O lócus da pesquisa aconteceu em uma escola pública do município de Parintins/AM. A pesquisa caracteriza-se como qualitativa do tipo Relato de Experiência, as atividades foram desenvolvidas durante 5 aulas, com duração média de 50 minutos, no mês de abril de 2022. Os resultados revelaram que é possível abordar temas recorrentes e contextuais nas aulas de Química, propiciando a Alfabetização Científica e por consequência a formação cidadã e a difusão do conhecimento científico no e para além do contexto escolar.

Palavras chaves

Relato de Experiência; Divulgação Científica; Metodologias Ativas

Introdução

A Química é uma ciência muito importante para sociedade, o que a torna essencial na formação da cidadania. Sua relevância vai desde a utilização diária de produtos químicos até as inúmeras influências e impactos no desenvolvimento dos países, nos problemas referentes à qualidade de vida das pessoas, nos efeitos ambientais das aplicações tecnológicas e nas decisões que os cidadãos precisam tomar (SANTOS, 2011). Diante de sua relevância para a formação humana, o ensino de Química deve distanciar-se das bases tradicionais de ensino e aproximar o aluno da construção do seu próprio conhecimento, tornando-o protagonista e não apenas receptor de informações prontas e acabadas. Essas novas práticas podem contribuir com uma formação em que o estudante seja instruído a analisar, julgar, se posicionar e tomar decisões pelas quais ele se sinta responsável e possa ser responsabilizado (DE LIMA, 2013). É nessa perspectiva que a divulgação científica surge como um elo primordial, pois assegura o acesso ao conhecimento científico e estabelece condições para que haja a alfabetização científica, capaz de incluir os cidadãos nos debates sobre temas especializados e que podem impactar sua vida (BUENO, 2010). Isso implica dizer que, no ensino de Química, é preciso fornecer informações básicas que contribuam para que os alunos façam julgamentos críticos com ênfase nos conhecimentos científicos estabelecidos, capaz de suscitar no aluno um cidadão consciente (SANTOS, 2011). Neste sentido, para que o Ensino de Química alcance o objetivo de formar estudantes protagonistas, é fundamental que o professor dê a eles a possibilidade de agir com criatividade, curiosidade e autonomia. Pensando nisso, o uso de metodologias ativas se apresenta como potencial meio para o desenvolvimento das atividades em sala de aula. Constitui-se de percursos e metas que culminam no incentivo à autonomia, ao trabalho em grupo, às práticas sociais, inter-relacionando a produção do conhecimento, sua aquisição e o contexto do aluno (ANTUNES; NASCIMENTO; QUEIROZ, 2019). Assim, foi possível eleger para este trabalho, um tema que trouxesse para a sala de aula discussões capazes não somente de ensinar, mas também levar os alunos a expressarem seu aprendizado. Dentro dessa perspectiva, as Metodologias Ativas são todas as propostas de ensino que levam o estudante a assumir o protagonismo, a autonomia e a responsabilidade de seu aprendizado por meio de projetos, trabalhos em grupo, resolução de problemas, ou seja, atividades que promovam a participação ativa do estudante na sala de aula, tendo o professor o papel de mediador na construção do conhecimento (MARQUES; HARDOIM; SANTOS, 2020). Com base nisso, a “Contaminação do Rio Madeira por Mercúrio”, foi escolhido como tema problematizador para a discussão, considerou-se sua relevância pela proximidade com a realidade dos alunos e os conhecimentos químicos empregados para entender esse processo. Outro aspecto importante, é o fato de o Mercúrio (Hg) ser reconhecidamente deletério às populações humanas, causando danos sérios à saúde, sobretudo ao sistema nervoso (CARVALHO, 2016). Além do mais, pesquisas apontam para concentrações elevadas de mercúrio em peixes e, como consequência, também altos índices de metilmercúrio em amostras de cabelo de populações que têm o consumo do peixe como principal fonte de alimento (TAVARES, 2020) Portanto, entende-se que o ensino de química tem papel fundamental no esclarecimento, conscientização e na alfabetização científica. Sendo assim, este Relato de Experiência teve como objetivo Identificar a concepção dos estudantes sobre a contaminação do Rio Madeira por mercúrio (Hg). No artigo apresentamos as etapas desenvolvidas com a turma e os resultados alcançados.

Material e métodos

Esta pesquisa é de cunho descritivo, com abordagem qualitativa do tipo relato de experiência. Foi desenvolvida no mês de abril de 2022, por estudantes do curso de Licenciatura em Química, do Centro de Estudos Superiores de Parintins (CESP/UEA), durante o projeto PIBID/UEA Edital 2020 sob orientação da professora de Química da escola campo. A atividade teve como público-alvo 26 alunos do 2º ano do Ensino Médio vespertino, matriculados no Colégio Batista de Parintins, uma escola pública localizada na cidade de Parintins -AM. O percurso metodológico adotado neste trabalho respaldou-se no que propõe as metodologias ativas, com ênfase nas primeiras etapas da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), onde professor propõe o problema integrador, podendo utilizar um documentário, vídeo ou mesmo um texto, o problema deve ser próximo da realidade dos participantes (ANTUNES; NASCIMENTO; QUEIROZ, 2019). Todas as atividades ocorreram durante o horário da disciplina, dentro da sala de aula ou na Biblioteca da escola, com duração média de 50 minutos. O estudo foi desenvolvido em 5 etapas, durante 5 aulas, e estão descritas a seguir: Etapa um (1° dia): leitura das regras e apresentação da atividade, escolha do material para representar o aprendizado sobre o tema (votação para escolha entre: desenho, HQ, poesia, paródia ou maquete) e divisão dos grupos. Etapa dois (2º dia): formação de duplas para responder uma questão sobre o tema: “Explique o que você sabe sobre a contaminação do Rio Madeira por mercúrio e quais as consequências que isso pode causar?”. Até esta etapa, os alunos não sabiam do problema que seria discutido, o questionário foi usado para saber o conhecimento prévio que eles possuíam do tema. Etapa três (3° dia): tema apresentado por meio de dois vídeos jornalísticos, com auxílio de projetor, computador e caixa de som, com a seguinte manchete: (Mercúrio: 3 vezes acima do nível aceito/ Jornal da Cultura; Suspeita: composição por mercúrio em crianças/ Jornal da Cultura); Matéria impressa (Mercúrio usado em garimpo no Rio Madeira causa lesões nos órgãos de quem se alimenta todos os dias de peixes contaminados/ G1); mais um vídeo de apoio (Nossos peixes têm mercúrio? / Instituto de Pesquisa e Formação Indígena). Etapa quatro (4º dia): Os alunos começaram a produzir o material escolhido na etapa 1, a fim de representar o aprendizado do tema discutido. Etapa cinco (5º dia): Apresentação dos desenhos em sala de aula.

Resultado e discussão

Ensinar química, possibilitando a alfabetização científica, além de auxiliar a democratização do conhecimento, não é uma tarefa fácil. Pensando nisso, buscamos descrever neste trabalho, uma experiência ocorrida em uma escola pública do município de Parintins, com 26 alunos do 2° ano do Ensino Médio. Com isso, os estudantes apresentam possíveis soluções baseadas em seus conhecimentos prévios; o professor modela a discussão por meio de questões norteadoras, como o objetivo de suscitar a curiosidade dos estudantes (ANTUNES; NASCIMENTO; QUEIROZ, 2019). Ainda segundo esses autores, o objetivo é que o estudante possa interagir com colegas e professores, no qual o ambiente cooperativo e o problema apresentado fomentem um espaço onde este possa analisar, questionar, sistematizar e solucionar problemas de forma a contribuir com o seu desenvolvimento cognitivo Descrevendo brevemente o resultado de cada etapa desenvolvida: -Na etapa 1, escolha do material para representar o aprendizado do tema, o desenho foi o escolhido, a partir de uma votação na sala de aula, com isso os estudantes em grupo representaram o aprendizado por meio da produção em grupo de um desenho. -Na etapa 2, aplicação da pergunta aberta, os alunos descreveram seus conhecimentos prévios do tema a partir da seguinte proposição: “Explique o que você sabe sobre a contaminação do Rio Madeira por mercúrio e quais as consequências que isso pode causar?”. De posse das respostas, realizou-se a transcrição e criação de uma nuvem de palavras, com auxílio do recurso “Pro Word Cloud”, disponível no pacote de Suplementos do Editor de textos da Microsoft 365, onde identificamos os principais termos usados pelos alunos (Figura 01). Com o recurso da nuvem de palavras, foi possível identificar os conhecimentos prévios dos alunos, a partir dos termos mais usados nas repostas (PRAIS; ROSA, 2017). Além disso, identificamos que as palavras “Contaminação”, “Mercúrio”, “Poluição” e “Rio” foram as mais destacadas. Por outro lado, as palavras “indígena”, “doenças”, “tóxico”, “vulnerabilidade”, e “peixes” foram usadas com menos frequência nas respostas. A parir desses resultados, partimos para as etapas seguintes, na tentativa de discutir o problema em sala de aula, por meio de textos e vídeos de divulgação científica, a fim de possibilitar o uso de informações produzidas com base na ciência. Na etapa 3, com auxílio de um projetor, os alunos foram convidados a assistir dois vídeos jornalísticos com a visão de especialistas sobre a Contaminação do Rio Madeira por Mercúrio. Nesse processo, eles tiveram acesso a um material impresso e foram divididos em grupo para que pudessem discutir a criação dos desenhos que expressaria o aprendizado. Esses textos propiciaram um meio de acesso ao conhecimento científico em uma linguagem acessível, e com maior respaldo científico (ALENCAR; SILVA, 2019), além de possibilitar a Alfabetização Científica, onde por meio da linguagem da ciência os sujeitos podem participar ativamente das discussões da sociedade (CHASSOT, 2011). Na etapa 4, os estudantes em grupo, na biblioteca da escola, produziram um desenho para representar o aprendizado durante a atividade. Por fim, na etapa 5, chegamos ao resultado do objetivo deste trabalho: os alunos conseguiram produzir desenhos, expondo o aprendizado adquirido durante as atividades desenvolvidas (Figura 2). Logo, é possível trabalhar a formação da cidadania no ensino de Química, a partir de um tema problematizador e com base em metodologias ativas, além de auxiliar na Divulgação Científica.

Figura 01 – Nuvem de palavras dos principais termos usados pelos aluno

Fonte: Elaborado pelos autores

Figura 02 – Desenhos produzidos pelos estudantes

Fonte: Elaborado pelos autores

Conclusões

Com base na proposta deste trabalho, é possível abordar em sala de aula a formação da cidadania, utilizando-se de meios que possibilitem a participação ativa dos estudantes. Esse enfoque, proporcionou a Alfabetização Científica, de modo que permitiu aos alunos construírem sua própria visão do problema, além de possibilitar a oportunidade de expressar por meio de uma produção organizada em grupos seu ponto de vista sobre o tema proposto.

Agradecimentos

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por meio do projeto PIBID. Aos alunos do Colégio Batista de Parintins e a professora Supervisora do PIBID/Química.

Referências

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